sábado, 27 de novembro de 2021

Demo(ver)

Como é difícil ter que abrir mão de uma coisa que vc não quer abrir mão...

Como é difícil querer muito algo que não é pra vc, que não tá vindo na sua direção....

Nossa que dor, que falta q eu sinto, da presença, da voz, do jeito, dos trejeitos.... De tudo...

Tudo me corrói e me tatua, eu tô com ele por todo o meu corpo, desde a superfície até a lua...

Ele tá nas estrelas que eu quero ver, sem ter tempo pra apreciar a noite, porque a minha rotina não permite...

Ele tá em tudo que está no meu dia, e ao mesmo tempo em nada, porque ele não se encaixa na minha vida...

Estou forçando uma barra tremenda pra que ele caiba, mas eu desejo mais isso do que respirar... Como isso dói!

Já não recordo da firmeza da sua voz, agora ela está sem jeito, agora ela já quase não se pronuncia...

Ele chega e sabe onde estou, avisa que me buscou, porque conhece o lugar onde eu me escondo...chega tão perto e lança o corpo pra me abraçar... Eu não consigo encontrar um jeito de aceitar o laço, porque já estou enrolada na sua teia e parece que não é isso que ele quer...

E o abra... Não se fecha... Fico apenas eu, diante dele aberta, solicita, sem graça, totalmente vulnerável... E ele olha de frente, ele coloca a cabeça de lado... E eu só sinto meu corpo amolecer, só percebo meu corpo vibrar... Tenho certeza que fecho os olhos, certeza que escondo palavras e ações, apertando bem meus olhos, abraçando a mim mesma e meus sentimentos, porque... Tão aberta quanto estou, desde a hora que ele chegou com sua roupa leve e seu jeito que não parece dar importância pra gente...eu fico sem sentido... Tenho medo que meu corpo e sentimento corra pros braços dele e ele sem jeito nos demova, e na queda sobre pouco de mim pra trabalhar, voltar pra casa, construir minha carreira, meus sonhos, criar meu filho...

Não há demostração de sentimento da parte dele, a sutileza revela desleixo e pouco empenho... Estou ganha! O que ele recebeu não tem valor algum, ele nada quer, ele não tira proveito...  

Ainda dentro do eleva(dor), imploro que ele respeite meu constrangimento, viro ele de costa pra mim, abaixo a cabeça tentando de todo jeito que aquela situação não leve mais um pedaço da minha compreensão interna, do meu resgate da minha autoestima, desses meses de terapia para não sucumbir ao fracasso no amor...

Na chegada, ele vai a frente, eu se pudesse descia já em casa, longe daquele ritual tão difícil de estar diante do meu objeto perdido, que mais uma vez não está diante de mim, mas anos luz a minha frente... o que reconheço dele é uma sombra dos meus fracassos amorosos, minhas dores reunidas cobrando cada fatia de carne podre que ainda resta inflamando minha ferida... Que agora está aberta!

Na entrada da sala... Ainda estou no térreo, o que subiu foram meus  devaneios em plena vigência consciente... Estou delirante e ofegante, sentada como que diante de um deus... Submissa, acuada, ferida, cheia de dores e amores retorcidos no peito. Ele me sacode as vísceras, é triste e forte ao mesmo tempo, uma experiência longe da realidade... 

Mas eu queria essa loucura todo dia, desejo demais vê-lo escoltar minhas ânsias de escuta-lo, vê-lo, ainda não consegui cheira-lo, meu maior intento, desejo o cheiro mais escuso, preciso senti-lo no mais profundo com esse sem nome de sentido, quero dar um nome só pra ele...

Como eu adoro escutar o seu nome quando eu falo... como gosto de dizê-lo, é como se isso fosse uma forma de beija-lo... 

Quero te encontrar quando não for por causa de trabalho... Quero te ouvir me convidar para conhecer algum lado da sua rotina, presencialmente... onde eu possa cheirar teu pescoço e beijar seu ouvido e descer até o ombro... pra poder correr o risco de beijar a sua boca, mas tendo que adivinhar todo esse caminho, porque eu quero estar com os olhos completamente fechados pra guardar toda a energia dos meus sentidos pra te perceber bem de p.e.r.t.o...

Quero sentir o mais perto que eu já deixei alguém chegar... Experimentar o mais longe que eu já fui pra estar perto de alguém...

