segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Medo x negacionismo

 Um dos piores dias no meio dessa pandemia. A segunda onda do coronavirus assombrando o Brasil com ainda mais mortes, principalmente, a de quem esteve em casa se cuidando, pois existem muitos assintomáticos negando a gravidade da doença e colocando em risco a vida e a sanidade mental, de quem esteve todo esse tempo se resguardando.

Centenas de mortes diárias, somando milhões de mortes e ainda a falta de leitos agravando a busca de melhora nos casos moderados e graves. Pessoas agravando e morrendo por falta de cuidados, já que a rede de saúde pública e privada começa a entrar em colapso.

Não é o meio da crise o que mais causa temor,mas sim o início e toda sorte de descontrole e falta de compreensão sobre a situação. Ficamos jogados em meio a medo, desesperança, desespero e muitas mortes.

Por sua vez os governos não fazem as devidas restrições por causa das promessas de alta de vendas do fim de ano. E enquanto isso as pessoas não vêem que podem passar as "festas" nos hospitais, em respiradores, enlutadas, ou até mesmo não chegarem as festas.

O luto que já é algo que cria uma variedade de sintomas negativos de tristeza, desesperança, em uma situação calamitosa como a da pandemia abre caminho pra toda sorte de sintomas psicopatológicos: pânico, fobia, ansiedade, depressão, psicose, etc.

Não é fácil conhecer todas essas possibilidades pelo horizonte e saber que uma área como a saúde mental não é respeitada.

Conviver com o medo e o negacionismo acaba sendo tão pior quanto estar em meio a uma pandemia. A descrença na gravidade, na transmissão, na mídia que divulga as notícias do país, tudo transforma o pior no caos.

Precisamos de muita paciência, autocontrole e fé, porque está muito difícil esse final de ano.

H. C. Q. F. 20 de dezembro de 2020


sábado, 24 de outubro de 2020

Psi

Nesses dias, tenho pensado sobre a vontade de ser psicóloga...
Só eu sei o quanto não parecia para mim, e o quanto ainda hoje encontro recuos nesse meu caminho.
Mas é uma decisão muito pessoal: todo dia escolho a psicologia.
Eu poderia dizer que fui escolhida pra isso, mas é tão minha a maneira que me coloco nesse lugar, que transborda para outras áreas, sem inundá-las.
Sou aquela que tem sede por escutar, tem fome de interpretar e vê na vida mudanças diárias que enchem de possibilidades as histórias.
Por vezes a minha alma doe de tanto aceitar o lugar do acolher, do frustrar, do acompanhar na dor, ou do simples ouvir memórias... 
Sim, existem muitos percalços. Alguns invisíveis, como as faltas, os silêncios, as decepções, e os abandonos.
Porém cada escolha de bancar e assumir o lugar incômodo de sentir com todo o corpo, os sentidos e os sentimentos, veio ainda antes..
Não quis a riqueza material das profissões mais utilitárias e seus status de necessárias.
Preferi ser a amiga que ninguém sabe que é procurada. E que ao oferecer uma orientação não precisa escutar que deve resguardar aquela circunstância.
Nesses dias venho reencontrado esse momento de decidir pela psicologia... Lembro do começo, do antes, do sempre, do que não termina em mim e do reitera...
H.C.Q.F. de 24  outubrode 2020

terça-feira, 6 de outubro de 2020

O Fracasso vem da alma

 O Fracasso é um grande educador! 

Não um professor, que ensina a lição do dia, e você esquece assim que ele apaga a lousa. Também não é um mestre, porque não tem um aspecto de grandeza.

Ele é simples e direto, você aprende por estar passando pela situação e não tem como escolher não passar.

Assim, de maneira objetiva, fracassar ensina sobre o que ninguém poderia te fazer aprender só de ouvir contar, também não daria para aprender só de ler, ou mesmo saber que existe.

No dia de aprender com o Fracasso, todos os seus aprendizados são sentidos por seu corpo, seus sentimentos e seu pensamento. O seu emocional é tomado por uma atmosfera que no começo é tal como  estar em uma tempestade sem abrigo, depois parece quando a chuva passa mais o frio permanece, mais tarde vem a neblina -quando você tem que acordar bem cedo para um compromisso inadiável... Parece com tudo o mais que em outra circunstância qualquer um adiaria, e deixaria para um outro dia, mas agora não tem saída.

Exatamente assim... Quem te fez mal, fica forte e cresce pra cima de você... Quem te fez bem, não consegue voltar a fazer... E só tem uma saída: você se encontrar com você, e todos os seus defeitos, mas também suas qualidades.

Justamente, os seus defeitos ficam em relevo, viram brilhantes e você é o alvo de todo tipo de julgamento. 

Ninguém quer se ermanar ao fracassado. Ninguém quer chegar perto. Existe o medo de levar o fracasso pra própria vida. E também é mais cômodo se identificar a quem está forte e seguro de ter vencido, do que chegar, ao menos perto de quem fracassou. É nesse momento que a gente aprende muito sobre covardia também. E não é fácil enxergar a intenção de quem estava na sua vida e muitas vezes não deveria estar.

De repente, enquanto seu corpo aguenta e se fortalece em meio às intempéries - quanto mais atento a si mesmo, aos seus desejos -surgem sentimentos muito sofisticados, próprios dos momentos difíceis, tais como: esperança, fé, amor próprio.

Esses  sentimentos são como oasis no deserto, atribuem sentido a algo muito simples, que em meio a rotina não valorizamos, por exemplo, beber água.

E como água no deserto começam a brotar suas qualidades diante dos seus olhos. Ali no espelho, esteja ele quebrado, envelhecido, manchado, esquecido... Você passa a perceber virtudes que não se dava conta de ter, e começa a cultivar características, as vezes tímidas, que lhe pareciam desnecessárias. E estas serão grandes companheiras depois que o fracasso for embora.

