sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Aurora dos versos

 Parece que pela primeira vez aconteceu o que eu queria... 

Na minha mente desfilam as experiências nas quais eu estive sem transbordar o sentido que me fez chegar em mais um Sarau: contar minhas autografias.

Sim, porque a minha história não caberia em uma bibliografia, ou mesmo estaria bem representada em uma enciclopédia com todos os títulos que ao ler encontrei recortes de mim.

Onde me reencontro é no que se desfaz em escrita, quando a pena me atravessa e eu sangrando renovo os horizontes da minha vida.

Nunca é simples... Não tem horário...

 Já escrevi a lápis para apagar e depois redescobrir nas cores escolhidas uma materialidade pros sentimentos e sensações... 

Mas a percepção sempre falha na releitura... Já não é mais pelo mesmo motivo que meu peito chora, e esses retalhos que em vão tento costurar de volta na alma remendam não pedaços antigos, mas novas histórias...

Planejei com antecedência como eu faria para a covardia me sabotar, mas dessa vez não conseguir pensar em não ir...

Cheguei primeiro... O local onde o sarau se realizaria vazio... Dirigi meu corpo e enorme expectativa para o bar, mais um vício humano me fazendo companhia.

Mexi no velho baú dos meus gostos, convidei sabores de vinho, alguns títulos de whisky baratos (lembranças do meu pai), aromas de frutas e especiarias... Estava tentando convocar novos personagens para ver se a narrativa tomava outro rumo...

As vidas que escolhi pra me segurarem a covardia, estavam lá desde antes da presença física... 

Senti tudo: as palavras que me fizeram rir da minha completa falta de jeito pra tudo; olhos que me abraçaram em corpo físico e corpo celestial (eu tenho uma versão estrela que eu escondo com falsa modéstia, ela é a menina que brinca quando a adulta cansada desmaia e me permite viver); a mão que apontou o palco... 

Dalí (o surrealista mesmo) em diante, pisei devagar em cada sentimento que escreveu o poema recolhido... E pegada a pegada coletei as palavras que sem escutar contei... Ainda de cabeça baixa, meio surda e a voz tão retraída quanto a espera que se fez chegada...

E como eu já disse , sonhar é um trabalho que no fim tem seu começo: é preciso acordar para realizar o desejo. De sede morre o sonhador que se recusa abrir os olhos... 

Tal que a esta hora, me acorda a aurora dos versos de Thiago:

"E aí eu penso

Como são infelizes os espíritos puros

Porque eles não amam o corpo 

Como eu amo o teu corpo

As as 6 da manhã

Em meio aos desfiles de sonhos

Nesse país lotado de zumbis

E de outros mortos-vivos

Mas eu não habito esse país

Eu habito o teu sorriso

E o teu peito

E toda vez que eu não couber dentro de mim

Eu te entorno poesia"

(Thiago Júlio Martins - poeta paraense)

H c q f 12 de novembro de 2021

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