quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Para os fins de novembro

 Por que tanto trabalho para me convencer de mentiras?

Não há nada a ganhar. O que eu tenho não lhe interessa, assim como minha rotina, meus sentimentos, meus autores favoritos, alguns pedaços do meu corpo e a minha alma escura (como a sua).

Talvez eu não possa te cobrar para se olhar ao me ver... Eu também já busquei no outro o lugar que doía em mim... Foi antes de sentir, especialmente, o amor.

Tenho alguns centímetros de angústia, abomináveis, me rasgando o peito. Dói até as minha costas... Arrepia também... São laços desenfreados que ora apertam, ora afrouxam a mordida do tempo.

Você me chama para te encontrar e não vai. Não tem convite, é só um chamado escuso, sem gosto. Se vier pode até me encontrar no fundo de algum copo, ou na magoa escondida da letra de alguma canção. Mas já é tarde, canções exigem alma, a sua está em viagem anos-luz da Cidade Nova.

Foram algumas músicas, mais outras tantas mentiras, algumas horas da minha atenção ao meu filho doente "derrotadas" a você. 

Existe uma parcela egoísta, em mim, que está brigando no meu íntimo para te encontrar e me fazer reviver tempestades de orgulho sem sentido, pela história triste que me constituiu.

A menina-mulher, pequenina, que você disse pra deixar de ser bonequinha dos outros homens, ela te incomoda, porque você usa a saúde física dela algumas tarde e noites no seus pesadelos em vigília.

Você é um conto de terror e esse não é o meu gênero preferido. 

Passei na frente da sua casa, (agora de ônibus  e dors pelo corpo), doeu meu peito. Eu sinto a total desmesura do que você chama de autoengano. Porém, não há como concertar um erro assim. Não é sobre não ver, é sobre mentir diante da verdade. A maior mentira é que você está lá. Já disse, juntos somos visitantes do tempo, você no seu passado infindo e eu num futuro perdido.

Falo de filho comigo sobre você... Imagina a infelicidade de te perdurar na minha história? Desculpa, também quero ir embora.

Suas letras desgraçadas comovem como roteiro de drama; genial, espetacular... Mas quem vai dar ouvidos? No máximo uma indicação ao Oscar. bilheteria, ganhar, ganhar, ganhar mesmo... Isso não vai ter.

Mas você é a melhor atriz cultivada nas salas cults por alguns solteirões e suas presas momentâneas.

HCQF 30 de Nov 2023

sábado, 25 de novembro de 2023

Uma longa conversa vazia

 "Te esperei..."

Veio se aproximando devagar, como espreita a raposa de dia... 

Você me disse o que comprou na livraria e me contou que viu "O teatro completo da Hilda Hilst".

Eu disse que agora queria conhecer a poesia de Dickinson.

Mais tarde, mais livros... Cinco exemplares com dois nomes conhecidos: Herman e Emily.

Um tom desconhecido me fez achar que era brincadeira, mas você realmente desconsiderou o que eu havia dito sobre aquela nova poética, pra mim, até em um email, muitos dias antes.

Demorei a entender sua deslealdade... Caiu a ficha e eu decantei algumas lágrimas.

Um dia de silêncio... Eu já tinha um compromisso marcado... Diz você, que eu lhe disse tudo sobre o rapaz que encontraria, ainda naquele dia que perdi o controle e fui parar no hospital.

No encontro com a outra pessoa, tirei uma dúvida de amigo músico com você... Voltou o vazio na janela e eu toquei outra pessoa, mas não senti nada.

No outro dia, era um domingo, você acordou cedo como nunca, atravessou a rua da sua casa e comprou um livro. Acho que vinha para Ananindeua... Lembrou do meu novo cativeiro (Emily) e disse: "é seu, comprei pra você". E já tem três semanas que você nem dedicatória escreveu. Nem o livro, nem a poesia... Era só o tédio de um domingo de manhã sem ninguém que você queria e uma janela que você aluga de vez em quando.

Eu agradeci, como quem tivesse ganhado o presente de um inimigo. Era cedo, mas eu acordei tarde da festa anterior...fiz um texto/poema sobre o desencontro do outro dia, e pensei no que me daria como um regalo estranho, tanto que não se materializou na minha estante nem na minha vida.

Estava certa!

Depois disso, nada... E em outra manhã, Bocage. Agradeci em gracejo... Você me interpelou com suas mentiras ou verdades sobre outra pessoa. Você disse ciúme, eu ouvi inverdades outra vez. Agradeci como sempre e nada mais me disse.

