domingo, 3 de agosto de 2025

Pequenos

 Tenho rebobinado um pensamento injusto contra o meu corpo: seios muito pequenos. 

Tenho sofrido com esse apontamento que não me incomoda desde os meus 12 anos.

Todas as meninas comprando sutiãs lindos e eu sofrendo com as sobras de tecido com rendas.

Meus amores lapidaram, devagar, um deleite pessoal por eles... fui aprendendo a tocá-los, acariciá-los, elogiá-los, com amantes muito carinhosos.

Sabia da minha sorte, mas realmente não admitia menos do que encontrei nos cavalheiros que me tornaram mais caprichosa.

Sofri o teste da maternidade... em mim pedaços se fortaleceram, uma força me encontrou... porém um corte se refez: meu corpo é mais apontado, como quando eu era uma menina. Duas pontas que se encontraram numa vulnerabilidade por estar sem aquele aval masculino. 

De repente encontro reinvenção e cores, e a menina floresce na mulher mais fortalecida pelas responsabilidades da maternidade.

Ainda não deixei para trás as marcas dessas falas e apontamentos sobre meu corpo, voltando ao bojo, que não tinha protagonismo antes.

Vejo a necessidade de constituir a proteção que aceitei vindo de fora, mas precisava vir de mim. E agora faz falta, como não me importar com a forma delicada dos seios que sustentaram meu menino nos primeiros meses de nutrição, nas noites de sonho no colo amoroso da mãe e contornam meu centro proporcionalmente ao meu corpo, ambos pequenos e doces (como sempre).

E assim, da sutileza nas cores, a voz suave, fui me constituindo de maneira discreta e simples, apenas para alguns olhares, de olhos bem carinhosos.

E que minhas companhias voltem a ser tão assim, mansas como minhas formas e proporções. 

Hcqf 2 de agosto 2025

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Carta ao cotodiano

Ele nunca aceita um convite meu... ele está sempre ocupado, doente, com coisas na cabeça mais importantes...
Realmente, não está disponível para mim.
Ele me procura de madrugada, por alguns segundos e se eu não atendo na mesma hora, a mensagem não existiu. E lá se vão dias e dias sem contato até a próxima madrugada de muita bebedeira e talvez alguma droga.
Ele me procura para falar de trabalho, se eu desvio para algo amoroso, ele corta na mesma hora: trabalho, saúde, família... tudo fica na frente.
Agora, limpou a casa, desinchou, está se cuidando... pode estar com alguém, alguém para quem precise se cuidar e ser melhor...
Não eu, não seria por/para mim... mostrando que qualquer apelo meu não tem importância: "e só a Hellen, de novo e de novo... Ela tá lá esperando, quando um buraco me engolir, chamo ela... ela pode servir ".
Bem, de serventia o amor tem nada... não tem presteza maior que a presença...
Se a minha presença não presta, não presto eu pra nada, para ele.
Não é que não queira transar, não quer nem me ver...
Como quem esquece um quadro depois que prende a parede e nunca mais se encanta com ele.
Então, devo ir em outra direção,  alguma que me reconheça não pela minha utilidade, mas pela minha existência. 
Hcqf 17 de julho 2025

Desvendar os ouvidos

Uma vez descobri que o Fracasso chega de mala vazia e parte com ela cheia, deixando a gente leve. Isso foi depois de vencer uma dor muito grande.

Agora vencida, lembrei de questionar a Vitória que chegou com uma enorme bagagem e partiu sem nada. Ficou tudo para trás. 

Então, descobri que é mais fácil esquecer o que se ganha, do que o perdido. 

Lembrei que ilusão e desilusão quer dizer a mesma coisa em momentos diferentes. Ilusão é quando ainda não passou, já a desilusão é quando nada restou. Então, desiludidos somos capazes de ver tudo que (h)ouve e desvendar o ouvido.

De tudo se recupera quase nada e ao final isso é o que permite leveza para chegar mais longe, sem tanto peso no coração. 

Hcqf 31 de julho de 2025


domingo, 27 de julho de 2025

Piegas

Ele usa o vocativo, "baby", para criar uma atmosfera falsa... 

Não me serve mais!

Como refrães piegas das bandas decadentes que escutei na esquina de um banheiro público na via arterial de uma pequena vila querendo ser uma grande cidade.

Hcqf 25 de julho de 2025

Her-story

Muitas vezes, isso porque é mais do que deveria, espero muito para me retirar/partir... Até talvez na realidade espere, mesmo, ser retirada e partida enceno uma vida.

Não "Impávida como Morramad Ali" - ocorre-me essa lembrança em canção - porém passiva, covarde e constrangida como uma personagem desnecessária, cuja função é confundir o interlocutor para que desfocado chegue ao clímax preparado para emoções intensas, um posicionamento acerca do horizonte e blá-blá-blá. Blasé, clichê e démodé - o mais perto da França que cheguei. 

Alguém substituível. Nem dispensável, nem central... Aleatória... como se o criador estivesse distraído o suficiente para deslizar fantasia e criatividade, irresponsavelmente, por alguns momentos da trama. Tal que distrai o leitor e desloca a atenção do que realmente importa: vivenciar.

Quer dizer, por algum tempo, na minha própria vida, desvio dos meus medos e de qualquer responsabilidade, para gastar vida com o que me engata e desgasta. Saio cansada dessa rota sem sentido e demoro algum tempo para saber onde estou, se na minha história ou em uma ilusão de alguém, já que nem os parâmetros, músicas,  livros, que adoto são meus.

Já chamei isso de paixão, declarei ser adepta desse vício em desgaste... mas alguns anos diante dos meus sonhos e confrontada pelos meus medos, achei que um recuo desse de vida já não me serviria.

Um sofrimento desmedido pelo quanto perco de energia vital nessas tramas sem futuro. 

Lembro de um caso ocorrido com um companheiro de travessia, na clínica: a paixão por uma protagonista que lhe custou o vilão dos seus sonhos.

Vou devagar mais um pouco... porque essa história é muito interessante...

Ele vinha de alguns papéis de mocinhos, galãs e por isso almejava conquistar um antagonista, que ele acreditava ser um grande desafio, visto sua experiência com "bons moços". Apaixonou-se pela heroína, que tinha um caso lascivo com o principal vilão. Estava ali sua fantasia materializada: tomar sua amada diante do público, tal como não fora possível na realidade.

É preciso esclarecer que eles tinham um relacionamento, porém sem consumação sexual. Existia toda uma atmosfera de pureza devotada àquela moça, que não condizia com a sua personagem na peça, mas que se cumpria em atos mesmo diante de beijos intensos e ativadores do sistema nervoso parasimpatico e límbico do rapaz.

No entanto, após alguns testes, o diretor designa que ele estava pronto para um desafio importante na dramaturgia: a comédia. Arte complexa, a caçula das filhas da poética, a qual também desponta na cultura clássica como um gênero grego sofisticadíssimo, sendo o fruto mais distante da sombra da árvore: se é difícil o limite entre o humor e a tragédia, é ainda mais difícil rimar diante das tristezas e perdas. Talvez seja o nascimento da prosa.

Cego para a oportunidade que se colou a sua frente, aparece em cena a imaturidade daquele ator infante. Na realidade estava na companhia algo em torno de dois anos, talvez incompletos, e o responsável pelo grupo havia criado o ambiente perfeito para avaliar seus ganhos profissionais até ali. Vendo-o apaixonado, talvez quisesse ver até onde ele conseguiria separar a atuação da vida real, pois quase sempre desenvolvia um romance com suas colegas de elenco.

Deu-se a tão temida reprovação: ele aceitou muito contrariado o papel cômico e uma caracterização indispensável de mudar sua aparência pintando o cabelo. Nada deu certo, naquele semestre o rapaz saiu de outros trabalhos que vinha fazendo desde que entrou no grupo, mas por convicção de que precisava repensar sua vida (no teatro), pelo que achava ser uma escolha equivocada do diretor em colocá-lo no papel errado.

Com tudo, na vida pessoal, o relacionamento com a protagonista já vinha dando sinais de desgaste: encontros curtos, muito mais ao acaso, além de muitas negativas da moça.

Tomado muito mais pelo entorno, do que pelas demandas de sua vida e exigências de trabalho, o ator encena desmotivado e desacredita de seu talento. Perde outras oportunidades de testar sua competência e prefere tirar férias, o que já não fazia desde a entrada na companhia. Nesse momento também abre mão da análise, por quase 8 meses.

O Deus do Teatro não poupa seus filhos, tal como seu pai não o fez. Todavia, um teste não desqualifica para a vida, apesar de reprovar para uma determinada posição. O que pode ter as mais variadas consequências - desde onde não se deve estar, ou de onde partir, até para onde ir...

Viver não é atuar, vamos para a vida com todos os nossos sentimentos, mas em meio a um cenário fantasístico precisamos desenvolver mecanismos de proteção, armas e estratégias para confrontar medos e até paixões diante de obstáculos que nos impomos para não nos responsabilizamos pelo que desejamos.

Nosso protagonista, assim que pôde, imediatamente retirou a tinta do cabelo, refez um semblante mais sensato e voltou das férias ao consultório meses depois do retorno das aulas na companhia de teatro. Desta vez não trouxe nenhuma nova empreitada cênica, apenas suas questões antigas com as quais nos defrontamos algumas vezes.

E é isso que quis encenar... tenho alguns pontos deixados de lado ao longo dessa temporada de vítima desse grande vilão. E até questões bem antigas se reafirmando após esse período longo de deslocamento e fixação de energia vital em uma pedra do caminho. 

É bem isso, passei anestesiada a maior parte de um objetivo que nem me atrevi sonhar... agora dentro de um sonho, preciso acordar para sentir algo do que fiz para conquistá-lo e ainda preciso fortalecer para construí-lo.

