sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O frio no topo

 Não dá pra enfrentar o inverno de peito aberto

O branco neve, exige aconchego, dobra o volume das roupas e do corpo

E o cinza denso do nevoeiro perturba os sentidos ao embaçar a visão e esfriar a tez

Diminue o tempo na rua, acrescenta horas ao conforto da cama

Vem dos seus dias frios, o modo de querer alguém em um lar "acalantoso"

Chamam de "amor romântico", esses "romances" sobre o amor, cujos mais conhecidos foram escritos diante da lareira, enquanto a neve tingia de branco telhados, calçadas, os bancos das praças e o inverno entrava no peito congelado dos europeus

Um grande amante, Shakespeare, era do United Kingdon, cujo estilo extraordinário não descreveu amores alegres, nem simples, apesar do quão populares tornam-se seus escritos

Talvez, não as traduções, apenas, mas muito mais as versões de suas obras, construíram estórias simples que determinaram sua fama que atravessou oceanos e barreiras da língua, sem tocar os cânones que lhe renderam a crítica literária mundial, por seu estilo vernáculo inovador e a pena dolorosa que tomou muitos dos seus versos

A chuva constante, o frio e o preto dos guarda-chuvas, estão todos alí no peito elizabetano de Willian, ainda que não restritamente triste, no entanto clamando o colo e o âmago de seus apaixonados leitores

Não, não dá para abraçar o inverno e não sentir sua face gélida e a densidade do ar que respira

É precário até dormir, dorme-se mais horas, porém o descanso é menor

Por passar por momentos em que lençol algum empresta calor ao corpo duro pela baixa temperatura que marca a alma também

Não passa o corpo pela estação mais escura a resguardar sua luz mais cálida

Em algum canto desse trecho do caminho o sopro apaga a chama dos sentimentos que aquecem

E vive o sujeito dores tenras diante da coisa mais inédita: amar sem o amor em troca

Ninguém está impassível desse inverno: homens racionais, mulheres exuberantes, pessoas brilhantes, grandes nomes de suas áreas...

Tocar o topo de alguém muitas vezes é entrar no breu mais insólito de si mesmo 

E sentir não a chama que forjou de vida sua alma, mas a lama movediça em que se esconderam seus tristes fantasmas e o vento que sopra antes da tempestade mais longa 

Não adianta guarda-chuva, nem qualquer abrigo, é quando o amor faz todo o sentido: paciência, generosidade, honestidade e presença

É estar numa estação a espera de um transporte, mas contar que o destino traga alguém que te reconheça como humano

É sobre ver a si mesmo desamparado pelos olhos do outro e desejar que o gray dos dias perca um pedaço e ganhe duas sílabas de grace, e não de grave.

Hcqf 18 de agosto de 2023


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