Mais dias de silêncio... Agora veio a espera, talvez um cartão de visita existiria pela primeira vez... Você disse algo, depois de uns três dias, porque eu comecei alguma conversa de trabalho, ou da minha saúde...

Deu a entender, porque você não faz promessas de amor (você tem fantasias na cama com várias pessoas ao mesmo tempo), disse que entregaria o livro em mãos pela coincidência da minha rotina de trabalho e da sua nova casa... Juro que brotou uma espera-criança, mesmo que eu já soubesse, por tanto, que nada existia de surpresa.

Respondi para você sobre quem me feriu recentemente, enquanto escrevo: "sai das redes dele". E pensei: "quero sair das suas mãos também".

A semana correu, meu coração acelerou algumas vezes esperando o encontro com Dickinson... Desta vez você não iria falhar comigo, podia me encontrar até na rua e me entregar o livro... Não dava, tinha que me rasgar outros pedaços...

Chegou ao fim a rotina da semana, embalei temperos para servir de comida a você. Era tarde, nada mudou em como me vê.

Quase marca mais um desencontro entre a minha falsa esperança e seu autoengano. Mas o time que você nem torce fez um gol, e eu te vi vibrar... Acho que era o Fluminense, só agora eu percebi, que tem tudo a ver com a nossa amiga virtual. E no tempo depois em que escrevo, soube que acha que nosso encontro foi uma perda de tempo, e me viu perdida, enquanto me entregava a contra gosto algumas horas da sua noite, sem um convite para encontrar "a" Alvarenga. Acho que você pensa que meu raciocínio falha quando estou com você... Ele guarda pedaços que me entrega digeridos.

Mais uma chance de dar tudo errado que você fez dar certo, sem motivo nenhum, como agora enquanto escrevo e você manda mensagem porque não conhece outra mulher daqui da nova antiga casa, e eu tenho vontade de te pedir pra dar em cima de qualquer pessoa e me deixar dormir e tentar levantar outra pessoa (com você): "meu coração às vezes é brutal".

Bem na porta notei mudanças físicas em você, mas você disse de mim: "você continua a mesma coisa". E ainda reforçou: "eu prestei bem atenção ao seu corpo (pequeno)".

Entrei em outra casa escura, senti seu desleixo impregnado nos objetos e por mim. Foi como sempre era, estranho...

Você pediu desculpa pela bagunça, na casa e não na vida. Eu senti um certo medo de entrar de novo. Você deitou na cama sedento por outras mulheres... Eu deitei esperando um abraço desde a entrada. Eu pensei agora: "eu mereço mais".

Vi seu corpo grande (maior ainda) talvez pela experiência ruim que passei, titubiei por minutos (assim como foi com o guri de blusa verde também travei). Você, já sabendo o que passei, mas com muita pressa, quase me dispensa da porta mesmo. Eu senti vergonha, mas não desisti, eu sou uma tola.

Seus olhos lancinantes para algum lugar distante... Eles não me viram, nem na entrada, nem agora na sua cama.

Você pediu pressa, e eu presa na minha ilusão, agora ainda convivo com uma notificação: "essas mensagens serão apagadas daqui a 7 dias, automaticamente".

Nem o trabalho de apagar você quer ter... Eu conheci alguns moleques, alguns meninos e poucos homens: ainda bem.

A cena começou no quarto com o barulho do ventilador. Você suava como eu nunca vi, mas do jeito que eu gosto. Lembro que uma gota salgada caiu no meu lábio e eu engoli feito "lágrima [na] chuva".

Você não precisa dizer nada, cada silêncio seu me salva um pouco das minhas ruínas. Seus gestos gritam: "se afasta, não tem nada!" Mas eu fico perto.

Ainda tenho ciúme, que em mim é um tipo de amor, mas aprendi a ver passar feito navio na estação das docas, eu sozinha rodeada de casais apaixonados.

Mais uma vez me entreguei ao seu corpo sem alma... Nada contra, você não me ama. Ardemos uma febre engraçada. Desculpa, acho que nunca mais vai acontecer (nada disso).

E você confessou, não tinha feito a dedicatória, está na sua cabeça, mas nem podia me dizer ao pé do ouvido. Não há o que dedicar para uma mulher que você não ama.

Hcqf 23-30 de Nov de 2023

Frutas vermelhas

(texto 32 do ano de 2023)

Existe uma estação
Em que as horas correm
Como as safras de maçãs, romãs, amoras...