Velhos questionamentos, os mesmos conflitos sobre merecimento, autoestima, inveja... alguns personagens repetidos... a rivalidade feminina... e o desamparo que me castrou pequenina, mas não amputou meu órgão de sonhar: a mente. Tenho muito trabalho, mas preciso de um guia para não perder de vista a minha forma de avistar: amo escrever.

Hcqf 27 de julho 2025 - as férias acabaram.

domingo, 20 de julho de 2025

Each other

 Eu nunca te olhei com cobiça...  E na verdade nunca (nem) vi algo de que verdadeiramente pudesse me acrescentar... Sempre foi com generosidade, vontade de ver crescer...

Muito se perdeu, e foi cedo que percebi a sua altivez diminuir... sua altura é de cumprimento, falta alguma coisa, um "delicado essencial" talvez... algo de se cumprir um desejo de ser... você fica na metade do caminho...

Não consigo explicar.

Tão educado, tão sábio, tão intenso e com pouco... nada.

A educação é de "malandro de bar", de quem tenta dar pequenos golpes em garçons, que é banido de bares sem pagar a conta...

A sabedoria se esvai... suspende o raciocínio e aposta na mentira... decepciona até por não conseguir firmar essa tentativa... é pego e desmorona...

A intensidade parece pó ao vento... de repente uma carreira longa, em pouco tempo uma penumbra no ar... e logo mais, nada.

A etiqueta de um pobre bêbado, a astúcia de um charlatão incompetente e o fulgor de um homem cansado... ao contrário de tudo que mostra, mas faz-se em atos.

Um episódio ridículo entre três jovens demonstra. A mais independente - após fuga do cativeiro de mais de 10 anos - humilha sua recente conquista profissional: "ele contou vantagem, saiu pedindo e não queria pagar a pizza".

Você diz que já esperava que eu me sabotasse na vida pessoal, ao dizer que o último lance demonstrava falta de postura profissional. E não reparo que a ofensa é maior do que percebo: você realmente demonstra que não me admira no que se refere a como me cuido, me protejo, escolho meus desafios... E se vale disso para me manter cativa.

A postura infantil com coisa de trabalho é bem mais ridícula de explicar que a tal da sabotagem na vida amorosa (que com você nunca existiu): como uma saída pós-festa às 1h tem a ver com trabalho?

Se você costuma ter reuniões de trabalho após beber e com garotas que você tem relações furtivas depois do horário comercial... realmente existe um problema quanto a postura profissional, mas não da minha parte.

São tantas camadas de erros, mas um ainda precisa ser esmiuçado, pois é o motivo de todo o deslocamento até chegar nele: o fracasso sexual.

Você achou que estava conquistando uma nova  parceira sexual, quando na verdade a moça confrontou sua mesquinharia financeira, deixou à mostra sua renda ainda insuficiente para seus luxos, desqualificou o produto que tentou vender para ela, ganhou uma humilhação da pessoa com quem queria se satisfazer.

Nessa noite, com certeza, você não iria conseguir ter uma performance sexual eficiente, quanto mais intensa... rsrs 

Sua educação alemã não fez qualquer diferença diante de uma comanda de pizza média diante de uma mulher independente financeiramente... 

Nesse momento recordo seu canto, a plenos pulmões, para impressionar a moça com seu inglês, seu estilo musical e sua banda de rock... E tudo desmoronando por você não ter se colocado à disposição para pagar a conta.

Agora entendo o seu gosto para mulheres, sua ex também desaprovaria a insinuação para ela pagar a comida e você a bebida. Pode até ter acontecido, vezes suficientes para ela terminar. De alguma forma entendi tudo: eu já sabia que não te exigia nada e ainda entendi que a questão é financeira, realmente. 

Você diz que é um potencial de ser, você tá falando de dinheiro. Que vai se concentrar para ter, mas vai perder tudo em prazeres vis. Ela percebeu isso, eu não me importava, porque tentaria não te ver chegar aí - na futilidade dos vícios ou na ambição desmedida, qualquer uma, ou ambas.

No entanto, isso implica tanta coisa que talvez você não devesse mesmo abrir mão: como sua máscara de sedutor barato que não faz jus a magnitude de seu apetite sexual; ou deixar de querer ser influente para com humildade chegar talvez um dia a ser uma referência; ou ainda ter coragem de ter pouco, parecer com isso que você é, para pisar no chão e impulsionar voo. Coisas que nem importam tanto no mundo capitalista, para o qual você está (des)preparado e eu não tenho munição.

É triste ver um potencial perdido, contudo não ver potencial em alguém é ainda pior. E é isso o que enxergamos quando estamos perto um do outro.

Hcqf 21 de julho de 2025

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crônica cotidiana nada convencional

Em meio a rotina e suas trivialidades, o ônibus passando diante de um estabelecimento para fins recreativos sexuais, trouxe uma reflexão despretensiosa, porém curiosa: por que voltar ao mesmo lugar?

Bem, isso aconteceu, porque na saída do motel tinha uma inscrição luminosa - qualidade não avistada naquela hora da tarde com o sol à pino em Belém do Pará - que dizia: Voltem sempre.

A obviedade da indicação trouxe, primeiramente, risos e algumas memórias furtivas. No entanto, o letreiro mostrava algo da ordem do mais que esperado, isto é, do almejado intensamente após uma estadia em um quarto daqueles, na grande maioria das vezes. 

Posto que, para estar em um encontro sexual - casual ou não, a qualquer hora do dia - é necessário antes ter planejado parte das tarefas e economias, além de algum impedimento moral a fim de que a ética da satisfação se estabeleça - entre outros critérios, especialmente, o consentimento - com o vigor das demandas em jogo.

Bem, assim sendo, querer retornar para aqueles momentos acompanha a rotina ainda por alguns dias/meses após o acontecido. E é de um mérito muito restrito conquistar certa frequência em futilidades tão gostosas como relações íntimas em um espaço especificamente arquitetado para esse fim.

Logo, "voltar sempre", não se faz mais apenas presencialmente, mas em devaneios dioturnos e muitas vezes inconclusivos, permitindo que a lasciva vontade se reinscreva em fantasias dias e mais dias à fio...

Tamanha obviedade e coerência na chamada, tomou minha tarde de risos e reflexões divertidas ao alcance de algumas lembranças não tão recentes quanto se gostaria.

E eu, que nunca fui àquele lugar, tomei para mim aquela convocação de "volte sempre" a buscar prazer na/pela vida.

Hcqf 17 de julho de 2025

En-canto de liberdade

Ele me vê feliz e precisa mostrar que não foi embora de vez...

Como quem esquece um quadro depois que prende na parede e nunca mais se encanta com ele. Um dia encontra debaixo de muita poeira uma tal paisagem esquecida... E nada faz sentido a não ser limpá-la e devolver a outro cômodo da casa, para mais alguns anos sendo visitada pelo vento e os fantasmas.

Espreita meu sorriso, alguma mudança estética, meus objetivos e qualquer coisa que me mantenha sufocada, sem respirar, sem viver... 

Como poderia a louça fugir da pia?
Que absurdo um animal doméstico ir além das fronteiras do pátio...
Ah, as flores... as flores não caminham, suas raízes prendem-nas ao cantinho mais bonito do jardim até a última pétala.

E está nas suas profundezas a resposta: nem louça, nem quadro; nem cachorro ou gato; nem vaso, ou tampa de nenhuma panela... Penas... de voar, escrever, acarinhar a tez que serena diante de alguma delicadeza. Como sentir o pouso de uma borboleta, ou observar o voo de um beija-flor enquanto mata sua sede sem prejudicar a flor.

Como é delicado fugir de uma gaiola... O pássaro olha ao redor, belisca alguma semente para ajudar na viagem... Espera qualquer distração dos olhos que o vigiam vidrados em suas cores e sussurros... E é preciso renunciar a vaidade de seduzir e abrir mão de migalhas de atenção, para em fim descobrir que pode criar algo mais bonito que um canto dolorido e uma beleza ferida.

Descobre o voo e deseja nunca mais estar preso em um coração vaidoso.
Livre se encanta com o mundo pela primeira vez.
 HCQF 17 de julho de 2025 

terça-feira, 15 de julho de 2025

Conversa sem destino

Diz a solidão:

- Vamos?

A saudade responde:

- Você não tem quem levar? E eu, será que tenho porque ir?

- Esse momento é nosso.

- Não, ele é sobre Você.

- Você está resistindo...

- Bravamente, espero. 

- Dê-nos uma chance...

- Mais uma? Quantas mais serão ainda necessárias?

- Todas que tiver para mim...

- Tantas e tantas que já se gastaram em finais lamentáveis. Por que de novo? Por que comigo?

- Você não quer?

- Você não quer.

Hcqf 14 de julho de 2025

domingo, 13 de julho de 2025

 Eu não quero que ele fale comigo

Desejo saber como ele está

Não quero vê-lo

Desejo escutar que quer me ver

Não quero transar com ele

Desejo acessar sua intimidade

Não quero tê-lo

Desejo que me queira também

Apesar dos desencontros

HCQF 13 de julho de 2025

The cure without dreams of heaven

Desde a sexta uma espera se constrói nas minhas noites
Aos sábados, ela se fortalece e comunica minhas ausências remotas
Tempos sombrios da minha biografia
Ventos frios de uma carência primitiva

Nos domingos em que não se cumpre a expectativa infantil
Dormem comigo angústias e ilusões
Acordando a segunda alarmada
Pronta para um batente pesado
Abandonada pela esperança frustrada

Na terça começa a semana
A rotina entorna as preocupações 
À mesa está quem não desampara
E às quartas revejo promessas de fim de mês

Chega na quinta um incômodo familiar
Nada tão simples de reconhecer
Algum esquecimento protege as demandas
E pode ser que seja só uma sexta qualquer
Contrariando as duras expectativas 
A inaugurar madrugadas reais

HCQF 13 de julho de 2025 - dia do rock 

terça-feira, 8 de julho de 2025

Achismos

Acho que alguém muito elogiado sente falta de sinceridade...

