É só o conteúdo que fala de amor, quando o continente não esta tomado.
E depois desses dias... ainda em guerra com meu temperamento, preciso ver teu nome no alto da página, enquanto endereço afetos da veia em escrita....
Desculpa, desculpa e desculpa se eu transbordar é a mais indolente saudade.
Preciso confessar: odeio quando tratamos de veleidades externas: política, cultura geral, epistemologia, ou mesmo os clássicos da filosofia, os cânones da literatura, as obras-primas da música... Dentre essas maiores riquezas do mundo, o que mais desejo é fazer parte da trivialidade como quando falta água, você perde a carona de volta para casa e eu durmo com muita saudade - como se fossemos dividir o mesmo lençol na madrugada.
Diz a música clichê da minha adolescência: "eu tenho inveja do vento que te toca..." Eu morro de inveja todo exato momento que descubro que qualquer pessoa têm de ti o que não seja brilhante e admirável... pois é isso que encontro nas noites insones que dividimos, porque qualquer um se apaixona por uma estátua ou uma imagem retocada, mas apenas o amor é capaz de sorrir de manhã com fome, antes de um banho, ou um copo d'água... eu fui e sou!
Me perdoa o português, "mal dito", e a confissão, mas os meus maiores tesouros que queria guardar, e mesmo agora, escorrem pela memória à fora, se foram, mas estão num ralho de pai no quarto azul-esverdeado - que me atingiu uma mecha de cabelo; o dia que limpei da sua barba o catchup, enquanto você me dobrou pela primeira de muitas vezes; no mesmo dia que me apresentou sua mãe sem nunca conhecer sua família - tinha uma casa com a vista dos sonhos na varanda, que me levou à praia no meio da urbanidade, me lembrou água mesmo no concreto e eu tirei folga tendo uma reuniao de trabalho; noutro dia depois do segundo bar na mesma noite, um sumiço no banheiro, uma carona desastrada num carro de aplicativo, tudo isso fez parecer que se escreve os destinos a lápis e algumas vezes a ponta quebra e continua com o dedo a brincar com os personagens - naquele dia fomos um filme do Adam Sandler (desculpa o repertório cinematográfico de repetente); tem uma lembrança que eu acho engraçada, mas também é triste: você chora como se estivesse gripado, limpa a lágrima muito rápido e esfrega o nariz cortando o choro e ficando vermelho, toda vez nessa hora eu tenho vontade de te beijar e ficar beijando para você não conseguir impedir as lágrimas de caírem - esse é o destino de ser delas, atravessar dos olhos até molhar o peito e voltar ao útero...
As tantas mulheres, nenhuma me incomoda mais do que as amigas, porque elas são testemunhas de quem é o Bruce, elas são o Alfred: elas te encontram a luz do dia, curam as feridas, eu só vejo as cicatrizes; elas sabem que você sangra, que não é sobrenatural, que não tem um superpoder (além da inteligência e perspicácia), que o dinheiro é a matéria-prima da capa e os acessórios que você USA, mas se pudesse trocaria uma casa enorme em um condomínio no bairro nobre, qualquer herança do sobrenome paterno, por um tempo olhando os olhos, admirando as mãos que te acalantaram e escreveram um livro ao longo dos dias nos quais esteve contigo, para assim ver de perto a boca e escutar cada palavra na voz inesquecível que seu ouvido absoluto busca nas melhores músicas do mundo. Ver o corpo da sua mãe pela última vez.
Escrever, ler, escutar música tudo isso é sobre colo, mas sem Ela é sobre Você... eu sei que trocaria de sobrenome e até o primeiro nome, ou de endereço, caso fosse para reencontrar a mulher que mais te amou antes e depois da vida e vai dar nome a sua futura cantora favorita.
Tem outras histórias engraçadas e constrangedoras, que são as que eu mais gosto, pois foram os dias que me senti menos por fora, mais amiga, mais íntima que quando a gente namora na cama.
Uma única vez, para sempre, encontrei nos versos de Antonio Cicero um poema não sobre GUARDAR, mas sobre medo de ESQUECER e na mesma hora escuto o sentido de PERDER... e só então chego ao trecho sobre publicar... E assim me tomou esse sentido...
Quer dizer: nós vamos perder as cosias mesmo depois de olhá-las, fitá-las, iluminá-las e sermos iluminados por elas... é a presteza do sonho dar sentido ao escuro, sonhar com o que ficou guardado do amor e acordar para amar um reencontro em cada pequeno pedaço que restou. É o que chamamos de memória: os restos mortais de quem ainda vive pensamento à fora.
Dá pra entender tamanha dor, não é? Como conseguir estar acordado sem esses guardados para existir com amor?
Não posso mensurar o que sente um poeta, sou feita de carne e memória dolorida, fiz disso meu ninho despedaçado, que costurei/teci/narrei pedaço-a-pedaço com a linha(gem) da minha avó(z) materna (de mãe e de pai) e literatura.
De uma sempre saudade de alguém,
Hcqf 29 de abril de 2025