domingo, 27 de abril de 2025

A-voz favorita

É só o conteúdo que fala de amor, quando o continente não esta tomado.

E depois desses dias... ainda em guerra com meu temperamento, preciso ver teu nome no alto da página, enquanto endereço afetos da veia em escrita....

Desculpa, desculpa e desculpa se eu transbordar é a mais indolente saudade.

Preciso confessar: odeio quando tratamos de veleidades externas: política, cultura geral, epistemologia, ou mesmo os clássicos da filosofia, os cânones da literatura,  as obras-primas da música... Dentre essas maiores riquezas do mundo, o que mais desejo é fazer parte da trivialidade como quando falta água, você perde a carona de volta para casa e eu durmo com muita saudade - como se fossemos dividir o mesmo lençol na madrugada.

Diz a música clichê da minha adolescência: "eu tenho inveja do vento que te toca..." Eu morro de inveja todo exato momento que descubro que qualquer pessoa têm de ti o que não seja brilhante e admirável... pois é isso que encontro nas noites insones que dividimos, porque qualquer um se apaixona por uma estátua ou uma imagem retocada, mas apenas o amor é capaz de sorrir de manhã com fome, antes de um banho, ou um copo d'água... eu fui e sou!

Me perdoa o português, "mal dito", e a confissão, mas os meus maiores tesouros que queria guardar, e mesmo agora, escorrem pela memória à fora, se foram, mas estão num ralho de pai no quarto azul-esverdeado - que me atingiu uma mecha de cabelo; o dia que limpei da sua barba o catchup, enquanto você me dobrou pela primeira de muitas vezes; no mesmo dia que me apresentou sua mãe sem nunca conhecer sua família - tinha uma casa com a vista dos sonhos na varanda, que me levou à praia no meio da urbanidade, me lembrou água mesmo no concreto e eu tirei folga tendo uma reuniao de trabalho; noutro dia depois do segundo bar na mesma noite, um sumiço no banheiro, uma carona desastrada num carro de aplicativo, tudo isso fez parecer que se escreve os destinos a lápis e algumas vezes a ponta quebra e continua com o dedo a brincar com os personagens - naquele dia fomos um filme do Adam Sandler (desculpa o repertório cinematográfico de repetente); tem uma lembrança que eu acho engraçada, mas também é triste: você chora como se estivesse gripado, limpa a lágrima muito rápido e esfrega o nariz cortando o choro e ficando vermelho, toda vez nessa hora eu tenho vontade de te beijar e ficar beijando para você não conseguir impedir as lágrimas de caírem - esse é o destino de ser delas, atravessar dos olhos até molhar o peito e voltar ao útero...

As tantas mulheres, nenhuma me incomoda mais do que as amigas, porque elas são testemunhas de quem é o Bruce, elas são o Alfred: elas te encontram a luz do dia, curam as feridas, eu só vejo as cicatrizes; elas sabem que você sangra, que não é sobrenatural, que não tem um superpoder (além da inteligência e perspicácia), que o dinheiro é a matéria-prima da capa e os acessórios que você USA, mas se pudesse trocaria uma casa enorme em um condomínio no bairro nobre, qualquer herança do sobrenome paterno, por um tempo olhando os olhos, admirando as mãos que te acalantaram e escreveram um livro ao longo dos dias nos quais esteve contigo, para assim ver de perto a boca e escutar cada palavra na voz inesquecível que seu ouvido absoluto busca nas melhores músicas do mundo. Ver o corpo da sua mãe pela última vez.

Escrever, ler, escutar música tudo isso é sobre colo, mas sem Ela é sobre Você... eu sei que trocaria de sobrenome e até o primeiro nome, ou de endereço, caso fosse para reencontrar a mulher que mais te amou antes e depois da vida e vai dar nome a sua futura cantora favorita.

Tem outras histórias engraçadas e constrangedoras, que são as que eu mais gosto, pois foram os dias que me senti menos por fora, mais amiga, mais íntima que quando a gente namora na cama.

Uma única vez, para sempre, encontrei nos versos de Antonio Cicero um poema não sobre GUARDAR, mas sobre medo de ESQUECER e na mesma hora escuto o sentido de PERDER... e só então chego ao trecho sobre publicar... E assim me tomou esse sentido...

 Quer dizer: nós vamos perder as cosias mesmo depois de olhá-las, fitá-las, iluminá-las e sermos iluminados por elas... é a presteza do sonho dar sentido ao escuro, sonhar com o que ficou guardado do amor e acordar para amar um reencontro em cada pequeno pedaço que restou. É o que chamamos de memória: os restos mortais de quem ainda vive pensamento à fora.