Um lugar onde eu possa te encontrar longe de todas as nossas diferenças, mas que também a nossa contradição esteja e seja uma delícia de conhecer profundamente e me permitir demover meus caprichos pra te acompanhar...

Quando saio, t.o.d.o.d.i.a, rápido, sem jeito, sem graça, em busca de não te prender na minha confusão, ou não me confundir mais ainda com a possibilidade da gente ficar com tempo e poder ficar mais à vontade... Eu vou chutando o chão, cada pedra do caminho vai segurando uma lágrima de arrependimento... Tudo para não demostrar mais do que o que está escrito na minha testa, mais do que já está traduzido em cada ato: estou muito apaixonada. 

Desculpa, não planejei, não estava a procura, tem outras pessoas na minha vida, eu não queria ter te escolhido... vc está bem sozinho, resolvendo seus conflitos, se encontrando e querendo mais da vida, mais mansidão, mais paz, até alguma delicadeza...

Eu não estava nos seus planos, não estou nos seus projetos, não me impressiono com suas historinhas burguesas, mas adoraria crítica-las abraçada ao teu corpo, cheirando teu pescoço, beijando a tua boca e sem sentido, tentando encostar minha vida na tua e demorar muito, muito, tempo....b.a.s.t.a.n.t.e.... muito tempo do teu lado, em cima de ti, segurando tua mão, falando baixo diante do teu nariz, preparando um beijo que me fizesse demorar diante do teu rosto, saborear um gosto só seu e te esfriar os lábios, como senti minha garganta inteira gelar...

Aaaah, como é isso?... Como dói... Como é forte... Por que comigo? Por que ele?

Eu saio correndo e segurando minha saia como se ela pudesse conter o vento, e pescar borboletas... Eu desejo que eu possa te ver... A uns passos atrás de mim... Como se não aceitasse a minha fuga, como se pudesse me segurar e me abraçar na tua história...

Eu olhei várias vezes pra trás...

Bem... te chamei pois foi mais forte que meu medo, vc estava como eu sempre te vejo, l.o.n.g.e...

Eu só queria que vc tivesse coragem de fazer aquele momento valer à pena... Vc sem máscara, como sempre, eu sem respirar direito por estar depois do trabalho na tua companhia (o que eu sempre desejo)...

Andamos várias vezes, sem encontar um lugar, não tinha onde sentar, não tinha onde se esconder do sol... Não tinha como fugir dos assuntos difíceis... Não tinha como levantar a cabeça pra te olhar, a conversa inteira... 

Chegou então, a hora tão temida, desde sempre (o tempo fica eterno nessa fatia do dia), quando eu notei que você mexer no cabelo me constrangia, que me olhar em pé na minha frente me atraia, me faz me sentir tua, como eu queria...

Eu desejo me despir pra vc... Eu quero perder essa pele que não me prende mais desde quando você me disse que eu te acertei, mas vc sem saber me ganhou, talvez sem querer... Desses quereres sem gosto, que logo passam, desses jeitos de gostar só um pouco e que nada faz sentindo depois que o encanto se apagou...

Você diz que tem que ir, eu entendo que vc cansou.... A gente... C h.e.g.a... m.a.i.s...p.e.r.t.o... e não se olha... Eu abaixo a cabeça de uma forma covarde e tímida, e você beija minha testa, e eu tenho raiva de ter cabeça, e não ser apenas um coração pulsando de amor...

Escuto meu coração lamentar, escuto tudo em mim implorar um beijo, um sonho, a gente... Mais uma vez eu fico sem saída, perdida... Perder um pouco de intimidade contigo, pra mim, é uma perda de vida....

Ah, quando foi que eu te dei meu coração? Onde você o colocou? Estou sem sentido, sem senso, completamente desnorteada... Eu sinto muito, muito, muito, a sua falta em todo o meu dia, mas principalmente a noite, principalmente, sempre...

Se for pra eu te esquecer, que antes eu te escreva, te cante, porque o que eu sinto não tem tamanho e não cabe só no meu lamento, é preciso virar encanto... eu desejo te conquistar. Me desculpa!

