Texto 33 de 2023
Registros sobre tentar ganhar um presente raro em um ser humano.
Texto 33 de 2023
Registros sobre tentar ganhar um presente raro em um ser humano.
Tirei você de onde você não queria estar... Na lista dos mais próximos, as pessoas que eu sinto saudade e espero qualquer contato, pessoas com apelidos íntimos, aqueles que me fazem faltam por existirem...
Tem algumas semanas que me dói a informação automática: essas mensagens serão apagadas automaticamente em sete dias, a menos que sejam salvas na própria conversa... Tem mais de duas semanas que assuntos muito íntimos e dolorosos desapareceram, deixando espaço na sua memória para outras histórias, talvez até menos constrangedoras que as minhas confidências sujas e tristes.
Também esvaziaram sua lista de mensagens importantes algumas declarações e súplicas amorosas de uma mulher madura e sensível, muito interessada em te agraciar com carinho, sabores, ternura e cheiros... Era doce a sensualidade pretendida, embora amarga a razão da graça merecida pelo gesto solidário.
Desculpe pelos minutos de conversa e leitura... O aviso imediato ao abrir a janela podia ter sido entendido como advertência quanto a espaço, distância e prioridades estabelecidas. Uma tolice que devia ter impedido sequer a existência do contato virtual, imagina nosso encontro de carne e mentiras "naquela tarde vazia".
Neste exato momento entendo mais uma vez a razão de eu ter retomado os escritos que endereço pra ti... Nenhuma resposta é capaz de me abraçar agora... E óbvio jamais seriam suas, como não é o livro que comprou ou a dedicatória que nunca existiu nas vias de fato, a não ser nas suas mentiras
HCQF 11 de dezembro 2023
Encontrei um pedaço de história... Desses que parecem cometa, que passa a cada década, ou século e você só vê o rastro de fogo no céu e se encanta... E quase promete que quer estar vivo, o suficiente, para ao menos enxergá-lo de novo na próxima vez que ele rasgar as nuvens com seu incêndio brilhante.
Um ser astronômico... Vagando no espaço e consumindo o tempo, entre o passado e o futuro, deixando o presente para as madrugadas de insônia, em que frequenta bares, mulheres, amigos, músicas e apaixona corações partidos pelos desencantos do mundo.
Encontrei esse asteróide e ele fez uma cratera na minha alma, o que é da sua natureza, grande, pesada e, incrivelmente, quente... Não posso negar que temo o desencanto com a sua partida.
E estar na presença dele me deixa em carne viva, por dias, semanas... Depois preciso elaborar sua eternidade de estrela, para seguir com o encanto que me atinge quando ele me toca.
Aprendi a linguagem do universo, em histórias com personagens bíblicos, mulheres incríveis, enquanto caminhava sozinha ao lado de um viajante do tempo... Ele um verdadeiro astronauta, pisando em outra gravidade, enquanto vaga pelas ruas escuras com as quais se afina/identifica.
Eu, um ser anacrônico, cuja vida andou para trás até encontrar um abrigo dos olhares doentes das pessoas tristes da minha história. Depois de muitas ofensas, mais uma quase agressão física e ameças a minha liberdade, cheguei ao interior fugida, onde meu inimigo não me encontraria e devagar recomecei outra página, como ainda agora, com dificuldade, mas encantada com a nova paisagem e o que a compõe, quase todo dia, ainda extraordinária, depois de 34 anos presa a mentiras, fofocas e repreensões.
Demorei a encontrar amor nessa nova cidade... Nem deveria... Outra moradora desses lados, roubou meu coração ainda jovem e eu tinha ciúme da sua amizade, não pude alcançá-la, hoje reconheço nesse outro corpo celeste o mesmo brilho astrológico de Halley.
