Como quem esquece um quadro depois que prende na parede e nunca mais se encanta com ele. Um dia encontra debaixo de muita poeira uma tal paisagem esquecida... E nada faz sentido a não ser limpá-la e devolver a outro cômodo da casa, para mais alguns anos sendo visitada pelo vento e os fantasmas.
Espreita meu sorriso, alguma mudança estética, meus objetivos e qualquer coisa que me mantenha sufocada, sem respirar, sem viver...
Como poderia a louça fugir da pia?
Que absurdo um animal doméstico ir além das fronteiras do pátio...
Ah, as flores... as flores não caminham, suas raízes prendem-nas ao cantinho mais bonito do jardim até a última pétala.
E está nas suas profundezas a resposta: nem louça, nem quadro; nem cachorro ou gato; nem vaso, ou tampa de nenhuma panela...
Penas... de voar, escrever, acarinhar a tez que serena diante de alguma delicadeza. Como sentir o pouso de uma borboleta, ou observar o voo de um beija-flor enquanto mata sua sede sem prejudicar a flor.
Como é delicado fugir de uma gaiola... O pássaro olha ao redor, belisca alguma semente para ajudar na viagem... Espera qualquer distração dos olhos que o vigiam vidrados em suas cores e sussurros... E é preciso renunciar a vaidade de seduzir e abrir mão de migalhas de atenção, para em fim descobrir que pode criar algo mais bonito que um canto dolorido e uma beleza ferida.
Descobre o voo e deseja nunca mais estar preso em um coração vaidoso.
Livre se encanta com o mundo pela primeira vez.
HCQF 17 de julho de 2025
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