terça-feira, 27 de maio de 2025

Dois jovens distraindo a chuva

 Um casal de homens se beijando em uma estação de ônibus trouxe a lembrança do que não tenho.

Eles se tocavam com suave intimidade até que veio uma cortina, bem forte, trazendo vento frio e água gelada, empurrando os dois amantes para longe dos olhos preconceituosos e/ou saudosos da gente que se escondia da chuva e, de alguma forma, da solidão de não ser aquelas duas almas.

Eram jovens e despretensiosos como suas caricias... não se sabe do quanto puderam ser mais íntimos ou tolos não estando mais vigiados pelos olhos famintos.

Um enlace pela nuca e um beijinho bem rápido abriu um espaço entre aquele pequeno mundo de dois e todos que os invejávamos. 

Fomos levados, devagarinho, à nudez daquele momento. Cada um, sozinho mesmo, estava com calor por estarmos vestidos. Queimamos no inferno dos segundos de solidão, enquanto dois anjos desnudos sentiam o doce vento do paraíso. Paradoxalmente, lembrei de Amy Winehouse em "Tears dry on way own" em que canta: "o céu é uma chama que só os amantes podem ver".

Estive a admirá-los, ainda que não pudesse defender a dignidade do seu encontro. Não queria que nada atrapalhasse, mesmo sabendo que talvez Barulho, Vento e Chuva fossem seus coadjuvantes naquela noite.

E eu, uma simples escritora, tímida diante de uma cena amorosa cotidiana como há muito não experimento... eu procurei na memória alguma última lembrança de um toque assim tão profundo... por não encontrar gastei a pena solitária e distraída a contar o que em fantasia foi sentido.

Hcqf 27 de maio de 2025 - dia de Roberto


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