Hcqf 24 de Nov de 2021

Bastille - Poet

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Teus cantos

Eu quero beijar... Não acontece...
Eu quero abraçar... Não acontece...
Eu desejo ficar perto 
e sentir ele d.e.v.a.g.a r
Não acontece...

Não tá indo...
Somos muito diferentes:
Pensamentos, histórias, ideias...
Estamos em um mesmo rumo 
Mas ao lado um do outro
Sinto vazio, distância, frio...

Ele me esfria as entranhas...
Nem sei ainda o que significa...
Fico com vergonha
É um constrangimento me arrumar para ele
Me perfurmar para ele...

Fazia um tempo que alguém não me 
Deixava tão sem sentido....
Algo em mim grita que ele não me quer
Algo nele me dispensa em toda mensagem, toda conversa, toda vez...

Mas algo em mim já sente falta dele
É estranho, é particular
É tão íntimo
Eu lhe disse coisas que eu nem sei mais porque não teria dito
Eu escutei coisas que sei que não se diz para qualquer pessoa...
Mas eu estou sem...
Em falta...
Perdida...
Não é a hora, ponho tudo a perder todo dia
Em todo encontro, ensaio uma despedida...
Estou sempre desligada, por estar atada aos seus encantos...
Não sei como mas ele me decanta...

Não preciso de uma resposta, mas quero
Não preciso de alguém na minha história, mas desejo
Estou cheia de afazeres e obrigações
Todas de lado
Ele ofuscou meu presente
Não sou passado nem futuro
Vivo no tempo dele
Originalmente nele
Sinto mais falta de sentir o que nem sei
Do que já tive saudade do que conheço...

Hcqf 22 de Nov de 2021

Estou com a expressão "minha pessoa" na cabeça, vi o filme " as vantagens de ser invisível" e escutei "we can be hero" do David Bowie

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Desenganada

 

Ele quer ficar solteiro

Eu quero namorar

Ele quer esquecer antigas paixões

Eu quero recordá-las


Ele quer brincar e sorrir

Eu quero falar sério e sentir

Adversativos

Na mesma conversa

 Distintos

Não é reflexo

É estranheza

Em reverso


Ele quer mostrar

Eu quero esconder

Ele quer ser

Eu quero ter


Ele diz que quer amor

Eu digo que quero transar

Por fim

Ele quer foder

Eu quero amar


O inesperado é que fechada

Eu estava

E ele abriu uma porta trancada

Sem arrebentar a fechadura


Hcqf 22 de novembro de 2021

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Uma recordação

 Ás vezes um erro parece que perdoa outro, ou alguém... Mas não, se ambos erraram, há que se admitir...

E ser amada é algo saboroso demais pra se esquecer o sentido...

Escolhi um pai na minha vida... Não o que viria para me salvar, mas para me mostrar sobre esse lugar...

Eu sempre vi de longe e senti só o perfume... Mas não dei conta de saber... Então, me permiti ter a dádiva de doar esse lugar para alguém...

E ele agarrou com tanta força que o laço não arrebentou apesar das tristezas que vivemos...

Ele era assim: fiel, protetor, cuidadoso... Mas eu não podia retribuir, meus complexos são de oposição, a diferença é o que eu procuro no espelho e no amor...

Mas pra estrela que guia meus objetivos, experimentei a liberdade de não ser a única a comandar... Deliberar, libertar, também está no amor... É preciso deixar ir, para que a presença exista na ausência... 

Saudade também é uma linguagem/experiência que humaniza...  E ele é o que me traz de volta quando a minha luz sente minha falta... E a escuridão não toma conta, porque ele o deixou dormir alimentado de amor e colo de mãe na mais tenra infância, enquanto chorava de saudade do rebento e fazia do sonho um amor da sua vida.. 

E seus ensinamentos de pai me atingiram, ele me fez saber que o emprego não é meu destino... Que minhas pernas cansam de caminhar, mesmo o caminho cantado e sonhado... então a noite precisa também ser descanso e saúde...

 Ele me ensinou que "o meu trabalho é descansar em ti" e esperar o melhor do ser que desejamos juntos trazer...

Obrigada, Thiago, o seu amor me permitiu gerar uma vida.

