quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Encanto de saudade

Que eu não seja o amor da tua vida,

Isso tá muito claro pra ti

Que eu não seja um amor qualquer ,

Isso é o que eu sei de mim.

Não estou nas saudades diárias inscritas na distância emocional e geográfica desses dias.

Tampouco faço parte dos dias planejados para depois do tédio que confessas. 

Ainda que eu seja a escuta encarnada no que esbravejas, envia em meio às risadas, 

ou cantorolas sem pretensão e sem que me desejes.

Não são pra mim as súplicas das canções, 

Nem os lamentos escondidos nos textos elaborados dos poetas escolhidos ,

Embora, por vezes, estejam a mim referenciados.

Encostaste-me qual livro empoeriado em um canto qualquer da estante da sala, onde não habitas e pouco visitas.

Lugar cuja presteza não é a feitura amorosa lasciva ou carinhosa.

Na realidade, a saudade bateu na aorta.

Há dias convivo com seus caprichos...

Acordo, levanto, escrevo, canto, trabalho, brinco, adormeço e sonho contigo...

Tem algumas luas que não há como avistar selena alguma e nem posso ver tua figura.

Também já não está a brincadeira fora de hora, marcada no relógio como copanhia a serenar o fim do meu dia.

Serenissíma a noite sem te escutar, uma tranquilidade  esquálida, pois falta a tua malícia e ingenuidade.

Alguns dos habitantes do absurdo que te caracteriza, e estão comigo escorados no móvel antigo, parados a empoeirar.

Não sei qual o motivo do espinho a perfurar mais fundo meu peito de rosa.

Não sou pra ti como um refúgio, nada abrigo dos teus anseios.

Nada, eu receio, realmente saber de ti e mais ainda da ternura,

Essa que resguardas para a tua derradeira morada.

Casa, coração que procuras.

Hcqf 13 de jan de 2022


"Minha laranjeira verde

Por que estas tao prateada? 

Foi da lua dessa noite

Do sereno da madrugada"

(Serenissima - legião urbana)




sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Triste de amor

Vamos ter uma conversa civilizada...

Se eu pudesse começar a te contar a minha vida, porque eu queria isso... eu teria muito medo de dizer que eu não tive a proteção de um pai...

E quando isso aconteceu, foi de um jeito tão incompreensível pra ti, que outro dia você falou do meu pai, como se estivesse ao meu alcance (nenhum dos dois).

No dia que me contou um pesadelo, não sei se eu entendi o que narraste, nem sei se ele aconteceu de fato, ou foi uma intimidação covarde... Quase deu certo: eu fiquei muito preocupada... 

Se eu realmente pudesse atravessar as dimensões que envolvem o real, eu estaria do teu lado, abraçada e querendo te proteger desse medo de desapontar teu pai...

Acho que era sobre isso o delírio... Eu desviei o assunto pra te proteger... porque se eu pudesse entrar na tua intimidade e te perguntar todas as vezes que tu me deste alguma abertura... Eu teria feito. Mas ainda não dou conta nem de imaginar sentir que a gente se entende... 

Te colocar pra dentro do meu mundo tá acontecendo sem que eu controle de fato... de repente meu filho pergunta se estou falando com você, chora de ciúme e pega o telefone com força e sempre a explicação é um único nome...

Porém a minha história de verdade é sobre uma menina pobre que estudou a vida inteira para ter uma carreira que ajudasse a família a limpar a sujeira que meu pai fez: ele abandonou as duas primeiras filhas e isso nos constrange profundamente.

Eu careço de proteção, isso é real, e não gosto de admitir... 

A sua história que revela desalento nos traços tristes que discorre, não me assusta, pois o medo me faz companhia desde sempre...

O desalinhado que sobressai pra ti, eu gosto que as pessoas reconheçam nas frestas que eu deixo, abre caminho para os meus defeitos menos evidentes e mais marcantes... 

Ser amada apesar dos meus erros e não pelas minhas "qualidades", é o coração da menina que deseja ser aceita pelo pai independente da idade e do tempo...

Não é o guerreiro que sustenta e provê a família que me excita... o que desejo está no cara que se deita ao meu lado despido de vaidade e me torna cúmplice de seus segredos... São os ouvidos da criança que deseja as histórias de infância do homem que ela mais ama e pra quem ela sorri sem parar, no intuito de ganhar colo, proteção, amor (em sonho)...

