sexta-feira, 21 de julho de 2023

No escuro de novo

Eu sabia que iria encontra-la. Não queria ter essa certeza, mas eu imaginei que os meus dias contigo, eram seus dias sem ela, ambos contra a sua vontade.

Eu lutei pra ter uma chance, que eu nunca tive, e eu sabia. Por isso lutei comigo, quando não me entreguei de uma vez. E nas vezes que coloquei limite aos assuntos íntimos.

E quando encontrei a maior intimidade contigo foi sobre sua amada, cuja reciprocidade está desde a conversa entre olhares. Isso é raro demais pra ser uma temporada.

Espero que minha dor encontre remédio na escrita... Porque agora com o coração partido ainda tenho outros medos.

Você disse que nos jogaria na "lava", eu sei que é "lata" do lixo, mas também pode ser na lama. 
Pode ser que eu encontre um muro maior que os da Mario Covas, quando nos revermos. 

Vai ser duro, mais duro que tudo que entrou em mim quando estavamos juntos.

Sei que se eu quiser não saberei mais nada, nem de você, nem dela. Por um lado reconheço nessa estrada muito do que já passei com pessoas que eu não amava, porque os homens que amei, continuaram de certa forma perto, mesmo longe.

Acho que te amei na sombra de uma ciumeira tão grande quanto a samaumeira na frente da sua casa.
Aliás, ainda bem que apreciei o sol nascer naquele dia, sozinha. Vou ter a ilusão de que me despedi da sua vida, toda vez que avistar os tons arroseados no céu.

Não quero ser dramática, mas preciso me despedir, foram tantas formas de adeus cada vez que te vi, que estou cansada de esperar a fogueira em que irás me queimar.

Agora encontro mais um sentido pra bruxa tatuada na minha asa: apagar uma ilusão de amor.

Ainda bem que lembro vagamente das suas músicas preferidas, recordo mesmo das que escolhi depois por mim mesma, essas são minhas.

Espero conseguir dizer não, e refazer a chave do meu portão. Deixei contigo meus brincos, meu molho de chaves, um pedaço da minha história, o constrangimento de trair uma amiga de infância, alguns medos sexuais e o pesadelo de não fazer amor nunca.

Este último aprendizado foi o mais caro... Tenho vivido na solidão com receio de entregar meu corpo, sem alma, para outro fantasma solitário. Agora acho que atravessei esse medo. Estão vagando pelo mundo muitos "gosts", mas também almas apenadas de amores dolorosos. Pode ser que entre taças, conversas, cafés, regados a qualquer tipo de música, estejam duas "lamas" cansadas, por ter sido jogadas no lixo de alguém.

Lama, que fique claro, é o codinome de alma, pra mim. Meu objeto masculino muitas vezes chegou em casa cheirando mal de tanto beber e perambular nas ruas sofridas da sua vida. Não tenho medo do tom escuro, nem da areia quando se mistura a água da chuva; nem do céu depois que o sol deixa de iluminar a lua. 

Eu procuro a noite em todo canto íntimo do outro e de mim.

Hcqf 21 de jul de 2023

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