sábado, 16 de dezembro de 2023

Uma conversa que aconteceu

Texto 33 de 2023

Registros sobre tentar ganhar um presente raro em um ser humano.

Sem pretensão alguma, nos falamos na semana do meu aniversário, e sem cuidado algum, ou algo em vista, foi prometido de presente algumas palavras e uma poesia, sem saber de uma coincidência triste, que se constituía em promessa.

Nada foi dito sobre natência, porque havia o temor de repetir um episódio catastrófico referido como revestido de injustiça contra a honra de um amor antigo.

Uma repetição diferente, porque em nada as duas moças se pareciam para aquele homem do ouvido absoluto. Nada, era o que referia a aniversariante do dia, e tudo, a amiga que se perdeu por ciúme.

O motivo de se temer o encontro próximo ao aniversário, era uma situação com outro homem, ainda mais escuso e mentiroso. Um duelo por uma mulher do cabelo escuro e seios fartos, cujo ambos queriam honrar com uma forma diferente de tratar no sexo, na amizade e na vida. E que gerou uma briga de egos encerrada com uma distância que doía no peito mais escuro.

Sem convite de aniversário, mas com a pretensão de ser presenteada, fui buscar o que eu queria que fosse um regalo, em cima de uma cama dura e desarrumada das próprias mãos que quebraram a promessa. Revelou-se não ter existido momento algum tirado para uma dedicatória, ou mesmo o próprio livro, que vasculhada a estante de músico e de leitor voraz, nem resquício da tal obra escolhida, "especialmente", para não existir.

Esse presente que não aconteceu, tem gosto mesmo de "futuro de uma ilusão", de costume de engano. Uma promessa quebrada sobre um livro, não quebra apenas a si mesmo, quebra tudo que foi dito, mesmo antes, nada existiu há 8 meses.

O destino até ali foi todo forçado, tal que houve uma franqueza desleal em que se falou de "saudade", sem abreviar "sdd", de "transar".
Ali, descrito, que era sobre "carne" e o intento de "comer". Quem ouviu aquela falsa promessa não estava preparada, pois sentia uma saudade da noite mais antiga da sua vida. E correu como uma presa atrás do lobo que agora feria com seu desamor, deslealdade e esquecimento.

Um homem que vira uma  simples página, que se rasga em outra biografia... Uma página resumida, restrita, pequena, perdida por ele... Um capitulo inteiro, de 8 meses, que se queria fazer eterno para a aniversariante do outro dia.

Louca pra cair de amores por ele, em sua cama, seu banheiro, seu sofá, sua vida, naquele lugar desconhecido, que um dia se pensou que os separaria, sendo que nunca, verdadeiramente, estiveram juntos (diz a canção).

Uma entrega de muitas formas que encontrou um cuidado redobrado, de mentira, enquanto caminhava entediado pensando em um outro compromisso com alguém que ele marcou e respeitosamente iria, e não queria deixar esperando, e queria realmente ver naquele dia...
 
Não importava que ele tivesse mentido sobre o livro, ele não daria mesmo... Não importava que ele tivesse mentido sobre escrever, "estava tudo em seu pensamento", voltado para uma de suas cabeças, como uma memória passageira e inútil sobre como costurar um botão (de rosa) que ele nunca costurou, porque nunca se interessou, verdadeiramente, por costurar e nem por rosa alguma.

Afinal, faltava a rosa uma firmeza, estava parecendo muito perdida. Quem iria caminhar com um homem desinteressado por lugares banais da vida dele? 

Uma cena de novela que passa no horário das reprises e sua atmosfera ridícula. Num "vale a pena ver de novo" ao contrário, de uma forma que nunca mais ele queria ver aquela "bonequinha" de sorriso doce, de um olhar e braços abertos a tratar com gentileza qualquer um. Um riso e gentileza que se oferece, perdidamente, sem destino e sentido até mesmo a um estuprador, até mesmo a ele e sua vontade de transar depois de acordar, como qualquer  homem, e naquele dia acontecia às 15h de um sábado.

Mesma hora em que a bruxinha maldita chegava de uma rotina exaustiva de trabalho e mais naquele dia, pois estava desde a manhã fora de casa, tendo almoçado qualquer coisa na rua, apenas para continuar a trabalhar até a hora, tão sonhada, de quem sabe ganhar o amor de presente de aniversário.

Aquela pobre menina, com uma doçura enjoativa ao paladar apurado de um músico sofisticado, que recebeu lágrimas de crocodilo, que não maculou um poema inspirado nessa cena; também alguns beijos, abruptos, porque não podiam ser roubados como fazem os apaixonados de verdade; um "parabéns" frio e conveniente, como uma mensagem automática de telefone, que não tem nada que identifique o aniversariante esquecido pra sempre depois daqueles momentos toscos, como blusas de bandas desconhecidas.

A menina, a espera de um colo de pai, passou o dia antes do seu aniversário de 2023, entre espeluncas de esquina, com um homem desproporcional para as suas formas, para os seus sonhos e que desdenhou várias vezes da sua inteligência, atenção e sentimentos, enquanto falava de outras e de uma em especial, a qual sempre demonstrou se importar mais do que a tal pequenina.

Uma menina tagarelando pra um homem, que ama, como quem conversa pela primeira vez com seu pai, sobre cuidado, proteção, mas não sobre sonho, não sobre amor, porque não era sobre um encontro, era sobre um autoengano que se repetia e fazia aquela pobre menina, buscar abrigo e colo num cara esquisito que nunca se mostrou verdadeiro com ela.

HCQF 16-17 de dezembro (Nov) de 2023

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

 Tirei você de onde você não queria estar... Na lista dos mais próximos, as pessoas que eu sinto saudade e espero qualquer contato, pessoas com apelidos íntimos, aqueles que me fazem faltam por existirem...

Tem algumas semanas que me dói a informação automática: essas mensagens serão apagadas automaticamente em sete dias, a menos que sejam salvas na própria conversa... Tem mais de duas semanas que assuntos muito íntimos e dolorosos desapareceram, deixando espaço na sua memória para outras histórias, talvez até menos constrangedoras que as minhas confidências sujas e tristes.

Também esvaziaram sua lista de mensagens importantes algumas declarações e súplicas amorosas de uma mulher madura e sensível, muito interessada em te agraciar com carinho, sabores, ternura e cheiros... Era doce a sensualidade pretendida, embora amarga a razão da graça merecida pelo gesto solidário.

Desculpe pelos minutos de conversa e leitura... O aviso imediato ao abrir a janela podia ter sido entendido como advertência quanto a espaço, distância e prioridades estabelecidas. Uma tolice que devia ter impedido sequer a existência do contato virtual, imagina nosso encontro de carne e mentiras "naquela tarde vazia".

Neste exato momento entendo mais uma vez a razão de eu ter retomado os escritos que endereço pra ti... Nenhuma resposta é capaz de me abraçar agora... E óbvio jamais seriam suas, como não é o livro que comprou ou a dedicatória que nunca existiu nas vias de fato, a não ser nas suas mentiras


HCQF 11 de dezembro 2023

domingo, 3 de dezembro de 2023

Eu preciso que seja a última/única vez...

 Encontrei um pedaço de história... Desses que parecem cometa, que passa a cada década, ou século e você só vê o rastro de fogo no céu e se encanta... E quase promete que quer estar vivo, o suficiente, para ao menos enxergá-lo de novo na próxima vez que ele rasgar as nuvens com seu incêndio brilhante.

Um ser astronômico... Vagando no espaço e consumindo o tempo, entre o passado e o futuro, deixando o presente para as madrugadas de insônia, em que frequenta bares, mulheres, amigos, músicas e apaixona corações partidos pelos desencantos do mundo.

Encontrei esse asteróide e ele fez uma cratera na minha alma, o que é da sua natureza, grande, pesada e, incrivelmente, quente... Não posso negar que temo o desencanto com a sua partida.

 E estar na presença dele me deixa em carne viva, por dias, semanas... Depois preciso elaborar sua eternidade de estrela, para seguir com o encanto que me atinge quando ele me toca.

Aprendi a linguagem do universo, em histórias com personagens bíblicos, mulheres incríveis, enquanto caminhava sozinha ao lado de um viajante do tempo... Ele um verdadeiro astronauta, pisando em outra gravidade, enquanto vaga pelas ruas escuras com as quais se afina/identifica.

Eu, um ser anacrônico, cuja vida andou para trás até encontrar um abrigo dos olhares doentes das pessoas tristes da minha história. Depois de muitas ofensas, mais uma quase agressão física e ameças a minha liberdade, cheguei ao interior fugida, onde meu inimigo não me encontraria e devagar recomecei outra página, como ainda agora, com dificuldade, mas encantada com a nova paisagem e o que a compõe, quase todo dia, ainda extraordinária, depois de 34 anos presa a mentiras, fofocas e repreensões.

Demorei a encontrar amor nessa nova cidade... Nem deveria... Outra moradora desses lados, roubou meu coração ainda jovem e eu tinha ciúme da sua amizade, não pude alcançá-la, hoje reconheço nesse outro corpo celeste o mesmo brilho astrológico de Halley.

Foram alguns meses, quase um ano para eu elaborar sua distância da minha superfície, ela não se afinava com meus interesses... Desta vez, eu mudei muito por dentro para encostar nesse outro planetóide, embora nosso encontro seja uma ficção desconhecida guardada em um sebo a espera de um leitor voraz, capaz de me libertar das lembranças costuradas na minha alma.

Algumas linhas de dor, escritas sem ternura alguma, podem me enterrar viva nesse drama amoroso. Preciso contá-lo como sinto, com um afeto tremendo de quem queria construir um ninho envolta do escuro mais estranho que me fez amar.

Por isso, vou acomodá-lo entre meus livros favoritos, na estante com autores encantados pelos encontros felizes que me arrancaram de crises melancólicas e dias tristes. Vou costurá-lo em algum próximo personagem, levar para cama uma camisa preta de alguma banda desconhecida, prometer escutar suas músicas favoritas um dia sozinha, chorando meu choro mais temido, cantando em um festival de rock maldito para o meu filho, para mim e pro escuro que me esquentou/escutou pela primeira vez, depois que eu perdi o amor da minha vida.

Era isso que eu precisava dizer... 

Espero encontrar o amor de novo nessa vida ainda e esquecer, ao menos um pouco, esse breu encantado.

HCQF 3 de dezembro de 2023

sábado, 2 de dezembro de 2023

Um tempo-gente eterna

 Sabe, as pessoas para as quais você disse que ia viajar... Quem convidou pra ir... Com quem vai estar na viagem... Com quem dividiu pedacinhos do céu no avião, da comida à bordo, pra quem contou o que comprou e quem irá presentear... São essas, essas aí, que você tem e quer. 

Não é sobre se distanciar geograficamente, ou sobre um afastamento físico... Isso pode ser de momento... É sobre sentir falta onde quer que esteja para que você seja quem é...

Não importa o deslocamento até chegar, quem está esperando procura sua presença mesmo durante a viagem...