Sim, um dia, quando você já estiver afeiçoado a sua presença, como uma visita inesperada que te coloca em situações desagradáveis e mesmo assim você vai se alegrando nela sem perceber, o Fracasso vai embora deixando uma saudade enorme regada até a risadas ( foi ele quem inventou o ditado: um dia você vai rir disso tudo).

É que desde o dia em que chegou foi fazendo as malas para partir. Sabia cada sonho que a sua alma pedia para se realizar, enquanto você não podia escutar.

E foi tirando da sua vida: cada pessoa mal intencionada, cada objetivo covarde, cada situação desnecessária que você se colocou por estar surdo para si mesmo.

A mala do Fracasso é sempre enorme, por isso que quando ele passa a gente fica leve. Ela também é muito grande, porque ninguém fracassa por um único motivo.Ele é resultado do acúmulo de empecilhos ao seu crescimento.

 A alma nunca fracassa, mas o Fracasso vem da alma. E só quem tem a alma viva e honesta é capaz de passar pelo Fracasso. Posto que é preciso muita c(alma) pra crescer em vida.

H.C.Q.F de 6  outubrode 2020.



domingo, 20 de setembro de 2020

N

Se sentir amado, é saber que não há uma condição para que deixe de sê-lo. 
Não existe o medo de errar, mas existe o medo de perder... Uma das ambiguidades que cabe no amor.
Ele entrega ao amado ser uma aceitação tão grande, que os erros fazem parte, os defeitos também...
Fora do amor, errar faz doer e partir...
Dentro do amor, errar faz aprender e amar ainda mais...
Vendo um episódio de Anne, senti a dor da pequena órfã ao ser devolvida ao orfanato, devido a suposição de furto. Exatamente aí não cabe o amor...
O medo de ser devolvido... O deixar de pertencer...
Por isso ser amado é tão constitucional, constrói parte importante da nossa identidade, aponta onde podemos ser encontrados e para onde podemos voltar...
Não caber mais num lugar, que alguém disse que você teve, faz perder o sentido de amado ser.
Devolver alguém também faz o sentido de amante morrer.
Se você ama pelo que a pessoa é, existe essa condição, não é amor.
Se você é amado pelo que tem, existe uma condição, não é amor.
Se existe amor diante da dor, também não é amor...
Amor é o que permanece depois de tudo: depois que o tempo passa, que a situação muda, que o temperamento se intensifica, em meio a doença e a saúde.
Não é amor o que traz saúde, isso é remédio,ou boa alimentação.
Não é amor o que faz sofrer, não seria, amor é o que passa horas e dias com doer e com alegria...
O amor é ambivalência, polissemia, paradoxo, ambiguidade, distopia...
Faz sofrer e chorar, também sorrir e cantar.
É amor quando é todo dia.
H. C. Q. F. 20 De setembro de 2020.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Presença na saudade

Sempre tive saudade em mim...
Como se fosse parte dos meus órgãos do sentido...
Sempre foi sinestésico: sabor de saudade, cheiro de saudade, som da saudade...
Agora encontrei seu nome em mim.
E de tão alva presença que me ilumina mesmo na ausência... 
É Lu(is) de dia e de noite... 
E se não está comigo é inteiro saudade, porque perto dele o presente é pleonasmo.
E o passado é anacrônico, revejo-me criança.
E o futuro é paradoxo, já que não o vejo nas minhas atitudes adultas, posto que lhe quero mais sábio e mais feliz.
É o meu sonho em vigília contemplado... 
Mas também pesa não poder estar com.ele.sempre.perto... 
Desejo que ele, qual presente de mim se lembre.
Diz a canção: "Eu tenho medo, mas sei que isso é bom, é com o que conto pra sobreviver..." (Vital Lima - O Parkour)
H. C. Q. F,18 de setembro de 2020.

Indicação de música do YouTube:
Parkour - Vital Lima
https://youtu.be/hlrQUHXoeDg


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Pres(ente)

Um dia, na adolescência dos meus dias, ouvi que estar ao meu lado seria o melhor presente de aniversário.
Algo inesquecível! Ainda agora me surpreende... Um frio, gostoso, toca o meu ventre...
Então de repente, quando eu disse:
- felicidades!
Ele disse:
- hoje eu só queria ficar o dia todo do teu lado.
Se sentir um presente para alguém não tem tamanho... 
Não cabe em um momento...
Não tem fim...
Não tem uma referência anterior.
É insuperável! 
Marcante como uma dor, que não flagela, mas corrói as defesas... 
Da pra sentir cada pedaço do medo de se entregar, de se envolver partir...
Fez sentir o quão singelo é tornar alguém amor.
Não está na matéria... 
Não tem um jeito certo de acontecer...
Não segue qualquer padrão...
Faz existir na mesma hora uma alma amada, que vira um manto, que de dentro para fora esquenta e envolve.
Cobre todo o corpo, no frio da saudade.
Es que nasce um abraço invisível que vira abrigo diante da sensação de vazio.
Tal que inaugura o sentir falta, que apesar de nascer antigo, ganha sentido e fundação. Daquele dia em diante, toda distância merece a existência do contrário. 
E eu ainda lembro do rosto que disse, do momento em que sua boca não exitou em entregá-lo, mas não foi tão fácil.
Ele abaixou a cabeça e só levantou pra dizer, depois abaixou pra sentir o que dissera, doeu em nós dois.
E agora parece que só sobrou a dor...
No entanto, é sempre agora, quando recordo desse amor.
 Sentir ser amada é eterno. Tal como ensinou uma estrangeira a Sócrates, segundo Platão.
Ser presente é deixar de ser instante.
Faz nascer o ser amante e o ser amado no mesmo ente.
H. C. Q. F. 10 De setembro de 2020.

sábado, 5 de setembro de 2020

Parar de sentir

 


Não sei como é deixar de amar alguém...

Nunca experimentei parar de sentir o amor que nem escolhi doar, mas nele me dei.

Como pedir de volta um desejo que foi para o outro? 

Não há como pegar de volta... 

