quinta-feira, 12 de maio de 2022

Em cruz ilhada

 Com um mundo inteiro pra desagradar, eu desagrado quem eu preciso ficar mais perto.

Aquele perto diferente, que não é uma decisão, mas uma constatação: de repente existe um cisco no olho, que coça, que arde e parece que vai comprometer a visão...

São formas difíceis de metaforizar sem correr o risco(cisco) de se abrir pro temor...

É aterrorizante estar diante de alguém, onde quer que você esteja, quando a voz, o olhar, a imagem da pessoa invade seu pensamento... 

Tem alguma lógica,  mas é tão difícil de entender, as conversas se passam dentro de desentendimentos. 

É claro, que você deseja ser entendido e deseja entender, alguma parte daquele envolvimento precisa parar, para que....

Paro aqui!

Estou sentindo a cabeça rodar, dei voltas e voltas, agorinha....

Eu já sou ignorada, faz algum tempo... Não tem olhares, não tem cumprimentos...

Alguma coincidência me deixa embaraçada, desses embaraços que ferem, atingem em cheio a auto-imagem: nessa hora sou infeliz por uma eternidade,  independente das batidas do relógio(coração)...

Estamos em meio aos meus amigos, eu na verdade estou num buraco escuro, sorrindo a angústia do solitário, esperando a morte ou a dor, preferindo a luz do dia, que esqueceu pelo medo e o frio(freio)...

Uma troca rápida de palavras, e um pequeno mal-entendido, é tudo que conseguimos trocar: farpas.

E a dialética do desperdício continua...

O que poderia ser o último dia, poderia ser... e não seria de fato, porque eu jamais saberia... 

Esse desencontro ganha o contorno do que significa: nada. Estou do lado de fora e isso é o ponto de basta, aquele ponto em que o outro foi embora e não sabe como explicar as poucas coisas que esqueceu e que não lhe fazem falta.

Alguma coisa ficou pra trás? Se ficou o outro não sabe.

Mas era até interessante, parecia fazer sentido... mas ficou?

Ah, então,  não tinha.

Uma mala que a companhia aérea desembarcou no destino errado: a mala, objeto inanimado, é incapaz de reconhecer que a vida lhe "pregou uma peça", e que talvez até poderia refazer seu destino, como em um "golpe de sorte" poder tes'atar um nó e seguir um novo caminho...

Mas é um mero objeto, o viajante mesmo, seguiu e tentará, por um tempo, reaver a coisa perdida... de nada vai adiantar... Cumprira sua missão: acompanhar um sonhador e não seu sonho.

Quem segura a mão para levantar alguém depois de uma queda, não está ali por acaso e nem fica pra trás por coincidência. São trechos distantes da mesma estrada: paradas obrigatórias para quem encontra e para quem vai embora.

- Diga adeus! Exclama o vento a açoitar a alma solitária.

O que anima a outra vida, por dentro, não consigo escutar. Senão...Se sim, na verdade, eu seria a próxima em queda à espera desalentada de um colo.

Que na próxima em-cruz-ilhada, eu aprenda a apreciar as belezas de uma ilha deserta.

Hcqf, 12 de maio de 2022.

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