Eu conheço homens bons, são tios, amigos, ex-amores, mas não sei nada sobre o jeito de quem mais desejo saber...

Eu desejo proteção, o que não permito se realizar, porque evito demonstrar fraqueza... Falo como uma raposa, uivo como uma loba, para esconder a gatinha preta que me habita.

Já ensaiei te dizer isso algumas vezes, a metáfora é sobre trazer uma sorte inesperada... Não posso prometer... Mas sempre apontei direções corretas a quem amo e amei, mas nunca as encontrei na bússola que me orienta...

Desta vez, astronauta, escolhi atirar e ventilo nomes femininos sem parar... (the ship wrek - Florence)... Quero que eu saiba o que fazer quando o navio naufragar.. Já estou sentindo a turbulência das águas.... Eu confio muito no meu potencial de afogar meu desejo... 

Primeiro a amiga que não é presente mas que me atravessa a vida... Depois o amor da tua vida, no meu natalício... Apareceu o teu amor mais amigo e eu comecei a desaparecer de vez...

Mas dessa vez eu  não quero conquistar meu intento, quero conquistar o gosto que eu almejo.... Quero sentir o amor que silencias... Já estou errada desde o começo... 

Desculpa, eu não olho a tua boca, eu não miro nos teus olhos... É profunda a tua influência sobre o meu corpo... Eu desfoco, procuro outros pontos que eu também desejo tocar com os lábios... Eu miro os teus braços, miro tuas mãos no teu cabelo, só pode ser de propósito... Eu fico desalinhada, em puro desespero... Porque eu sei, não consigo fazer nada...

A mulher brava e forte que me veste, fica nua e inofensiva.... É dela as palavras que sempre mudam o cenário dos sentidos... Não é uma atriz, é uma menina... Nada sabemos sobre impurezas buscamos abrigo, queremos amor...

A moça que se aproxima, já ganhou a batalha... Nunca venci a guerra contra as mulheres que eu tornei minhas adversárias... o intuito é fazê-las me paralisar, posicioná-las feito porta bem trancada: dali em diante perdi o direito de seguir, devo partir.

Você me disse que parecia que eu estava apaixonada por ela... Queria eu nem estar apaixonada... Mas não foi ela quem me fez atentar pro teu forte traço, foi um amigo de infância, meu primeiro beijo, minha primeira decepção... Aquele que eu consegui entornar amigo, mas que ainda hoje existe um inconveniente ruído na nossa comunicação...

Foi também ele quem participou da minha história de amor primevo: eles eram amigos de sala... Assim meu pretendente podia me ver... E até hoje o cabelo claro que eu represento com Marilyn, é ele... O doce outubro que quero fazer virar novembro....

Nossa, tô com muito medo do que eu escrevi... As referências na frase são fúnebres: doce novembro é uma história de amor linda que uma doença terminal pôs fim... Eu não te falei mas eu tô doente, meu corpo tá cansado de desejar sem ter fim essa história triste de amor pelo meu pai que não aparece.

Outra referência ruim: lembrei que meu filho tem me falado sobre o meu pai... Ele afirma: não fica triste mamãe, seu pai vai trazer bombom pra ti... Ou então: fica calma, mamãe, seu pai vai te levar pra passear... Ele não sabe que eu sei que a dor que ele sente de saudade do pai dele, eu sinto... Ou talvez na sabedoria da infância, tudo isso que ele me diz, tantas vezes no dia, demonstre que ele sabe muito bem da dor que transparece em mim...

Hoje ele reconheceu meu desespero, em não largar o celular esperando a tua resposta vazia... Ele disse: não chora, mamãe, você tá triste de amor? Não tive como mentir, ele poderia jamais me acreditar os sentimentos... Olhei no mais profundo dos olhos dele e disse: sim, estou triste de amor...

Ele tinha acabado de pedir colo, por dizer que estava triste de amor, e que o coração dele doía... Ele tava pedindo atenção e carinho... Ganhou a minha verdade, meu coração, meu colo, meu respeito, minha admiração e muitos beijinhos...

Eu sou triste de amor... Hoje meu filho me reconheceu... Não tinha como ser de outra forma: minha mãe fria e meu pai ausente, permitiram muita negligência e abandono... Fui especialmente marcada de desalento e desatino nas palavras minhas dores e amores...