Hcqf 18 de novembro de 2021


Uma recordação: Eric Clapton
É tarde da noite Ela está se perguntando que roupas usar
 Ela coloca sua maquiagem E escova seus longos cabelos loiros 
E então ela me perguntou: "Eu pareço bem?"
 E eu digo: "Sim, você está linda esta noite" 
Vamos a uma festa E todo mundo se vira para ver
 Esta linda senhora Isso está andando comigo 
E então ela me perguntou: "Você se sente bem?" 
E eu digo: "Sim, me sinto maravilhoso esta noite" 
Me sinto maravilhoso Porque eu vejo o amor brilhar em seus olhos 
E a maravilha de tudo isso
 É que você simplesmente não percebe o quanto eu te amo 
É hora de ir para casa agora 
E eu estou com dor de cabeça Então eu dei a ela as chaves do carro
 Ela me ajuda a dormir E então eu digo a ela, enquanto apago a luz 
Eu digo: "Minha querida, você está maravilhosa esta noite" 
Oh meu querido, você é maravilhoso esta noite..
(Wonderful tonight)


Não estamos a sós

 Que ele me tira a paz

Fica evidente em cada silêncio...

Ele me des-concerta

E desajeitada destruo qualquer possibilidade

Ele não me quer

Não sentiu o que eu senti

Foi ele quem disse que o acertei

Mas ele me errou

O que eu percebo vem sem pretensão

O que ele toca também

A gente se desencontra

Na mesma sala dia de quarta

A gente se desentende 

Mesmo na conversa desenhada

Não é só falta de conexão

Também é a hora errada

Cada um está olhando pra um propósito

E os desatinos da vida

Nos jogaram magoados e saudosos

Em frente um do outro

Eu queria que estivessemos nus

Ou que ao invés de nós

Fossemos abraço

Mas não é pra ser 

Estamos entendendo tudo errado

Hcqf 16 de Nov de 2021

terça-feira, 16 de novembro de 2021

"E depois?"

 (...)

Pode chegar a hora de escolher

(...)
Mas cada pessoa é um território
E descobrir o que o outro gosta
 é o verdadeiro gosto delicioso...
Mas só posso falar de mim.

Toda vez que alguém me tocou com a mão pesada
Foi porque trouxe o limiar de dor de outro corpo
Toda vez que alguém me fez perceber 
Algum ponto que eu passei a 
desejar em mim
Foi porque a pessoa estava livre pra me conhecer

E eu nem namorei 
com todos os caras que me fizeram gozar
E eu já tive um namorado 
que não conseguia me fazer delirar de vontade de transar com ele
E ele me amava 
Mas ele me queria pra outra coisa
E eu queria descobrir
Qual pedaço fazia ele repetir
Mas não deu
Ele se perdia

As vezes 
Quando só um é oceano
O outro se afoga
Ao invés de se embebedar...

(...)
Eu é que tenho medo da tua confusão
É atraente
Mas é perigoso
E isso é humano
E eu não tô falando da boca pra fora...
Eu tô falando bem baixinho
Pro meu coração escutar

(...)
Eu nunca esqueço ninguém que eu amei: 
eu gosto dos mesmos toques
 dos mesmos elogios, 
de sentir que deixei alguém perdido no meu vazio
 e que por algum tempo me senti preenchida.
Mas os beijos mudam
Os contornos e as formas também
Cada gesto nas trocas mudam

Mas eu ainda tenho medo de segurar a mão de um homem pela primeira vez

E sabe o que é pior?
O maior ganho que eu tive...
Foi ser anônima
Ninguém quer saber sobre a vida de uma mãe solteira
As pessoas só querem apontar
Saber mesmo não
Ninguém quer saber da mulher 
Que não é mais esposa de alguém
Eu não sou mais uma ponte...

Eu sou livre
E isso é muito bom
O maior de todos, todos, todos, os prazeres
Que eu já senti

Porque tudo que você ganha 
É seu
E tudo que você perde
 também
E deixar de ter o que você realmente não teria
Sara
Cura

O nosso trabalho é sobre isso
E a nossa vida também
E eu sinto a tua vida procurando
Só não sei se é a cura ou a doença
E eu sou as duas coisas na mesma mulherzinha...