Me peguei pensando em quantas vidas já amei e percebi que nem ao menos uma eu deixei de amar.

Ainda sinto a mesma alegria quando lembro dos dias lindos e ainda sinto a mesma tristeza por aqueles em que nos ferimos.

Pensei também se não seria melhor não pensar e então guardá-los em silêncio. Talvez fosse, mas não é...

São lembranças teimosas vem e vão embora quando um cheiro, um lugar, alguém faz lembrar uma cor, um detalhe...

E são esses detalhes que tornam o amor inesquecível. Cada pedacinho consagra o infinito. É que são tão miúdos, que nos dias em que os encontramos,o mais provável, é que nem percebemos que eles atracaram bem lá no fundo, onde é tão escuro que nem parece existir. Mas uma fagulha de luz já torna possível contemplar essa nossa profundeza.

E quando o vento da saudade sopra, eles se espalham pelo dia e cada canto da nossa história reaparece numa música que mexendo em uma playlist antiga, "sem querer", faz um grande amigo reaparecer; ou passando em frente a uma doceria, o cheiro de bolo de milho faz levar pra casa ao menos uma fatia do bolo preferido da avó mais querida... 

E cada recordação parece ao acaso, mas  bem no fundo, não é não... É saudade de nunca ter deixado de amar quem nos amou... 

Não dá para parar de sentir o que seu corpo, sua memória capturou do mundo para fazer parte da sua história.

É num caminho que se pega errado ir parar na parada incerta e fazer todo sentido ter chegado.

H.C. Q. F. 5 De setembro de 2020.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Pra ter

Ser mãe não me dá prerrogativa pra saber como é ser pai. 
Não ter convivido com meu pai também não explica em si a ausência de um pai, quando na verdade me faz entender apenas sobre a minha história com o meu.
Na minha vida eu fui levada a significar o dia dos pais, com certa literalidade, isto é, dia de vários pais: pais-tios, pais-primos, pais-sogros... 
Não sei se posso dizer:"feliz dia". 
Não sei mesmo se eu posso dizer algo sobre a figura, pai.
Desde longe este é um momento que remexe em mim...
Não é com dificuldade que eu dedico "feliz dia dos pais" pra alguém. Mas é sim, difícil encontrar alguém que caiba nessa palavra quando eu digo.
E eu acho que eu sempre quis encontrar essa pessoa pra quem eu pudesse dizer.
É preciso elucidar o óbvio, o quanto essa palavra ficou cara pra mim. O quanto...
Não sei como não dizer...
 É bem capaz que eu não diga pra quem quero. Ainda mais que seria como "desdizer", já que eu queria sentir a presença, sentir ser o presente, ser então de alguém que fizesse sentido.
Não sai com dificuldade, entretanto é sobre a difícil entrega de um dizer/ser de/para alguém.
Talvez entreguei-me sem regalo antes da data certa... Talvez demonstrei o valor dessa espera que me fez ter pressa... Talvez, e quiçá ainda, talvez eu queira encontrar a calma perdida.
Eu só queria contar que acho lindo um pai lembrar da filha. Escutar o pedido de saudade e voltar, mesmo depois da rotina ter tomado conta. Ver o abraço se materializar em sensação e abrigar o olhar, a batida do coração e o cheirinho no pescoço.
Saudade também é amar! E que nunca se fale sobre ela sem citar uma pessoa, mas ainda assim ela esteja lá. 
Que se guarde o nome, a sensação, mas não se cale aquele que fez do braço um abrigo, do coração um sentido.
E o desejo de felicidade desse dia encontre quem fez da paternidade uma moradia.

H.C.Q.F 28 de julho de 2020

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Saúde Mental



Muito se fala sobre depressão, ansiedade, bipolaridade, suicídio, entre outros conceitos entorno da vida psíquica. Com efeito, existe uma enorme gama de informações que podem ser obtidas pela rede mundial de computadores. Torna- se, então, relevante refletir quais conteúdos são mais procurados e mais encontrados. Isto é, o que está mais acessível no que tange à saúde e à doença mental?
A maior parte das pesquisas são relativas aos sintomas e diagnósticos de psicopatologias. Porém o que originou a busca não se torna motivo de investigação. Isto é, o que pode estar no universo de motivações para uma busca sobre depressão, ou suicídio?
Neste sentido, parece que apesar da grande quantidade de informações acerca de doenças mentais, pouco ainda se fala sobre o drama épico e/ou trágico, ou ainda fantástico contido na mente humana.
Assim, o sofrimento psíquico, em si, ainda continua envolto em tabus (como nos casos do suicídio, da eutanásia, do luto, etc). Estando por vezes imbricados nos conflitos, angústias e perturbações que "apertam o peito", causam dores pelo corpo, desfazem relações e constroem círculos viciosos.
De todo modo, muitas informações disponibilizadas por instituições, universidades e entidades que trabalham em saúde mental estão na internet. Dados como: serviços gratuitos, valores de atendimento acessíveis, locais onde existem centros de referência em atendimento pelo SUAS, etc. Estando mesmo nas páginas de órgãos como os conselhos de psicologia, serviço social, a Organização Mundial da Saúde, etc.
Com isto é preciso ressaltar que, não é em si a publicação das informações o que não é interessante. Mas sim que não existe uma forma de na rede mundial de computadores controlar todas as informações que são disponibilizadas. E muitas delas são desnecessárias por serem irresponsáveis e sem passar pela curadoria de um profissional da área.
Os índices de suicídios e diagnósticos de transtornos mentais são alarmantes e necessitam sim de visibilidade e atenção. No entanto é fundamental favorecer o acesso aos serviços de saúde mental disponíveis tanto na rede pública, quanto privada.
H. C. Q. F. 23 De julho de 2020
Página do artista da imagem
@juanmiguelpalacioslopez