E, talvez, a pessoa quando muito criticada se sinta hipervigiada, ou pelo contrário, até admirada.

Quem é muito generoso precisa conviver com pessoas independentes.

E quem é muito acolhedor, talvez necessite de colo.

Tal como ser amado supõe sossego, mas exige mais cuidado com o outro, 

Da mesma forma que amar requer autoproteção. 

A paixão esquenta uma vida fria e a amizade os corações partidos.

Tal que amor é coisa de gente com tempo para futilidades e que dão muito valor ao repouso, descanso... 

O amar exige certa experiência com inutilidades, brincadeiras, gosto por perda de tempo...

Daí uma grande crueldade capitalista: não permitir pausa, sono, descanso, brincadeiras bobas, preguiça e tudo que entrecorta as carícias depois de um dia cheio e os problemas da vida adulta. 

Assim como o que é aponta para o que não está, e o que falta deixa evidências do que esteve, ainda que em promessa, ou sonho, ou expectativa.

Hcqf 9 julho de 2025

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Clarice Lispector conta, entre outras "Descobertas do mundo", que "Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil".

E lança ainda mais perguntas aos amantes das suas reflexões... posto que desvela o incômodo desencontro de sentidos sustentados pelos amantes.

Tal que certos de serem amados, aqueles agraciados com tamanha certeza, tenham uma dimensão restrita do que em verdade é ilimitado. 

Enquanto a quem é dada a desgraça de conviver com dúvidas, também se realiza a graça de sentir, que seja, um traço do infinito disso que amplia fronteiras entre o Eu e o outro.

Inconsolavelmente, como é próprio da poesia, confundem-se areia e (a)mar nas margens estragadas/espraiadas dos confins entre o oceano e o continente.

E eu, que já amei até enfim me saber amada, de novo perdida de amor, como se fosse a primeira vez, nada sei... e navego suas incertezas nas margens da escrita, porque reencontrei quem me provoca as perguntas sem esperança de respondê-las.

Hcqf 7 de julho de 2025

quinta-feira, 3 de julho de 2025

(Te)screver

Hoje cedo comecei um poema, mas não o conclui... como encerrar uma conversa com quem não está mais?

Agora, tão tarde, já quase não lembro o que disse... mas sei que tentei representar a tua ausência em mim... talvez por isso faça sentido não conseguir.

Dizer para quem não pode ouvir... Escrever sem poder remeter... 

Queria... diria... faria... parece que a saudade criou o futuro do pretérito, isto é, isso que confunde a lógica ligando dois tempos inexistentes: o passado e o amanhã...

Nem aqui, nem agora, os advérbios também referem ao que não aconteceu, já que se vier ainda virá, mas só depois... 

E só se vier, isto é, talvez... modo e condicionalidade organizam um muro a ser transposto, ou não acontecerá...

Diante da perspectiva do improvável... em língua brasileira... correspondo ao dialeto anglofônico que cercava nossos encontros... marcando nossa "broken communication".

Enquanto escrevo, fugindo das palavras da manhã, sentindo remorsos no centro do corpo, faço uso de palavras sem sentido, para sentir...

E também não consigo terminar o que tentei (te)screver...

Hcqf 4 de julho de 2025


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ghosting

Tem um silêncio morando em mim... Talvez na minha boca, mas ele é grande, então sinto-o em todo meu corpo e na minha alma...
Vim confrontá-lo para além das pausas e reticências... 
Talvez queira até despertá-lo de uma vez... ainda não sei...
Tenho o chamado de silêncio, mas poderia chamá-lo escuro... ou sereno...
Serenou as coisas... ficando devagar... espaçado... 
Afastou-se de mim sem me tocar, sem me chamar, mesmo em cada convite e reencontro...
Deixei de senti-lo e isso me tomou com muita força de uma intensa "violence".
Rasgamo-nos para fugirmos de nós: eu, o silêncio e a saudade.
Sigo acompanhada dos seus pensamentos musicais, lamentos...
E o nada que agora me atinge na sua forma mais evidente,
Silencia as mentiras que me contei, para não ver o que ele me mostrava;
Cala as promessas e planos que nunca escutei dele, mas criei nos meus devaneios;
Escurece as lembranças lindas que não tivemos, especialmente, nos últimos dias...
A própria pessoa suprimida antes do verbo em conjugação nunca existiu no presente...
Fomos cada um por si.
E agora é o fim que inaugura o significado de nós com o único sentido avistado: não existir.

OBS: Last goodbye - Jeff Buckley

H.C.Q.F. 25 de junho de 2025

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Pra quando ele se foi...

s.i.l.ê.n.c.i.o

18/06/25

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Advertência para um coração rejeitado

Quando alguém diz não para uma entrega sincera
Existe o fracasso de não ter sido acolhido 
E a derrota de não ter segurado 

Quando alguém diz que não consegue sentir na mesma intensidade 
A frequência não é a mesma também das necessidades 
Alguém está farto
E alguém ficou de fora 

Quando de um lado tem afastamento 
Do outro lado a distância apavora
E se a aproximação é adiada 
Qualquer oportunidade é de ir embora 

Sair de um ciclo sem colo
Deixa uma desesperança 
Mas também liberta 
De uma espera desnecessária 

Hcqf 29 de maio de 2025

terça-feira, 27 de maio de 2025

Dois jovens distraindo a chuva

 Um casal de homens se beijando em uma estação de ônibus trouxe a lembrança do que não tenho.

Eles se tocavam com suave intimidade até que veio uma cortina, bem forte, trazendo vento frio e água gelada, empurrando os dois amantes para longe dos olhos preconceituosos e/ou saudosos da gente que se escondia da chuva e, de alguma forma, da solidão de não ser aquelas duas almas.

Eram jovens e despretensiosos como suas caricias... não se sabe do quanto puderam ser mais íntimos ou tolos não estando mais vigiados pelos olhos famintos.

Um enlace pela nuca e um beijinho bem rápido abriu um espaço entre aquele pequeno mundo de dois e todos que os invejávamos. 

Fomos levados, devagarinho, à nudez daquele momento. Cada um, sozinho mesmo, estava com calor por estarmos vestidos. Queimamos no inferno dos segundos de solidão, enquanto dois anjos desnudos sentiam o doce vento do paraíso. Paradoxalmente, lembrei de Amy Winehouse em "Tears dry on way own" em que canta: "o céu é uma chama que só os amantes podem ver".

Estive a admirá-los, ainda que não pudesse defender a dignidade do seu encontro. Não queria que nada atrapalhasse, mesmo sabendo que talvez Barulho, Vento e Chuva fossem seus coadjuvantes naquela noite.

E eu, uma simples escritora, tímida diante de uma cena amorosa cotidiana como há muito não experimento... eu procurei na memória alguma última lembrança de um toque assim tão profundo... por não encontrar gastei a pena solitária e distraída a contar o que em fantasia foi sentido.

Hcqf 27 de maio de 2025 - dia de Roberto


sábado, 24 de maio de 2025

O amor exige amar
Não existe sem continuidade
Fica vazio sem histórias criadas na ausência do amado

Recobre a saudade
Sentida desde cedo ao acordar
Até bem tarde
Bem depois de dormir
Durante os sonhos 
E depois

Depois de tudo
O amar é o que acontece pela ação 
São as falas para completar o sentido
As atitudes de amantes
Os olhares no encontro silencioso
Adivinhando 
a hora, a partilha, a partida

Amor existe
Se resistir um afeto na boca 
Quando o beijo acaba
E o cheiro continua 
Algumas horas ainda

Não é apenas sobre sempre
Mas não aconteceu
Se o que persiste é a pausa 
Na tolice de se imaginar acompanhados
Ainda que ausentes

Hcqf 24 de maio de 2025



sexta-feira, 16 de maio de 2025

 Dói tudo

A minha vida inteira 

Pedaços da minha infância 

Da minha história 

Do meu corpo

Minha memória 


Estou pequena e indefesa 

No cantinho da minha vida

Esperando um abraço 

Do Amor que não tenho


Hcqf 15 de maio de 2025

Para o Amor que se foi

 Eu queria abraçar o Amor

E faltar braço para fechar o laço


Queria destruir a distância 

Entre as cidades 

E dormir todo dia no seu colo


Adoro o cheiro da barba 

A cama que dorme

A estante de livros

A montanha de CDs

As blusas quadriculadas

E as camisas de bandas desconhecidas


Mas o Amor não tem um poema sobre mim

E eu tive que destrancar o cadeado 

Na ponte que fantasiei visitar com ele


Fomos embora de madrugada

Ele e um bocado de mim

Vou me procurar pela vida à fora

Ainda que espere encontrá-lo

Hcqf 15 de maio de 2025

domingo, 4 de maio de 2025

Ele se foi

 Por que dói quando alguém que não nos ama vai embora?

Tem a resposta pronta de que é o sentimento em nós que demanda e angustia...

Mas pensei se não há algo sobre nutrir fracassos afetivos, como amor por cadáveres, hipóteses... e tudo o mais que justifica nosso medo de conquistar relações reais, alimentar reciprocidade...

E na vida real o vilão sempre se dá bem: recomeça, cresce na vida... Mas quem realmente sofre as consequências dos dias sofridos: sobe devagar a escada e aprende a nutrir solidão, autores complexos e amizades verdadeiras. 

Estou no lado B do disco: sem grandes expectativas, guardando algum tesouro para ouvidos muito gentis e cuidadosos...

Não quero mais madrugadas sombrias e amizades com garçons, donos de bares e histórias muito desencantadas sobre a vida...

Até que enfim ele se foi, de novo, mas talvez pela primeira vez.

Hcqf 04 de maio de 2025

Desconectados

Sinto/sei que a ligação era só um teste para saber sobre algum impedimento.. não uma tentativa de comunicação...