Quando eu te chamo de bebê, e vc não aceita, achando que é parte do carinho vil que insitei com as palavras torpes de sempre... Percebo que a gente ainda não se reconhece... Vc não sabe quando uma palavra diferente é uma ponte pro meu coração... Eu desejo tanto escrever que seja ainda...

Por favor, me dá um espaço no seu peito! Vou chegar de mansinho... Vou falar bem baixo... Vou te esperar... pra almoçar, pra tudo...

Quando eu digo que vou esperar, eu estou dizendo que você tem comigo todo o tempo que quiser... Toda hora vai ser sempre... Desculpa, sou muito apaixonada..  só sei ser assim...

Porque eu não te escolhi numa prateleira... Não te formatei num aplicativo... E quando a sua mão calou meu medo de revelar a minha poesia... Meu ímpeto queria segurar ela bem forte... Queria segurar ela lá no palco enquanto falava...

Porque depois que eu vi a tua mão estendida... Eu não vi mais nada... Não lembro se a segurei, não lembro como cheguei ao palco... Tenho lapsos de alguns momentos, tipo os seus olhos tímidos me olhando procurar coragem na imagem projetada no espelho...

Se falei e como falei não escutei, nem senti... Foi rápido como um gozo curto... Eu mesmo em pé, mesmo de microfone na mão, ainda estava sentada à mesa olhando seus dedos sobre sua perna numa obra de arte enquadrada pelos tons vermelhos e o tom da tua pele...

A gente não combina em nada... Hoje escrevo tudo isso porque não haverá outra conversa... Apaguei teu contato... que já teve inúmeros pseudônimos...E vou começar a te tirar da minha vida... Iniciei uma linda história de amor consagrada, entre você e a escolhida pra me sabator...

Já tenho até a desculpa ensaiada: ela tinha um relacionamento abusivo, precisava que o amor lhe salvasse, teve também uma infância difícil, que ela não vai ter medo de te contar... Ela é a personagem que conversa contigo de madrugada: sincera, autêntica, independente, amorosa e um xodó da vida...

Dessa vez quero tentar te deixar perto e poder escutar o violão que te acompanha revelar doçura nesse escuro estrelado.

Já tenho a distração escolhida, um rapaz que está morando fora... Ele vem em dezembro... Tenho tesão nele, mas é só (e depois? Continuo a conversa com as mensagens que trocamos)... Com ele não será nada... Vou cultuar a tua voz e teus versos imensos e frios por um tempo... E esse vai ser o enredo desse trecho da minha estrada.  

Talvez minha saúde careça de atenção... Então vou jogar meus olhos para essa situação e tentar desejar vencer a batalha contra o que quer que me espere na curva... 

Pena que não espero, ou vejo possibilidade de ser você tocando e cantando pra mim: 

Fale mais de vc

Dos seus discos

Do tempo de criança

Do elo perdido

E do primeiro amor

Que te deixou assim 

Com tanto medo

Do mais novo amor....

Senta aqui...

(Do meu lado)

Prometo não avançar 

O sinal

Vermelho

Dos teus olhos

E quando vc pedir pra parar

Eu paro...

É uma história de amor (2x)

(o que  proponho a você, minha menina,

 é um final feliz)...

E já que eu não vou poder mais fantasiar um encontro carnal das nossas almas... Deixo aqui uma saudade de te dizer que a gente podia se fazer bem que só... 

Desculpa te deixar retraído e receoso, faz parte da cena que sempre me leva o amor embora...

H.c.q f 15 de nov 2021/ trechos modificados 06 de janeiro de 2022.


Vídeo

https://youtu.be/kBOJsYynIx8


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Lagoa insone

 Cansada de ser tratada como uma coisa esquisita, que chama atenção por destoar do entorno. 

Ao me avistarem, por vezes, sou tratada como quem aprecia uma obra surrealista. Há vislumbre de beleza, mas também estranheza e o que se conclui é um vazio de sentido.

A minha peculiaridade, que por vezes se avista como absurda, é de carne e osso. Sangro e desmorono como qualquer humano, choro, peço colo, careço de carinho... 

