segunda-feira, 17 de março de 2025

Uma mulher na casa dos homens

Você me diz que a viu em um espaço público e não tirou os olhos dela... Meses depois, conversaram virtualmente algum tempo e enquanto você a conhecia pensava: "eu namoraria essa menina"... Isso ao longo dos mesmos dias que usava minha janela para encontros sem nenhum sentido.

Você me disse que foi difícil conseguir um primeiro beijo, na mesma hora entendi o quanto despreza meu jeito dócil, feito um filhote, de buscar e te dar meu desejo e meu sexo.

Desde a primeira saída o registro, o respeito, a conversa... tudo era sobre a dádiva de ter encontrado a pessoa certa, que mesmo antes no lugar errado já sabia que existia "o seu bar" no lugar para vocês começarem...

Aliás, esse espaço tão comum depois da 00hr na minha rotina, naqueles meses ao longo daquele ano... só que ninguém soube das vezes em que estive lá, sozinha, com você, o dono, sua esposa, uma garrafa de vinho...

Desde aquele dia, nunca mais pararam de se falar... e eu sabia dos dias e dias de vazios, das minhas frases sem respostas, ou dos símbolos desconexos que despejava na minha conta.

Veio o dia da vergonha e ela foi o primeiro pensamento e eu a última pessoa a saber... veio o dia da minha doença e você só soube porque vivi para te dizer.

Isso, isso mesmo... alguma coisa em mim queria morrer com o seu desprezo, mas outra coisa queria viver para te rever.

No natal você estava de vermelho e eu sabia que não fazia sentido nenhuma mensagem de fim de ano para mim, mas eu "te esperei", brutalmente. 

O ano recomeçou, eu estava viva e sem você e tudo ainda doía... você tinha um novo projeto de vida que não me contaria, pois não me incluía: eu morri para você, mesmo ficando viva.

Foram meses desde outubro, mês que conheceu sua sereia... muitas datas comemorativas sem querer saber se eu estava bem, muitas histórias que jamais imaginou que eu gostaria de saber... e que me contou, só agora, com a mesma falta de sentido que nos reaproxima.

Você não lembra... mas falou comigo naquele primeiro mês,  de vocês... e quase acabou com o meu Círio... também nos encontramos um dia antes do meu aniversário, afinal era difícil ter sequer um beijo da mulher da sua vida, enquanto era fácil arrancar minhas roupas, me tirar da minha rotina e me deixar à deriva...

Então, no mês do amor e da família, você desapareceu de vez... mesmo mês em que eu fui destruída quando perdi meu trabalho e todos os prazos de saúde e compromissos acadêmicos - querendo sua mão para me ajudar a entender porque que a vida dói tanto e ainda mais sem a companhiade um a-mor...

Em janeiro, assim que melhorei, parece que você advinhou, que eu não precisaria de você, mas eu tinha algo que você queria - um corpo feminino para o seu "Faz de Conta" que ainda não acontecia.

Sim, só a matéria... a alma da personagem amada já respondia suas mensagens sobre música com a franqueza que só o amor permite - de não entender ou fazer questão do que você entendia das letras... 

E ainda na aurora daquele mesmo ano, eu completava uma gestação a termo, sabendo que "Grávida" é sobre os olhos da sua mãe (e estão na sua alma gêmea). Mas só agora entendo que o "Sol na [sua] cabeça" pegava "o trem azul" e te deixava sozinho... e eu tive que bloquear seu endereço eletrônico para não mais receber suas tantas mensagens de despedida, ou dizendo que não queria me magoar, só não queria nada comigo... nada além de uma transa para contar aos amigos e não ficar para trás na corrida... 

Tudo, enquanto construía um projeto de vida saudável, arrumava sua casa, recebia fotos lindas com mensagens fofas da sua nova e maravilhosa vida.

Chegou o carnaval e você lembrou da sua fantasia... eu... tive que contar da minha quase morte e seu desdém resumiu como me vê: você está a mesma COISA.

Nesse mesmo mês, na verdade na outra semana, você contou pra mim, e na rede mundial, da felicidade de estar amando de verdade a companhia de uma mulher recatada, inteligente, trabalhadora, boa filha, a namorada dos sonhos - não a fantasia mais usada...