Qualquer tentativa de conversar seria mantida sem desconfiança, se já estivesse habitualmente programado.

O bloqueio pontual foi para não continuar a masturbação auditiva das madrugadas... São desgastantes.

Não vai continuar esse impedimento, acho que você tem deixado claro o meu lugar na sua lista de amigos de trabalho, nesse espaço fico mais à vontade e segura, como até você sabe.

Óbvio que um homem se sentindo rejeitado não insistiria no dia seguinte por algo que ele não acredita. 
Mas sei que pode me procurar de madrugada no automático... 

Obviamente, se ainda não encontrou, ou marcou de encontrar um corpo para depositar a fantasia com a aluna, "caladinha", ou a amiga, "ruivinha". Papéis, nos quais não me encaixo fisicamente, nem subjetivamente.  

Vá em frente, afaste-se como sempre, dê-nos o status que sempre tivemos: soltos. Tal que lembro bem do dia que me disse: "eu quero você livre, viva...". Imediamente escutei que você sabe o quanto sua presença/ausente me condena a uma prisão mortífera.  Entretanto, ainda tem a obviedade de que você não quer uma ligação/relação, de fato, comigo. 

Nunca quis, não iria mudar agora... nunca foi sobre me ver, realmente, ser livre e viver do meu jeito...  já que essa "permissividade"/"promiscuidade" não te agrada em mulher alguma.

Sou a "libertina" que alimenta sua posição sádica, proibida socialmente, por desnivelar as relações entre pares diferentes. 

E durante muito tempo estar nesta zona escondida/escura, onde você beija uma sombra e não uma pessoa, foi entendido como ser um tesouro e não um segredo horrível.

Pena que ainda resta um pouco disso, especialmente, do costume com a baixa luminosidade, as madrugadas e a rotina noturna e secreta de um homem com suas fantasias sujas.

Mesmo sendo também sobre pureza muito do que você me devota, como defeito: uma ingenuidade dócil, um jeito maleável de boneca, mesmo a pouca idade das figuras com as quais transa quando na cama com a minha sombra.

Não me sinto suja, por sentir na minha sensualidade uma parte do que me lava da poeira das ofensas contra meu sexo, minhas conquistas, etc.

Mas ser pura, como realmente você tem tentado me convencer a me tornar, isso não vai acontecer, depois de todas as lutas que venci para não responder a esta camisa-de-força que impõem às mulheres.

De alguém que ainda precisa de correspondência mesmo sem esperança de haver.

Hcqf 03 de maio de 2025




sábado, 3 de maio de 2025

Permissiva

Uma mulher permissiva... isso não deve existir... 
Como viver assim permitindo o mundo ter contato com você, se esse mundo é hostil com as mulheres?
Prova cabal da pura falta de inteligência feminina, isso de achar que se abrir permitirá se conectar com as coisas que não querem se conectar.

Oh, sim! Sim! Sim!

Esse é o próprio mecanismo mais dispensado para oprimir as mulheres: reprimir sua liberdade de viver, se expressar, sentir...

Quer dizer... o mundo precisa ser violento para impedir a livre circulação de ideias, costumes... senão,  como se disseminaria uma superioridade que não existe?

Circulando livremente, a diversidade inviabilizaria a padronização e assim o controle...

Então,  como ainda se alimentam as insurgências nas pessoas?
Porque elas nascem - de mulheres. 
São criadas - por mulheres.
São amadas - por mulheres. 
Desarmadas - pelo amor de mulheres.

E assim, desde a Grécia antiga, que o ser que gira a roda do destino são as deusas...
Mesmo que os deuses estejam protegidos da tesoura que corta o fio da vida, não estão plenamente imunes ao cruzar das linhas tecidos por essas mãos e animas femininas.

Mas não é só o amor, ou a compaixão de uma mulher que marca a vida humana... também estão todos e todas expostos/as ao seu temperamento e seus desgostos...
Desamado por uma alma feminina, um ser perde boa parte do brio em vida.

Como não tentar conter tamanho poder de vida e morte?
Como conseguir controlar?
Por isso diversidade, criatividade e poesia são irremediáveis à alma. 
Implacável como se tornar mulher e ser seduzida pela flâmula da vida.

Hcqf 03 de maio de 2025



03 de maio

 Ele que me ligou...

Inclusive pela segunda/terceira vez de noite

Mas ele quem desliga

Como sempre.


Não há o que esconder

Ele diz o que veio fazer

E deixa o rastro do que roubou

Novamente.


Sempre perco pedaços 

Não sou boa o suficiente 

Tenho milhares de defeitos

Me falta tato, me falta jeito

Sou um monte de escombros

Ainda não estou acabada

Ou ainda não fui finalizada...


Parece que é isso:

Minha consciência à espera de um nocaute

Falta muito para estar totalmente pronta

Para ele

Para a sua vida

À convivência com a sua família.


Sou ingênua demais pra saber tratar um monstro como ele precisa

Doce demais para agradar um paladar sofisticado

Muito pequena para estar do lado de um grande homem e seus privilégios 

Mesmo que eu esteja envolvida, ainda que não devotada, à educação de um menino

Que eu desejo superior aos meus diplomas de faculdade


Ele disse: "todo mundo se aproxima por algum interesse..." e  repete: " todo, todo, todo mundo..."

E eu escuto: "você também tem um interesse em relação à mim..."

E embora a minha cognição prejudicada, consigo alcançá-lo mais à frente: "a cada dia perco mais o interesse em você." 

Está se construindo a porta da partida

Quando diz o que (não) sente

Hcqf 03 de maio (uma rua depois da sua casa e onde a minha família se abrigou vindo do interior) de 2025

domingo, 27 de abril de 2025

A-voz favorita

É só o conteúdo que fala de amor, quando o continente não esta tomado.

E depois desses dias... ainda em guerra com meu temperamento, preciso ver teu nome no alto da página, enquanto endereço afetos da veia em escrita....

Desculpa, desculpa e desculpa se eu transbordar é a mais indolente saudade.

Preciso confessar: odeio quando tratamos de veleidades externas - política, cultura geral, epistemologia, ou mesmo os clássicos da filosofia, os cânones da literatura, as obras-primas da música... Dentre essas maiores riquezas do mundo, o que mais desejo é fazer parte da trivialidade como quando falta água, você perde a carona de volta para casa e eu durmo com muita saudade - como se fossemos dividir o mesmo lençol na madrugada.

Diz a música clichê da minha adolescência: "eu tenho inveja do vento que te toca...". Eu morro de inveja todo exato momento que descubro que qualquer pessoa têm de ti o que não seja brilhante e admirável... pois é isso que encontro nas noites insones que dividimos, porque qualquer um se apaixona por uma estátua ou uma imagem retocada, mas apenas o amor é capaz de sorrir de manhã com fome, antes de um banho, ou um copo d'água... eu fui e sou!

Me perdoa o português, "mal dito", e a confissão, mas os meus maiores tesouros que queria guardar, e mesmo agora, escorrem pela memória à fora (se foram), mas estão num ralho de pai no quarto azul-esverdeado - que me atingiu uma mecha de cabelo; o dia que limpei da sua barba o catchup, enquanto você me dobrou pela primeira de muitas vezes; no mesmo dia que me apresentou sua mãe sem nunca conhecer sua família - tinha uma casa com a vista dos sonhos na varanda, que me levou à praia no meio da urbanidade, me lembrou água mesmo no concreto e eu tirei folga tendo uma reunião de trabalho... Noutro dia depois de algumas dessas lembranças, no segundo bar na mesma noite, um sumiço no banheiro, uma carona desastrada num carro de aplicativo, tudo isso fez parecer que se escreve os destinos a lápis e algumas vezes a ponta quebra e continua com o dedo a brincar com os personagens - naquele dia fomos um filme do Adam Sandler (desculpa o repertório cinematográfico de repetente).

Tem uma lembrança que eu acho engraçada, mas também é triste: você chora como se estivesse gripado, limpa a lágrima muito rápido e esfrega o nariz cortando o choro e ficando vermelho. Toda vez nessa hora eu tenho vontade de te beijar e ficar beijando para você não conseguir impedir as lágrimas de caírem - esse é o destino de ser delas, atravessar dos olhos até molhar o peito e voltar ao útero...

As tantas mulheres, nenhuma me incomoda mais do que as amigas, porque elas são testemunhas de quem é o Bruce, elas são o Alfred: elas te encontram a luz do dia, curam as feridas, eu só vejo as cicatrizes; elas sabem que você sangra, que não é sobrenatural, que não tem um superpoder (além da inteligência e perspicácia), que o dinheiro é a matéria-prima da capa e os acessórios que você USA, mas se pudesse trocaria uma casa enorme em um condomínio no bairro nobre, qualquer herança do sobrenome paterno, por um tempo olhando os olhos, admirando as mãos que te acalantaram e escreveram um livro ao longo dos dias nos quais esteve contigo, para assim ver de perto a boca e escutar cada palavra na voz inesquecível que seu ouvido absoluto busca nas melhores músicas do mundo. Ver o corpo da sua mãe pela última vez.

Escrever, ler, escutar música tudo isso é sobre colo, mas sem Ela é sobre Você... eu sei que trocaria de sobrenome e até o primeiro nome, ou de endereço, caso fosse para reencontrar a mulher que mais te amou antes e depois da vida e vai dar nome a sua futura cantora favorita.

Tem outras histórias engraçadas e constrangedoras, que são as que eu mais gosto, pois foram os dias que me senti menos por fora, mais amiga, mais íntima que quando a gente namora na cama.

Uma única vez, para sempre, encontrei nos versos de Antonio Cicero um poema não sobre GUARDAR, mas sobre medo de ESQUECER e na mesma hora escuto o sentido de PERDER... e só então chego ao trecho sobre publicar... E assim me tomou esse sentido...

