sábado, 26 de abril de 2025

Perdi a fome...

 Perdi minha fome, novamente.

Procuro por ela entre o dia e as tardes, entre textos e poemas feridos de morte, desidratados e famintos de amor, enquanto sofro desenganada por um vampiro que não me mata, para consumir das minhas veias o doce vinho regado a cuidado, amizades muito fortes e amores bonitos.

Busco por ela escrevendo as linhas mais tristes que sooam de mim... uma música de versos impuros, mal-cheirosos, como o vômito de um homem gordo a beber por horas, sem se alimentar diante de um dono falido num bar sem futuro, a quem ele roga amizade e prestígio. 

Minha fome tão negligenciada parece que se escondeu atrás de tanta mentira, tanta falta de cuidado, tanto desperdício de tempo...

Depois de uma crise de choro enorme, de vomitar derrotas na lixeira humana mais sórdida que já encontrei pelas ruas sujas da cidade nova...

A fome não foi embora, eu a perdi, está escondida nos escombros dessa conversa sem fio, um paradiálogo desprezível que me atormenta os compromissos,  os sonhos, a playlist, a família...

Sei que é o sinal para correr sem olhar para trás... desviar o olhar, não olhar para baixo, firmar os passos e temendo cair, depois de ter arrebentado o joelho, não parar até encontrar alguém com alma.

Vago em pensamentos que me torturam com um ciúme sem sentido de alguém desaparecido há anos da minha vida...

Ele já me disse que me suga, já me puxou com força, já me segurou dentro de um carro com as pernas para fora, já jogou fora tudo que deixei com ele...

Quero perdê-lo de uma vez.

Es o nosso último encontro... ele fala de filho e fantasias incestuosas, fala de sexo e nunca de amor... Ele me reencontrou no topo e me puxou, com toda a força para baixo.

Já fui de madrugada pagar cerveja, que ele não tomou, num bar frequentado por putas e traficantes - porque ele não se importa por obde vago, se me arrisco...

Fui a uma festa dos seus amigos para pagar a conta do próximo bar e só sai depois de sermos expulsos, para a casa desarrumada e suja depois de pagar a conta, novamente, por nosso deslocamento. 

Ele conta que tinha marcado com mais de uma mulher,  porque eu desmarquei; mas desmarca comigo sem me avisar para ver a amiga amada de anos de cumplicidade, com quem tem planos de fazer academia, um hotel para receber estrangeiros, uma vida com dinheiro - uma mulher linda que gosta do seu estilo alto e rockeiro.

Sabe, preciso ir... 

Aqui experimento o inferno na vida-morte...

Durmo e acordo preocupada com o dia que ele não vai mais me arrastar a peso de mentiras para sua companhia - sem banho, sem dinheiro, sem sonhos, sem noites bem dormidas.

Eu desejo sair daqui... 

Tenho coisas importantes para fazer e estou amarrada pelo pescoço, preste a pular no meio dessa casa sombria, cheia de discos,  livros e mentiras.

Hoje eu quero morrer por conta desse breu horrendo que me afoga no seu corpo, mole, inodoro, corrupto, sem perfume e sem poesia.

Isso porque perdi a esperança de encontrar o amor, depois de tantas noites sentindo gosto de cerveja barata, xixi e suor... buscando um olhar num rosto sem olhos e procurando um toque de lábios numa boca desgostosa.

E isso está acontecendo há dois anos e meio, initerruptamente.

Hcqf 26 de abril de 2025

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