Não é pela tempo que irá passar fora, é pelo que está dentro independente do que você faça, ou escolha...

São os pedaços sagrados que sempre voltam e tem a sua atenção de qualquer forma... Aqueles pedaços de palavras, frases, sons desconexos, ruídos que maream sua voz e o olhar na angústia da solidão... São esses, esses que fazem sentido ficar perto.

Eu conheço esses lugares... Viajo para o seu afeto sempre, dentro de ônibus, de madrugada na emergência, nos bares sozinha, com o coração apertado, nos dias difíceis, eles choram comigo, as vezes por conta deles, ou da falta que eles deixam ou fizeram em mim...

Fazer falta, é cavar um buraco no território alheio e guardar/esconder um relicário... No mapa do tesouro as lembranças, doces e amargas, os dias tristes e felizes, as tempestades, dias ensolarados, o susticio (entre estranhos) e o equinócio (entre pares), são os traçados para encontrar esse portal para quem você se tornou...

Mas não é sobre descobrir algo é muito mais sobre querer saber (dessas pessoas, da sua história, dos seus sonhos...)... Também não é mais do que desencontros, porque as lembranças se ligam as novas oportunidades de estar com elas... Sim, porque você sempre quer estar na presença-ausência desses seres, já que também é sobre afetos hostis, dias difíceis, perdas e danos...

Se em nenhum momento você topou comigo, não com as minhas referências bibliográficas, ou da minha história contigo, comigo mesmo, meus olhos, as cores do meu cabelo, minha voz que embarga disfarçadamente quando, realmente, algo me toca...

Não é comigo nada... E isso pode acontecer, da pessoa na sua vida tirar um pedaço e isso parecer fazer uma marca... Mas pode não fazer falta... 

Pode ser que a pessoa tentou encontrar seu tesouro e até esburacou sua alma... Um tipo amargo de ambição humana... Nesses buracos o amor, a amizade e a gentileza cultiva afeto, transformações, cria o jardim das lembranças efusivas... Um dia elas desaparecem, ou deixam de ter a importância que queriam...

Mas seu eu não for um baú de relíquias suas... Me deixa em paz! Vai embora de uma vez...

Hellen-a, HCQF  1 de dezembro de 2023

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Para os fins de novembro

 Por que tanto trabalho para me convencer de mentiras?

Não há nada a ganhar. O que eu tenho não lhe interessa, assim como minha rotina, meus sentimentos, meus autores favoritos, alguns pedaços do meu corpo e a minha alma escura (como a sua).

Talvez eu não possa te cobrar para se olhar ao me ver... Eu também já busquei no outro o lugar que doía em mim... Foi antes de sentir, especialmente, o amor.

Tenho alguns centímetros de angústia, abomináveis, me rasgando o peito. Dói até as minha costas... Arrepia também... São laços desenfreados que ora apertam, ora afrouxam a mordida do tempo.

Você me chama para te encontrar e não vai. Não tem convite, é só um chamado escuso, sem gosto. Se vier pode até me encontrar no fundo de algum copo, ou na magoa escondida da letra de alguma canção. Mas já é tarde, canções exigem alma, a sua está em viagem anos-luz da Cidade Nova.

Foram algumas músicas, mais outras tantas mentiras, algumas horas da minha atenção ao meu filho doente "derrotadas" a você. 

Existe uma parcela egoísta, em mim, que está brigando no meu íntimo para te encontrar e me fazer reviver tempestades de orgulho sem sentido, pela história triste que me constituiu.

A menina-mulher, pequenina, que você disse pra deixar de ser bonequinha dos outros homens, ela te incomoda, porque você usa a saúde física dela algumas tarde e noites no seus pesadelos em vigília.

Você é um conto de terror e esse não é o meu gênero preferido. 

Passei na frente da sua casa, (agora de ônibus  e dors pelo corpo), doeu meu peito. Eu sinto a total desmesura do que você chama de autoengano. Porém, não há como concertar um erro assim. Não é sobre não ver, é sobre mentir diante da verdade. A maior mentira é que você está lá. Já disse, juntos somos visitantes do tempo, você no seu passado infindo e eu num futuro perdido.

Falo de filho comigo sobre você... Imagina a infelicidade de te perdurar na minha história? Desculpa, também quero ir embora.

Suas letras desgraçadas comovem como roteiro de drama; genial, espetacular... Mas quem vai dar ouvidos? No máximo uma indicação ao Oscar. bilheteria, ganhar, ganhar, ganhar mesmo... Isso não vai ter.

Mas você é a melhor atriz cultivada nas salas cults por alguns solteirões e suas presas momentâneas.

HCQF 30 de Nov 2023

sábado, 25 de novembro de 2023

Uma longa conversa vazia

 "Te esperei..."

Veio se aproximando devagar, como espreita a raposa de dia... 

Você me disse o que comprou na livraria e me contou que viu "O teatro completo da Hilda Hilst".

Eu disse que agora queria conhecer a poesia de Dickinson.

Mais tarde, mais livros... Cinco exemplares com dois nomes conhecidos: Herman e Emily.

Um tom desconhecido me fez achar que era brincadeira, mas você realmente desconsiderou o que eu havia dito sobre aquela nova poética, pra mim, até em um email, muitos dias antes.

Demorei a entender sua deslealdade... Caiu a ficha e eu decantei algumas lágrimas.

Um dia de silêncio... Eu já tinha um compromisso marcado... Diz você, que eu lhe disse tudo sobre o rapaz que encontraria, ainda naquele dia que perdi o controle e fui parar no hospital.

No encontro com a outra pessoa, tirei uma dúvida de amigo músico com você... Voltou o vazio na janela e eu toquei outra pessoa, mas não senti nada.

No outro dia, era um domingo, você acordou cedo como nunca, atravessou a rua da sua casa e comprou um livro. Acho que vinha para Ananindeua... Lembrou do meu novo cativeiro (Emily) e disse: "é seu, comprei pra você". E já tem três semanas que você nem dedicatória escreveu. Nem o livro, nem a poesia... Era só o tédio de um domingo de manhã sem ninguém que você queria e uma janela que você aluga de vez em quando.

Eu agradeci, como quem tivesse ganhado o presente de um inimigo. Era cedo, mas eu acordei tarde da festa anterior...fiz um texto/poema sobre o desencontro do outro dia, e pensei no que me daria como um regalo estranho, tanto que não se materializou na minha estante nem na minha vida.

Estava certa!

Depois disso, nada... E em outra manhã, Bocage. Agradeci em gracejo... Você me interpelou com suas mentiras ou verdades sobre outra pessoa. Você disse ciúme, eu ouvi inverdades outra vez. Agradeci como sempre e nada mais me disse.

Mais dias de silêncio... Agora veio a espera, talvez um cartão de visita existiria pela primeira vez... Você disse algo, depois de uns três dias, porque eu comecei alguma conversa de trabalho, ou da minha saúde...

Deu a entender, porque você não faz promessas de amor (você tem fantasias na cama com várias pessoas ao mesmo tempo), disse que entregaria o livro em mãos pela coincidência da minha rotina de trabalho e da sua nova casa... Juro que brotou uma espera-criança, mesmo que eu já soubesse, por tanto, que nada existia de surpresa.

Respondi para você sobre quem me feriu recentemente, enquanto escrevo: "sai das redes dele". E pensei: "quero sair das suas mãos também".

A semana correu, meu coração acelerou algumas vezes esperando o encontro com Dickinson... Desta vez você não iria falhar comigo, podia me encontrar até na rua e me entregar o livro... Não dava, tinha que me rasgar outros pedaços...

Chegou ao fim a rotina da semana, embalei temperos para servir de comida a você. Era tarde, nada mudou em como me vê.

Quase marca mais um desencontro entre a minha falsa esperança e seu autoengano. Mas o time que você nem torce fez um gol, e eu te vi vibrar... Acho que era o Fluminense, só agora eu percebi, que tem tudo a ver com a nossa amiga virtual. E no tempo depois em que escrevo, soube que acha que nosso encontro foi uma perda de tempo, e me viu perdida, enquanto me entregava a contra gosto algumas horas da sua noite, sem um convite para encontrar "a" Alvarenga. Acho que você pensa que meu raciocínio falha quando estou com você... Ele guarda pedaços que me entrega digeridos.

Mais uma chance de dar tudo errado que você fez dar certo, sem motivo nenhum, como agora enquanto escrevo e você manda mensagem porque não conhece outra mulher daqui da nova antiga casa, e eu tenho vontade de te pedir pra dar em cima de qualquer pessoa e me deixar dormir e tentar levantar outra pessoa (com você): "meu coração às vezes é brutal".

Bem na porta notei mudanças físicas em você, mas você disse de mim: "você continua a mesma coisa". E ainda reforçou: "eu prestei bem atenção ao seu corpo (pequeno)".

Entrei em outra casa escura, senti seu desleixo impregnado nos objetos e por mim. Foi como sempre era, estranho...

Você pediu desculpa pela bagunça, na casa e não na vida. Eu senti um certo medo de entrar de novo. Você deitou na cama sedento por outras mulheres... Eu deitei esperando um abraço desde a entrada. Eu pensei agora: "eu mereço mais".

Vi seu corpo grande (maior ainda) talvez pela experiência ruim que passei, titubiei por minutos (assim como foi com o guri de blusa verde também travei). Você, já sabendo o que passei, mas com muita pressa, quase me dispensa da porta mesmo. Eu senti vergonha, mas não desisti, eu sou uma tola.

Seus olhos lancinantes para algum lugar distante... Eles não me viram, nem na entrada, nem agora na sua cama.

Você pediu pressa, e eu presa na minha ilusão, agora ainda convivo com uma notificação: "essas mensagens serão apagadas daqui a 7 dias, automaticamente".

Nem o trabalho de apagar você quer ter... Eu conheci alguns moleques, alguns meninos e poucos homens: ainda bem.

A cena começou no quarto com o barulho do ventilador. Você suava como eu nunca vi, mas do jeito que eu gosto. Lembro que uma gota salgada caiu no meu lábio e eu engoli feito "lágrima [na] chuva".

Você não precisa dizer nada, cada silêncio seu me salva um pouco das minhas ruínas. Seus gestos gritam: "se afasta, não tem nada!" Mas eu fico perto.

Ainda tenho ciúme, que em mim é um tipo de amor, mas aprendi a ver passar feito navio na estação das docas, eu sozinha rodeada de casais apaixonados.

Mais uma vez me entreguei ao seu corpo sem alma... Nada contra, você não me ama. Ardemos uma febre engraçada. Desculpa, acho que nunca mais vai acontecer (nada disso).

E você confessou, não tinha feito a dedicatória, está na sua cabeça, mas nem podia me dizer ao pé do ouvido. Não há o que dedicar para uma mulher que você não ama.

Hcqf 23-30 de Nov de 2023

Frutas vermelhas

(texto 32 do ano de 2023)

Existe uma estação
Em que as horas correm
Como as safras de maçãs, romãs, amoras...