domingo, 19 de julho de 2020

De poesia e pertencimento


Parlare


Pertencer

Étriente


Home


Adiós


Nem ao menos um país, ou qualquer território, é capaz de abrigar como o coração. Vivemos em busca de pertencer a este lugar, que dentro de outra vida, nos faz reconhecer nossa vontade de ser de/para alguém.
Estar contido no amar do outro completa, de algum modo o rascunho que traçamos, sem mesmo, jamais esperar.
Ninguém quer se encontrar até de fato se perder de amor...
E diz Tolstói "cada um viveu o tanto quanto amou", ao que Quintana explica que "amar é morar na alma um do outro". Embora haja quem tenha centenas de anos  por ter a anima poliglota, de um único amor. Todavia, a poesia não quer dar ciência, embora seja um saber que sobreviveu ao rio do esquecimento.
De modo que nos aponta Guimarães Rosa "os outros conheci por ocioso acaso, a ti vim encontrar porque era preciso"... o que em vigília se esconde, revela-a-si na poesia: o amor é a pátria a quem todos pertencemos.
H.C.Q.F 19 de julho de 2020

Imagens do Google


Encontro marcado


Encontro
"eu vou segurar seu coração mais ternamente do que o meu"*


"Diga-me amor, diga-me o paraíso
Conte-me sobre a vida e como estão as pessoas
Diga-me o Sol, diga-me o verão
Conte-me sobre o mundo e seus habitantes engraçados

Diga-me o dia, a partida
As coisas que valem a pena esperar
Diga-me a alegria, diga-me a esperança
Mas nunca me diga adeus

Nesse turbilhão que me atrai
Me abrace forte se você me ama
Tudo é muito mais bonito em seus braços

Diga-me o trigo, diga-me os campos
Até que horas podemos ser inocentes
Me conte o sonho, me conte a água
Este rio me diz para onde vai

Diga-me a terra, os elementos
Como sabemos que nos entendemos
Diga-me antes, depois
Como você me ama tanto?

Nesse turbilhão que me atrai
Me abrace forte se você me ama
Nós sempre dançaremos pela tristeza
Me abrace forte se você me ama
Tudo é muito mais bonito em seus braços

Diga-me amor, diga-me o paraíso
Como as pessoas deste mundo
Diga-me o Sol, diga-me o verão
Eu sei que você vê muito claramente"🎶
(SOHA, Tourbillon - Serre-moi Fot Si Tu M'aimes)

*Cena do filme "5 to 7"(Encontro Marcado)
**Imagem da flor retirada do Google
19 de julho de 2020

sábado, 18 de julho de 2020

Re-em-vida



Laszlo Gulyas

 Quando o coração dói... É tão difícil sentir direito as horas...
Nossa, não importa política, dramas familiares, apelos por justiça...
Nossa, a cabeça fica tonta, o corpo amolece... Acho que estou doente... Não, não, senti meu coração, de novo...aaaah, como dói só perceber que ele existe quando se despedaça... Cada pequeno motivo que se desgruda da parede do peito e escorre com lágrimas e mais lágrimas...
Nossa!
Tá doendo muito!
Nem me recordo direito a última vez que o vi sangrar... Mas sem esforço surgem dois nomes, pelo menos: L e W.
Nem sabem o quanto lapidaram meu coração...
Na ordem contrária do tempo, foi o Sr. W quem levou consigo o primeiro pedaço... Nem sei se ele guardou, como eu guardei, por pelo menos 14 anos uma fatia do momento em que nos declaramos... As falas-escritas guardei na memória e foram o curativo toda vez que imaginei ter escondido algum bocado de emoção e sentido, sobre o infinito que encontrei bem no centro do meu corpo e diante de mim, sempre que reconheci amar o quer que fosse...
Exatamente o Sr. W, foi meu primeiro professor. E em sua escola reinava a gentileza e o amor. Inclusive em mim, ele me fez enxergar, o que eu não pudia deixar de reconhecer depois dali, o amor que tenho por mim.... Ele é a minha constelação favorita: libras. Aquela que " sempre vai estar no meu coração" como canta Phill Collins pelo tempo "eterno bastante pra se tornar inesquecível", como adivinhou meu Chorão preferido.
A constelação de câncer me despedaçou por aproximadamente oito anos... Quase eu não percebi sua chegada, só via a questão que eu fazia dele... Esse Sr. L também me entregou seu coração em forma de carta. Foi inesperado... Na hora, foi tão real, que não se parecia com um sonho... Quando ele levantou pra ir embora, meio sem jeito, eu quase caí pra atrás... E ainda agora, quando ele insinua sua emoção, eu demoro a perceber... O sentido desse afeto é o impossível de acontecer... Ele é o menino dos filmes que eu amo... Aquele que a menina passa anos escutando contar romances inadequados e sem futuro, mas que no final estava sempre dizendo pra ela que a melhor amiga é a namorada dos seus sonhos...
Como é no espaço onírico, a conversa parece sempre devaneio, e eu fico tonta... Revejo as cenas encobertas pelos meus desejos reprimidos que me fazem cobrir meus olhos. Logo, cenas inéditas, mas antigas pelas experiências cinematográficas re-em-vidas.
Porque tudo fica tão confuso diante da paixão e do amor...
Que delírios provocam nos sentidos, que entorpecem as lembranças?
Gostaria de racionalizar e elencar experiências necessárias para evitar sofrimento. Mas não, fico tão abobalhada, que em memória, tropeço noutro bendito "carrasco do amor", o Sr. E. Esse sim, me deu todo o trabalho de costura que crio até agora...
Esse está na vida que cresceu dentro de mim... Nas músicas que me apresentaram a mim, meus verdadeiros gostos musicais: Indie.
Outro espelho... Talvez quebrado, ou que se quebrou... Fui detonada... Uma bomba explodiu em fogo e torpor... Mas o estrago quebrou a casa que eu estava construindo. Não restou nada! E ainda agora esse Nada quer me levar meu sossego fazendo um barulho e apagando a luz que acendeu meus dias... Quer levá-lo...
O Sr. E. fez do Nada um pedaço de caminho sombrio e mesquinho... Um estranho pros meus padrões de destino, mas que eu preciso investir amizade para cultivar a luz que eu tanto luto pra fazer brilhar.
Um dos motivos pra esse escuro tomar conta agora e me fazer discorrer, é o apagão que está a minha vida, desde o dia que não durmo mais, todos os dias, sentido e vendo outro coração pulsar... O meu pedaço mais caro e amado está distante e a saudade quer passagem e eu não queria deixar ela entrar... Mas ela já estava dentro e agora é quem me faz companhia.
H.C. Q. F. 19 De julho de 2020

Escutando...
https://youtu.be/xWGHylpuRt4


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Papa e Mamá!



