sábado, 2 de dezembro de 2023

Um tempo-gente eterna

 Sabe, as pessoas para as quais você disse que ia viajar... Quem convidou pra ir... Com quem vai estar na viagem... Com quem dividiu pedacinhos do céu no avião, da comida à bordo, pra quem contou o que comprou e quem irá presentear... São essas, essas aí, que você tem e quer. 

Não é sobre se distanciar geograficamente, ou sobre um afastamento físico... Isso pode ser de momento... É sobre sentir falta onde quer que esteja para que você seja quem é...

Não importa o deslocamento até chegar, quem está esperando procura sua presença mesmo durante a viagem...

Não é pela tempo que irá passar fora, é pelo que está dentro independente do que você faça, ou escolha...

São os pedaços sagrados que sempre voltam e tem a sua atenção de qualquer forma... Aqueles pedaços de palavras, frases, sons desconexos, ruídos que maream sua voz e o olhar na angústia da solidão... São esses, esses que fazem sentido ficar perto.

Eu conheço esses lugares... Viajo para o seu afeto sempre, dentro de ônibus, de madrugada na emergência, nos bares sozinha, com o coração apertado, nos dias difíceis, eles choram comigo, as vezes por conta deles, ou da falta que eles deixam ou fizeram em mim...

Fazer falta, é cavar um buraco no território alheio e guardar/esconder um relicário... No mapa do tesouro as lembranças, doces e amargas, os dias tristes e felizes, as tempestades, dias ensolarados, o susticio (entre estranhos) e o equinócio (entre pares), são os traçados para encontrar esse portal para quem você se tornou...

Mas não é sobre descobrir algo é muito mais sobre querer saber (dessas pessoas, da sua história, dos seus sonhos...)... Também não é mais do que desencontros, porque as lembranças se ligam as novas oportunidades de estar com elas... Sim, porque você sempre quer estar na presença-ausência desses seres, já que também é sobre afetos hostis, dias difíceis, perdas e danos...

Se em nenhum momento você topou comigo, não com as minhas referências bibliográficas, ou da minha história contigo, comigo mesmo, meus olhos, as cores do meu cabelo, minha voz que embarga disfarçadamente quando, realmente, algo me toca...

Não é comigo nada... E isso pode acontecer, da pessoa na sua vida tirar um pedaço e isso parecer fazer uma marca... Mas pode não fazer falta... 

Pode ser que a pessoa tentou encontrar seu tesouro e até esburacou sua alma... Um tipo amargo de ambição humana... Nesses buracos o amor, a amizade e a gentileza cultiva afeto, transformações, cria o jardim das lembranças efusivas... Um dia elas desaparecem, ou deixam de ter a importância que queriam...

Mas seu eu não for um baú de relíquias suas... Me deixa em paz! Vai embora de uma vez...

Hellen-a, HCQF  1 de dezembro de 2023

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