O golpe foi tão fundo e eu estava tão rasa, que já não tinha muito pra perder... reconquistei um amigo, ele me defendeu de você contra mim (e minha vontade)... mais um homem que abriu a porta para outros... então sua fantasia se realizou e soterrou a mulher leal que eu havia sido e você jamais fez questão, como agora finge que faz (esquisito como é).

Implorei sua amizade, você respondeu que eu me machuquei sozinha, já que sabia de tudo que você não tinha prometido para mim. 

Falando de promessa, depois da sua amada, a palavra fidelidade andou rondando nossas conversas: você me perguntava se eu seria fiel, depois de tantos homens que eu me relacionava, isso nesse outro seu ano com sua namorada, eu solteira e abandonada na lata do lixo.

Bem, foram alguns meses em que me mandou músicas de madrugada, tentou um contato sem sentido, jogou um ponto, um jota e a rede para brincar com meu corpo... e eu só cedi quando você me prometeu trabalho...

Eu, mãe, saindo humilhada do mestrado, queria lutar pelo meu sonho... e ainda me cuspiu uma frase: olha, se você passar no doutorado posso ver se consigo uma bolsa pra ti com a minha querida.

Nossa, além de mestre à revelia dos ritos institucionais do patriarcado capitalista, eu agora poderia ser ajudada pelo meu vilão e sua heroína/vício... 

Engoli o choro, qualifiquei, terminei duas disciplinas, te ajudei a construir um evento importante (só para mim), defendi e consegui fechar a porta para você. 

No entanto preciso dizer, vocês sairam em fevereiro, duas semanas depois de você me dizer que queria que eu te beijasse e fizesse amor contigo. Só agora entendo através do contrário do que dizia: ela se parece com você. Isto é, enquanto ela não permitia um beijo, uma intimidade, iria arrancar da vadia que te atende.

Então veio março e um corte digno da fidelidade medieval depois de me deixar dias no vácuo... veio o meu bloqueio.

Abril junto com um desbloqueio, o ponto nonsense... junho e seu conto de fadas estava mágico e eu longe, como você queria (mais que eu).

Maio e o aniversário da minha vida de mãe e você já levando alguns vácuos meus...

Junho e as minhas respostas frias as suas investidas dúbias que hoje eu sei servem pra você mentir sobre o que faz: "eu fui fiel a ela como nunca..." e aquelas mensagens?... "não aconteceu nada..." verdade, eu não cedi.

Julho  e o seu silêncio me fez dar oportunidade para alguém que eu não sabia que era seu amigo... 

Agosto e o meu sonho de ser professora e defender a Hilda de Dionísio... e vc na minha janela e no seu bar.

Setembro e eu mergulhei nas águas de Ariana, mas soube do evento que sempre sonhei participar.

Outubro minha defesa e a descoberta que você estava todo tempo dentro daquele meu sonho o qual fez questão de dizer que estava organizando... molhei a cama do seu amigo falando, chorando, que iria dar tudo de mim para fazer parte, enquanto eu saciava de verdade, dois animais.

Novembro, muitas brigas, alguns encontros, que eu sempre entendia como presentes do destino. Porém você fazia questão de ressaltar que era uma nova fantasia de tentação com a qual eu me vestia para testar teu relacionamento...

Meu Deus, se eu pudesse me revestir de alguma coisa para você... se eu realmente tivesse a chance de ficar vestida diante de você, dos seus olhos, das suas investidas, ao som da sua playlist... eu vestiria a minha roupa de casa, velha, larga, desboatada e te deitaria na minha cama e a gente pela primeira vez sossegaria.

Dezembro, o evento e os desencontros e controvérsias sobre o que as pessoas sabem da gente... se nunca existiu nada.

Janeiro, seu dia, seu mês, sua família, sua mulher, sua esposa... você me disse sem dizer: a escolhida. E ela fez seu papel maravilhosamente, te deu seu maior presente, não parecer um "loser" no dia 11 (que você me disse que era dia 10, mentiu sobre o seu dia de nascimento).

Você me diz que ela pediu um tempo, mas você a quer para sempre. Doeu! E veio descontar sua dor na minha lombar... no meu rosto... no meu ouvido... entrou na minha casa... falou com meu filho... eu e minha mãe cuidamos da lembrança de colo da sua mãe...

E eu não mereço respeito algum quando decido te tirar da minha vida intima e te colocar na vida profissional. Você me jogou no pisão na casa dos homens...

Eu e você, é só sobre isso e mais nada.

Hcqf 17 de março de 2025

Nenhum comentário:

Postar um comentário