(...)
E as pessoas esperam delicadeza de mim
 24h por dia
Todavia
 eu sou um menino de periferia

Eu não fui moleca
Mas depois de um tempo fiquei assim
Quem me conhece de perto
Não tem nada de bom pra esperar
E tá do meu lado...
São as minhas pessoas...
H. C. Q. F 14 - 16 de Nov, 2021

Trechos de uma canção:
"Ela é um arrepio indesejado
No pior dos seus dias...
Ela é tão teimosa quanto o inverno
E tão gentil quanto o sol
E ela não vai congelar
Ou queimar ninguém"
(About Sophie)

Vídeo YouTube:
https://youtu.be/VgI2IzLhnuY

* Pela primeira vez, o título não é meu













sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Aurora dos versos

 Parece que pela primeira vez aconteceu o que eu queria... 

Na minha mente desfilam as experiências nas quais eu estive sem transbordar o sentido que me fez chegar em mais um Sarau: contar minhas autografias.

Sim, porque a minha história não caberia em uma bibliografia, ou mesmo estaria bem representada em uma enciclopédia com todos os títulos que ao ler encontrei recortes de mim.

Onde me reencontro é no que se desfaz em escrita, quando a pena me atravessa e eu sangrando renovo os horizontes da minha vida.

Nunca é simples... Não tem horário...

 Já escrevi a lápis para apagar e depois redescobrir nas cores escolhidas uma materialidade pros sentimentos e sensações... 

Mas a percepção sempre falha na releitura... Já não é mais pelo mesmo motivo que meu peito chora, e esses retalhos que em vão tento costurar de volta na alma remendam não pedaços antigos, mas novas histórias...

Planejei com antecedência como eu faria para a covardia me sabotar, mas dessa vez não conseguir pensar em não ir...

Cheguei primeiro... O local onde o sarau se realizaria vazio... Dirigi meu corpo e enorme expectativa para o bar, mais um vício humano me fazendo companhia.

Mexi no velho baú dos meus gostos, convidei sabores de vinho, alguns títulos de whisky baratos (lembranças do meu pai), aromas de frutas e especiarias... Estava tentando convocar novos personagens para ver se a narrativa tomava outro rumo...

As vidas que escolhi pra me segurarem a covardia, estavam lá desde antes da presença física... 

Senti tudo: as palavras que me fizeram rir da minha completa falta de jeito pra tudo; olhos que me abraçaram em corpo físico e corpo celestial (eu tenho uma versão estrela que eu escondo com falsa modéstia, ela é a menina que brinca quando a adulta cansada desmaia e me permite viver); a mão que apontou o palco... 

Dalí (o surrealista mesmo) em diante, pisei devagar em cada sentimento que escreveu o poema recolhido... E pegada a pegada coletei as palavras que sem escutar contei... Ainda de cabeça baixa, meio surda e a voz tão retraída quanto a espera que se fez chegada...

E como eu já disse , sonhar é um trabalho que no fim tem seu começo: é preciso acordar para realizar o desejo. De sede morre o sonhador que se recusa abrir os olhos... 

Tal que a esta hora, me acorda a aurora dos versos de Thiago:

"E aí eu penso

Como são infelizes os espíritos puros

Porque eles não amam o corpo 

Como eu amo o teu corpo

As as 6 da manhã

Em meio aos desfiles de sonhos

Nesse país lotado de zumbis

E de outros mortos-vivos

Mas eu não habito esse país

Eu habito o teu sorriso

E o teu peito

E toda vez que eu não couber dentro de mim

Eu te entorno poesia"

(Thiago Júlio Martins - poeta paraense)

H c q f 12 de novembro de 2021

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Mae(terna)

 Eu que sempre fui desencontrada em muito do que me d(escrevo)... Encontrei uma parte minha que me compõe há muito tempo... 

Uma parte capaz de sentir uma dor espraiada no coletivo... Capaz de fazer do sofrimento no outro um sentido... 

A minha face inesperada, que me aconteceu de fato sem planejamento e sem grande cerimônia...

 Minha identidade ma(e)terna... Um lugar que me ocupa grande parte do dia com responsabilidade, conflitos, dilemas e também desgasta muito das minhas esperanças...

Um espaço que me delimita tem mais de 30 anos, com apenas 1,50 metros e cabelos escuros... ela faz parte do que me tornou criança, filha, irmã, amiga, namorada, pedagoga, esposa, psicóloga... E me sustenta mulher, mãe, menina, separada, moleca... Em busca de me constituir psicanalista.