Das frutas vermelhas
Dos vinhos tintos
Do rubor
E da dor

De morangos "mofados"
Às ameixas frescas
(A)bate o coração
Desacelerado de encanto

Corando as bochechas
Em tom avermelhado
O aporte sanguíneo
Escolhe os picos dos corpos

Dúctil firmeza corpórea
Aponta à sensibilidade
Perde o leme o capitão dos (a)mares
Entre o azul marinho e o tom escarlate
Na estação onde o peito para.

Hcqf 23 de novembro de 2023



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Texto 31 do ano de 2023

 Eu estava lá, mais uma vez disponível, aberta para o que ele quisesse... E ele queria testar limites, jogar... E ganhar o jogo. 

Perdi!

Primeiro, as investidas virtuais e fantasiosas, na rede social... E eu, destruídas todas as minhas defesas, entregue a ele.

Depois, a culpa, o medo de perdê-lo, o encontro, o porre, a emergência... Eu ajudo ele a montar o palco do circo, em que ele vai me expor... Eu sou a atração principal: a idiota que vai fazer ele rir o seu pior veneno.

Veio o encontro, em carne viva novamente. Eu, com a alma de quatro, ele com o mais feroz delírio de subjulgar uma alma perdida. Sou presa fácil, fera abatida, desleal comigo mesma sedo até minhas vísceras, dói tudo quando ele se cansa nos próximos minutos de mim...

A fera dentro dele ainda tem fome... A besta dentro de mim ainda tem sede... Sigo seus passos como cão de rua sentindo cheiro de comida... Mas não é sobre instinto, apesar de me desumanizar, é sobre cultura, machismo predatório, servidão, purgatório.

Dentro e fora desse cenário, escuro e escuso, sou presa fácil... Ele comeu a carne de outro animal, eu experimentei vergonhas desconhecidas: olhos ardilosos sobre meu corpo pequeno se dirigindo qual criança "pedixando" aos pais e sendo ignorada por ser um pinguinho de pessoa.

Saímos daquele estabelecimento, onde os olhares em diferentes tons de pele, cargos e funções, castas de homens arrancaram alguns pedaços das minhas vestes, também.

Foi quando, não aguentando mais a minha presença, organizou o próximo ato, uma cena de novela, em que ele fingiria se importar com meus sentimentos, enquanto preparava o merchandising que eu faria de mais uma de suas mentiras.

Somos muito diferentes, eu não destrato nem meus inimigos, quanto mais quem me secreta sentimentos íntimos e desgraçados de pura tristeza e dor entre a soma e o anímico.

Estive no lugar mais temido, por um homem, na mesa do seu pior amigo, antes dele se mostrar o que foi todo tempo.

Outra mentira e eu estava a algumas quadras da mesma redonda vizinhança pela qual eu iria deixar pedaços do meu coração pelo caminho, para saber como voltar, sozinha, desprotegida, vulnerável pela floresta/mar da vida.

Sentamos em outra espelunca, com a qual ele harmoniza meu jeito modesto de me portar. Está frio, eu sem sutiã e de blusa (tomara que caia), combino com o ambiente, enquanto confesso abusos, desleixo, negligencias comigo, parecendo uma meretriz de esquina, com o primeiro homem sem alma da Grande Noite, existente desde a Grécia antiga, subsumida no neon desumano do centro da cidade serena.

Enquanto derramava meus prantos, sem colocar um pingo de lágrima pra fora, alternava razão e loucura, ciência, poesia e violência, em uma mesa de ferro descascado, na beira de uma rua, ladeada de puteiro, uma sauna, aquela figura enorme e que pesa em mim e a sua casa.

Ele derrapa e confessa amores, são mulheres com quais ele não soube jogar... Porque antes de se armarem as jogadas, emplumam-se de si mesmas e ele nada pode com quem se ama, seja o amor que seja, a quantas dores de polegadas.

Descubro de onde vem Bocage e onde ele se esconde/esquece Dickinson; reencontro Herman Herss, Freud, Nietzsche e hoje sei que também estava em alguma mesa Hilda Prado: fumada da cabeça mas com o espírito bem vivo, anjo gauche, me protegendo, me fez economizar dinheiro, pegar o carro de aluguel na hora por tino meu, veio comigo para eu não sentir a porrada que agora sinto. 

Precisava ser tudo no mesmo, maldito, dia/noite para guardar na mesma gaveta, dos abusos sofridos.