Das frutas vermelhas
Dos vinhos tintos
Do rubor
E da dor

De morangos "mofados"
Às ameixas frescas
(A)bate o coração
Desacelerado de encanto

Corando as bochechas
Em tom avermelhado
O aporte sanguíneo
Escolhe os picos dos corpos

Dúctil firmeza corpórea
Aponta à sensibilidade
Perde o leme o capitão dos (a)mares
Entre o azul marinho e o tom escarlate
Na estação onde o peito para.

Hcqf 23 de novembro de 2023



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Texto 31 do ano de 2023

 Eu estava lá, mais uma vez disponível, aberta para o que ele quisesse... E ele queria testar limites, jogar... E ganhar o jogo. 

Perdi!

Primeiro, as investidas virtuais e fantasiosas, na rede social... E eu, destruídas todas as minhas defesas, entregue a ele.

Depois, a culpa, o medo de perdê-lo, o encontro, o porre, a emergência... Eu ajudo ele a montar o palco do circo, em que ele vai me expor... Eu sou a atração principal: a idiota que vai fazer ele rir o seu pior veneno.

Veio o encontro, em carne viva novamente. Eu, com a alma de quatro, ele com o mais feroz delírio de subjulgar uma alma perdida. Sou presa fácil, fera abatida, desleal comigo mesma sedo até minhas vísceras, dói tudo quando ele se cansa nos próximos minutos de mim...

A fera dentro dele ainda tem fome... A besta dentro de mim ainda tem sede... Sigo seus passos como cão de rua sentindo cheiro de comida... Mas não é sobre instinto, apesar de me desumanizar, é sobre cultura, machismo predatório, servidão, purgatório.

Dentro e fora desse cenário, escuro e escuso, sou presa fácil... Ele comeu a carne de outro animal, eu experimentei vergonhas desconhecidas: olhos ardilosos sobre meu corpo pequeno se dirigindo qual criança "pedixando" aos pais e sendo ignorada por ser um pinguinho de pessoa.

Saímos daquele estabelecimento, onde os olhares em diferentes tons de pele, cargos e funções, castas de homens arrancaram alguns pedaços das minhas vestes, também.

Foi quando, não aguentando mais a minha presença, organizou o próximo ato, uma cena de novela, em que ele fingiria se importar com meus sentimentos, enquanto preparava o merchandising que eu faria de mais uma de suas mentiras.

Somos muito diferentes, eu não destrato nem meus inimigos, quanto mais quem me secreta sentimentos íntimos e desgraçados de pura tristeza e dor entre a soma e o anímico.

Estive no lugar mais temido, por um homem, na mesa do seu pior amigo, antes dele se mostrar o que foi todo tempo.

Outra mentira e eu estava a algumas quadras da mesma redonda vizinhança pela qual eu iria deixar pedaços do meu coração pelo caminho, para saber como voltar, sozinha, desprotegida, vulnerável pela floresta/mar da vida.

Sentamos em outra espelunca, com a qual ele harmoniza meu jeito modesto de me portar. Está frio, eu sem sutiã e de blusa (tomara que caia), combino com o ambiente, enquanto confesso abusos, desleixo, negligencias comigo, parecendo uma meretriz de esquina, com o primeiro homem sem alma da Grande Noite, existente desde a Grécia antiga, subsumida no neon desumano do centro da cidade serena.

Enquanto derramava meus prantos, sem colocar um pingo de lágrima pra fora, alternava razão e loucura, ciência, poesia e violência, em uma mesa de ferro descascado, na beira de uma rua, ladeada de puteiro, uma sauna, aquela figura enorme e que pesa em mim e a sua casa.

Ele derrapa e confessa amores, são mulheres com quais ele não soube jogar... Porque antes de se armarem as jogadas, emplumam-se de si mesmas e ele nada pode com quem se ama, seja o amor que seja, a quantas dores de polegadas.

Descubro de onde vem Bocage e onde ele se esconde/esquece Dickinson; reencontro Herman Herss, Freud, Nietzsche e hoje sei que também estava em alguma mesa Hilda Prado: fumada da cabeça mas com o espírito bem vivo, anjo gauche, me protegendo, me fez economizar dinheiro, pegar o carro de aluguel na hora por tino meu, veio comigo para eu não sentir a porrada que agora sinto. 

Precisava ser tudo no mesmo, maldito, dia/noite para guardar na mesma gaveta, dos abusos sofridos.

Agora, já com mais de 30, enfim conheci os homens, pela primeira vez. Só havia me relacionado com meninos, com sinto falta destes, tal como chora triste meu peito, pela distância do meu filho.

Conheci a "raça" maldita que humilha, escraviza, doma, agride, prende por prazer: patriarcado. Encontrei alguns velhos de quem tive nojo. Foram algumas vezes que passei por isso, por referir sensibilidade e fragilidade no corpo pequeno e alma vibrante.

Sempre um estintor que tenta apagar a chama feminina, hoje sei que conheci, pelo menos alguns destes: de leão, foram dois, um deles fera sarnenta; dois outros esportistas, um nadador miúdo e outro um pequeno lutador de jiu-jitsu... Mas igual o escuro, mesmo meu pior inimigo, ainda não tinha visto, e agora espero que seja o único da minha vida (em todos os sentidos ainda, mas vai passar, espero demais isso).

Essa outra metade do pesadelo, vim confessar no meu canto, por acreditar que situações destrutivas quando narradas viram lições para a vida. Quero me escutar mais vezes, melhor, como fiz agora.



Hellen-a, HCQF 23 de novembro de 2023


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Há-breu em mim...

Estou tão envergonhada, pelas coisas como vieram e como estão, Habreu.

Não por ti, mas por mim e meu destino, favorito, da pulsão: deslocar na meta.

Errática, quase sempre estrago o que quero... 
E eu posso até tentar uma explicação, psicológica, tal como fiz antes. No entanto, não quero. 

Hoje, prefiro o não-saber e esse sentir, non sense, doído e insensato, como as sandices que se diz ao pé do ouvido, deitados, ou em qualquer posição que esteja a alma e os corpos.

Não sei o porquê de te fazer tão íntimo dos meus limites éticos, morais e corporais.
Contar e te fazer testemunha de constrangimentos infantis. 

Ao contrário, eu queria escondê-los, todos, em um verniz sedutor, cujas formas mais encantadoras e plásticas de algo em mim sobressaíssem, longamente, como são longos os véus e os vestidos das noivas, ou a "seção coruja".

Mas não... faço com que sejas tão íntimo até dos meus erros. 

O mal-dito cristianismo que consome nosso cotidiano na clínica, na política e, por isso, na cultura... atenta meu juízo e me faz intentar fantasias de uma segunda temporada da novela, Hellen(a): uma mãe e mulher.

Isso é tão ingênuo, quanto está em ser, o que acabei de negar querer: te fazer um espectador interno até do que desgosto dentro de mim.

Queria me pintar perfeita, planejar convites, conversas e encontros de novela. 
Acho lindo! 

É o sereno que não me diz-farça.
Fico justa, como o decote das roupas que, ousadamente, uso pra ti e ninguém mais...

Desculpa a poesia rasa, a dificuldade em ser objetiva, a pouca referência bibliográfica, não ter abraçado teu rosto (como eu queria) quando o choro corou suas bochechas e escorreu tímido até que seus dedos impedissem seu curso.
Eu queria ter impedido seus dedos.
Me perdoa!
Eu queria ter te beijado em prantos, como você merecia.
Eu, antes de tudo, te desejo, e desejo que seu amor não escute a autocensura. 
E retribua com infinitos beijos sua comoção infantil.

Diz a poesia que "o amor bate na aorta", então deve o amante auscultar "essa disritmia".

Eu desejo que você encontre alguém que te faça chorar, um choro quente, guardado como o magma (nos tempos remotos do que foi a Terra) que desce lava, vermelha e preta, como o Flamengo.

És testemunha do que endereça em carta, o que foi antes de ser poesia.
Desculpa por eu te desejar assim, Amor. 
Hellen-a C. Q. F., 21 de novembro de 2023.

domingo, 12 de novembro de 2023

Amor depois do amor (😉💚)

 Ele demonstrou muito...

Eu acostumada com pouco, desconfiei...

É fatídico que Recurso e Penúria ensinam sobre o amor, isso tá em Platão... E esteve ontem, enquanto eu tava sozinha, comigo e com ele.

Ele veio e disse, isso numa mesma ocorrência não está sendo redundante comigo....

Ele veio e falou com o fotógrafo, com quem eu estava na mesa. Ele o contratou, mas eu não sabia e só me aproximei porque reconheço o relacionamento dele com sua namorada. 

Foi então  que o músico se referiu a mim e disse: "chegou tarde... Pensei que não vinha... Eu ia ficar chateado" e saiu. (Sinto que quero reviver, resguardar esse encontro, não sei se dá).

Eu só senti o impacto do corpo dele, cheiroso, no meu... Foi um abraço de lado. E eu fiquei miúda dentro da demonstração que recebera... Não é comum comigo.

A noite continuou, era um momento de trabalho dele e meu de explorar a mais nova região, antiga em mim (a solidão) e encarar o que quero conhecer.

Começou seu momento, parece que senti sua expectativa... (Agora, enquanto escrevo, sinto um desligamento, porque a timidez me engoliu). 

Bem, foi bonito e em alto e bom som/sim (literalmente, chega sinto quase uma dor de cabeça por isso, mas dói mais meu estômago e toda a pressão que guardo em me alimentar mal).

Sua cena acabou... Sim, ele é alguém que gosta de demonstrar o que expressa, ainda não sei o que faz com o que sente quando sente...

Ficamos por minutos afastados e antes de concluir uma hora, veio ele... Em pé ao nosso lado, meu e de uma nova fã (ou não)... E de novo, fez questão de demonstrar: "quase não vinha...". E me olhou com os olhos cor de mel, ou que lembram mel... Foi doce e direto, ainda não tinha sido potente... E eu ainda impotente com aquela enxurrada que eu desconheço existir há 4 anos mais ou menos (minha separação do antigo companheiro).

Sorri. E na verdade, quase me escondo nos braços dele... Intimidada por ter reconhecido que a outra moça demonstrava algum interesse, que eu desconheço, mas desconfio, inclusive nele.

Algumas palavras, depois que a moça foi ao banheiro, olhando diretamente pra mim, sem que eu pudesse encara-lo de volta... Ele foi buscar meus olhos no chão, na mesa e até em sua boca, mas nunca tanto tempo um diante do outro... O que é isso que eu estou descrevendo? Um desencontro? Um desejo de romance?

Um amigo dele chamou-lhe a atenção para prestigiar seus outros amigos que tocavam... Bem, fiquei com a moça na mesa e ela logo se foi...

A bateria do meu celular descarregada me salvou... Precisei carregar e esperar... E ele de um lado para o outro...poucas vezes me enxergou... Por quase duas horas fiquei invisível pra ele... Doeu, era assim que eu me sentia sempre... Era hora de partir...

