Sempre pensei que um dia a corda ia arrebentar...
Ia ser da parte dele, só poderia...
Ia chover como "nos campos de Cachoeira" em Belém ou Ananindeuano Pará...
Ia doer muito, muito e demais...
Nunca imaginei que eu estaria lúcida no dia... Algum tanto de álcool existiria para ser totalmente coerente, sabe?
Não pensei que o céu estaria limpo e fosse quase festejo junino... quase tempo de quadrilha... quase o famoso dia do balão de coração vermelho ("dos seus olhos... ", diz a canção).
Não, não mesmo, que eu me retiraria sem pretensão... alguma tácita pergunta, costumeiramente, mal respondida...
Ele, alguém, ninguém e minhas inquietações... todo mundo lá... menos a esperança, morta, pela última/única vez...
Por mais que minha previsão se perca... que ele não tenha mais esse outro alguém, não quero mais esse trisal - ele, a madrugada e eu.
Ele sempre beijando a minha sombra, quando na realidade, eu sou a própria sobra que ele esconde no escuro pela madrugada, nas ruas que ele sabe que não deve frequentar...
Lugares escuros pelos quais vago, correndo perigo, para ser escondida atrás de outra mulher...
Mulheres mais elegantes, mais sérias... com quem ele troca confidencias e assuntos sobre o cotidiano (mesmo falando comigo em meio ao trabalho), sobre futuro (o que nunca me ofereceu, de fato), sobre viver melhor (guardando para mim a convivência com seus piores vícios amorosos, sexuais, comportamentais...).
Quero ir embora desse lugar, onde eu experimento meus piores pesadelos, no qual enceno papéis desagradáveis e constrangedores...
Deitando em camas desarrumados que não merecem sequer um lençol diante do sereno que atinge meu corpo pequeno, magro e sem saúde...
Sinto frio, vergonha, me sinto suja e quase sempre choro no vazio que me aguarda quando ele vira pro lado e simplesmente morre/dorme....
Já saí desse lugar, várias vezes, sem ser notada. As vezes são dias, meses, nunca menos que horas para chegar a primeira notificação de vida... exatamente assim, como se eu nunca tivesse estado lá.
E é assim, exatamente assim, que acontece a partida... como passar na frente de uma casa muito bonita... olhar pela janela e ver a ceia na sala de jantar... sentir vontade de comer algo na mesa... passar pela porta, entreaberta, e ficar com esse desejo (fome/home, sede, perfume) guardado bem fundo, enquanto atravessa a rua para pegar o ônibus lotado e voltar pra própria vida e suas preocupações, obrigações, mas também sonhos...
Eu venho construindo essa casa com o amor da minha vida e procuro alguém que construa a porta capaz de proteger nossos sonhos e encerrar essa espera.
Hcqf 24 de abril de 2025 - depois da Páscoa
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