 Quer dizer: nós vamos perder as cosias mesmo depois de olhá-las, fitá-las, iluminá-las e sermos iluminados por elas... é a presteza do sonho dar sentido ao escuro, sonhar com o que ficou guardado do amor e acordar para amar um reencontro em cada pequeno pedaço que restou. É o que chamamos de memória: os restos mortais de quem ainda vive pensamento à fora.

 Dá pra entender tamanha dor, não é? Como conseguir estar acordado sem esses guardados para existir com amor?

Não posso mensurar o que sente um poeta, sou feita de carne e memória dolorida, fiz disso meu ninho despedaçado, que costurei/teci/narrei pedaço-a-pedaço com a linha(gem) da minha avó(z) materna (de mãe e de pai) e literatura. 

De uma sempre saudade de alguém,

Hcqf 29 de abril de 2025


sábado, 26 de abril de 2025

Perdi a fome...

 Perdi minha fome, novamente.

Procuro por ela entre o dia e as tardes, entre textos e poemas feridos de morte, desidratados e famintos de amor, enquanto sofro desenganada por um vampiro que não me mata, para consumir das minhas veias o doce vinho regado a cuidado, amizades muito fortes e amores bonitos.

Busco por ela escrevendo as linhas mais tristes que sooam de mim... uma música de versos impuros, mal-cheirosos, como o vômito de um homem gordo a beber por horas, sem se alimentar diante de um dono falido num bar sem futuro, a quem ele roga amizade e prestígio. 

Minha fome tão negligenciada parece que se escondeu atrás de tanta mentira, tanta falta de cuidado, tanto desperdício de tempo...

Depois de uma crise de choro enorme, de vomitar derrotas na lixeira humana mais sórdida que já encontrei pelas ruas sujas da cidade nova...

A fome não foi embora, eu a perdi, está escondida nos escombros dessa conversa sem fio, um paradiálogo desprezível que me atormenta os compromissos,  os sonhos, a playlist, a família...

Sei que é o sinal para correr sem olhar para trás... desviar o olhar, não olhar para baixo, firmar os passos e temendo cair, depois de ter arrebentado o joelho, não parar até encontrar alguém com alma.

Vago em pensamentos que me torturam com um ciúme sem sentido de alguém desaparecido há anos da minha vida...

Ele já me disse que me suga, já me puxou com força, já me segurou dentro de um carro com as pernas para fora, já jogou fora tudo que deixei com ele...

Quero perdê-lo de uma vez.

Es o nosso último encontro... ele fala de filho e fantasias incestuosas, fala de sexo e nunca de amor... Ele me reencontrou no topo e me puxou, com toda a força para baixo.

Já fui de madrugada pagar cerveja, que ele não tomou, num bar frequentado por putas e traficantes - porque ele não se importa por obde vago, se me arrisco...

Fui a uma festa dos seus amigos para pagar a conta do próximo bar e só sai depois de sermos expulsos, para a casa desarrumada e suja depois de pagar a conta, novamente, por nosso deslocamento. 

Ele conta que tinha marcado com mais de uma mulher,  porque eu desmarquei; mas desmarca comigo sem me avisar para ver a amiga amada de anos de cumplicidade, com quem tem planos de fazer academia, um hotel para receber estrangeiros, uma vida com dinheiro - uma mulher linda que gosta do seu estilo alto e rockeiro.

Sabe, preciso ir... 

Aqui experimento o inferno na vida-morte...

Durmo e acordo preocupada com o dia que ele não vai mais me arrastar a peso de mentiras para sua companhia - sem banho, sem dinheiro, sem sonhos, sem noites bem dormidas.

Eu desejo sair daqui... 

Tenho coisas importantes para fazer e estou amarrada pelo pescoço, preste a pular no meio dessa casa sombria, cheia de discos,  livros e mentiras.

Hoje eu quero morrer por conta desse breu horrendo que me afoga no seu corpo, mole, inodoro, corrupto, sem perfume e sem poesia.

Isso porque perdi a esperança de encontrar o amor, depois de tantas noites sentindo gosto de cerveja barata, xixi e suor... buscando um olhar num rosto sem olhos e procurando um toque de lábios numa boca desgostosa.

E isso está acontecendo há dois anos e meio, initerruptamente.

Hcqf 26 de abril de 2025

quinta-feira, 24 de abril de 2025

 A escrita me acolheu, diante do indispensável... talvez hoje seja o dia, que ele irá recebe-lá onde mora.

Mesmo sabendo que ele quer de si o melhor para ela, por isso o futuro... sinto/sei que pode acontecer dela aceita-lo do seu jeito... foi o que eu fiz e não fui a única, nunca seria.

Ela alva como suas musas, magra como suas fantasias, madura como nos seus sonhos, ruiva como as cantoras que admira.

Mais uma outra mulher...

A questão em mim é que a repetição sou eu, o excesso sou eu, o que precisa ser escondido, retirado,  desfeito está em mim...

Preciso escapar dessa falta comigo... dessa luta por nada...

Faz tempo que não somos mais o que já fomos... seria bom se não fosse outro fim...

A voz serena, o pouco álcool, a risada sem graça e eu sei, a figurinha jamais seria compartilhada se eu não estivesse ali, implorando a presença dele.

Deixa ir...

Hcqf 24 de abril de 2025

 Eu sou menos complexa que a histeria freudiana...

Não dá para conversar diante de uma pilha de livros...

Não sei o que fiz, enquanto estava na sua cama... 

Com certeza estava sozinha, como quando  sentada em uma biblioteca com o livro aberto escuto o fantasma e vislumbro a morte do autor.

Hcqf 24 de abril de 2025

Um sonho de porta aberta

 Sempre pensei que um dia a corda ia arrebentar... 

Ia ser da parte dele, só poderia... 

Ia chover como "nos campos de Cachoeira" em Belém ou Ananindeuano Pará... 

Ia doer muito, muito e demais...

Nunca imaginei que eu estaria lúcida no dia... Algum tanto de álcool existiria para ser totalmente coerente,  sabe?

Não pensei que o céu estaria limpo e fosse quase festejo junino... quase tempo de quadrilha... quase o famoso dia do balão de coração vermelho ("dos seus olhos... ", diz a canção).

Não, não mesmo, que eu me retiraria sem pretensão... alguma tácita pergunta, costumeiramente, mal respondida... 

Ele, alguém,  ninguém e minhas inquietações... todo mundo lá... menos a esperança,  morta, pela última/única vez...

Por mais que minha previsão se perca... que ele não tenha mais esse outro alguém,  não quero mais esse trisal - ele, a madrugada e eu.

Ele sempre beijando a minha sombra, quando na realidade, eu sou a própria sobra que ele esconde no escuro pela madrugada,  nas ruas que ele sabe que não deve frequentar...

Lugares escuros pelos quais vago, correndo perigo, para ser escondida atrás de outra mulher...

Mulheres mais elegantes, mais sérias... com quem ele troca confidencias e assuntos sobre o cotidiano (mesmo falando comigo em meio ao trabalho), sobre futuro (o que nunca me ofereceu, de fato), sobre viver melhor (guardando para mim a convivência com seus piores vícios amorosos, sexuais, comportamentais...).

Quero ir embora desse lugar, onde eu experimento meus piores pesadelos, no qual enceno papéis desagradáveis e constrangedores...

Deitando em camas desarrumados que não merecem sequer um lençol diante do sereno que atinge meu corpo pequeno, magro e sem saúde...

Sinto frio, vergonha, me sinto suja e quase sempre choro no vazio que me aguarda quando ele vira pro lado e simplesmente morre/dorme....

Já saí desse lugar, várias vezes, sem ser notada. As vezes são dias, meses, nunca menos que horas para chegar a primeira notificação de vida... exatamente assim, como se eu nunca tivesse estado lá.

E é assim, exatamente assim, que acontece a partida... como passar na frente de uma casa muito bonita... olhar pela janela e ver a ceia na sala de jantar... sentir vontade de comer algo na mesa... passar pela porta, entreaberta, e ficar com esse desejo (fome/home, sede, perfume) guardado bem fundo, enquanto atravessa a rua para pegar o ônibus lotado e voltar pra própria vida e suas preocupações, obrigações, mas também sonhos...

Eu venho construindo essa casa com o amor da minha vida e procuro alguém que construa a porta capaz de proteger nossos sonhos e encerrar essa espera.

Hcqf 24 de abril de 2025 - depois da Páscoa 

quarta-feira, 16 de abril de 2025

 -o que aconteceu?

- nada (como sempre).

- como assim? Não estão se falando?

- como sempre.

- mas o que é isso?

- é um jeito de dar errado rsrs.

- ah, então?

- nada.

- E o que houve naquele tempo?

- oportunidade e só.

- mas oportunidade pra o quê?

- pra fugir da rotina, dos pensamentos...

- aaah, amizade, é isso?

- menos que isso.

- Nossa, muito difícil de entender. 

- de digerir também. 

- que pena!

Hcqf 16 abril de 2025


sábado, 5 de abril de 2025

Landeslide

 Eu queria ele pra mim

Quis muito

Quis sim

Queria ele e seus problemas

Suas dores

Seus defeitos

Tive uma coragem desproporcional para ser intima de muito sofrimento

Recebi humilhação e vergonha

E mesmo alerta dos prejuízos de se fazer remédio... corri direto pro nada.

Acabou... comigo.

Destruiu tudo.

Nao sei mais o que é amor.

Hcqf 05 de abril de 2025

terça-feira, 1 de abril de 2025

 Não tenho o que dizer

Mas preciso representar o nó engasgando minhas palavras...

Hcqf 01 de abril

terça-feira, 25 de março de 2025

Incubus

 Eu preciso admitir...

Eu gosto do tamanho dele...

Eu gosto da textura da pele dele

E de passar os dedos dentro da sua barba.

Eu gosto quando ele exige beijo

Quando ele pede fogo

Quando ele me olha e não diz nada

E eu enquadro seu rosto todo

E fotografo meu ponto fraco.