 Dá pra entender tamanha dor, não é? Como conseguir estar acordado sem esses guardados para existir com amor?

Não posso mensurar o que sente um poeta, sou feita de carne e memória dolorida, fiz disso meu ninho despedaçado, que costurei/teci/narrei pedaço-a-pedaço com a linha(gem) da minha avó(z) materna (de mãe e de pai) e literatura. 

De uma sempre saudade de alguém,

Hcqf 29 de abril de 2025


sábado, 26 de abril de 2025

Perdi a fome...

 Perdi minha fome, novamente.

Procuro por ela entre o dia e as tardes, entre textos e poemas feridos de morte, desidratados e famintos de amor, enquanto sofro desenganada por um vampiro que não me mata, para consumir das minhas veias o doce vinho regado a cuidado, amizades muito fortes e amores bonitos.

Busco por ela escrevendo as linhas mais tristes que sooam de mim... uma música de versos impuros, mal-cheirosos, como o vômito de um homem gordo a beber por horas, sem se alimentar diante de um dono falido num bar sem futuro, a quem ele roga amizade e prestígio. 

Minha fome tão negligenciada parece que se escondeu atrás de tanta mentira, tanta falta de cuidado, tanto desperdício de tempo...

Depois de uma crise de choro enorme, de vomitar derrotas na lixeira humana mais sórdida que já encontrei pelas ruas sujas da cidade nova...

A fome não foi embora, eu a perdi, está escondida nos escombros dessa conversa sem fio, um paradiálogo desprezível que me atormenta os compromissos,  os sonhos, a playlist, a família...

Sei que é o sinal para correr sem olhar para trás... desviar o olhar, não olhar para baixo, firmar os passos e temendo cair, depois de ter arrebentado o joelho, não parar até encontrar alguém com alma.

Vago em pensamentos que me torturam com um ciúme sem sentido de alguém desaparecido há anos da minha vida...

Ele já me disse que me suga, já me puxou com força, já me segurou dentro de um carro com as pernas para fora, já jogou fora tudo que deixei com ele...

Quero perdê-lo de uma vez.

Es o nosso último encontro... ele fala de filho e fantasias incestuosas, fala de sexo e nunca de amor... Ele me reencontrou no topo e me puxou, com toda a força para baixo.

Já fui de madrugada pagar cerveja, que ele não tomou, num bar frequentado por putas e traficantes - porque ele não se importa por obde vago, se me arrisco...

Fui a uma festa dos seus amigos para pagar a conta do próximo bar e só sai depois de sermos expulsos, para a casa desarrumada e suja depois de pagar a conta, novamente, por nosso deslocamento. 

Ele conta que tinha marcado com mais de uma mulher,  porque eu desmarquei; mas desmarca comigo sem me avisar para ver a amiga amada de anos de cumplicidade, com quem tem planos de fazer academia, um hotel para receber estrangeiros, uma vida com dinheiro - uma mulher linda que gosta do seu estilo alto e rockeiro.

Sabe, preciso ir... 

Aqui experimento o inferno na vida-morte...

Durmo e acordo preocupada com o dia que ele não vai mais me arrastar a peso de mentiras para sua companhia - sem banho, sem dinheiro, sem sonhos, sem noites bem dormidas.

Eu desejo sair daqui... 

Tenho coisas importantes para fazer e estou amarrada pelo pescoço, preste a pular no meio dessa casa sombria, cheia de discos,  livros e mentiras.

Hoje eu quero morrer por conta desse breu horrendo que me afoga no seu corpo, mole, inodoro, corrupto, sem perfume e sem poesia.

Isso porque perdi a esperança de encontrar o amor, depois de tantas noites sentindo gosto de cerveja barata, xixi e suor... buscando um olhar num rosto sem olhos e procurando um toque de lábios numa boca desgostosa.

E isso está acontecendo há dois anos e meio, initerruptamente.

Hcqf 26 de abril de 2025

quinta-feira, 24 de abril de 2025

 A escrita me acolheu, diante do indispensável... talvez hoje seja o dia, que ele irá recebe-lá onde mora.

Mesmo sabendo que ele quer de si o melhor para ela, por isso o futuro... sinto/sei que pode acontecer dela aceita-lo do seu jeito... foi o que eu fiz e não fui a única, nunca seria.

Ela alva como suas musas, magra como suas fantasias, madura como nos seus sonhos, ruiva como as cantoras que admira.

Mais uma outra mulher...

A questão em mim é que a repetição sou eu, o excesso sou eu, o que precisa ser escondido, retirado,  desfeito está em mim...

Preciso escapar dessa falta comigo... dessa luta por nada...

Faz tempo que não somos mais o que já fomos... seria bom se não fosse outro fim...

