domingo, 24 de março de 2024

Tons de marrom, cinza e preto...

Esqueceram a janela aberta e eu caí...
Não era bem o que eu queria. Mas a visão na queda me surpreendeu.
Eu vi uma felicidade antiga em tons mais quentes que o preto de sempre.
Tinha dois sorrisos e um olhar de família. Todos já sabiam, quiseram me avisar e eu não dei espaço.
Senti vergonha por todo tempo que não arremessei meu corpo daquela varanda nos primeiros dias, ou do último quarto bagunçado.
A realidade me abateu o ânimo, estou tentando me erguer, mas é tudo escorregadio ainda perto da gaiola.
Parece que um pesadelo me acordou, mas a verdade era pior que o sonho ruim.
Alguns lampejos me ocorrem, como o de que não haverá uma explicação para o que eu sofri e nem resposta para o que me fez viver isso tudo.
Aos poucos sede e fome me alcançam, mas perdi uma perna imaginária, como G.H de Lispector. Só que a minha era uma moleta que eu carregava comigo para me proteger dos obstáculos que tenho enfrentado, para adiar o cuidado com o meu corpo e suas fragilidades, um suporte para toda desculpa para não investir em nos meus sonhos pro futuro, uma moleta de irresponsabilidade, literalmente.
Agora, ainda acostumada a sua serventia, manco diante das obrigações e de algum trabalho de luto.
Ao menos não estou mais presa, na gaiola ou a muleta, embora algumas lembranças eu tenha guardado em cofre, contra a indicação do poeta. 
Assim, distante do sublime da poesia e perto da justeza da realidade, caminho cada vez com menos dificuldade.

Hcqf 25 Março 24 

Nenhum comentário:

Postar um comentário