Agora, já com mais de 30, enfim conheci os homens, pela primeira vez. Só havia me relacionado com meninos, com sinto falta destes, tal como chora triste meu peito, pela distância do meu filho.

Conheci a "raça" maldita que humilha, escraviza, doma, agride, prende por prazer: patriarcado. Encontrei alguns velhos de quem tive nojo. Foram algumas vezes que passei por isso, por referir sensibilidade e fragilidade no corpo pequeno e alma vibrante.

Sempre um estintor que tenta apagar a chama feminina, hoje sei que conheci, pelo menos alguns destes: de leão, foram dois, um deles fera sarnenta; dois outros esportistas, um nadador miúdo e outro um pequeno lutador de jiu-jitsu... Mas igual o escuro, mesmo meu pior inimigo, ainda não tinha visto, e agora espero que seja o único da minha vida (em todos os sentidos ainda, mas vai passar, espero demais isso).

Essa outra metade do pesadelo, vim confessar no meu canto, por acreditar que situações destrutivas quando narradas viram lições para a vida. Quero me escutar mais vezes, melhor, como fiz agora.



Hellen-a, HCQF 23 de novembro de 2023


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Há-breu em mim...

Estou tão envergonhada, pelas coisas como vieram e como estão, Habreu.

Não por ti, mas por mim e meu destino, favorito, da pulsão: deslocar na meta.

Errática, quase sempre estrago o que quero... 
E eu posso até tentar uma explicação, psicológica, tal como fiz antes. No entanto, não quero. 

Hoje, prefiro o não-saber e esse sentir, non sense, doído e insensato, como as sandices que se diz ao pé do ouvido, deitados, ou em qualquer posição que esteja a alma e os corpos.

Não sei o porquê de te fazer tão íntimo dos meus limites éticos, morais e corporais.
Contar e te fazer testemunha de constrangimentos infantis. 

Ao contrário, eu queria escondê-los, todos, em um verniz sedutor, cujas formas mais encantadoras e plásticas de algo em mim sobressaíssem, longamente, como são longos os véus e os vestidos das noivas, ou a "seção coruja".

Mas não... faço com que sejas tão íntimo até dos meus erros. 

O mal-dito cristianismo que consome nosso cotidiano na clínica, na política e, por isso, na cultura... atenta meu juízo e me faz intentar fantasias de uma segunda temporada da novela, Hellen(a): uma mãe e mulher.

Isso é tão ingênuo, quanto está em ser, o que acabei de negar querer: te fazer um espectador interno até do que desgosto dentro de mim.

Queria me pintar perfeita, planejar convites, conversas e encontros de novela. 
Acho lindo! 

É o sereno que não me diz-farça.
Fico justa, como o decote das roupas que, ousadamente, uso pra ti e ninguém mais...

Desculpa a poesia rasa, a dificuldade em ser objetiva, a pouca referência bibliográfica, não ter abraçado teu rosto (como eu queria) quando o choro corou suas bochechas e escorreu tímido até que seus dedos impedissem seu curso.
Eu queria ter impedido seus dedos.
Me perdoa!
Eu queria ter te beijado em prantos, como você merecia.
Eu, antes de tudo, te desejo, e desejo que seu amor não escute a autocensura. 
E retribua com infinitos beijos sua comoção infantil.

Diz a poesia que "o amor bate na aorta", então deve o amante auscultar "essa disritmia".

Eu desejo que você encontre alguém que te faça chorar, um choro quente, guardado como o magma (nos tempos remotos do que foi a Terra) que desce lava, vermelha e preta, como o Flamengo.

És testemunha do que endereça em carta, o que foi antes de ser poesia.
Desculpa por eu te desejar assim, Amor. 
Hellen-a C. Q. F., 21 de novembro de 2023.

domingo, 12 de novembro de 2023

Amor depois do amor (😉💚)

 Ele demonstrou muito...

Eu acostumada com pouco, desconfiei...

É fatídico que Recurso e Penúria ensinam sobre o amor, isso tá em Platão... E esteve ontem, enquanto eu tava sozinha, comigo e com ele.

Ele veio e disse, isso numa mesma ocorrência não está sendo redundante comigo....

Ele veio e falou com o fotógrafo, com quem eu estava na mesa. Ele o contratou, mas eu não sabia e só me aproximei porque reconheço o relacionamento dele com sua namorada. 

Foi então  que o músico se referiu a mim e disse: "chegou tarde... Pensei que não vinha... Eu ia ficar chateado" e saiu. (Sinto que quero reviver, resguardar esse encontro, não sei se dá).