Hcqf 26 de março de 2025

sábado, 22 de março de 2025

 Eu ia dizer que "nosso" algo está acabando...

Mas é muita pretensão chamar de "nosso"...

Hcqf 22 de março 2025

- pra que ser dois?

- para não ser apenas um.

- mas agora estou sendo o "um" que eu quero e podendo ser melhor para mim

- isso, o melhor só pra si mesmo.

- mas pra que dividir uma vida que ainda não esta em todo o seu potencial?

- talvez para ampliar esse potencial e não encerrar tão cedo.

Hcqf 21 de março 2025

 Me emprestei para você e não estou conseguindo me ter de volta...

Qual objeto que se oferece para alguém sem saber se a pessoa realmente quer, aí a coisa fica em algum canto desinteressante e não frequentado ao ponto de perder de vista...

Quem emprestou corre o risco real de não reaver o empréstimo, afinal: "o que foi mesmo que você me deu?"

Mas não foi dado.

Emprestei meu lar para você não esquecer que herdou uma casa da sua amada mãe.

Emprestei minha escuta e discernimento para você lembrar de si mesmo, ao menos, quando estivesse comigo.

E você me disse que estava numa epifânia sem remédio, tendo insights sobre si e sobre o seu melhor, agora, sendo "um", inteiro... se sentindo autosuficiente e seguro, sozinho, mesmo eu emprestando horas das negociações das minhas folgas com a minha vida, para que você estivesse comigo.

"Mas para que dividir seu momento com alguém?", Você me pergunta, pretensiosamente, como se perguntasse a um espelho - coisa inanimada, objeto reflexivo, onde você reflete seus piores sentimentos - local esquecido e empoeirado com os dizeres: "se cuida!"

Emprestei meu jeito de amar para você assumir que ama outra pessoa e reza psra ela voltar. E eu, devota das causas impossiveis, respeito sua presse e dispenso meus serviços, como a babá Mcpheer e sua verruga desaparecendo por você ter aprendido a acreditar em mágica.

Adeus!

Hcqf 22 de março 2025

segunda-feira, 17 de março de 2025

Uma mulher na casa dos homens

Você me diz que a viu em um espaço público e não tirou os olhos dela... Meses depois, conversaram virtualmente algum tempo e enquanto você a conhecia pensava: "eu namoraria essa menina"... Isso ao longo dos mesmos dias que usava minha janela para encontros sem nenhum sentido.

Você me disse que foi difícil conseguir um primeiro beijo, na mesma hora entendi o quanto despreza meu jeito dócil, feito um filhote, de buscar e te dar meu desejo e meu sexo.

Desde a primeira saída o registro, o respeito, a conversa... tudo era sobre a dádiva de ter encontrado a pessoa certa, que mesmo antes no lugar errado já sabia que existia "o seu bar" no lugar para vocês começarem...

Aliás, esse espaço tão comum depois da 00hr na minha rotina, naqueles meses ao longo daquele ano... só que ninguém soube das vezes em que estive lá, sozinha, com você, o dono, sua esposa, uma garrafa de vinho...

Desde aquele dia, nunca mais pararam de se falar... e eu sabia dos dias e dias de vazios, das minhas frases sem respostas, ou dos símbolos desconexos que despejava na minha conta.

Veio o dia da vergonha e ela foi o primeiro pensamento e eu a última pessoa a saber... veio o dia da minha doença e você só soube porque vivi para te dizer.

Isso, isso mesmo... alguma coisa em mim queria morrer com o seu desprezo, mas outra coisa queria viver para te rever.

No natal você estava de vermelho e eu sabia que não fazia sentido nenhuma mensagem de fim de ano para mim, mas eu "te esperei", brutalmente. 

O ano recomeçou, eu estava viva e sem você e tudo ainda doía... você tinha um novo projeto de vida que não me contaria, pois não me incluía: eu morri para você, mesmo ficando viva.

Foram meses desde outubro, mês que conheceu sua sereia... muitas datas comemorativas sem querer saber se eu estava bem, muitas histórias que jamais imaginou que eu gostaria de saber... e que me contou, só agora, com a mesma falta de sentido que nos reaproxima.

Você não lembra... mas falou comigo naquele primeiro mês,  de vocês... e quase acabou com o meu Círio... também nos encontramos um dia antes do meu aniversário, afinal era difícil ter sequer um beijo da mulher da sua vida, enquanto era fácil arrancar minhas roupas, me tirar da minha rotina e me deixar à deriva...

Então, no mês do amor e da família, você desapareceu de vez... mesmo mês em que eu fui destruída quando perdi meu trabalho e todos os prazos de saúde e compromissos acadêmicos - querendo sua mão para me ajudar a entender porque que a vida dói tanto e ainda mais sem a companhiade um a-mor...

Em janeiro, assim que melhorei, parece que você advinhou, que eu não precisaria de você, mas eu tinha algo que você queria - um corpo feminino para o seu "Faz de Conta" que ainda não acontecia.

Sim, só a matéria... a alma da personagem amada já respondia suas mensagens sobre música com a franqueza que só o amor permite - de não entender ou fazer questão do que você entendia das letras... 

E ainda na aurora daquele mesmo ano, eu completava uma gestação a termo, sabendo que "Grávida" é sobre os olhos da sua mãe (e estão na sua alma gêmea). Mas só agora entendo que o "Sol na [sua] cabeça" pegava "o trem azul" e te deixava sozinho... e eu tive que bloquear seu endereço eletrônico para não mais receber suas tantas mensagens de despedida, ou dizendo que não queria me magoar, só não queria nada comigo... nada além de uma transa para contar aos amigos e não ficar para trás na corrida... 

Tudo, enquanto construía um projeto de vida saudável, arrumava sua casa, recebia fotos lindas com mensagens fofas da sua nova e maravilhosa vida.

Chegou o carnaval e você lembrou da sua fantasia... eu... tive que contar da minha quase morte e seu desdém resumiu como me vê: você está a mesma COISA.

Nesse mesmo mês, na verdade na outra semana, você contou pra mim, e na rede mundial, da felicidade de estar amando de verdade a companhia de uma mulher recatada, inteligente, trabalhadora, boa filha, a namorada dos sonhos - não a fantasia mais usada...

O golpe foi tão fundo e eu estava tão rasa, que já não tinha muito pra perder... reconquistei um amigo, ele me defendeu de você contra mim (e minha vontade)... mais um homem que abriu a porta para outros... então sua fantasia se realizou e soterrou a mulher leal que eu havia sido e você jamais fez questão, como agora finge que faz (esquisito como é).

Implorei sua amizade, você respondeu que eu me machuquei sozinha, já que sabia de tudo que você não tinha prometido para mim. 

Falando de promessa, depois da sua amada, a palavra fidelidade andou rondando nossas conversas: você me perguntava se eu seria fiel, depois de tantos homens que eu me relacionava, isso nesse outro seu ano com sua namorada, eu solteira e abandonada na lata do lixo.

Bem, foram alguns meses em que me mandou músicas de madrugada, tentou um contato sem sentido, jogou um ponto, um jota e a rede para brincar com meu corpo... e eu só cedi quando você me prometeu trabalho...

Eu, mãe, saindo humilhada do mestrado, queria lutar pelo meu sonho... e ainda me cuspiu uma frase: olha, se você passar no doutorado posso ver se consigo uma bolsa pra ti com a minha querida.

Nossa, além de mestre à revelia dos ritos institucionais do patriarcado capitalista, eu agora poderia ser ajudada pelo meu vilão e sua heroína/vício... 

Engoli o choro, qualifiquei, terminei duas disciplinas, te ajudei a construir um evento importante (só para mim), defendi e consegui fechar a porta para você. 

No entanto preciso dizer, vocês sairam em fevereiro, duas semanas depois de você me dizer que queria que eu te beijasse e fizesse amor contigo. Só agora entendo através do contrário do que dizia: ela se parece com você. Isto é, enquanto ela não permitia um beijo, uma intimidade, iria arrancar da vadia que te atende.

Então veio março e um corte digno da fidelidade medieval depois de me deixar dias no vácuo... veio o meu bloqueio.

Abril junto com um desbloqueio, o ponto nonsense... junho e seu conto de fadas estava mágico e eu longe, como você queria (mais que eu).

Maio e o aniversário da minha vida de mãe e você já levando alguns vácuos meus...

Junho e as minhas respostas frias as suas investidas dúbias que hoje eu sei servem pra você mentir sobre o que faz: "eu fui fiel a ela como nunca..." e aquelas mensagens?... "não aconteceu nada..." verdade, eu não cedi.

Julho  e o seu silêncio me fez dar oportunidade para alguém que eu não sabia que era seu amigo... 

Agosto e o meu sonho de ser professora e defender a Hilda de Dionísio... e vc na minha janela e no seu bar.

Setembro e eu mergulhei nas águas de Ariana, mas soube do evento que sempre sonhei participar.

Outubro minha defesa e a descoberta que você estava todo tempo dentro daquele meu sonho o qual fez questão de dizer que estava organizando... molhei a cama do seu amigo falando, chorando, que iria dar tudo de mim para fazer parte, enquanto eu saciava de verdade, dois animais.

Novembro, muitas brigas, alguns encontros, que eu sempre entendia como presentes do destino. Porém você fazia questão de ressaltar que era uma nova fantasia de tentação com a qual eu me vestia para testar teu relacionamento...

Meu Deus, se eu pudesse me revestir de alguma coisa para você... se eu realmente tivesse a chance de ficar vestida diante de você, dos seus olhos, das suas investidas, ao som da sua playlist... eu vestiria a minha roupa de casa, velha, larga, desboatada e te deitaria na minha cama e a gente pela primeira vez sossegaria.

Dezembro, o evento e os desencontros e controvérsias sobre o que as pessoas sabem da gente... se nunca existiu nada.