A voz serena, o pouco álcool, a risada sem graça e eu sei, a figurinha jamais seria compartilhada se eu não estivesse ali, implorando a presença dele.

Deixa ir...

Hcqf 24 de abril de 2025

 Eu sou menos complexa que a histeria freudiana...

Não dá para conversar diante de uma pilha de livros...

Não sei o que fiz, enquanto estava na sua cama... 

Com certeza estava sozinha, como quando  sentada em uma biblioteca com o livro aberto escuto o fantasma e vislumbro a morte do autor.

Hcqf 24 de abril de 2025

Um sonho de porta aberta

 Sempre pensei que um dia a corda ia arrebentar... 

Ia ser da parte dele, só poderia... 

Ia chover como "nos campos de Cachoeira" em Belém ou Ananindeuano Pará... 

Ia doer muito, muito e demais...

Nunca imaginei que eu estaria lúcida no dia... Algum tanto de álcool existiria para ser totalmente coerente,  sabe?

Não pensei que o céu estaria limpo e fosse quase festejo junino... quase tempo de quadrilha... quase o famoso dia do balão de coração vermelho ("dos seus olhos... ", diz a canção).

Não, não mesmo, que eu me retiraria sem pretensão... alguma tácita pergunta, costumeiramente, mal respondida... 

Ele, alguém,  ninguém e minhas inquietações... todo mundo lá... menos a esperança,  morta, pela última/única vez...

Por mais que minha previsão se perca... que ele não tenha mais esse outro alguém,  não quero mais esse trisal - ele, a madrugada e eu.

Ele sempre beijando a minha sombra, quando na realidade, eu sou a própria sobra que ele esconde no escuro pela madrugada,  nas ruas que ele sabe que não deve frequentar...

Lugares escuros pelos quais vago, correndo perigo, para ser escondida atrás de outra mulher...

Mulheres mais elegantes, mais sérias... com quem ele troca confidencias e assuntos sobre o cotidiano (mesmo falando comigo em meio ao trabalho), sobre futuro (o que nunca me ofereceu, de fato), sobre viver melhor (guardando para mim a convivência com seus piores vícios amorosos, sexuais, comportamentais...).

Quero ir embora desse lugar, onde eu experimento meus piores pesadelos, no qual enceno papéis desagradáveis e constrangedores...

Deitando em camas desarrumados que não merecem sequer um lençol diante do sereno que atinge meu corpo pequeno, magro e sem saúde...

Sinto frio, vergonha, me sinto suja e quase sempre choro no vazio que me aguarda quando ele vira pro lado e simplesmente morre/dorme....

Já saí desse lugar, várias vezes, sem ser notada. As vezes são dias, meses, nunca menos que horas para chegar a primeira notificação de vida... exatamente assim, como se eu nunca tivesse estado lá.

E é assim, exatamente assim, que acontece a partida... como passar na frente de uma casa muito bonita... olhar pela janela e ver a ceia na sala de jantar... sentir vontade de comer algo na mesa... passar pela porta, entreaberta, e ficar com esse desejo (fome/home, sede, perfume) guardado bem fundo, enquanto atravessa a rua para pegar o ônibus lotado e voltar pra própria vida e suas preocupações, obrigações, mas também sonhos...

Eu venho construindo essa casa com o amor da minha vida e procuro alguém que construa a porta capaz de proteger nossos sonhos e encerrar essa espera.

Hcqf 24 de abril de 2025 - depois da Páscoa 

quarta-feira, 16 de abril de 2025

 -o que aconteceu?

- nada (como sempre).

- como assim? Não estão se falando?

- como sempre.

- mas o que é isso?

- é um jeito de dar errado rsrs.

- ah, então?

- nada.

- E o que houve naquele tempo?

- oportunidade e só.

- mas oportunidade pra o quê?

- pra fugir da rotina, dos pensamentos...

- aaah, amizade, é isso?

- menos que isso.

- Nossa, muito difícil de entender. 

- de digerir também. 

- que pena!

Hcqf 16 abril de 2025


sábado, 5 de abril de 2025

Landeslide

 Eu queria ele pra mim

Quis muito

Quis sim

Queria ele e seus problemas

Suas dores

Seus defeitos

Tive uma coragem desproporcional para ser intima de muito sofrimento

Recebi humilhação e vergonha

E mesmo alerta dos prejuízos de se fazer remédio... corri direto pro nada.

Acabou... comigo.

Destruiu tudo.

Nao sei mais o que é amor.

Hcqf 05 de abril de 2025

terça-feira, 1 de abril de 2025

 Não tenho o que dizer

Mas preciso representar o nó engasgando minhas palavras...

Hcqf 01 de abril