Sai de dentro da sala de música, ele sentado com os amigos... Corri pro carro de aluguel... E veio a mensagem: acabei de te ver sair... Ele escrevia enquanto eu me despedia pela mesma via... Ele disse que fugi dele à noite toda... E disse que ficou "triste" por não termos conversado... 

Foi, então, que tive coragem de dizer: estou perto... E ele em tom inacreditável para mim, disse: volta... E disse outra coisa... Tudo se perdeu no "volta".... Ali naquele pequeno momento, eu vivia um filme de amor... Eu disse, já retornando: "é para eu voltar?". E ele disse: "Sim". O que eu escreveria em maiúsculo, porque ele fez a expressão "afirmação" rimar com firmeza.

De repente eu cheguei... Com vontade de fazer xixi, encontrei com ele com a mão suja de banheiro... Pedi pra lavar... Demorei de propósito... Retornei e não pude me reunir com seus amigos... Um deles me parecia reprovar nossa aproximação...

Ele afirmou o pé do meu lado na mesa....sentado, cansado, ouvindo "aleatoridades" (como diria uma paciente minha, que estimo por nossa contratansferencia de cura)...

Primeiro sentado, depois em pé, como eu, olhando nos meus olhos, tocando minha mão, sem elogiar, sem se "amostrar", mas demonstrando quem é... E aquilo "Tudo" me deu medo... As palavras de uma amiga que trabalhou com ele vieram como pensamentos intrusivos: família muito rica, não dá pra mim, tio Ângelo e tia Naza, não é para mim...

E conversamos até o sono nos abater pela conversa cansativa e sem um futuro... Mas tinha pedaços do seu passado, algo como sentar com seus amigos... Tinha uma solenidade também... Que tenho eu diante dele... Quero me curvar e estou dura de quedas e desembarques muitos...

Ele disse para irmos em seu carro, ofereceu carona (recusei bastante vezes)... Ele desistiu de me conduzir à sua casa (talvez, agora, eu veja que poderia soar como invasivo para aquela moça tímida na frente de um músico)...

 Fomos a um posto e a hostilidade evanesceu e o carinho virou bruma... Alguns "puxões de orelha", alguns pequenos beliscões... E eu fiquei pressionada... Naquela região eu me reconhecia... 

Então, cedi centímetros e ele condescendeu milímetros... Eu tive que contar que minha boca estava em carne, não mais viva, devido a um hambúrguer que comi. Ele brincou e doeu, fazendo trocadilho com cemitério... Depois torceu e retorceu o braço: vegano disse que comeria pão de queijo... Me senti mal por ser uma volta para trás na sua política de vida(nova, eu descobri). 

Bem, ele insistiu: estava "apto a trocar saliva"; eu era uma "mulher de meias palavras"; enchi nossa noite de "mistério", "fugi"... Não consegui empostar  voz, corpo e alma na mesma sinergia... Dei voltas... 

Até que ele disse o que eu queria ouvir e já estava com o corpo pedindo (baixinho): "você quer dormir na minha casa?" . E eu vi o mesmo brilho caramelo, mesclado de mel  e muito açucarado... Nossa, que olhinho, quase, quase venceu meu corpo trancado pelas desilusões...

Eu não respondi, mas pedi pra ir até a casa dele... E ele encontrou uma forma de nos afastar: "ali tem um supermercado... ". Ele me cortou e eu voltei atrás... Ele queria me deixar em um lugar escuro, havia esquecido... Uma outra eu, transaria com outro homem bem ali. Aquele homem de sempre.

Chegamos no supermercado, foi triste.. ele cansado... Ia para o abate como os animais que quer defender, mas ainda não sei se é uma política mesmo...

Entramos, ele foi andando pesado, tanto que escolheu um pão de queijo velho e denso... Me pediu pra comer com ele... Eu não podia... E já havia dito para ele não se violar... Ele foi, comeu com certa raiva... E eu pedindo desculpa e aquilo "tudo" aborrecendo ele...

Entrou no carro sem mim... Me deixou pra trás... Eu fiquei do lado de fora... Eu pedi pra ele ir, ele disse sem querer mesmo, que ficaria pra me esperar... Eu admiti que não queria ficar sozinha ali... O carro de aluguel veio se reaproximando... 

Eu no ímpeto do que quis fazer fazia tempo, desde a casa de música... Vi o olhar, porém escuro de frustração, dizer algo sobre uma "noite perdida"... Fui abraçar, segurei o rosto e beijei sua boca... Querendo tocar seu corpo... Não sei o porquê  que ele fez, como fez, mas de olho entre aberto escutei e vi... de repente ele bateu no volante do carro e disse assim: "agora ela beija". E depois olhei de novo, agora me vi, como que com as mãos primeiro na cabeça, segurei-lhe o rosto e de novo beijei "seus lábios macios", diria Fábio Jr (meu romântico cafona favorito). Eu fechei os olhos e vi ele fechar também...

Fomos nos acompanhando, eu a pé e ele em seu carro... Entrei no carro de aluguel, ele esperando nos afastarmos geograficamente... Acenei em um gesto meio cinematográfico, depois não entendi, mas sei, era uma forma de boicotar mais aquela demostração dele...

Cheguei em casa e nada dele...

Escrevi sobre mil desculpas... Ele respondeu: "Fica tranquila, Hellen. Bom dia, bom domingo"... A única mensagem que consegui descrever fielmente...

Agora sofro, mais cedo cheguei de um encontro com meu corpo doído de saudade daquela boca e seus olhos....

Não sei se existe como nos encontramos... Certeza que posso vê -lo, mas revê-lo no lugar em que estivemos, eu não sei... E essa dúvida é uma cura, mas diz também sobre sentir meu coração e cantarolar suas batidas... Diz a canção, "imanente": I'm irreverent a revanent... Dîe by It... Eternally cycling tides"... desejando "mouth of the Eden".

Eu ouvindo amor, com medo da morte e sendo desejo...

HCQF 12 de Nov de 2023

"River Eden" é um rio que corta parte da Grã-Bretanha, paralelo ao lado norte da Irlanda, tem também um nome em latin dado por um geógrafo dos tempos antigos, Ituna, que vem da palavra celta, Itaúna que quer dizer água.. "Mouth of the Eden" é uma música de uma cantora que resguarda em suas canções tradições celtas. Talvez, "a boca de Eden" faça referência a foz, ou nascente desse grande rio que corta a Grã-Bretanha e ganha até outros nomes ao longo de seu curso. Mas a cantora se refere à Escócia em suas letras e eu aos meus incêndios em busca do paraíso no amor.


domingo, 24 de setembro de 2023

Cantiga de mal-dizer

 Perdi algumas horas do meu dia procurando o sentido do que eu sabia que significava aquilo de "um beijo no seu coração". 

Minha mãe sempre diz isso ao se despedir... e foi no espaço de mãe para mãe, e no tempo entre dois filhos, que aconteceu o adeus mais breve e mais pesado, que não ouvi, mas senti... e até hoje me sufocam as lembranças do que foi vivido no fim de semana, imediatamente, anterior a esssas palavras escritas em ato.

Se eu disser que não me preparei, estaria mentindo, amargamente... ensaiei todos os dias ao lado dele esse "last good bye", que como essa referência musical comprova, já vinha acontecendo, milimétricamente, no transcorrer dos meus dias, sono e pensamento desperdiçados.

Ele foi, mas não sozinho, como sempre... fiquei eu, sozinha, independente das pessoas que atravessam sem entrar na minha vida.

Nadie! Ninguém, tal como quando estávamos sempre um do lado outro: ele sozinho, dormindo seu sonho tormenta; eu sozinha, acordada, vigiando meus dilemas por estar em um espaço fantasmagórico da vida de um estranho e solitário gost.

Dois fantasmas, em tempos diferentes sobre a mesma cama fria, debaixo de um teto quase para desabar, em ruínas como tudo e todos naquela casa/lembrança/repetição vazia.

Entrar ali era um sonho/pesadelo pra ela, sair dali um alívio pra ele. O que há de mais inexplicável nesse drama: o quão anacrônico e antagônico foi esse desencontro. 

Estivemos todos os dias, ao lado um do outro, tal como Morgana e Arthur, na estória da "senhora de Avalon": proibidos de se amar, conversando de perto em lugares distantes um do outro, confusos sobre o que nos levava ao encontro, mesmo sabendo que eramos retirados de nossas vidas e objetivos, abruptamente, a cada chamado do destino...

Ele louco, perdido, sombrio, sem saber por onde ir e como se proteger para não pôr a perder seu kindgom. Eu, seca e quente, mesmo sem libido, submissa ao seu sexo, presa às minhas raízes e sem rumo.

Foi avassalador, frio e nublado como os caminhos entre as brumas e Avalon. It's so more "witch tale" of than that "fairy tale"... 

Escutava: "há breu, não vá!" Sentia: "Abreu, não vá!" E esperava que em meio ao breu se ascendesse a minha estrela, para nos salvar daquele lar-birinto, quase inescapável. Perdemos um ser que  não escapou, enquanto tentava nos proteger, nos expulsando daquela mansão sombria: no quintal, na cozinha, no banheiro, na sala... Diana só não conseguia subir e evitar que chegassemos ao calvário onde pagávamos nossos pecados com fúria, mentiras, violência, constrangimentos, vergonha, dor e paixão/doença...

Sucumbimos de sede como aquele ser pré-histórico, qual dinossauros fantasmáticos nos assombrando; ancestral, que em nenhum momento conseguiu lançar suas cores mágicas e protetoras sobre nós.

D-iguana morreu e fui eu a notar que ela estava se esvaindo sob as lavas lançadas do céu em seu couro duro e seco, como nossos corações.

 Não pensamos em alimentá-la, ou hidratá-la, tiramos ela do abrigo daquele mausoléu para secar no sol escaldante, sem notar que enquanto ela procurava água para sobreviver, tentava nos proteger daquelas correntes malditas que prendiam ele ao seu passado, e me prendiam nas garras dos seus mortos.

Ainda estou chocada pelo que passamos e não sei o que sobrou de mim... Outro dia escreverei linhas épicas, mas lúcida, como estou, não poderia esconder as cenas de horror em que estive sobre: mentiras, traição, tapas na cara, garrafas quebradas, dores e marcas no corpo, cheiros e sons constrangedores, além de um encontro infeliz com meus tesouros, que ofendeu a face da minha irmã.

Estive em todos esses eventos, de corpo presente, mas sem alma... e até agora suas músicas abrem meu peito e sequestram meu espírito, por minutos infinitos...

São essas músicas a certeza de que estavamos acompanhados o tempo todo, por almas antigas que nos protegeram no silencioso ser esverdeado e nas nossas pessoas mais caras que impuseram limites aos nossos encontros casuais.

Ao final, talvez conclua que pertencemos a Avalon, embora não como seus personagens e sim como as brumas que pareciam leves, mas eram as barreiras entre dois mundos que não deveriam ter se tocado jamais.

Hcqf 24 de setembro de 2023

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Uma espécie de nó

 Eu preciso demais ir embora...

Já não quero ficar, estou angustiada e toda atribulada de ocupações reais, que precisam da minha atenção. 