Foram alguns meses, quase um ano para eu elaborar sua distância da minha superfície, ela não se afinava com meus interesses... Desta vez, eu mudei muito por dentro para encostar nesse outro planetóide, embora nosso encontro seja uma ficção desconhecida guardada em um sebo a espera de um leitor voraz, capaz de me libertar das lembranças costuradas na minha alma.
Algumas linhas de dor, escritas sem ternura alguma, podem me enterrar viva nesse drama amoroso. Preciso contá-lo como sinto, com um afeto tremendo de quem queria construir um ninho envolta do escuro mais estranho que me fez amar.
Por isso, vou acomodá-lo entre meus livros favoritos, na estante com autores encantados pelos encontros felizes que me arrancaram de crises melancólicas e dias tristes. Vou costurá-lo em algum próximo personagem, levar para cama uma camisa preta de alguma banda desconhecida, prometer escutar suas músicas favoritas um dia sozinha, chorando meu choro mais temido, cantando em um festival de rock maldito para o meu filho, para mim e pro escuro que me esquentou/escutou pela primeira vez, depois que eu perdi o amor da minha vida.
Era isso que eu precisava dizer...
Espero encontrar o amor de novo nessa vida ainda e esquecer, ao menos um pouco, esse breu encantado.
HCQF 3 de dezembro de 2023
Sabe, as pessoas para as quais você disse que ia viajar... Quem convidou pra ir... Com quem vai estar na viagem... Com quem dividiu pedacinhos do céu no avião, da comida à bordo, pra quem contou o que comprou e quem irá presentear... São essas, essas aí, que você tem e quer.
Não é sobre se distanciar geograficamente, ou sobre um afastamento físico... Isso pode ser de momento... É sobre sentir falta onde quer que esteja para que você seja quem é...
Não importa o deslocamento até chegar, quem está esperando procura sua presença mesmo durante a viagem...
Não é pela tempo que irá passar fora, é pelo que está dentro independente do que você faça, ou escolha...
São os pedaços sagrados que sempre voltam e tem a sua atenção de qualquer forma... Aqueles pedaços de palavras, frases, sons desconexos, ruídos que maream sua voz e o olhar na angústia da solidão... São esses, esses que fazem sentido ficar perto.
Eu conheço esses lugares... Viajo para o seu afeto sempre, dentro de ônibus, de madrugada na emergência, nos bares sozinha, com o coração apertado, nos dias difíceis, eles choram comigo, as vezes por conta deles, ou da falta que eles deixam ou fizeram em mim...
Fazer falta, é cavar um buraco no território alheio e guardar/esconder um relicário... No mapa do tesouro as lembranças, doces e amargas, os dias tristes e felizes, as tempestades, dias ensolarados, o susticio (entre estranhos) e o equinócio (entre pares), são os traçados para encontrar esse portal para quem você se tornou...
Mas não é sobre descobrir algo é muito mais sobre querer saber (dessas pessoas, da sua história, dos seus sonhos...)... Também não é mais do que desencontros, porque as lembranças se ligam as novas oportunidades de estar com elas... Sim, porque você sempre quer estar na presença-ausência desses seres, já que também é sobre afetos hostis, dias difíceis, perdas e danos...
Se em nenhum momento você topou comigo, não com as minhas referências bibliográficas, ou da minha história contigo, comigo mesmo, meus olhos, as cores do meu cabelo, minha voz que embarga disfarçadamente quando, realmente, algo me toca...
Não é comigo nada... E isso pode acontecer, da pessoa na sua vida tirar um pedaço e isso parecer fazer uma marca... Mas pode não fazer falta...
Pode ser que a pessoa tentou encontrar seu tesouro e até esburacou sua alma... Um tipo amargo de ambição humana... Nesses buracos o amor, a amizade e a gentileza cultiva afeto, transformações, cria o jardim das lembranças efusivas... Um dia elas desaparecem, ou deixam de ter a importância que queriam...
Mas seu eu não for um baú de relíquias suas... Me deixa em paz! Vai embora de uma vez...
Hellen-a, HCQF 1 de dezembro de 2023