Virei mãe antes de ser mulher... Nada na lógica da biologia tracejava a fartura - escutar o deslimite que a semântica expressa no popular e permite enredar -, e também a faltura - de faltar altura e altar pra encejar o deslimite da cultura e a potência guardada nas frestas femininas.

Fiquei menina depois de mulher, um vir-a-ser moleca, que me aconteceu no cotidiano tão sem programação, em uma rotina enorme, exaustiva, dolorosa, no entanto capaz de forjar uma abertura que eu desconhecia no meio das minhas entranhas...

Aprendi a entoar risadas e cantigas em madrugadas de choro, de pesadelos, poucas horas de sono e muito temor de perder o presente, já que não ansiava mais pelo futuro.

Entornei dias e dias de cansaço em poucas expectativas, mas uma lista sem fim de atividades cumpridas...

As noites já não servem apenas para sonhar, ou rezar, surgem em meio aos afazeres com o escurecer que entra pelas janelas na casa e traz objetivos e com ela estudo, escuto, brinco, vivo até o primeiro bocejo, que geralmente já me arrebata cansada, para o mundo do passado, onde figuras eternas me consolam as dores efêmeras da vida.

 Exatamente porque os fatos são pueris e as pessoas imortais, é que fechar os olhos, partir, deixar saudade constitui a verdadeira lógica subjetiva. Três palavras, incompatíveis, explicando como os afetos atravessam madrugada a dentro...

É do reino dos sonhos a minha parcela mãe mais cara, a avó materna que passou pouco tempo na minha trajetória, era o xodó da família, tinha por dengo o meu pai, e que plantou em sua neta mais apegada enorme inspiração...

Talvez por isso, e por toda jornada que cada mãe sustenta diariamente, a noite é parcela encantada do dia e mesmo assim não é mais o futuro o horizonte que me guia.

Descobri e me mostrei para mim, mãe, quando passei a sentir cada dia integralmente, independente das horas, da rotina, das obrigações... Sentir o presente foi um bocado difícil... Perdi o alento juvenil de vislumbrar um porvir... 

Desejo em devir, vivo um sentir e adormeço moleca rindo do que pude resolver até ali para que minha cama, meu quarto, minha casa fossem um destino/abrigo/acalanto depois de anos planejando partir...

Ao encarar uma trágica partida, hoje senti essa dor que só encontrei depois de reconhecer minha identidade materna: dor de perder o presente... Esse espaço no tempo, que é o próprio tempo e ninguém percebe até perder um colo amado... Esse tempo que não é passageiro, já que é a própria passagem das horas, e que a memória tenta guardar como passado, mas é a própria história que recusa a ausência/tortura de não mais poder ter aquela pessoa. 

E eu que afirmei a imortalidade, preciso ratificar que a saudade é o reino das criaturas eternas... Que abriga os personagens das histórias, das cantigas, das canções, das fantasias... 

É tudo um tempo vívido apesar da morte. E diante desse destino, a maternidade recusa o futuro... 

Sentir a transitoriedade em 9 meses gestar um ser vivo, é uma experiência implacável... Desvelou o feminino que eu não via, por descuido e negligência. Fragilizou meus apoios externos e internos... 

E foi na infância que encontrei refujo, para lembrar como caminhei até essa chegada... O que pretendo tocar com meus pés, minhas mãos e minha delicada existência, para não perder o sabor inevitável que só o agora pode dar... 

Hoje senti meu medo de perder minha identidade de mãe, que em mim só meu filho pode legitimar... Senti a mulher que estou construindo doer de saudade do colo que abrigava um bebê, que hoje dorme sem precisar mamar, mesmo antes que eu tente lhe ensinar minhas músicas preferidas e meu estilo musical, sem critério mas puramente afetivo...

Ainda hoje choro a perda de Mar-ilha, única em sua trajetória, vasta no alcance de sua poesia... Uma mulher que canta suas tristezas e vitórias, enquanto conta afetos, embala a todos e alcança as estrelas.

"Você deixou saudade aqui dentro de casa", a mãe sabe o amplo significado que tem "dentro" de uma "casa", bem como a mulher sabe a direção que a "saudade" aponta... E não é sobre o que sobrou e pode alimentar a memória, mas sobre o que restou da passagem de uma vida inteira.

H. C. Q. F 6 de Nov de 2021