Já não é mais sobre meu coração,  é sobre minha alma, meus sonhos, meu trabalho, meus deveres, meu filho, minha gata, minha irmã.

O que aconteceu nessa última parte do meu peito, o tamanho do desgaste e da tristeza... da ofensa... era pra ter me jogado há metros de distância. 

Fui seca, fui direta... mas estava aberta ao diálogo, transparente como igarapé preservado... onde tudo em mim des-aguou...

Desaguei feito leito de rio, aos poucos, embora suficiente para dar conta de uma bacia hidrográfica... esse significante, a geografia, foi e ainda é, um dos bebês da minha vida... quero a ele tudo de bom. Preciso da existência dele, mas ja não mais com a doença com que o cultivei nos primeiros dias...

Necessito des-aguar, isto é, enrijecer... tornar meu porte mais firme, para quando receber a demanda doente de tristeza, eu possa saber que esse drama, não é o meu... essa tragédia, faria melhor sendo pintada na pele, que nas vísceras...

Falta nele fronteira, falta a ele território... diante dessa ocupação sem limites, sou a história de uma mulher desrespeitada, como tantas... como Rupi, Hilda (minha irmã) e a poeta, Virginia, Conceição, todas e outras...

Eu, em mim, limpei meu corte com poesia... Kaur, Leminsk, Shakespeare... como gosto!

Mas aprendi a saborear a dor... e isso é quase tudo sobre esse nó.

Voltei às quatro linhas da análise... e ainda faltei. Estou cara a cara com meu monstro: Breu Branco a exalar na madrugada... sumo de madeira clara dos interiores do Pará... cheiro de terra, doçura de amor/flor, leve e amanteigado, cheiro amargo, como o azeite da oliva mais nova. 

Desaguei veneno em mim... cuidei de uma espécie de ser, entre o nunca e a espera, escuro e deselegante comigo...

Está na linha entre a vida e a morte, um abjeto triste... e eu desejando o que quero: tirar ele de dentro de mim.

Hcqf, 13 de agosto de 2023

sábado, 26 de agosto de 2023

Na esquina

Nunca pensei que te encontraria aqui

Eu gosto do café, do brownie também (e da música)

Sempre vem?

Não!

Eu já vim e não te vi...

Acenando em tom afirmativo com a cabeça.

(Mais de uma vez, mesmo eu estando aqui)

Você já vai?

Daqui a pouco...

Me paga uma cerveja.Vamos escutar... "que foi tão real (pra ti)".

Eu tô quase de saída...

A gente pode ir lá pro "Safira".

Não (eu não conheço mais o dono).

Por que não?

Você não mora mais

Aqui (dentro).

Lembra, "não seja como aquele que foi embora e deixou seu nome para trás"?

Foi só um sonho ruim.

Ainda vai encontrar um colo em alguém... Desculpa, eu tenho que ir.

Obrigada pela cerveja.

Hcqf 26 de agosto de 2023





 Por que eu não posso mais te ver?

Porque não quero me sentir

Olhada.

Mas ainda quero olhá-la.

Está tudo nas memórias 

Se guardou alguma.

Não entendo

O que fiz?

Nada

Então?

Por isso precisa olhar de novo 

E não tem mais jeito.

Hcqf 25 de agosto de 2023

Adeus entre parênteses

 Ele me diz 

Até mais (tarde)

E se distancia 

Como se eu fosse ficar 

A espera

Ele sabe

Que vou ficar

Só não sabe

Que não espero 

Mais nada

De nós 


Hcqf 25 de agosto 2023

A Leminsk que encontrei de madrugada

 O que faz acordada?

(Pergunta Leminsk)

O que não faço dormindo.

(Respondo ao poeta)

Inda sonha?

(Insiste)

Ando sonhando abreviaturas

(Ouso responder à poesia

Que em si

A "nadie" pergunta)

Se não indago

A ti

Por que responde?

(Continua nossa Musa)

É que o motivo

Das curtas palavras

São os dilemas que os poemas 

Sem querer desejam

À alma de quem os questiona

Agora dor-m(em)

Licença poética

Poeta, poema, mulher 

No escuro.

Hcqf 25 de agosto 2023





sábado, 19 de agosto de 2023

A house on my own *

 A house on my own

Not a flat. not a apartament in back. not a man's house. not a daddy's. a house all my own. with my porch, my pillows, my pretty purple petunias. my books and my stories.  my two shoes waiting beside the bed. nobody to shake a stick at. nobody's garbage to pick up after.

only house quite as snow, a space for myself to go, clean my papers before the poem.

não um apartamento. não é um apartamento nos fundos. não a casa de um homem. não de um papai. uma casa só minha. com minha varanda, minhas almofadas, minhas lindas petúnias roxas. meus livros e minhas histórias. meus dois sapatos esperando ao lado da cama. ninguém para agitar uma vara. lixo de ninguém para recolher depois.

única casa como a neve, um espaço para mim ir, limpar meus papéis antes do poema.

Autoria Desconhecida

Post Instagram cantora portuguesa 

Carolina Deslandes


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O frio no topo

 Não dá pra enfrentar o inverno de peito aberto

O branco neve, exige aconchego, dobra o volume das roupas e do corpo

E o cinza denso do nevoeiro perturba os sentidos ao embaçar a visão e esfriar a tez

Diminue o tempo na rua, acrescenta horas ao conforto da cama

Vem dos seus dias frios, o modo de querer alguém em um lar "acalantoso"

Chamam de "amor romântico", esses "romances" sobre o amor, cujos mais conhecidos foram escritos diante da lareira, enquanto a neve tingia de branco telhados, calçadas, os bancos das praças e o inverno entrava no peito congelado dos europeus

Um grande amante, Shakespeare, era do United Kingdon, cujo estilo extraordinário não descreveu amores alegres, nem simples, apesar do quão populares tornam-se seus escritos

Talvez, não as traduções, apenas, mas muito mais as versões de suas obras, construíram estórias simples que determinaram sua fama que atravessou oceanos e barreiras da língua, sem tocar os cânones que lhe renderam a crítica literária mundial, por seu estilo vernáculo inovador e a pena dolorosa que tomou muitos dos seus versos

A chuva constante, o frio e o preto dos guarda-chuvas, estão todos alí no peito elizabetano de Willian, ainda que não restritamente triste, no entanto clamando o colo e o âmago de seus apaixonados leitores

Não, não dá para abraçar o inverno e não sentir sua face gélida e a densidade do ar que respira

É precário até dormir, dorme-se mais horas, porém o descanso é menor

Por passar por momentos em que lençol algum empresta calor ao corpo duro pela baixa temperatura que marca a alma também

Não passa o corpo pela estação mais escura a resguardar sua luz mais cálida

Em algum canto desse trecho do caminho o sopro apaga a chama dos sentimentos que aquecem

E vive o sujeito dores tenras diante da coisa mais inédita: amar sem o amor em troca

Ninguém está impassível desse inverno: homens racionais, mulheres exuberantes, pessoas brilhantes, grandes nomes de suas áreas...

Tocar o topo de alguém muitas vezes é entrar no breu mais insólito de si mesmo 

E sentir não a chama que forjou de vida sua alma, mas a lama movediça em que se esconderam seus tristes fantasmas e o vento que sopra antes da tempestade mais longa 

Não adianta guarda-chuva, nem qualquer abrigo, é quando o amor faz todo o sentido: paciência, generosidade, honestidade e presença

É estar numa estação a espera de um transporte, mas contar que o destino traga alguém que te reconheça como humano

É sobre ver a si mesmo desamparado pelos olhos do outro e desejar que o gray dos dias perca um pedaço e ganhe duas sílabas de grace, e não de grave.

Hcqf 18 de agosto de 2023


domingo, 30 de julho de 2023

Grandeza das pedras

 De novo no vão penso sobre sexo e amor.

Amor e sexo referem cura, a mim.

Não sei quando começou, mas a transa só acontece comigo se for uma dança quase ancestral.

Mergulho em espaços, levanto, ando, seguro, oriento, abraço, dou colo, respiro e declamo...

Não sei de onde vem esse desejo/rito. 

Nem sempre fiz amor, quase sempre transar me satisfaz... Aprendi a separar sexo e amor cedo, porque tinha que amar meus personagens favoritos e transar com  as minhas fantasias.

É tudo tão "solene", vez ou outra me encontro com pedaços de Clarice, por tê-la reconhecido  qual perfume bem sútil na minha pena mais sofrida: a escrita.

Solene, é isso que faço do meu sexo. Ares de feitiço... Odores, sabores e texturas... Estou sempre diante de um caldeirão, escolhendo meus temperos e temperamento quando vou ao encontro sexual.

Uma dança gostosa me levou por anos a fio, também já experimentei o descompasso de uma parceria equivocada... Agora viajou com a música, numa experiência dionisiaca regada a vinho, chocolate, enquanto sirvo e descubro quando expando  meus limites.

Não posso mentir... Desta vez está doendo como nunca, no meu corpo. São toques demasiados que não me arrepiam...

Estranho o absurdo entre o anjo e a dama da noite. Suspiro e gozo,mas não chego ao orgasmo porque do outro lado há uma pedra.

Sinto um pedaço do poema de Camões para o Gigante do Triângulo das Bermudas: Adamastor. O querido velhinho da minha Hilda, que conversa com o quanto é singelo também o fantasma de Canterville, de Wilde.

 Todos muito grandes para pequenos gestos que transbordam carinho.

É um "Privilégio", como desde a nossa primeira vez... Porém tem doído por (não) concretizar as  passagens literárias. Não é para mim que devotam amor.

E eu querendo ser uma amada, a pequena dos sonhos de um homem enorme.

Que esse luto elabore meus complexos com meu pai, e me liberte de ser só pequena, também quero ser grande.

Hcqf 30 de jul 2023

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Covardia amorosa

Me vi sendo muito covarde... A nossa conversa tratou de afins quando deveria ser sobre fim.

Eu não queria que ele fosse outra coisa, se não como ele foi: escutou, foi gentil, me acolheu, deixou carinho nas palavras e até agora eu não sei como acordei...

Acho que ainda estou naquela conversa, como quando olho o último recado não visualizado com a solicitação de que ele continue "cantando pra mim, para eu dormir". 

Não dá pra acontecer... Aí já é um exagero.Eu só quero o tempo de sofrer até vê-lo com outra pessoa. 
Preciso me preparar, vai doer qual a separação do Thiago...

 Meu peito alagou meu colchão, numa enxurrada que brotou dos meus olhos, depois que acordei com dor de saudade, pedi um olhar ele não mais atendeu.

Agora a minha auto-sabotagem me levou bem longe... Estou solitária no trabalho, pensando em sair, querendo viajar pro exterior de mim e revolver o dia de ontem quando a minha covardia me fez perder uma possibilidade de ser tratada com carinho.

A situação circula nesse sentido, porque quero escutar a palavra mágica. Quero ouvir ele dizer, mas ele se contém, eu suss-urro, me entrego, digo e repito em puro gozo de prazer: amor, amor...