Janeiro, seu dia, seu mês, sua família, sua mulher, sua esposa... você me disse sem dizer: a escolhida. E ela fez seu papel maravilhosamente, te deu seu maior presente, não parecer um "loser" no dia 11 (que você me disse que era dia 10, mentiu sobre o seu dia de nascimento).

Você me diz que ela pediu um tempo, mas você a quer para sempre. Doeu! E veio descontar sua dor na minha lombar... no meu rosto... no meu ouvido... entrou na minha casa... falou com meu filho... eu e minha mãe cuidamos da lembrança de colo da sua mãe...

E eu não mereço respeito algum quando decido te tirar da minha vida intima e te colocar na vida profissional. Você me jogou no pisão na casa dos homens...

Eu e você, é só sobre isso e mais nada.

Hcqf 17 de março de 2025

Antes de reler minhas próprias palavras inesquecíveis... bem, vim jogá-las nessa cova, para enterrá-las, querendo que seja para sempre...

Assim mesmo como ficou: queria eu que fossem eternas, mas morreram quando foram contadas, contrariando a dor da poeta...

Foram constatações atiradas como pedras, todas a cravar pequenos furos no som e recobrir onde seriam camas de palavras, mas plantaram silêncio e nenhuma música restou...

Nenhuma que tocasse era para mim, todas para outro ouvido... minha audição habituada a sua rejeição, pelo tanto que não escuta o que é de mim, soou o ecoo do vazio naquela mesa... entre as cadeiras, o hanburguer e a garrafa de cerveja...

Apenas objetos... sem sentimento, sem sangue... sangrei quando me distanciava pela rua triste e escura... fui entrando na minha roupa pelas brechas do frio na via...

Todavia, olhei mais vezes para trás do que gostaria.

Hcqf 17 de março de 2025

quinta-feira, 6 de março de 2025

Sempre e já-há-mais

Sempre ele que encerra as conversas
Sempre eu que inicio...

Sempre ele que deixa de responder
Sempre eu que fico à espera...

Sempre são minhas as mensagens longas
Sempre dele as respostas curtas...

Nunca dele as perguntas
Nunca minhas as certezas
Nunca nossas as histórias...

Sempre as suas lembranças
Nunca uma memória comigo...

Nunca meus dias de luta
Sempre seus dias de luto...

Sempre os espaços que ele gosta
Nunca uma sugestão minha.

Sempre uma fresta na sua agenda
Sempre uma quebra na minha rotina

Sempre eu que insisto
Nunca ele corresponde...

Sempre as suas músicas
Sempre os seus amigos.

Sempre ele que desmarca
Nunca uma justificativa 
Nunca foi recíproco.

Hcqf 07 de março 2025


quarta-feira, 5 de março de 2025

Não quer

Atiça e corre...
Chega como quem quer tudo,
Deixa o corpo inteiro vibrando,
Desliza fantasia à dentro
E desvia.

Perturba os sentidos.
Faz sentir a pele latejar...
Fala sobre sensações 
Depois mais nada...

Quando aproxima o corpo
E encosta no ventre 
Arrepia 
Põe o sonho à prova
A realidade desmente.

Em ato não sustenta sua fala/falta.
Cala do outro lado desejos.
E em silêncio se dá o encontro.

Desilusão que vigora 
No fundo da companhia 
Que estava sozinha com seu intento.

Hcqf 05 de março de 2025

terça-feira, 4 de março de 2025

Sobre você e eu, sem nós...

 Você diz que sabe o porquê penso que seu relacionamento está "apenas" passando por um "breve" tempo de afastamento...

Mas será que você sabe que não temo o contrário? Como reagiria se eu admitisse isso?

Reafirma que entende minha perspectiva sobre a efemeridade dessa sua atual separação...

Mas será que imagina o quanto dói conjecturar que possa ser que eu tenha pouco tempo ainda para ficar tão perto assim?

O relógio ainda nem rasgou a folhinha do calendário e eu já acenei um horizonte... mesmo assim continuo a lista das minhas incertezas sobre você e eu, sem nós.

Você ratifica e insiste que já tentou de tudo (com ela): falou, foi atrás... conta como se eu fosse parte da torcida por seu relacionamento. 

Mas será que sente a minha torcida por você? Para que saia dessa e de qualquer fase triste, pesada... 

Fomos tão longe nas suas histórias e suas dores que seu sofrimento contou para quem você, real-mente, estava confessando dessabores que amargaram o gosto da sua vida. Ela esteve, você aprofunda, na vergonha no dia da briga - que eu só soube por insistência quase invasiva; também foi o primeiro pensamento no mesmo dia, de toda essa "nossa" história, depois da briga que lhe feriu a vaidade e o coração de filho "adotivo".

Será que enxerga a frustração que rasgou a minha face? Rebaixando com isso minha expressão entre um ciúme, alguma desilusão e uma sensação de fracasso. E será que sentiu nesse o gosto/motivo do doce mesmo assim oferecido? 

Confessou dos dias difíceis que dividiu com sua "verdadeira" melhor amiga. Foram situações sobre brigas, idas a hospitais em que ela foi a primeira ligação e a primeira visita esperada. Tempos de mudança de casa, escolha de móveis, novos hábitos e companhias de noite. Além de admitir que construíram a maior parte das vezes que me disse que arrumou a casa, comprou roupas novas, desejou uma TV para verem agarradinhos, sob às cobertas, suas músicas preferidas... tantas e tantas situações imaginadas várias vezes nos meus sonhos, que eu jamais pude imaginar que você também queria, pois nunca quis isso comigo.

Será que lembrou das conversas sobre suas dores de amores pelas noites, enquanto me mostrava o bairro onde viveu sua vida toda? Ou que me mostrou o tesouro que a sua mãe enterrou no centro da cidade mais nova e que hoje a cidade já está mais desenvolvida? Será que imagina o quanto foi constrangedor frequentar, por várias vezes, vários cantos da sua história? 

Enquanto tentava esconder, até de mim mesmo, a dor de ser esquecida, lembrei dos amigos do seu avô que já encontramos no supermercado, nas esquinas, naquele bar com as luzes penduradas de uma árvore à outra - brilhando como um vídeoclipe cantando Gênesis, Brad, Pain of Salvation... Mas que também "tem a hora da sessão coruja" com Interpol, Fiona Apple, Portshade, Jeff, Cornell, Layne, Vitor, Marina, Lobão... E Madrugada na sua verdadeira casa diante de uma ciumeira com vida que enquadra uma foto linda com o nascer do sol.

Será que isso é sobre "You write me love letters with your father's pen"?

Esqueceu, mas não comigo, a parte que mais preza no seu corpo. Voltou correndo, frustrado, para reaver aquele pedaço da sua alma deixado na minha cama. Desci tão rápido quanto pude após registrar, na mesma hora que você, aquele deixado.

Será que sabe que gostaria que aquilo fosse um enorme lapso? Um presente do seu inconsciente para esse seu abrigo tão maltratado como seus tesouros herdados: sua casa, seu dom para música...

Desci correndo com um sorriso triste nos olhos e nos lábios. Percebi que você tinha pressa para desfazer qualquer rastro de importância sobre aquela noite em um espaço importante para mim.

Será que lembra que deixou cair uma correntinha de coração que desamarrei do pescoço quando deitei na sua cama depois de tentar organizar sua vida?

Parece a mim tão óbvio, mesmo sem querer enxergar e apesar de sentir, que não teve qualquer relevância receber "o meu carinho que carece abrigo"...

Estava lá, na hora que saí de casa para encontrar grandes amores, a corrente que esqueci com você, pela segunda vez seguida, para ter certeza que retornaria a frequentar sua intimidade. E ao mesmo tempo, pude entender porque você riu de mim ao lhe dizer que a minha torcida é pelo que desejo com você e sinto por você... 

Será que sabe - mesmo, mesmo - que eu percebo o que diz entender porque eu acho que vocês deram "apenas" um tempo? 

Já que mesmo tendo alguma óbvia intenção de me iludir (por esporte, lazer, machismo,  automatismo, oportunismo, vingança ou desrespeito comigo)... ainda assim, obviamente - se você quis me entregar minha cadeia de corações significantes - queria também se livrar de alguma prova que te afastasse verdadeiramente de sua querida namorada.

 Ou talvez, simplesmente, quis me afastar de você para que possa buscar um caminho melhor. Ou, mesmo que tenha tentado me devolver, a mim - desatando nossa/minha "correntinha" (sem valor). O que fez tão sem consideração que ao me "exigir" o que pode ter sido um beijo de adeus dessa "aventura" (como você nos classifica) deixou caída e desprotegida uma parte minha da "nossa" história, na minha porta, numa calçada solitária, num dia cinza.

Você disse que iria embora, algumas vezes, na última noite. Será que sabíamos que era porque não voltaria já-há-mais?

E será que imagina que tem feito entre 23° e 26° na Cidade Nova... e o que você me fez, faz chover na minha alma? Isso alaga meu corpo, meus sonhos e turva à minha visão a tal ponto que não exergo nada, nem mesmo essa nítida e verdadeira desilusão. 

Hcqf 04-05 de março de 2025

segunda-feira, 3 de março de 2025

Existido

Talvez a dificuldade de escrever esteja na dificuldade de registrar um acontecimento fantasístico. 

Ao final, a notícia sobre o outro dia, o contato que desapareceu, a resposta, o sorriso e o telefonema "que eu não vi nem a cor" fizeram mais sentido.

Acolhi sua dor no meu sonho em uma página rasgada da sua vida...

Estivemos juntos na minha casa, conversando na minha cama, você, eu e as pessoas da minha vida como nunca poderia ter sido... 

E se foi como um devaneio...

Quem esteve nisso comigo, vai me fazer querer esquecer mais do que lembrar o ocorrido.

Foi embora e a viagem levou sua noite comigo, ou talvez a nossa última. E isso em fim tenha existido.

