quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Pres(ente)

Um dia, na adolescência dos meus dias, ouvi que estar ao meu lado seria o melhor presente de aniversário.
Algo inesquecível! Ainda agora me surpreende... Um frio, gostoso, toca o meu ventre...
Então de repente, quando eu disse:
- felicidades!
Ele disse:
- hoje eu só queria ficar o dia todo do teu lado.
Se sentir um presente para alguém não tem tamanho... 
Não cabe em um momento...
Não tem fim...
Não tem uma referência anterior.
É insuperável! 
Marcante como uma dor, que não flagela, mas corrói as defesas... 
Da pra sentir cada pedaço do medo de se entregar, de se envolver partir...
Fez sentir o quão singelo é tornar alguém amor.
Não está na matéria... 
Não tem um jeito certo de acontecer...
Não segue qualquer padrão...
Faz existir na mesma hora uma alma amada, que vira um manto, que de dentro para fora esquenta e envolve.
Cobre todo o corpo, no frio da saudade.
Es que nasce um abraço invisível que vira abrigo diante da sensação de vazio.
Tal que inaugura o sentir falta, que apesar de nascer antigo, ganha sentido e fundação. Daquele dia em diante, toda distância merece a existência do contrário. 
E eu ainda lembro do rosto que disse, do momento em que sua boca não exitou em entregá-lo, mas não foi tão fácil.
Ele abaixou a cabeça e só levantou pra dizer, depois abaixou pra sentir o que dissera, doeu em nós dois.
E agora parece que só sobrou a dor...
No entanto, é sempre agora, quando recordo desse amor.
 Sentir ser amada é eterno. Tal como ensinou uma estrangeira a Sócrates, segundo Platão.
Ser presente é deixar de ser instante.
Faz nascer o ser amante e o ser amado no mesmo ente.
H. C. Q. F. 10 De setembro de 2020.

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