Ele não corresponde.

Eu já fui assim quando tomando todo cuidado para não blasfemar, diante do divino... Eu estava como refere U2 no "templo do amor", mas a contemplação me cegou antes que eu pudesse me sentir parte daquele espaço.

Aliás, também refere à topologia psíquica, essa condição de indisponibilidade para eu ocupar algumas posições: quanto à responsabilidade de amar. E eu estou inibida demais para sustentar. 

E todo o peso dessa circunstância de dúvida me refreou.
Mas eu gostaria de pressionar e seria ainda mais doloroso tanto quanto vergonhoso.
Estou me sentindo culpada e constrangida. E por várias vezes diante do espelho amoroso revejo meus complexos familiares de parecer com o meu abjeto e ser muito cobrada pelo outro objeto possível.

Não é sobre o que eu passei na infância, não é sobre a culpa de ninguém. Estou sofrendo pela covardia que me engendrou pequenina no tamanho e na demanda que faço do outro.

 Por mim, só correspondo. E quando solicito, faço com violência e alguma teimosia.

27 de jul de 2023.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Tô te amando de longe

 Confesso que o livro  de Alain Didier-Weill está me arrebatando e exigindo pausas: com música, poesia e algumas pessoas...

Entre uma página e outra, encontrei Marília Mendonça, depois de Stevie Nicks. 

A brasileira veio antes, chegou depois de umas férias da minha irmã no nordeste, quando foi a um Luau daquela menina inciando sua carreira como cantora, depois de compôr sucessos para duplas sertanejas. Hilda chegou impressionada com a força daquela voz. Talvez, como diz Didier-Weill, uma voz que diz ao sujeito "Em você, estou em casa".

A minha escrita, sem hierarquia, anuncia depois essa rainha da música brasileira, Gal Costa. Essa mulher da voz de prata, que encantou seus amigos músicos e a crítica, desde sempre. Amo escutar ela rasgar o peito e cantar: "antes de você eu sou, eu sou, eu sou amor da cabeça aos pés".

Bem, escolhi essa música, porque Marília completaria mais um ano de vida (22 de julho) e a existência do filhinho dela me atravessa o peito sempre quando penso no seu legado, que para ele não vai ser tão importante, quanto seria a presença dela.

Gal e Nicks foram muito elogiadas, Marília Mendonça ainda é bastante julgada, por sua voz imortal interpretar suas composições com temas "clichês".

Porém disse um homem europeu bastante respeitado que "todas as cartas de amor são ridículas", tal que é bem visto quem assemelhar seu sofrimento amoroso ao que disse essa Pessoa.

E tem coisa mais ridícula no amor do que a sofrência, "dito melhor", sofreguidão? 

Marília, Gal, Stevie talvez não precisem de nenhuma explicação para estarem em uma playlist. Sendo que, sinceramente, os motivos de cada um para escutar música, por vezes são incompartilháveis, ou como indica esse psicanalista francês,   no sofrimento psíquico está escondida "a perda do inaudito, invisível e imaterial".

Talvez explique as letras sobre separação que embalam muitos relacionamentos a despeito do tema (rsrs). Não é sobre o que diz,exatamente, é sobre o que toca,onde entoca,o que finca.

Talvez,cada um procure um lugar onde não precise de explicação alguma para ser amado.E em silêncio encontre algo além do sentido de existir.

Mesmo de longe, onde não dá pra escutar direito a voz de alguém, ainda dá pra sentir algo que tenha sido,o verdadeiramente, compartilhado.

Ainda sobre Hilst, Dionísio,Didier-Weill e Kaur...

Hellen

domingo, 23 de julho de 2023

Apenas uma história de verão

 Cá estou eu...

Fingindo que vou ser forte, se você me convidar...

Fingindo que se eu for, vou apenas para me despedir, sem olhar para trás e esperar que comece a tentar...

Guardei o que disse um dos  meus amigos: precisa deixar ele, para saber se sente sua falta e volta.

Não preciso, não! Nós dois sabemos que isso foi, da minha parte, um amor de verão. O meu primeiro e último, eu espero. 

Imaginável como a satisfação,realmente, nem insinua respeito. E pelo contrário, cada desculpa traz um selo de culpa. Esse lugar é muito desconfortável, nunca estive nele quando fui amada, é porque agora é só um jogo e eu não sei brincar. Não gosto da incerteza sobre ganhar ou perder, talvez seja esse meu aprendizado dessa vez: aprender a arriscar e não temer a derrota, quase certa.

Aprendizados de quando Há-breu.

Hcqf 23-24 de jul de 2023

É verão e estou com frio

 Eu nunca vou embora de verdade...

Eu abro a porta.

Ninguém sai 

Então percebo que estive sozinha

Todo o tempo que senti 

O frio de alguém em mim

Diz Kaur:

"As pessoas vão

Mas como elas foram

Sempre fica."

Ecoou no vão que encontrei no peito:

"Não quero um lugar na sua vida

Quero uma vida com você"

Mas não posso mais esconder

A nossa solidão

Os encontros sem tesão

E todo tipo de engano que nos achou enquanto estavamos perdidos

Na mesma casa avarandada 

De sonhos destruídos

Espero que de agosto em diante

O seu abrigo conheça o amor

Hcqf  23 de jul  2023


Obs: conheci a poeta, Rupi Kaur. Confesso que foi quando deveria.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

No escuro de novo

Eu sabia que iria encontra-la. Não queria ter essa certeza, mas eu imaginei que os meus dias contigo, eram seus dias sem ela, ambos contra a sua vontade.

Eu lutei pra ter uma chance, que eu nunca tive, e eu sabia. Por isso lutei comigo, quando não me entreguei de uma vez. E nas vezes que coloquei limite aos assuntos íntimos.

E quando encontrei a maior intimidade contigo foi sobre sua amada, cuja reciprocidade está desde a conversa entre olhares. Isso é raro demais pra ser uma temporada.

Espero que minha dor encontre remédio na escrita... Porque agora com o coração partido ainda tenho outros medos.

Você disse que nos jogaria na "lava", eu sei que é "lata" do lixo, mas também pode ser na lama. 
Pode ser que eu encontre um muro maior que os da Mario Covas, quando nos revermos. 

Vai ser duro, mais duro que tudo que entrou em mim quando estavamos juntos.

Sei que se eu quiser não saberei mais nada, nem de você, nem dela. Por um lado reconheço nessa estrada muito do que já passei com pessoas que eu não amava, porque os homens que amei, continuaram de certa forma perto, mesmo longe.

Acho que te amei na sombra de uma ciumeira tão grande quanto a samaumeira na frente da sua casa.
Aliás, ainda bem que apreciei o sol nascer naquele dia, sozinha. Vou ter a ilusão de que me despedi da sua vida, toda vez que avistar os tons arroseados no céu.

Não quero ser dramática, mas preciso me despedir, foram tantas formas de adeus cada vez que te vi, que estou cansada de esperar a fogueira em que irás me queimar.

Agora encontro mais um sentido pra bruxa tatuada na minha asa: apagar uma ilusão de amor.

Ainda bem que lembro vagamente das suas músicas preferidas, recordo mesmo das que escolhi depois por mim mesma, essas são minhas.

Espero conseguir dizer não, e refazer a chave do meu portão. Deixei contigo meus brincos, meu molho de chaves, um pedaço da minha história, o constrangimento de trair uma amiga de infância, alguns medos sexuais e o pesadelo de não fazer amor nunca.

Este último aprendizado foi o mais caro... Tenho vivido na solidão com receio de entregar meu corpo, sem alma, para outro fantasma solitário. Agora acho que atravessei esse medo. Estão vagando pelo mundo muitos "gosts", mas também almas apenadas de amores dolorosos. Pode ser que entre taças, conversas, cafés, regados a qualquer tipo de música, estejam duas "lamas" cansadas, por ter sido jogadas no lixo de alguém.

Lama, que fique claro, é o codinome de alma, pra mim. Meu objeto masculino muitas vezes chegou em casa cheirando mal de tanto beber e perambular nas ruas sofridas da sua vida. Não tenho medo do tom escuro, nem da areia quando se mistura a água da chuva; nem do céu depois que o sol deixa de iluminar a lua. 

Eu procuro a noite em todo canto íntimo do outro e de mim.

Hcqf 21 de jul de 2023

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Jogada na lava

O amor  vem das  profundezas da paixão

Enquanto na superfície é apaixonante 

no centro de onde acontece a erupção

 é onde nasce o amor


Que não apenas arde

Ele queima

Vem do choque de duas formas sólidas 

Que estoura a superfície


O vulcão são as sensações 

E as cinzas, a vida

Tudo passa

Mas  fica a terra escura que

um dia foi lava


Somos restos de amor

Que virou cinza.


Hcqf 15-19 jul 2023

terça-feira, 18 de julho de 2023

Demian na lava

 Tivemos uma noite estranha no Breu onde você diz que se mostra...

Foi como você disse que seria: só vamos escutar música...

E eu agora tenho a impressão que levo a situação para a cama... Isso porque descobri que seu coração já escolheu...

Não foi essa noite que vi em seus olhos a dor do ciúme... E também vi que uma parte de você deseja possuir alguém.

E não sou eu, que isso fique bem claro pra mim...

A nossa diferença é que não preciso do escuro para me entregar. E isso descrevo como qualidade, porque sentiria falta de ter te encontrado e não ser quem foi beijada.

Todo novo encontro um novo fim... Mas eu sei que estou deslocando para não dizer exatamente o que senti.

Estou triste, você não me corresponde, você está comigo por causa de mim e não por causa de si mesmo.

E só me encontras nas lacunas entre vocês. Eu vou ao encontro, mas no escuro... não sei com quem.

Li no seu rosto: dor. Encontrei no seu desejo outro corpo. Você me escreveu em uma madrugada: "retorno do recalcado"... Isso não é amor.

Amor é algo novo, é diferente de psicanálise, é Herman Hess. Esse livro/autor mudou sua vida. 

Eu até refiro algo  de inferno, enquanto encontro em ti o inverno do sentimento, em alemão. Sua alma queima, não como "demon", mas como "Demian", antes do prisioneiro da Estepe. E você  fica sem chão, porque ela exigiu mais do que você tem.

Eu até encontrei com um "Daimon" dos deuses gregos na sua cama, quando você nos cobriu, eroticamente. Porém, quando revelou que não se importa em jogar o carteiro na "la-va/ta", quem sou eu para discutir com você o lugar que você prevê pro amor?

De alguma forma, você disse que irá devolver Eros pro submundo dos amantes e seus crimes. E pegar fogo é mesmo o que mais quero... com você.

No entanto, seu "anjo decaído" fala alemão, uma língua fria, que não goza com qualquer uma "bonequinha sexual". Bem que você ME disse.

Um dia irei ao seu sótão encontrar o "Demônio do 1/2 dia" que te recortou ao meio. Não agora, eu não posso tentar arrumar o porão, na mesma vida em que arrumei sua casa e quase peguei tétano.