Zinaida Serebriakova


Quando um filho passa o dia trancafiado no quarto, em busca de privacidade: ele não quer ficar trancado o dia todo...
Quando um filho espera todos estarem dentro dos seus quartos para se alimentar: ele não quer ficar sem comer...
Essa é uma conversa sobre nutrir, mas o sentido está em "papa" e antes de tudo em mamá...
Uma conversa difícil... Guardada em segredo por filhas anorexas, adolescentes bulímicas, meninos obesos e pais narcisistas perversos.
Infelizmente existe!
Está escondido no mito da "doce mãezinha", do "pai provedor", do "amor de família"...
Exatamente isso: um "seio familiar" que, estranhamente, não alimenta.
Nas casas mais abastadas a miséria, nos lares miseráveis o "frio na barriga".
Não está nas finanças, mas nas cobranças o problema. Não está no que atinge, mas no que afeta. Não está no que se descobre, mas no que se recobre toda vez que essa lembrança constrangedora aparece.
Adultos infelizes, desonestos, desleais consigo, destemperados e assombrados por censuras cruéis. Crianças humilhadas por objetivos herdados; intimidadas por um "amor" viciado, perverso; tiranizadas por histórias alheias.
Ambos deveriam ter sido separados. Daí a importância de um divórcio não litigioso; da busca pela reparação diante do abandono emocional, mas nunca a convivência forçada.
Não é fácil ter sido forjado qual ferro moldado para espada, querendo ser cálice, a emudecer as sombras dessas batalhas. Talvez seja um "metal contra as nuvens"... que só em meio a altas temperaturas venha a ser capaz de se flexibilizar...
Todavia a distância afasta o trauma... Voar é o remédio mais difícil de encontrar... Cortado o fio que impedia a caminhada, já não vaga a alma apenada, absolvida dos crimes que não cometeu, ganha a pena capaz de escrever estrada, horizonte, alvore(ser).
A mesa já é capaz de servir, a comida capaz de nutrir, a boca capaz de falar, os olhos capazes de vislumbrar e a mente, livre, desve(lar).
Construir um lar começa quando há o corte no destino familiar. A herança não mais importa, é preciso conquistar a própria casa.
Talvez, perdoar em si o medo de ter filho e nele rever seus vilões e/ou apresentar a eles as mentiras que escutou sobre quem deveria ser amor e não foi.
Dar uma segunda chance para os a(voz) ou nunca mais permitir que segredos desleais sejam recontados?
É preciso vencer o receio de protagonizar uma tragédia familiar, que não é inédita, para assim gerar um laço amoroso.
Filho não salva, passado não se redime, futuro não se concretiza, pais e mães também ferem, presente é o que se ganha por estar vivo.
Que cada filho saiba que tem em suas mãos seu próprio valor... Que não há uma dívida por ter sido inquilino de uma dor gestada por 9 meses, nos quais ele não tinha como ser despejado, mas pode ter sido esquecido alí...
Que ele se lembre de si, em algum momento, e num "acorde" saiba que a música que embala sua alma -  por vezes de maneira a sufocar -, pode ser desligada, ou ganhar novos arranjos.
O coração é um maestro que pode está destreinado, mas seu talento para orquestrar os sentidos entorno do desejo pulsam e fazem jorrar - vida, amor, talento -, como a saliva quando dá "água na boca".
Música e comida são temas primordiais, por isso a arte é capaz de fazer a mente, mesmo esgotada, trabalhar. Se um som faz sentir um sabor e um gosto permite um cheiro tomar conta da boca, tudo é possível pra um corpo que (alma)haja. Almeje ser!

****
"Quase acreditei nas suas promessas
E o que vejo é fome e destruição...
E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra atrás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos"
(Metal contra as nuvens - Legião Urbana)

https://youtu.be/IDTs12pcvOM


H. C. Q. F. 10 De julho de 2020

Imagem Instagram: @inspiration_in_art

Ala(r)do


Pensei que tinha encontrado alguém com os defeitos a mostra, com o coração aberto e a poeira tinha sido jogada fora...
Não foi...
Eu estava distraída e tropecei em um caminho entrecortado de paradas (talvez paredes)...
Para ele ainda tem algumas milhas, talvez (interna)cionais...
O encontro comigo não foi planejado. Perdidos, contamos, sobre a mesma estrada, histórias diferentes... Eram os olhos que perdidos desviavam o sentido da caminhada... Mas quem nos leva, carregando nosso peso e medida, são nossas pernas... Cansadas, passaram longos dias adormecidas e edemasiadas... Assim que o inchaço passou... lançaram-se ao acaso...
Era hora de partir...
O corpo é a agonia que se levanta... A alma, a angústia que deseja... Os olhos, o sonho que escorre, de vez em quando...
Quando as pernas (com a alma) desejam descanso para a agonia (do corpo) de desvelar o sonho (o que faz o olho enxergar), o amor se derrama na história.
É pequena a probabilidade de todos esses fatores se alinharem em duas vidas... Por isso, amar é raro, e morrer de amor é descansar.
H. C. Q. F. 10 julho de 2020
*Imagem do Google

Escutando:
https://youtu.be/3QsMH5OmXbw

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Pecado




A paixão me pegou...
Uma febre consumiu meu peito... Levou um pedaço do meu amor...
Não sei como eu vou amar de novo...