Eu só senti o impacto do corpo dele, cheiroso, no meu... Foi um abraço de lado. E eu fiquei miúda dentro da demonstração que recebera... Não é comum comigo.

A noite continuou, era um momento de trabalho dele e meu de explorar a mais nova região, antiga em mim (a solidão) e encarar o que quero conhecer.

Começou seu momento, parece que senti sua expectativa... (Agora, enquanto escrevo, sinto um desligamento, porque a timidez me engoliu). 

Bem, foi bonito e em alto e bom som/sim (literalmente, chega sinto quase uma dor de cabeça por isso, mas dói mais meu estômago e toda a pressão que guardo em me alimentar mal).

Sua cena acabou... Sim, ele é alguém que gosta de demonstrar o que expressa, ainda não sei o que faz com o que sente quando sente...

Ficamos por minutos afastados e antes de concluir uma hora, veio ele... Em pé ao nosso lado, meu e de uma nova fã (ou não)... E de novo, fez questão de demonstrar: "quase não vinha...". E me olhou com os olhos cor de mel, ou que lembram mel... Foi doce e direto, ainda não tinha sido potente... E eu ainda impotente com aquela enxurrada que eu desconheço existir há 4 anos mais ou menos (minha separação do antigo companheiro).

Sorri. E na verdade, quase me escondo nos braços dele... Intimidada por ter reconhecido que a outra moça demonstrava algum interesse, que eu desconheço, mas desconfio, inclusive nele.

Algumas palavras, depois que a moça foi ao banheiro, olhando diretamente pra mim, sem que eu pudesse encara-lo de volta... Ele foi buscar meus olhos no chão, na mesa e até em sua boca, mas nunca tanto tempo um diante do outro... O que é isso que eu estou descrevendo? Um desencontro? Um desejo de romance?

Um amigo dele chamou-lhe a atenção para prestigiar seus outros amigos que tocavam... Bem, fiquei com a moça na mesa e ela logo se foi...

A bateria do meu celular descarregada me salvou... Precisei carregar e esperar... E ele de um lado para o outro...poucas vezes me enxergou... Por quase duas horas fiquei invisível pra ele... Doeu, era assim que eu me sentia sempre... Era hora de partir...

Sai de dentro da sala de música, ele sentado com os amigos... Corri pro carro de aluguel... E veio a mensagem: acabei de te ver sair... Ele escrevia enquanto eu me despedia pela mesma via... Ele disse que fugi dele à noite toda... E disse que ficou "triste" por não termos conversado... 

Foi, então, que tive coragem de dizer: estou perto... E ele em tom inacreditável para mim, disse: volta... E disse outra coisa... Tudo se perdeu no "volta".... Ali naquele pequeno momento, eu vivia um filme de amor... Eu disse, já retornando: "é para eu voltar?". E ele disse: "Sim". O que eu escreveria em maiúsculo, porque ele fez a expressão "afirmação" rimar com firmeza.

De repente eu cheguei... Com vontade de fazer xixi, encontrei com ele com a mão suja de banheiro... Pedi pra lavar... Demorei de propósito... Retornei e não pude me reunir com seus amigos... Um deles me parecia reprovar nossa aproximação...

Ele afirmou o pé do meu lado na mesa....sentado, cansado, ouvindo "aleatoridades" (como diria uma paciente minha, que estimo por nossa contratansferencia de cura)...

Primeiro sentado, depois em pé, como eu, olhando nos meus olhos, tocando minha mão, sem elogiar, sem se "amostrar", mas demonstrando quem é... E aquilo "Tudo" me deu medo... As palavras de uma amiga que trabalhou com ele vieram como pensamentos intrusivos: família muito rica, não dá pra mim, tio Ângelo e tia Naza, não é para mim...

E conversamos até o sono nos abater pela conversa cansativa e sem um futuro... Mas tinha pedaços do seu passado, algo como sentar com seus amigos... Tinha uma solenidade também... Que tenho eu diante dele... Quero me curvar e estou dura de quedas e desembarques muitos...

Ele disse para irmos em seu carro, ofereceu carona (recusei bastante vezes)... Ele desistiu de me conduzir à sua casa (talvez, agora, eu veja que poderia soar como invasivo para aquela moça tímida na frente de um músico)...

 Fomos a um posto e a hostilidade evanesceu e o carinho virou bruma... Alguns "puxões de orelha", alguns pequenos beliscões... E eu fiquei pressionada... Naquela região eu me reconhecia... 