Aliás, organizei os cômodos mais sujos, como a infância de todo mundo. Encontrei bagunça e muitas coisas de uma mulher que em nada remete a seu amor mais pro-fundo. 

A militante que você vem encontrando onde há-breu na sua alma e se esconde nas páginas e curvas do livro que te descreve, em nada remete ao salão de beleza desmontado na sua sala, cheio de produtos fora da validade e equipamentos caros, cuja finalidade é esconder o máximo possível a si mesmo.

Outro dia entendi que você sempre encontra com a morena de Hess, porque as mulheres já não estão mais brigando para estar na Polis. Estamos por todo canto.

Embora no seu abrigo ainda esteja por todo lado o outro objeto, parda como sua mãe, escura como seu avô, que é sua tia. Tão presente como a poeira nos in-cômodos debaixo. Imagino como foi pra ela formar o sobrinho, fazê-lo chegar tão longe e só depois experimentar a maternidade, no intervalo entre seu filho biológico e se permitir se separar de ti. É isso que sei sobre ser mãe, e talvez sobre (a)mar: deixar ir. 

Talvez, quando o encontro entre amantes não dá certo e a arte, em poema e em filme reporta como desencontro, seja sobre duas pessoas que encontraram a liberdade sublime de Eros, um no outro. 

Eu, muito mais platônica que socrática, não te apeteço nem a carne, quanto mais a alma. Até porque a mitologia que te sustenta na metáfora de razão é a nórdica, o que na outra margem (de mim) se encontra em Hilda, enquanto eu remonto o helenismo e seus limites, ocidentais.

Divago sobre mim navegando meu rio (água salobra e turva) para não atravessar e cair no oceano (vasto e blue, do inglês), mas chegou a hora. 

As suas não respostas são espaços preenchidos com pessoas que você gosta. Descobri isso da melhor forma, quando fiz parte da sua rotina, depois que quase me joguei da sacada, no instante em que te servia.

Naquelas duas semanas em que consegui me defender do sentimento inventado por uma fantasia: você foi a um casamento e deparou-se com o colo perdido de um antigo amor; terminou seu relacionamento com sua primeira filha; aprendeu que o motivo de uma traição nunca é um amor verdadeiro; e então nesse lugar me enxergou de quatro por você e sentiu o punhal que sua amada guarda no bolso.

Foram muitos cortes de análise para pouco tempo de colo na sua história. Agora eu  vejo nitidamente que seu amor tem algo como uma espada, nada mais freudiano, como você sempre SE diz.

É mesmo a mãe quem se afasta para descansar e poder ajudar a subjetivar seu filhinho amado e permitir que ele possa arrebentar os limites do seu desejo e das ordens severas da civilização.

 A cultura que você tanto estuda e hoje conhece, foi obra desse punhal que você encontrou nessa estrada significante depois de sentir o desejo de seu primeiro amor.

Não, a mãe não quer que o filho seja feliz, ela quer ele ame. Quando na França a psicanálise revela que o desejo inscrito na alma humana é o desejo do Outro, isso aponta muitas camadas da cultura mais antiga: primeiro que é o outro quem ascende a sua chama da vida e não por menos quem sopra suas velas no (a)mar e apaga o fogo das suas conquistas baratas; depois implica dizer que o seu objeto mais caro está perdido/escondido em todos os seus amores, em pedaços pontiagudos que são capazes de ferir e apontar, rasgar e costurar;  mas também remetem ao que te fez rebento pela primeira separação enfrentada sem jamais deixar de demandar amor.

Desejo, é essa a tradução em alemão de demônio, por isso grito, sussurro, imploro no seu ouvido seu nome. Nos encontramos juntos, mas você deseja a mulher com o poder de te ferir, porque esse é o poder des/construtivo do amor; eu desejo o escudo que impede que a ferida mate.

O dom de ser mãe que me foi transferido, confere o poder de soprar aos meus amados o horizonte mais calmo, onde podem encontrar abrigo, comida e laço. 

Eu já disse para investir naquela que ao se distanciar te fere; a quem a traição revela não ser um objeto, já que é humana e sedenta de amor como você diante dela.

Fracassei em mais uma batalha perdida de amor. Estou arrumando minha alma para um horizonte longínquo. Dessa vez eu já sei que não quero ver, já vivi muitos desenlaces com o mensageiro dos deuses antigos... 

Confesso que estou cansada de ser como esfinge a ajudar os homens a decifrarem seus enigmas. Esse agora me machuca as partes com o aço mais duro e frio que forjou sua alma. 

Aguento grandes desafios ao lado de Ulysses, mas não estou escrita na epopéia. Eu sou a própria Tragédia, encenando atos humanos e cantarolando dilemas universais, para ao final da temporada passar longos dias solitária, fazendo poesia em prosa e verso.

Tomara que dessa vez eu encontre a minha cura.

Obs: escrevo isso no dia do aniversário da sua helena e me sinto a musa que lhe banhou de beleza, sob a luz de Selena.

Hcqf. 17-21 de jul jul de 2023



domingo, 16 de julho de 2023

Há-breu

Consegui.... Acabou! 

A última pétala caiu, depois que a chama foi soprada e a noite se "abreu", mas não mais pra mim.

Um pequeno romance inimaginável.... Foi o que ouvi de pequenos outros, sem escutar o que você dizia...

Ao teu lado na cama - desde o corpo virado pra mim, aos abraços de urso e até você embrulhar a gente com seu carinho - aprendi que um homem quando gosta, ele quer ser especial pra sua pequenina.

Eu não vou me permitir te ver me dando adeus... Eu sei que você não sabe, mas eu achei todo tempo que ia adoecer e morrer... Eu bati a cabeça muito forte dias antes de entender que tinha te perdido... Nem assim eu acordei... 

Era difícil entender que uma mãe poderia ser tratada com respeito e carinho, depois de tudo que tenho vivido.

Sempre digo que os homens da minha vida me trataram bem e isso me fez amar ser mãe de um homenzinho. Sua mãe teria orgulho, não pelo que você tentou viver comigo, mas pelo que você conquistou, mesmo debaixo de uma pressão descomunal em um menininho.

Sabe o dia da moça que te abraçou e celebrou no "bar escuro"? Eu me senti ínfima, não por causa da sua altura, mas porque eu escutei todo mundo que falou mal de você, menos sua aluna.  Eu apaguei aquela mulher lindona e cheia de boas intenções, porque eu não tenho envergadura moral para assumir que eu sou tola quando gosto de alguém pra valer.

Meu ex marido caminhou comigo no meio das trevas e eu soltei a mão dele no primeiro obstáculo em que ele tropeçou. Eu não voltaria pra honrar nosso vínculo, porque a Luz-menininha é um presente que ele merecia - queria ser pai de menina.
Espera um pouco, vai chegar a sua estrela da música brasileira, todos meus amores tiveram sua Marina.

Eu não consegui descrever nossas madrugadas, porque eu só sei descrever o que me dói. E quando você tocou em mim com força e intensidade, eu senti meu corpo ir acordando... Mas de um coma profundo, como a protagonista de um dos meus romances favoritos.
Que aliás, eu reencontrei na travessia desse último fim de ano. E agora, "Para Sempre" é meu.

Eu juro, eu vou voltar a ler minhas obras tão desejadas na estante. Amo cada uma desde quando chegaram... Vieram encantadas, por cada reencontro com seus títulos e estórias. São um sonho dramatizado numa casa meio em pé, meio derrubada, na minha infância.
Eu não podia te dizer nada disso, senão agora não sobraria sentido nem na minha escrita.

Obrigada por ver em mim mais do que tinha. Agora eu vou encontrar algum pedaço meu perdido nessa tristeza. Vou  regar com carinho e força, como você fez comigo, a tessitura (de composição musical mesmo) e a interpretação das coisas.
E espero ser respeitada, nem que seja um dia, por minha forma estranha e solitária de ler a vida.

E ninguém nunca mais vai me levar por uma noite sem cantar uma música, ou dizer que se importa por eu ter sido muito magoada algumas vezes.
Desculpa, amor, você me pegou e abraçou desprevenida.
Até outra vez na vida, Br(Eu).


Hcqf. 16 de jul de 2023

sábado, 15 de julho de 2023

Tez-ardente (II/2014)

 Estou tentando escrever esse "adeus", mas não consigo, porque não quero aceitar...

Quero sua boca, seus olhos a fechar me beijando... Seu cheiro que eu encontro na minha pele como se fosse ontem, a hora em que estivemos enrolados no lençol que cobria a cama...

Este feito me fez arrefecer o que eu tinha de desejo ainda no corpo e abraçar aquele homem de proporções enormes que assombra meus sentidos, mas cabe totalmente no meu sonho.. 

Hcqf 15 jul 2023

Vão de amar

 O amor tem um vão que aproxima...

Um espaço entre as bocas

Uma saudade contínua


Está no silêncio da respiração

Quando guarda o gemido mais intenso

Para soprar no outro

O vento, flâmula, de tesão


É o espaço que percorrem os ponteiros

Na espera pelo chamado

Aguardado 

O dia inteiro


Faz eco no sussurro de desejo

Quando os corpos finalmente se encontram

No espaço/tempo infinito

Do reencontro 

Depois do primeiro beijo/objeto


Hcqf 15 de jul de 2023

quarta-feira, 12 de julho de 2023

 Ele escreveu: 

"Sdds de ti"

E mentiu

Não há saudade abreviada...

Hcqf. 12 de jul de 2023


Tez-sutura

 Vou aos seus lugares

Encontro meus espaços

Hcqf. 12 jul 2023

domingo, 18 de junho de 2023

Quero não escapar!

 O que eu quero do amor é não escapar...

Me procura, amor. Quero me encontrar em ti, quero sonhar-te.

Meu sintoma é deixar ir, mas só consigo debaixo de um desamor capaz de me neutralizar...

Abandono o outro e a mim no mesmo momento. Experimento essa dor e fujo.  asq

Mas quero ficar, quero estar perto... De uma forma que já consegui, já fui conquistada, já pertenci, foi importante, recebi a maior dádiva que tenho... 

Mas quero amar de novo... Quero ser de alguém, por um laço, que me abrace e me queira mesmo que não seja do jeito que eu espero, mas que seja em mim essa vontade de  ficar...

Escutei em tom musical, como o canto do vento noturno, em noite quente: você não vai me escapar...

Eu queria dizer: não deixa, eu não quero! Me exige, eu te espero!

Eu sou incorrigível, amo amar...

Quero alguém que insista, quero ser encontrada e amada. Quero não escapar!

Hcqf 18 de Jun de 2023

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Vão//desejo

 Respondeu sim: afirmou o desvio que se anuncia.

Não vai parar aqui, 

Vai para o outro lado.

Das minhas paisagens, avistou o longínquo...

Talvez, enxergou a solidão que vem comigo, 

há algumas léguas do caminho...

Talvez não, 

Talvez nada, é o que tenha visto...

Tenho guardado isso como predicado,

Não é vazio de sentido

Tem silêncio impregnado

Mas enche meu espírito de perguntas

Povoa minha boca de palavras...