H. C. Q. F. 8 De julho de 2020
Página do artista: @juanmiguelpalacioslopez

sábado, 27 de junho de 2020

Lembrança que escorre



"Nenhum de nós quis se afastar, então o que aconteceu conosco?

Eu dei um poema pra ele... Um poema não é pra qualquer pessoa... É uma vida escrita em gotas de saliva, lágrima, suor e ternura... É eterno ser poema de alguém...
Mas eu nunca fui...
Trato com a delicadeza que quero receber. Recebo torturas em forma de palavras gentis que se despedaçam como pétalas de uma flor doente de morte, sem vida para suas pétalas conter...
Fui poeta e me vi com pena de mim... E foi a pena que vim gastar no meu lugar preferido...
Foi um descuido... Ele me pegou sorrindo, num dia ensolarado com um anoitecer de estrelas caindo...
Tentei fugir... Me denfendi de todo jeito... Corri de amor... Tropecei, eu disse: eu te amo... Não era pra ter sido dito...
Como quando a caneta falha... risquei a minha boca inúmeras vezes depois deste erro... Enorme pausa... Silêncio...
Não durou mais nada o envolvimento...
Ele podia perjurar... Eu não!
Desviei meu foco... Me vi num sufoco de tentar esquecer.
Mas a pena nunca esquece...
Como posso eu?
Como pode o tempo passar tão devagar na memória que sofre?
É uma lembrança também que escorre, chega a boca agridoce..  e morre...
Que a esperança não tarde em socorrer tamanho devaneio... pois o doce que se mistura, no que desliza pelo rosto,é espera e força...
H.C.Q.F 27 junho de 2020
*Imagem do Instagram

quarta-feira, 24 de junho de 2020

C(antigas)



Recobrir de afeto outro ser proporciona um encontro cuja intensidade é incontrolável. São emoções, fantasias e experiências que percorreram histórias diferentes. Por isso os "desencontros", como alerta Vinícius de Moraes. Há ainda o que caminhar, mesmo depois que o rio desaguou. São como os espelhos d'água o encanto que o amor encontra. Revestido de canções interiores, o a(mar) cintila como farol na madruga, sempre, a entoar  c(antigas).



Existe ainda uma química a se fazer presente depois que a natureza vigora... De quando os sentidos tomam conta da cena e protagonizam o rito ancestral. Dança que enlaça pelo beijo o corpo, da pele à carne e já não existe mais censura para o que a alma implora.



Tal que me ocorre, Carlos Drumond em seu poema, "Amar":
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
*
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o amar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
*
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
*
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
*
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."



Por vezes, é preciso, um coração partido para escutar o amor, que ao bater a porta, talvez como diria Drumond, "quando o amor bate a aorta" derruba os muros em volta.
(H.C.Q.F,24 junho de 2020)
*Imagens do Instagram @flowsofly

domingo, 7 de junho de 2020

Presente no domingo




Com licença poética - Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.


Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

*Imagens Instagram @flowsofly
7 de junho de 2020

sábado, 6 de junho de 2020

Ad-miração

Eu conheço um homem muito bonito... Uma beleza espontânea e simples. Que a estética envolve cada sentimento expresso na face do menino eterno. Ele esteve nos meus poemas amorosos mesmo os que a ele não foram remetidos.... Todos mereceram seu ouvido... Todos foram enxarcados das lágrimas do que não foi vivido com ele.
E a falta que ele ainda faz, não me deixa parar de co-respondê-lo... Preservo meus receios de encontrá-lo, porque desde o primeiro adeus não fomos mais os mesmos.
 Ele é tão extraordinário que eu não percebi ele logo... Ele tem uma simplicidade muito marcante... Passa despercebido com facilidade e tem a capacidade de fazer falta estando presente.
É mesmo instante!
Conheci essa gentileza de pessoa, de azul tão divino, que o céu desceu e um anjo caiu na minha vida...
Fui apresentada a ele depois de saber que o olhar dele já me procurava do outro lado do rio... E eu ainda estava perdida buscando um outro caminho sem vida e sem história...
Foi um verão que esculpiu meu coração ao longo de dois anos... Mas a saudade nunca passou!
É dele o conselho que eu nunca esqueci: "nunca me (se) superlative acima de ti (mim)"... E por causa desse cuidado, eu amo uma personagem machadiana, com alcunha de "agregado". Chorei a narrativa do seu enterro como único familiar presente. Era o "último superlativo", mas eu nunca desejei que fosse... E nem hoje, eu consigo isso.
É estranho me sentir parte de uma história que não foi vivida. Foi suspirada! E ainda assim não está perdida.
O que nos escapou da realidade, teceu estima e respeito... Sigo a ad-mirá-lo.
HCQF, 6 junho de 2020

terça-feira, 2 de junho de 2020

Fe-lino



*Imagem do Google
Eu queria contar pra ele que o meu peito rasgou quando ele me disse "oi"...
Mas está tão cedo, que pode parecer que não foi tão fundo o espinho cravado...
Está sim... Tá doendo até a espinha dorsal...
Eu não esperava o contato repentino. Também não planejei... Aconteceu como um sonho que desperta pela sensação de realidade... Mas é um sonho... Ainda não o alcancei.
Tá ainda tão distante, que não sabe nem meu nome... Não tem nem vestígio de vontade de saber...
Ainda sou uma estranha pra ele... E os elogios, os dizeres em voz viva, ainda não tem endereçamento certo... São só orvalhos... Pra chuva ainda falta a condensação...
E o meu coração precipitado, molhou meu corpo de afeto e a minha mente virou tempestade de ilusão...
Sou um quintal condenado pela defesa civil a desmoronar de saudade... E eu nem acredito que há alguns dias sal, idade e sensibilida não eram meus temas preferidos...
HCQF, 2 junho 2020

domingo, 31 de maio de 2020


Vladimir Valegov


Cheguei ao deserto, de novo... Buscava uma praia, tranquila e ventilada.
Perdi o caminho, encontrei um pedaço de coração ferido, chuvoso, intempestivo...
São tantos qualidades e desperdícios...
Que me perdi naquele oceano...
Os pedaços mais difíceis são os mais bonitos.
E as histórias mais comuns as mais preciosas...
Mas somos muito diferentes. Talvez a história seja sobre estar indo embora...
H.C.QF,31 maio-junho de 2020
*Imagem do Google