Quase nada em mim é firme... pouco ofereço que seja contuso... minha dureza e seriedade vocabular aparece em momentos (até inadequados), mas mergulha e some na profundeza confusa, infantil, desmedida, impulsiva e romântica cuja maior parte do meu oceano configura.

Poderia dizer que nada em mim ressoa autossuficiência, mas se alguém percebeu algum foco de autoestima não foi por meus encantos. Tenho poucos aliás, meu fascínio por min tem origem no meu pouco critério lógico quanto à beleza, moral e virtudes. Minha identificação está mais do lado da ética, da distopia e da tragédia.

E o caos que me reveste em nada prenuncia meus aspectos sugenéres. Sou comum, tal qual lago de água parada, como descreve Benedetti, esperando chuva que possa movimentar os musgos das minhas paredes e permitir que o oxigênio volte a trazer vida que faça morada. 



O poema:

"Unas veces me sientocomo pobre colina
y otras como montaña
de cumbres repetidas.

Unas veces me siento
como un acantilado
y en otras como un cielo
azul pero lejano.

A veces uno es
manantial entre rocas
y otras veces un árbol
con las últimas hojas.
Pero hoy me siento apenas
como laguna insomne
con un embarcadero
ya sin embarcaciones
una laguna verde
inmóvil y paciente
conforme con sus algas
sus musgos y sus peces,
sereno en mi confianza
confiando en que una tarde
te acerques y te mires,
te mires al mirarme." Estados de Ánimo - Mario Benedetti)
*********************

Mais sobre Mario Benedetti:

https://www.revistaprosaversoearte.com/?s=mario+benedetti

Música: The Archer (Taylor Swift)

Combate, estou pronta para o combate
Eu digo que não quero isso, mas e se eu quiser?
Porque a crueldade vence nos filmes 
Eu tenho uma centena de discursos rejeitados
Eu quase disse a você Fácil eles vêm, fácil eles vão
Eu pulo do trem, eu vou sozinha 
Eu nunca cresci, está ficando tão velha 
Me ajude a segurar em você Eu fui a arqueira 
Eu fui a presa 
Quem poderia me deixar, querido? 
Mas quem poderia ficar?
Lado negro, eu procuro seu lado negro
 Mas e se eu estiver bem, certo, certo, bem aqui?
E eu cortei meu nariz apenas para irritar meu rosto 
Então eu odiei meu reflexo por anos e anos
Eu acordo no meio da noite, ando como um fantasma 
A sala está pegando fogo, fumaça invisível
E todos os meus heróis morrem sozinhos
Me ajude a segurar em você 
Eu fui a arqueira, Eu fui a presa 
Gritando, quem poderia me deixar, querido? 
Mas quem poderia ficar?
(Eu vejo através de mim...) Porque eles veem através de mim 
Eles veem através de mim 
Eles veem através Você pode ver através de mim? Eles veem através 
Eles veem através de mim Eu vejo através de mim...
Todos os cavalos do rei, todos os homens do rei 
Não conseguiriam me juntar de novo 
Porque todos os meus inimigos começaram como amigos
Me ajude a segurar em você Eu fui a arqueira Eu fui a presa 
Quem poderia me deixar, querida? Mas quem poderia ficar?
(Eu vejo através de mim...) Quem poderia ficar? 
Você poderia ficar Você! Combate, estou pronta para o combate.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Do sabor-saber ao saber-sabor

 Do saber-sabor ao sabor-saber:

Um amor carnal, tem uma ética carnívora por saborear o gosto do corpo do outrem em uma refeição sem etiqueta.


Tal como a ética do desejo, envolta no ritual de alimentação mais primevo, pelo qual o bebê apreende o gosto/gozo da vida ao esperar o que vem do outro e libertar a fera: desejar.


É primordial que o desejo de se relacionar se cumpra, para que a ceia antropofágica aconteça. 


E a transferência de sentidos, significados, sentimentos e sensações nas múltiplas linguagens é o que proporciona tamanho saber-sabor.


E as perdas cabais contidas em cada pedaço a alimentar o anseio bestial, são deglutidas com sofisticada elaboração, quando o sentimento se desfaz na boca deixando como lembrança o sabor-saber.


Uma experiência paradisíaca em meio ao deserto da vontade de voltar a se satisfazer. Inferno a premeditar o céu, que a boca procura no corpo que contorna diante da fome de amar.


