sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Escritura(s)




Uma palavra me apareceu e aconteceu: ESCRITURA. E como gosto dela! Um lapso me fez imaginar sentido nela: criatura escrita, ou sujeito escrito, ou ainda ex-cri(a)tura – (des)-crita...
Criatura escrita, como uma inscrição de gente surgindo da composição de papel e escrita-letra. Tal como um desenho só que abstrato, pensei sujo-imundo de desejos incompreendidos de Ser...
Sujeito escrito, na onda psicanalítica que me solavanca, da prática que me cicatriza à teoria que me desgraça...
Ex-cri(a)tura, cuja forma se desenforma como um vento... ora líquida, ora sólida, ora tormento, angustia... tal como uma partida, ou em partes como a vida, mas que se chocam a despeito de Kronos.
(De)scrita, faz parte dos jornais que me ensinaram a escrever e a ler, ao lado de adultos inseguros, numa casa velha, rendada como a saia de uma avó austera e presente. Sempre no fogão, querendo alimentar nossos corpos e nos fazer esperar a família se reunir para crescer. Tinha o que comer, onde dormir e para onde voltar... Tinha a saudade da mãe solteira e trabalhadora, também do pai ausente, re-ferido num pai-padrinho-tio, este mais criança que todos na casa, porém também firme em suas opiniões e no medo que dava de desobedecê-lo. 
De escrita também de Ex-escrita, porque foi deixada de lado para poder conhecer a solidão e a frieza da alma, que durou quase dois anos, mas fincou mais outros tantos dias no meu peito. Mas é de escrita e invenção esse momento, então que venham suas páginas de criati-ventura...

Espaços que me governam por um breve momento, em que só consigo acalmar depois de criá-los como PÓ-R-SONS, que me cantam algum tempo distante ao ouvido... E novamente outra forma onírica me aparece, desta vez um pouco menos condensada, fluindo em ondas sonoras, colocando música do pó de onde e para onde irei... São pequenos relatos da criança que me encontra adulta-velha, mas me pensa jovem-menina...
 


(HCQF/Out-2016)


domingo, 24 de julho de 2016

Amem(os)!





Que neste dia o mar esteja para poesia

Que este dia
Esteja para a poesia
Como o mar
Está para a maresia
E o amor
Para a companhia
Amem!

Pelos dias que foram melhores que outros
Pelos que simplesmente foram
E pelos que serão
Amem!

Até que o mar
Esteja para poesia
E amar
Esteja na maresia
E o dia na companhia
De quem se foi...

Amem!

(HCQF/ jul-2016)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Cultivar as nossas faltas...

Tenho buscado mais esse "sagrado" feminino, no qual me escondo. Tenho mergulhado de cabeça nas aventuras que meu corpo esconde, venera e se impõe.
Sou bem menos menina que já fui, sou até mais menino, mas também muito mais mulher.
Estou descobrindo aspectos conjugais das minhas dores. Casamentos e despedidas fiz e refiz com minha história. Estou ainda mais entre-tida de amores e multidões. Estou vasta de loucuras, ocupações e desperdícios...
Tenho pensado bastante sobre a morte também...
Tenho buscado enfrentá-la para não perder o meu tempo com uma vida sem esperança. Quero ter a (razão)certeza de que estou aqui... o que só se tem tendo a certeza de que um dia a hora vai chegar...
Escutar os dias, as paisagens, os desenhos que faço nos meus sonhos, redesdobrá-los, reconfigurar algumas horas, rever parceiros antigos, depois de tudo ir embora, para experimentar a ideia que um dia será pra sempre.
Recordando dessas coisas quis voltar a esse lugar que muitas vezes me ajudou a me construir e recolher (os pedaços)...
Tenho assistido muitos filmes sobre sadomasoquismo e quase nada sobre o amor clichê que sempre esperei... tal-vez, como quando falava com uma grande amiga da atualidade, eu estivesse mesmo, tentando encobrir com uma fantasia barata o meu desejo mais caro.
São de ilusões que se constroem as rotinas, mas de desilusões a alma. Sem elas as coisas correm numa mansidão moribunda, não há nada mais o que procurar, só se deixar ir.
Vi pessoas buscarem com todo ar-dor algum tipo de sofrimento, uma paixão destemida de sentir seu corpo, no limite da carne, ou lembrando do que outra grande amiga disse outro dia, quiçá um mal-estar na carne.
Inferno e paraíso numa mesma existência, em que o paraíso era o que se temia e o inferno para o que se entregavam. Estórias que desvelam mais do que vemos de(as) fantasia(s) (d)nelas, histórias que corroboram, histórias que personificam, identi-ficam, esclarecem, são...
Na Lee de "Secretary", o apogeu do querer, na Elizabeth de "Nove e meia semanas" o apogeu da dor, no "Instinto selvagem" interpretado por Sharon Stone a força da angustia... A quem o desumano descaracteriza? Ao próprio humano, ou o nosso animalesco? O que há de civilizado em ser social?
É Platão quem chega com toda força, nesse momento, com(o) uma proposição significativa: o homem é um ser social. Fiquei a pensar: e isso o torna mais ou menos civilizado?
Freud aparece, agora, com alguns pensamentos encontrados no Mal-estar que ele localiza na cultura. Assim, há que se pensar: de onde vem esse mal? De onde vem a cultura? Para o que se direciona o home(m) afinal?
Talvez questões pertinentes aos tratados mais questionadores: Ser social? Demasiado humano? Super-homem? Mulher, homem, bissexual?
Deixo questões para eu não esquecer que a angustia que nos faz cativos, cativa nossos desejos, faz querer a falta e o seu preenchimento.
   (HCQF/març-2016)