Parlare
https://youtu.be/b85SjpyjFsU
Página do imagem Instagram: @artvolegov

sábado, 30 de maio de 2020

Co-zinhar

Diz, Rubem Alves, em um livro que preciso adquirir, chamado "Variações do prazer":
"Lembro-me do mestre Barthes, a quem amo sem ter conhecido, que compreendia que tudo começa nesta relação amorosa, ligeiramente erótica, entre mestre e aprendiz, e que só aí que se pode saborear, como numa refeição eucarística, os pratos que o mestre preparou com a sua própria carne."
O título e a citação indicam um possível norte para uma análise psicanalítica... Mas gostaria de aproveitar a "poética" deste autor para usar de uma licença analítica...
Sabor, prazer, amor, saber e erotismo. Uma semântica intensa e sinestésica...
Co-zinhar pode ser solitário no preparo, narcísico no significado, mas é conjugal no processo...
Tem alguma coisa de sedutor que só pode ser em par, ou "à trios", ou ainda num bacanal de sensações...
É, muitas vezes, da ordem do sexual...
Pode demonstrar sadismo como quando uma postagem nas redes sociais impõe o prazer alheio, sem avaliar a fome do espectador.
Muitas vezes lascivo quando o que é saboreado acorda nos sentidos o que é provado enquanto visceral na troca corpórea sexual.
É mesmo obsceno que alguns possam escolher o que vão comer e outros fiquem com restos.
Além do masoquismo radical das anorexias, ou se alimentar do que não traz prazer,  um caso que pode estar envolvido no mundo fitness ou do veganismo.
No caso de se impor o desprazer na alimentação é interessante que a vaidade se aliene de nutrir de satisfação o ego. Numa busca radical de perfeição pode ser deflagrada uma assepsia do que tem de sexual investido em colocar algo pra dentro do corpo.
Assuntos de uma conversa preliminar, já que a profundidade da estética na cozinha incluiu devorar, talvez o sabor do outro.
Chega então mais perto do cume a relação... O umbigo do texto de Rubem Alves: a antropofagia.
Não é sem motivo que há metáforas entorno do comer como algo sexual: bater bolo, alguém sem sal, etc.
Um amor carnal, tem uma ética carnívora, por saborear o gosto do corpo do outro numa refeição sem etiqueta.
Uma ética do desejo, envolta no ritual primevo de mamar, no qual o bebê apreende o gosto/gozo da vida ao libertar a fera: desejar.
É primordial que o desejo de se relacionar se cumpra para que a ceia eucarística aconteça. E a transferência de sentimentos, sentidos, significados e sensações nas múltiplas linguagens é o que proporciona tamanho saber-sabor.
E as perdas cabais contidas em cada pedaço a alimentar o desejo, são deglutidas com sofisticada elaboração, quando o sentimento se desfaz na boca deixando como lembrança o sabor-saber.
 Uma experiência paradisíaca em meio ao deserto da vontade de voltar a se satisfazer. Inferno à premeditar o céu, que a boca procura no corpo que contorna, diante da fome de amar.
É solene a metáfora, mestre e aprendiz, já que a única hierarquia que vigora não coroa nenhum dos envolvidos. É preciso humildade e pouca pompa e circunstância pra se entregar numa relação de amor.
Contudo, ceder é o mais alto prazer conquistado por quem não se importa de entregar pedaços caros ao bel sabor.
 Fica num nível menor da existência quem come com vigor, pois o lugar privilegiado está em sentir os cheiros a aguçar os sentidos, ao colocar a mesa para que o outro entregue-se sem pudor, e receber um significado estrangeiro ao ouvir que está delicioso. Poesia emprestada aos cozinheiros pelos deuses e que deixa faminta a alma.
(H.C.Q. F., 30 Maio de 2020)

Sentido aguçado:
https://youtu.be/eisDji3Wb8c

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Desvendar o visto

Desafio dos cinema
1 - Willow ✓
2 - A princesinha
3 - Abracadabra✓
4 - Dorian Gray
5 - A ilha do medo
6 - O aviador
7 - O piano
8 - A professora de piano
10 - Chocolat
11 - a misteriosa vida das abelhas
12 - π
13 - O cavaleiro solitário
14 - o libertino
15 - o verão da minha vida
16 - big eyes
17 - suite francesa
18 - a garota do brinco de pérola
19 -  Batman: cavaleiro das trevas
20 - Preciosa
21 - Meia noite em Paris
22 - sem limites
23 - o lado bom da vida
24 - As palavras
25 - o mágico de oz
26 - o carteiro e o poeta
27 - Erin Brocovich
28 - memórias de uma gueixa
29 - o tigre e o dragão
30 - Lion - uma jornada para a vida
28 de maio de 2020

terça-feira, 26 de maio de 2020

Fonte



Sabe quando alguma coisa te amanhece? Tipo verão do lado de dentro?
Tem história que nem parece que tem início ... Como se já estivesse lá... Acontecendo bem baixinho, sem alarde, na espreita dos sentidos, emprestando companhia a solidão... 
É...
H.C.Q.F, 26 de maio de 2020
020
*Imagem do Google


Desafio da vida

Ter na leitura um prazer e um ofício não é sem sacrifícios. A vida impõe diferentes renúncias nestes caminhos, cuja adversidade parece levar à ignorância e  estados de miséria anímica, quando há pausa nas leituras.
Todavia, algumas vezes, também são espaços de convívio com a repercussão das lacunas que trechos ácidos, assombrosos, misteriosos e extraordinários convocados por autores, narrativas, lirismo e dilemas.
Assim nasceu o gosto pela leitura na minha vida: intermitente e fecundo.
1- 🎄 Notas sobre ela ( Z. Magiezi, 2017)
Karla: "Tenho dores no corpo
A alma já não cabe aqui" (p. 106)