E não ressoa como canto aos teus ouvidos

Minha dança de significados

Falta-me o sentido significante

Falta-me encanto...

Lembro, em mim e de mim, Macabéa de Lispector.

"Há quem falte o delicado essencial"

Primeira citação que gravei

Para não esquecer da minha falta de jeito...

Esqueci de me esquecer, que guardei também minha falta.

Sempre espero reencontrar você, amado,

Que foge ao reconhecer 

Meu vão desejo.  

Hcqf 20 de maio de 2023

De algumas faltas: faltam 7 dias pro aniversário do meu filho.


terça-feira, 9 de maio de 2023

Teus cacos

Estou tentando e não está indo...
Eu errei e quero esse erro, mas nem um preço  me garante se consigo.

Vou pagar pecados e construir alguns vícios...  eu estou sentindo...
E ele vai fazer falta...

Porque ele me inventa um novo jeito misturado com o antigo.
Tem jeito de permanência, jeito de casa, parece que reencontrei alguém, na verdade encontrei o marido de alguém.

Ele veio cheio de intimidade, algumas conversas vazias...
Um jeito de me deixar de lado, de costume, de hábito...
Ele me trata como parte da mobília, e fazia tempo que estava com saudade de ser cadeira, cama e comida...

Difícil admitir que ele me faz expressar medos e agonias.
Nem eu sabia que sentir falta da minha liberdade é algo que desejo quando sinto falta de ser livre.
Hcqf 10 de maio de 2023

sábado, 8 de abril de 2023

Acontece...

 Aconteceu...

Dobrei a esquina, depois da ilusão e estava lá: outra história me esperando...

Nossa, eu tô com muito medo. Ele cuida e não fica, ele protege e se afasta... é sozinho com seus objetivos...

Já vi tantas vezes esses homens... eu enxergo o brilho dos seus olhos, no escuro em que se protegem dos traumas de infância...

Não era pra ser assim... era pra ser outro, aquele que não ia corresponder a minha demanda de colo... porque este existe e o outro, não... o que dá colo, é uma temporada até os sonhos se realizarem e eles cumprirem seus objetivos de ser lobos de uma rua que não tem nome, ainda.

Eu alcança alguma profundidade, eu determino que não me fira, porém me pega do único jeito possível,  pela fantasia, de cuidado paterno.

Estou no 2o dia ainda...

Hcqf 8de abril de 2023

sexta-feira, 31 de março de 2023

Instrumento/objeto/voz

 Às vezes, escuto algumas vozes como instrumentos musicais. E penso: é um violão, um piano... ouço muitas guitarras no rock rsrsrs... 


Confesso que não tenho preferência, acaba que descobrir que a voz parece soar como um instrumento/objeto, é em si, o que indica que algo em mim a escolheu... 


Não sei como poderia chamar isso, e nem sei se gostaria de saber se existe tal nome, no qual caberia...

O que sei é o que sinto/escuto quando encontro um intrumento/objeto/voz: amor a primeira escuta.


Caiike, eu adoro de outras versões, mas em "Deslizes" - do também nordestino e grande músico, Fagner - aguçou em mim sentimento de sanfona... na hora pensei: piano? Violão? Uma orquestra inteira (às vezes é assim)? É muito complexo e sofisticado: é uma sanfona!!! Ainda não tinha escutado um objeto/voz sanfona... É mágico!


E encanta, Caiike entoando Fagner: "E como um prêmio eu recebo o teu abraço. Subornando meu desejo tão antigo". 

E eu escuto um pouco do sopro que traz à vida. Aquele encontrado no colo que embala da criança ao adulto, até na velhice: o dia que de amor se fez o nosso laço com o mundo. 


E aos psicanlistas, ainda têm mais um presente em outro trecho dessa linda canção: "nós somos cúmplices, nós dois somos culpados, no mesmo instante que seu corpo toca o meu...".


É isso... na(ser) é um trajeto que inicia quando somos sonhados por alguém que nos toca com amor. E essa existência/desejo/sonho nos torna amantes da vida.


🔸️Hellen


🌬Inspiração:

Conheçam o dono dessa voz tão linda:

@caiikesouza 💐


#freud

#tragédiagrega

#músicabrasileira 

#Fagner

#explorar

#caiike

#deslizesfagner



quarta-feira, 8 de março de 2023

Eu vi o invisível

Da última vez quando com o amor encontrei, o que vi primeiro foi o invisível...

Não enxerguei o que vi, foi o meu sentir quem lhe reconheceu um sentido...

Foi e ainda é sensível escutar sua voz...

Nas voltas do mundo, amor a primeira escuta, ainda não tinha "ouvisto"...

E foi como se tivesse visto, no primeiro áudio, sua forma se materializar... 

Me apaixonei por sua boca falando sobre saudade e senti a distância entre as nossas casas, como se fossem polegadas contadas em batidas no meu peito.

Também é sobre ver sentido no meu corpo... eu me percebo vibrando de ponta à ponta, em busca dos seus doces dedos... 

Um gosto que se afirmou nos meus sonhos: não consigo esquecer, sem jamais retê-lo comigo...

Saudade, em mim, tem gosto de uma voz açúcarada e macia... por isso ela dorme comigo, abraçados a noite: eu, você e o invisível.

H.C.QF 09 de março de 2023


sábado, 11 de fevereiro de 2023

Infeliz-saudade do amor

O primeiro texto de 2023, tem sabor de saudade... É como um renascimento, porque veio de um texto nascido há pelo menos uma década.

Entre 2006 e 2007, eu fiz um texto, cuja escrita foi orientada por um trecho do livro "O mal-estar na civilização", na qual Freud (1930) diz que o amor permite uma segurança que não é capaz de proteger plenamente de todo mal, nem do adoecimento, por exemplo. Porém, é a uma das maiores satisfações que somos capazes de experimentar.

No entanto, a estudante de pedagogia, que havia encontrado a teoria psicanalítica pela primeira vez na disciplina "Psicologia do desenvolvimento Bio-psico-social I", não conseguia de maneira alguma lembrar de onde vinha a inspiração do seu texto, apesar das palavras nitidamente rememoradas enquanto escrevia. 

Foram mais de 10 anos, gostando da sutileza e modéstia daquelas doces palavras, sem desconfiar que aquela menina que tinha o sonho de ser psicóloga e estranhava demais a psicanálise, teria escutado o pouco que sabia sobre o amor em um texto freudiano.

E mesmo quando se tornou estudante de psicologia, demorou pelo menos dois anos de graduação para deixar de temer amar a psicanálise.

Logo, não foi amor à primeira vista, e nem a segunda, pois encontrou os escritos de Freud pela primeira vez, por volta de 2006, quando guardou "O mal-estar na civilização" (standard, 1996), como um dos melhores livros que conhecera. 

Essa mulher, agora com algumas cicatrizes amorosas, reencontrou o velho Freud (pela segunda vez) só em 2012 (na disciplina de Psicanálise I), depois de realizar um dos maiores feitos da vida: passar no vestibular para psicologia, a despeito de tudo que ouvia sobre não ser o seu perfil.

E vai ver não era mesmo,  porque em 2014, depois de muito criticar e estranhar a psicanálise, começou a gostar da disciplina de Psicanálise II e do rigor teórico e prático da professora e seu monitor. E não se rendeu com facilidade, suas resistências foram confrontadas também pelo processo de análise que se iniciava lentanente. Até que em 2016 decidiu escrever sobre subjetivação feminina, com a orientação de uma psicanalista - mas não sem antes tentar alguém da chamada psicologia social. É uma história de amor e ódio, para ser bem freudiana, ou talvez "orgulho e preconceito" para tocar em outra via pela qual cheguei à psicanálise - esta última anterior aos escritos freudianos na minha história.

E como toda conquista é árdua, senão chamaria regalo, eu não ganhei a psicanálise como um presente, percorro suas linhas e sigo sua metapsicologia, com respeito e dificuldade desde antes de saber faria.

Assim, primeiro escrevi sobre "tornar-se mulher" e só conclui a tarefa final da graduação de psicologia (em 2017), porque estava em análise e achei uma pedra literária no caminho: o poema Noções de Cecília Meirelles (1938). Inclusive foi o mesmo ano em que engravidei do meu menino, vindo a dar à luz em 2018 ao Luis Roberto.

Foram mais dois anos um pouco afastada, maternando e me tornando mãe-de-família. E isto também é sobre a minha relação com a psicanálise, ir e vir, sem deixar de amá-la.

Em 2020, então,  decidi retonar aos estudos acadêmicos na pós-graduação, pensei em literatura  e filosofia, mas bem no fundo tudo era sobre escrever de novo a partir da psicanálise e esse amor que me deixa segura e deprotegida, enquanto sinto insegurança e proteção.

Contudo, não passei de primeira, meu projeto sobre "A musa das canções" não foi aceito. Pensei em dar uma nova pausa e continuar os tão saborosos grupos de estudo sobre psicanálise e filosofia. Porém, novamente a literatura me fez mergulhar as águas da psicóloga das profundezas.

Tal que em 2021 um objeto me capturou, o amor sofrido de Ariana por Dionísio, isso depois de tentar escrever sobre o Desejo para Hilda Hilst. Mas foi a Ode descontínua e remota, como remonta o amor a angústia mais tenra de se saber vivo e desejante, que me fez escrever a pleno vapor.

E aqui cabe outra devagação, porque em meio a conversas sobre como cheiros e sabores esfumaçam a vista, senti a "aorta" (como diria Drumond) com a chegada de um novo amor, ou talvez, o amor novo. Tanto faz, porque tanto fez por mim, a dor desse amor, que escrever foi o lugar onde desague o gozo de querer aquela companhia nebulosa  como é até hoje, já em 2023.

Entretanto, o fio de onde parti para esta tecitura, foi o que chamo de textura de 2010, na qual escrevi descrevendo um pouco de mim...

Ou eu perdi em um netbook antigo que está com tela vazada e não ligo há mais de um ano. Ou ele está, onde sempre esteve, guardado de mim, para que eu continue desejando encontrá-lo no amor.

Sendo que foi um texto que ao escrever achei bobo e sem estilo, e mes fez enfrentar uma insônia para descrever um pouco das suas raízes. Isso porque ele não é de 2006, quando conheci "o mal-esta" e a psicanálise pela primeiravez; ou de 2016 quando decidi estudar psicanálise... nem exatamente do dia que o escrevi no que agora parece ser um caderninho de arame, de anotações inúteis do cotidiano (mesmo sabendo que o registrei no meu antigo computador na pasta texturas)... ele também não vem dos livros e autores de literatura que admiro e reencontrei agora tentado olhá-lo mais uma vez... 

Não, esse texto não tem idade e talvez agora eu tenha perdido algum rastro seu, mas encontrei um resto, sem desconfiar que as palavras de Freud (1930) teriam me causado grande deleite em escrever sobre a "infeliz-sau-dade" do amor. 

H.C.QF. 12 de fev de 2023