Hcqf 04 de março 2025

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Para antigos poemas

 Têm "certas coisas" que se diz "calado" por não fazer sentido...

Com Dickinson ao meu lado, nestes últimos dias na cama, entendo o que queria, mas não sei dizer sobre o que esperar com isso...

São madrugadas entre letras: algumas que escrevo, outras que tento ler...

Tudo tão incompreensível, sem você.

Falta... faz falta...

Ecoa em mim a questão: o que pode existir entre o Som e o Silêncio?

Eu imagino que uma diferença, mas vejo na realidade uma distância.

Insisto em refletir: quem é só medo e quem é só desejo?

Não temo coisa alguma, com você. Mas tenho medo de nunca mais sequer te ver. Como há você de temer algo?

Desejo? Quem deseja mais do que eu diante de você, que nada demanda?

E eu fugi do seu beijo... Tive medo da sua boca encostar na minha alma e eu não conseguir abrir os olhos mais... eu tô falando de morte mas também de fantasia.

E aconteceu... entre nossos lábios, depois que a minha língua tocou o céu na sua boca... aberta e doce...eu senti sua barba, percebi que abria os olhos e acariciava seu nariz e seu rosto com a minha pele.

Eu acordei entre o Sim e o Não sobre ir ao seu apartamento... aonde Dickinson me leva.

E eu só queria não ter sentido aquele frio na espinha que transbordou em suspiro entre as nossas salivas como som das ondas numa praia bonita.

Já não sei o que estou cantado, apenas sei que eu não queria deixar ir.

Queria a cama no seu apartamento; encontrar você no hotel na estrada; sentir você completar o sentido dos meus poemas de 2023 e achar que isso é sobre ouvir "uma sinfônia de silêncios e de luz"...

Real-mente, "têm certas coisas que eu não sei dizer" então finjo/fujo pra não dizer o quanto te amo sem saber se é recíproco.

Hcqf 27 de janeiro de 2025

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Eu não entendo de amor em alemão

Você diz que as pessoas sabem de nós...
E eu me pergunto sobre o que elas sabem...
Será que sabem do escuro de sempre?
Do frio sem lençol na casa fantasma?
Dos monólogos entrecortados por versos muito tristes?
Da mesa no fundo do bar vazio?
Que em outra esquina, mais tarde ainda, a lanchonete esconde um brownie de macadâmea?
Ou talvez da conveniência de ir a uma mercearia 24h comer macarrão instantâneo?
Que existe uma senhora que socorre meninas de noite com assuntos verdadeiramente importantes?
Que os conselhos de uma mãe negra, mesmo na madrugada, dão colo a uma mãe branca?

Você diz rindo que pessoas que eu admiro sabem de mim...
Mas o que elas sabem?
Será que sabem que eu chorei do seu lado e você dormia?
Que horas antes de uma reunião eu encontrei um "bom dia" enviado ainda enquanto eu estava do seu lado?
Que frequentamos a mesma casa sem mobília por meses até você decidir se mudar e mobiliar outro lugar?
Que a poeira permitiu que um recado fosse deixado?
Que o espelho na frente da sua cama te pedia pra se cuidar?
Que ficaram vários vestígios daqueles encontros em objetos cuidadosamente perdidos no seu quarto?
Que um livro perdido na bagunça da estante não dedica nada a ninguém?

Você diz que as pessoas naquele dia perceberam uma nossa tensão sexual..
O que elas sabem do que há entre nós?
Será que elas viram que você não me olhava nos olhos?
Que evitava ouvir minha voz e me ver deambular?
Que você nem mesmo me disse sobre um evento?
Que evitou sair nas fotos do meu lado?
Que quase não falou comigo naquele dia?
Que você me dedicou pensamentos que na verdade nunca existiram?

E rir dizendo que não foi você quem contou...
E você lembra que em algumas madrugadas a aliança dos seus amigos te fez dedicar algumas palavras inteiras sobre amor?
Que o mar se estender no horizonte te faz lembrar da seriedade do amor pra um pugilista?
E que você odeia o jovem romântico dos seus 25/23 anos?

E me conta que eles dizem que pareço gostar muito de você...
Mas será que eles sabem que você diz que me ama aos risos?
Que não conheço sua família e que você apresentou a eles outra mulher?
Que há um ano tento fugir das suas carícias e investidas secretas?
Que eu elogio o escuro, no qual você me esconde?
E que a luz que você diz que brilha, ilumina encontros às escura em esquinas?
Que as músicas que me apresenta ninguém mais escuta?
E que uma frase escrita em outra língua não representa nada se não for traduzida?

HCQF 26 de janeiro e 2025
 

Diz as pessoas de um relacionamento... assim, de qualquer jeito, impregnado de um desleixo com que reporta a situação.

Como se fosse uma notícia qualquer, algo notório, público... E diferente de tudo o que foi vivido.

Encontros remotos, secretos e noturnos... Como se escondessem um "lovecrime" ou testemunhassem uma desonra... 

Ali, mesmo diante de personagens da infância, de histórias longínquas, da sua cidade natal... nunca nomeou sua companhia, nunca esteve com uma companheira... sempre uma figura sem o privilégio de escutar o próprio nome nas esquinas pela madrugada insone.

Não, não deve ser esse o conteúdo do que conta.

Também não confessa o que escuta dos ouvintes...

Apenas entrega algumas "meias-palavras" entre sorrisos avulsos sem sentido.

HCQF 26 de fevereiro de 2025


Intratável

Ninguém sabe o quanto me custa...

O quanto dói rever e decidir dar um tempo.

Não consigo me afastar completamente,

Não tenho nem ilusões mais,

Só fixações.

Acabou!

Diz ele que está cada vez mais apaixonado.

Tem uma Helen-a...

Eu nunca tive o A de amor,

Nunca fiz sentir.

Agora ainda recebo uma última mentira em mensagem: 

"Estava guardado pra vc (Emily)".

Guardado para mim?

Sem dedicatória?

Com um recado sem critério,

Letras e palavras desleixadas...

Um "Leiebe dich"

Por não caber falar para eu entender?

Nada nisso tudo...

Nem um nós para encerrar.

Sou eu que tenho que me despedir...

Hcqf 25 de fevereiro de 2025

domingo, 16 de fevereiro de 2025

 Não consigo dormir... sem você...

Queria te dizer que sinto muito, sinto tudo ao mesmo tempo, porque não demos/damos certo.

Não posso dizer: eu não amo mais você. E isso ficou entalado na minha garganta, quando você sem dizer, mesmo assim disse que sou eu que você escolheu deixar.

Depois de dois parágrafos iniciados em negação, quero desreprimir isso que me engasga sem você.

Somos tão diferentes em tudo, mesmo os dois não tendo referência de pai.

Temos alturas incompatíveis, os corpos proporcionalmente dispares...

Essa palavra me pegou, dispares, é isso que sempre fomos e tivemos.

E isso foi tão bom. 

Lembro, sem querer, que andamos por horas entre bares, noite à fora...

Dançamos sem música...

Pulamos e você caiu... foi constrangedor e divertido.

Consigo imaginar maior intimidade que tudo que vivemos, mas conhecer o sepulcro de alguém tão importante e ver o sol renascer ali...

Eu sei o que senti...

Quero que as palavras cheguem... mas começo a adormecer...

Lembro nossos desencontros sexuais e percebo o quanto temos razão em nos distanciarmos...

E fico constrangida.

Aperto os lábios por saber que o celular, as mensagens, seu contato de telefone...  são tudo o que tenho de você... e isso é nada porque é sobre estar distante.

Desculpa, tentei escrever sem "nãos" e na verdade isso é outra coisa que sempre escondi de você: que não sabia o futuro... eu sabia sim.

Penso nas reviravoltas da vida e sei que a vida dá voltas e tudo muda...

Estaremos e seremos diferentes demais para acontecer sequer um beijo. 

Como aconteceu naqueles últimos dias...

Quero te rever mesmo assim.

Hcqf 17 de fevereiro de 2025


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

 Se eu pudesse escolher... 

Se tivesse a possibilidade inquestionável de fazer exatamente o que quisesse... 

Eu teria uma conversa franca com alguém.

Eu realmente não sabia que mesmo sentada ao seu lado, pode se estar longe de todos, da confusão da vida... e pode, sim, estar fingindo escutar, ou contar o que pensa, ou sente, ou mesmo quem é...

O mais difícil é saber que eu estou lá, sendo quem sou e falando o que penso.

Hcqf 25 de julho 2024

São Valentin

 Ainda dói...

Eu vejo caminhar, eu escuto rumores sobre a vida...

Eu imagino companhias...

E eu nunca estou, verdadeiramente, lá.

Não faz sentido estar tão perto, ainda que eu insista.

Persiste em mim um desejo de gota...

Sou eu, ou é a chuva que não esconde o frio desses dias.

Ter para quem dizer... mais do que com quem contar.

Eu sei porque contei e não pude dizer mais nada depois da porta-escuta fechar a janela da casa abandonada.

Troquei os nossos in-cômodos de lugar, como quem arrasta um sofá, ou uma mesa com o tampo de marmore (sozinha)...

Levantou poeira... é carnaval... meu eu mais remoto é de fevereiro...

Eu mesmo sou dos confins do ano e do universo... 

Escapo pelo nevoeiro pueril dos nossos desentendimentos cotidianos...

Para re(a)ver o en-canto/cômodo da sacada e as músicas tristes...

Anúncio d'Alva que revimos, juntos, sentados em frente a ciumeira frondosa...

Única testemunha viva da colisão daquelas duas noites tristes.

Feliz dia dos abandonados!

Hcqf 14 de fevereiro de 2025.


Primeira saudade do ano

 Um dia gostaria que ele me procurasse como quem procura água com sede.

Aquele momento, ínfimo para alguns, no qual nada acontece ao redor e a geladeira é um devaneio no deserto...

Hcqf 14 de fevereiro de 2025