2 - 🔱 Elogio da loucura (D. Erasmo, 2010)
Elizabeth: "Pois bem, ouvintes muito loucos, sabeis agora o meu nome. Mas como há muita gente que ignora minha origem, devo tratar de apresentá-la, mediante o auxílio das Musas". (p. 15)

3 - 🪁Cem sonetos de amor (P. Neruda, 1999)
Hilda: "Sei que existes não só porque teus olhos voam e dão luz as coisas como janelas abertas" (p.21)

4 - 💀 - Contos extraordinários ( E. Allan Põe, 2019)
Trecho: "Era uma aberração de meu amigo (como mais eu poderia chamar isso?) estar enamorado da noite..." (Os assassinatos na rua Morge, p.56)

5 - 🌹Obra Completa ( Oscar Wilde)
Trecho de "O gigante egoísta":
"Não odiava mais o Inverno agora,pois sabia que era apenas a primavera adormecida e que as flores estavam descansando" (p.247)

6 - 💌 Nariz de vidro (M. Quintana, 2003)
Trecho: "A vida é tão bela que chega a dar medo" (p.8)

7 - 🌘 Literatura Comentada de Cecília Meireles (1982)
Trecho: "Mas quem viu, tão dilacerados, olhos, braços e sonhos seus,
E morreu pelos seus pecados,
Falará com Deus
Falará, coberta de luzes,
Do alto penteado ao rubro artelho,
Porque uns expiram sobre cruzes,
Outros, buscando-se no espelho"
(Mulher ao espelho)

8 - 🧜‍♂️mitologia
Priscila:
*Ode à Psique*
"Ó mais bela visão! Ó derradeira imagem!
Da estirpe celestial, da olimpia linhagem!
Mais bela que Diana livre de seu véu
E que Vésper erguida entre os astros do céu!
Que, no Olimpo, pudeste reluzir e ofuscar,
Embora sem um templo, embora sem altar"
(KEATS apud BULFINCH, 2006)

9 - 🌬️ Manoel
Trecho: "Nosso conhecimento não era de estudar em livros.
Era de pegar de apalpar de ouvir e de outro sentidos.
Seria um saber primordial?
Nossas palavras se ajuntavam uma na outra por amor, não por sintaxe." (p.142)

10 - Luisinho

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Tempœspaço

Bem...
O mundo vive uma situação difícil e complexa, no entanto já sobreviveu a inúmeras outras circunstâncias assim: catástrofes, guerras, crises econômicas mundiais, morte em massa... 
Todavia o ser humano do final do século XX não conhecia. Esqueceu que primeiro ouviu, depois leu e a tecnologia foi aos poucos nos permitindo ver. Porém sentir só foi possível no agora. É esse um dos legados desta pandemia: estar no presente.
A passagem para a "Era 21" possibilitou alcances inimagináveis ao poder humano de "criar". De maneira rápida - como tudo que é realizado neste século, contado em segundos -, é possível estar em várias dimensões em tempo e espaço.
Aliás vive-se algo como: tempoespaço, tempo(ex)passo e também (tem)pó/és (passo).
Muitas vezes na vida, percebe-se que se desvaneceu a linha entre as dimensões tempœspaço. Conurbou como cidades, empresas, grandes organizações, muitas relações. Com isso, o lugar da reflexão, do questionamento, da solidão, do olhar pra dentro saiu totalmente de moda. E foi ultrapassado pelos vídeos de "storys" de vidas virtuais e de afetos momentâneos.
A pressa é algo tão constitutivo, que já não se vive momentos, ao contrário, se registra instantes. O que refere um saudosismo de eternidade, uma das contradições deste tempo, no qual todo caminho é ex passo. E o presente, já nasce no futuro, que já está passado do ponto.
Logo, a poeira do tempo está mais evidente no ser, marcado por valores antiquados, por se tornarem ultrapassados a todo instante. Onde a novidade não surpreende, pois não faz mais que a obrigação de existir.
(H.C.Q.F., 21 maio de 2020)
*****
Arte que antecipa: "Tempo Destino" (Vital Lima e Nilson Chaves)
https://youtu.be/3hXTGjZmurw

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Sonh(ando)2020

Quanto tempo...
E o recomeço tem aparência de nascimento...
Eu comecei o blog para cultivar as minhas faltas, regando com esperança e amor. O objetivo era fazer a raiz se fortalecer, para que o tronco, frágil, fosse capaz de encorpar e até frutificar... Aconteceu!
Estou neste lugar bonito, no canto em que me encontro, agora com o fruto dos meus sonhos...
Não está fácil!
Outro dia ouvi que talvez quando fazemos um pedido aos céus não tenhamos a confiança/certeza que possa se realizar... exatamente assim! Como um pedido covarde que renega o presente por medo e acredita no futuro por preguiça... Tem um preço.
Os sonhos não são um lugar para repousar...
São espaços que precisam ser preenchidos todos os dias com:empenho,planos, ressignificações, conquistas.
São também famintos e precisam ser nutridos todos os dias com: respeito, coragem, força, fé.
São de verdade, e por isso, precisam ser amamentados com os nutrientes do próprio corpo de quem sonhou.
Recém nascidos toda manhã precisam de colo para choros de cólica, de noite má dormida...
Bem... Sonhar é a parte mais solitária da jornada e por isso regada de conflitos, mas realizar um sonho só começa... Pois sonhar é uma ação de reversibilidade, mau traduzindo, quer dizer, começa pelo fim (que se tem) e termina no começo de tudo... Assim na vigília nos despedimos do significado e iniciamos o sentido: tecendo a vida.
Vamos lá, que os sonhos nos recomeçam e o son(h)o em fim se tornou.
H. C. Q. F., 13 Maio de 2020