Então, cedi centímetros e ele condescendeu milímetros... Eu tive que contar que minha boca estava em carne, não mais viva, devido a um hambúrguer que comi. Ele brincou e doeu, fazendo trocadilho com cemitério... Depois torceu e retorceu o braço: vegano disse que comeria pão de queijo... Me senti mal por ser uma volta para trás na sua política de vida(nova, eu descobri). 

Bem, ele insistiu: estava "apto a trocar saliva"; eu era uma "mulher de meias palavras"; enchi nossa noite de "mistério", "fugi"... Não consegui empostar  voz, corpo e alma na mesma sinergia... Dei voltas... 

Até que ele disse o que eu queria ouvir e já estava com o corpo pedindo (baixinho): "você quer dormir na minha casa?" . E eu vi o mesmo brilho caramelo, mesclado de mel  e muito açucarado... Nossa, que olhinho, quase, quase venceu meu corpo trancado pelas desilusões...

Eu não respondi, mas pedi pra ir até a casa dele... E ele encontrou uma forma de nos afastar: "ali tem um supermercado... ". Ele me cortou e eu voltei atrás... Ele queria me deixar em um lugar escuro, havia esquecido... Uma outra eu, transaria com outro homem bem ali. Aquele homem de sempre.

Chegamos no supermercado, foi triste.. ele cansado... Ia para o abate como os animais que quer defender, mas ainda não sei se é uma política mesmo...

Entramos, ele foi andando pesado, tanto que escolheu um pão de queijo velho e denso... Me pediu pra comer com ele... Eu não podia... E já havia dito para ele não se violar... Ele foi, comeu com certa raiva... E eu pedindo desculpa e aquilo "tudo" aborrecendo ele...

Entrou no carro sem mim... Me deixou pra trás... Eu fiquei do lado de fora... Eu pedi pra ele ir, ele disse sem querer mesmo, que ficaria pra me esperar... Eu admiti que não queria ficar sozinha ali... O carro de aluguel veio se reaproximando... 

Eu no ímpeto do que quis fazer fazia tempo, desde a casa de música... Vi o olhar, porém escuro de frustração, dizer algo sobre uma "noite perdida"... Fui abraçar, segurei o rosto e beijei sua boca... Querendo tocar seu corpo... Não sei o porquê  que ele fez, como fez, mas de olho entre aberto escutei e vi... de repente ele bateu no volante do carro e disse assim: "agora ela beija". E depois olhei de novo, agora me vi, como que com as mãos primeiro na cabeça, segurei-lhe o rosto e de novo beijei "seus lábios macios", diria Fábio Jr (meu romântico cafona favorito). Eu fechei os olhos e vi ele fechar também...

Fomos nos acompanhando, eu a pé e ele em seu carro... Entrei no carro de aluguel, ele esperando nos afastarmos geograficamente... Acenei em um gesto meio cinematográfico, depois não entendi, mas sei, era uma forma de boicotar mais aquela demostração dele...

Cheguei em casa e nada dele...

Escrevi sobre mil desculpas... Ele respondeu: "Fica tranquila, Hellen. Bom dia, bom domingo"... A única mensagem que consegui descrever fielmente...

Agora sofro, mais cedo cheguei de um encontro com meu corpo doído de saudade daquela boca e seus olhos....

Não sei se existe como nos encontramos... Certeza que posso vê -lo, mas revê-lo no lugar em que estivemos, eu não sei... E essa dúvida é uma cura, mas diz também sobre sentir meu coração e cantarolar suas batidas... Diz a canção, "imanente": I'm irreverent a revanent... Dîe by It... Eternally cycling tides"... desejando "mouth of the Eden".

Eu ouvindo amor, com medo da morte e sendo desejo...

HCQF 12 de Nov de 2023

"River Eden" é um rio que corta parte da Grã-Bretanha, paralelo ao lado norte da Irlanda, tem também um nome em latin dado por um geógrafo dos tempos antigos, Ituna, que vem da palavra celta, Itaúna que quer dizer água.. "Mouth of the Eden" é uma música de uma cantora que resguarda em suas canções tradições celtas. Talvez, "a boca de Eden" faça referência a foz, ou nascente desse grande rio que corta a Grã-Bretanha e ganha até outros nomes ao longo de seu curso. Mas a cantora se refere à Escócia em suas letras e eu aos meus incêndios em busca do paraíso no amor.