segunda-feira, 30 de maio de 2022

Medic(ação)

 Quando eu soube do filme "5 feet apart", eu pensei: mas um romance bobo, pra ver na fossa da solidão.

E o algoritmo sempre me envia trechos e eu sempre leio e reflito, rapidamente... mas agora, um pouco mais rápido, pra não dar tempo de voltar a doer.

Nossa, doeu bem pouquinho mas experimentei a ponta dessa dor: deixar ir.

"Let it go!" É tão inglês,  tão americano e anglo-saxônico... mas tem em mim uma raiz profunda e sedenta.

Fui assistir o tal filme, pois seus elementos me capturaram dentro do que consigo trazer pra luz: estarem de máscara - e o mundo na pandemia; uma personagem se chama Stella - e eu gostar bastante desse significante ingrato na minha história; agora acho que ele chamar Will, também soa familiar - meu romântico favorito é William Shakespeare; hospital também é um contexto caro pra minha vida - medicina é destino e remédio do ponto que parti com meu coração.

Depois desse contexto, não dá pra evitar contar (em números também): ainda estou calculando o diâmetro do poço em que me escondi de amar. Não sei ainda se vai fechar a ferida/escolha que sempre avistei como opção sobre quem fez parte da minha história. Está nos meus filmes favoritos: decidir deixar, que é uma forma injusta/covarde de amar, mas que está lá para evitar a morte do ideal; para não ter que sustentar as consequências mais severas dos seus defeitos, magoar alguém com quem você se importa; para não viver o suficiente para ver que o monstro debaixo da cama estava dentro de você.

Puxei o fio que escondi antes de ver "5 feet apart" e aquele doce me doer a garganta, como um choro contido e doloroso represando muita dor.

Um Alguém conheceu meu pior ângulo, isso desde o físico... viu meus vilões, reconheceu as raízes dos meus dejetos e a lama que escondo debaixo da cama...

E eu não suportei! Era embaraço e tão comum, que desmontou os artifícios que criei para escondê-los...

Se é possível alguma "medic(ação)"... uma pausa na minha elaboração, se re-fez...

Agora, eu já não sei...

Tá próximo do aniversário do meu filho, e é sobre isso também esse texto, só não sei em que...

Hcqf, 26 de maio de 2022


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Em cruz ilhada

 Com um mundo inteiro pra desagradar, eu desagrado quem eu preciso ficar mais perto.

Aquele perto diferente, que não é uma decisão, mas uma constatação: de repente existe um cisco no olho, que coça, que arde e parece que vai comprometer a visão...

São formas difíceis de metaforizar sem correr o risco(cisco) de se abrir pro temor...

É aterrorizante estar diante de alguém, onde quer que você esteja, quando a voz, o olhar, a imagem da pessoa invade seu pensamento... 

Tem alguma lógica,  mas é tão difícil de entender, as conversas se passam dentro de desentendimentos. 

É claro, que você deseja ser entendido e deseja entender, alguma parte daquele envolvimento precisa parar, para que....

Paro aqui!

Estou sentindo a cabeça rodar, dei voltas e voltas, agorinha....

Eu já sou ignorada, faz algum tempo... Não tem olhares, não tem cumprimentos...

Alguma coincidência me deixa embaraçada, desses embaraços que ferem, atingem em cheio a auto-imagem: nessa hora sou infeliz por uma eternidade,  independente das batidas do relógio(coração)...

Estamos em meio aos meus amigos, eu na verdade estou num buraco escuro, sorrindo a angústia do solitário, esperando a morte ou a dor, preferindo a luz do dia, que esqueceu pelo medo e o frio(freio)...

Uma troca rápida de palavras, e um pequeno mal-entendido, é tudo que conseguimos trocar: farpas.

E a dialética do desperdício continua...

O que poderia ser o último dia, poderia ser... e não seria de fato, porque eu jamais saberia... 

Esse desencontro ganha o contorno do que significa: nada. Estou do lado de fora e isso é o ponto de basta, aquele ponto em que o outro foi embora e não sabe como explicar as poucas coisas que esqueceu e que não lhe fazem falta.

Alguma coisa ficou pra trás? Se ficou o outro não sabe.

Mas era até interessante, parecia fazer sentido... mas ficou?

Ah, então,  não tinha.

Uma mala que a companhia aérea desembarcou no destino errado: a mala, objeto inanimado, é incapaz de reconhecer que a vida lhe "pregou uma peça", e que talvez até poderia refazer seu destino, como em um "golpe de sorte" poder tes'atar um nó e seguir um novo caminho...

Mas é um mero objeto, o viajante mesmo, seguiu e tentará, por um tempo, reaver a coisa perdida... de nada vai adiantar... Cumprira sua missão: acompanhar um sonhador e não seu sonho.

Quem segura a mão para levantar alguém depois de uma queda, não está ali por acaso e nem fica pra trás por coincidência. São trechos distantes da mesma estrada: paradas obrigatórias para quem encontra e para quem vai embora.

- Diga adeus! Exclama o vento a açoitar a alma solitária.

O que anima a outra vida, por dentro, não consigo escutar. Senão...Se sim, na verdade, eu seria a próxima em queda à espera desalentada de um colo.

Que na próxima em-cruz-ilhada, eu aprenda a apreciar as belezas de uma ilha deserta.

Hcqf, 12 de maio de 2022.

terça-feira, 10 de maio de 2022

Sede do dragão

No mesmo mundo

Separados

Um retorna à casa

Outro muda de cidade 

Objetivos os aproximam

E os desejos afastam até os seus olhares 

É forte para além do que a física presumiria

São estados de espírito lutando pela materialidade no vislumbre de vencer a morte

Na-ser, ser-ia...

Ainda não...

Ainda é, colado, amalgamado...

Carece de laço, para a nós chegar.

Cada uno, em si mesmo, ainda não viu o outro.

Carece e perece na flâmula

Despejam seus líquidos nas taças acolhidas

Guardando seus dragões com sede 

Hcqf maio, 2022