domingo, 3 de dezembro de 2023

Eu preciso que seja a última/única vez...

 Encontrei um pedaço de história... Desses que parecem cometa, que passa a cada década, ou século e você só vê o rastro de fogo no céu e se encanta... E quase promete que quer estar vivo, o suficiente, para ao menos enxergá-lo de novo na próxima vez que ele rasgar as nuvens com seu incêndio brilhante.

Um ser astronômico... Vagando no espaço e consumindo o tempo, entre o passado e o futuro, deixando o presente para as madrugadas de insônia, em que frequenta bares, mulheres, amigos, músicas e apaixona corações partidos pelos desencantos do mundo.

Encontrei esse asteróide e ele fez uma cratera na minha alma, o que é da sua natureza, grande, pesada e, incrivelmente, quente... Não posso negar que temo o desencanto com a sua partida.

 E estar na presença dele me deixa em carne viva, por dias, semanas... Depois preciso elaborar sua eternidade de estrela, para seguir com o encanto que me atinge quando ele me toca.

Aprendi a linguagem do universo, em histórias com personagens bíblicos, mulheres incríveis, enquanto caminhava sozinha ao lado de um viajante do tempo... Ele um verdadeiro astronauta, pisando em outra gravidade, enquanto vaga pelas ruas escuras com as quais se afina/identifica.

Eu, um ser anacrônico, cuja vida andou para trás até encontrar um abrigo dos olhares doentes das pessoas tristes da minha história. Depois de muitas ofensas, mais uma quase agressão física e ameças a minha liberdade, cheguei ao interior fugida, onde meu inimigo não me encontraria e devagar recomecei outra página, como ainda agora, com dificuldade, mas encantada com a nova paisagem e o que a compõe, quase todo dia, ainda extraordinária, depois de 34 anos presa a mentiras, fofocas e repreensões.

Demorei a encontrar amor nessa nova cidade... Nem deveria... Outra moradora desses lados, roubou meu coração ainda jovem e eu tinha ciúme da sua amizade, não pude alcançá-la, hoje reconheço nesse outro corpo celeste o mesmo brilho astrológico de Halley.

Foram alguns meses, quase um ano para eu elaborar sua distância da minha superfície, ela não se afinava com meus interesses... Desta vez, eu mudei muito por dentro para encostar nesse outro planetóide, embora nosso encontro seja uma ficção desconhecida guardada em um sebo a espera de um leitor voraz, capaz de me libertar das lembranças costuradas na minha alma.

Algumas linhas de dor, escritas sem ternura alguma, podem me enterrar viva nesse drama amoroso. Preciso contá-lo como sinto, com um afeto tremendo de quem queria construir um ninho envolta do escuro mais estranho que me fez amar.

Por isso, vou acomodá-lo entre meus livros favoritos, na estante com autores encantados pelos encontros felizes que me arrancaram de crises melancólicas e dias tristes. Vou costurá-lo em algum próximo personagem, levar para cama uma camisa preta de alguma banda desconhecida, prometer escutar suas músicas favoritas um dia sozinha, chorando meu choro mais temido, cantando em um festival de rock maldito para o meu filho, para mim e pro escuro que me esquentou/escutou pela primeira vez, depois que eu perdi o amor da minha vida.

Era isso que eu precisava dizer... 

Espero encontrar o amor de novo nessa vida ainda e esquecer, ao menos um pouco, esse breu encantado.

HCQF 3 de dezembro de 2023

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