É solene a metáfora, mestre e discípulo a qual se refere Rubem Alves* sobre cozinheiro e aprendiz no lindo texto "Variações do prazer": a única hierarquia que vigora não coroa nenhum dos envolvidos.


É preciso humildade e pouca pompa e circunstância para se entregar numa relação de amor.


Contudo, ceder é o mais alto prazer conquistado por quem não se importa de entregar pedaços caros ao bel prazer.


Fica num nível menor da existência quem come com vigor, pois o lugar privilegiado está em sentir os cheiros a aguçar os sentidos; ao colocar a mesa para que o outro entregue-se sem pudor e receber um significado estrangeiro ao ouvir que está delicioso. 


Nutrir de afeto é uma poesia emprestada aos cozinheiros pelos deuses e que desde a mais tenra idade deixa faminta a alma.

Hcqf 4 de jan de 2022

Nossos espaços secretos: pessoas que amamos

 Eu não quero te entender

Eu quero te advinhar

Saber antes mesmo de você 

O que faria teu olho brilhar

Pra te trazer um pedaço do paraíso 

E ganhar o céu em um sorriso

Parece errado antecipar alguém e suas vontades

É perigoso

É arriscar perder o que não tem igual

Mas não é da ordem da razão 

Pré-anúncia não quem é recompensado

Mas quem foi capturado pelo outro 

E por alguns instantes

Sai do conforto da sua própria alma

E caminha o escuro inabitável em outra vida

É mergulhar em um mar gelado

Que relaxa, ensina, desterritorializa impressões 

Traz aprendizados estrangeiros 

E por menor que seja o mergulho 

Sempre é profundo

E desvela um receio que estava muito bem abrigado

No fundo

Escondido

Encoberto 

Do que há de secreto no desejo 

Perdido nessa busca

O abandono das certezas revela o inesperado 

Somos mais alma que água

Mais deserto que floresta a guardar seres vivos

Embora na areia que somos 

Cada oasis que escondemos de nós e dos outros

São o motivo de vivermos

E quem vê nossos pequenos habitats espalhados 

Tal como as estrelas a formar constelações no espaço 

São amores que nos mostram 

O motivo da vida todo dia vencer a morte

E cada espaço secreto que nos encontra

São pessoas que amamos

Antes, agora e imensamente 

hcqf 3 de jan de 2022


sábado, 1 de janeiro de 2022

Universal-mente

 Quero começar esse retorno simbólico expressando meu uni-verso...

Tal unicidade que me constitui e atinge, de tão pequena.

Para não descuidar desse amor que me alimenta,

Para cultivar a leitura, a escrita, a poesia, a literatura, a escuta, a psicanálise e a vida/morte que me habita.

Um portal simbólico, que marca a finalização de uma volta entorno do astro-mor. Embora, também seja o início de uma nova trajetória circunscrita a exaltar a majestade encandescente do sol.

No entanto, é por meio da pequenez da Terra que acontece essa travessia cósmica. É ela que rés-guarda complexidade, diversidade e incontáveis formas de vida, sem parar de girar por si sob suas leis e dinâmicas.

Nesse rito no qual protagonizamos fim e reinício, também experimentamos (si.len.ci.o.sa.men.te) oposições que nos constituem: sermos parte da universal infinitude; estarmos presente em uma finalização e a ausência da certeza do que realmente se inicia; celebrarmos grandeza e pequenez na existência.

Nossos símbolos, signos, letras, linguagem, comunicação, história, crenças e psiquismo tentam nos defender do não-saber que nos cerca de todo lado, contudo nossos rituais e lembranças nos condenam a sentir liberdade e vazio; saudade e espera; eternidade e finitude no mesmo instante diante da grandeza do cosmos.

Criamos o mundo pelos símbolos que trocamos, mas territorialistas, alcançamos o sentido cosmopolita, sem jamais alçarmos à universalidade, por mais que empreitemos ficcionalizá-la com a nossa vaidade.

Aqui, agora - no que está entre o passado que já não temos, o futuro que não podemos alcançar e o presente em que vivemos - somos físicos como o ar a evaporar pelos dias deixando massa, calor, perfume, palavras, pensamentos, sofrimentos, falta, desejo, amor e poesia.

Até, então...

Hcqf 1 de jan de 2022