domingo, 22 de dezembro de 2024

 Fala comigo, por favor.

Dói minha alma, eu fico ranzinza, acinzentada...

Me chama, me chama...

Você tem uma chave que capota minha caixa torácica... Volta, por favor, eu imploro!

Não disse que não te quero... Eu disse que não me quero, sem você.

Eu disse que te amo, sem dizer... Eu cantei, certas coisas, quando você me ligou naquela madrugada...

Era o meu coração dizendo através de você...

Me entende....

Me atende!

HCQF 9 dez 2023

sábado, 21 de dezembro de 2024

Feliz ano velho

 Quando um quer e o outro não quer, é teimosia.

Um queima e o outro esfria, amizade.

Quando um teima e o outro treme, é injustiça.

Nenhum dos dois persiste, então nunca existiu algo.

Quando só um escreve, o outro responde por inércia.

Quando a janela silencia... Faz sentido.

Hcqf 21 de dezembro 2024

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Chove em janeiro dentro de mim

 Primeiro você começa a me rodear como quem se prepara para dar o bote...

Depois eu piso no de propósito em uma armadilha para te encontrar.

Você não aparece, eu caio em uma prisão,mal feita.

Outro predador me espreita e me encontra enjaulada.

Ao se aproveitar, talvez por querer, também me liberta de você...

Nos perdemos novamente.

Mas Ao te rever, brigas e mais desencontros.

E você disse que a boca nega o que o coração quer dizer.

Mas os atos nos atravessam.

Eu te sinto chegar perto e esquivo, por reflexo.

Nossos olhos se repelem até que você escurece a face inteira, quando te encontro desprevenido me olhando sério.

Você estava com sono, eu constrangida.

Você havia dito pra uma platéia: "não esqueci". Mas eu sei que quando afirma, mente pra mim.

Mais umas tentativas de me dizer alguma coisa, eu não levanto a cabeça, você sempre fala comigo e com todos à mesa...

Se refere a mim, pra se despedir, primeiro.

Eu vejo o que você faz e como decide ir embora se justificando que faz toda diferença "dormir 10 minutinhos".

A chuva forte e fria me faz rir e gritar de frio.

 Você se aproxima e eu penso na sua blusa e na sua casa, mas ando duas casas pra frente no tabuleiro. Fico entre as pessoas e você pra trás no frio, na chuva.

Chove muito, muito e mais...

Entramos no carro: todo mundo ali dentro tem alguém, menos eu.

Na verdade sai do carro quando alguém vi que todos sabem da sua namorada.

Nada aconteceu! 

Nada, nem antes, nem agora.

Eu tomei banho, dormi bem e eu continuo chovendo frio.

11 de dezembro (janeiro) de 2024.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O misterioso interior de uma concha

A música diz: "A concha vazia parece fácil de quebrar...".

 Eu que só vejo a pérola, escura e rara, não entendo o porquê de ter se fixado só no seu brilho escuro. 

Não dá para ver o feitiço da primeira visada, a qual nunca abandona o ser olhado, tornando misteriosa qualquer pequena porção de estrela.

Insisto no que enfeitiça na concha, mesmo invadida pelas ondas, e ressalto: "parece que a água é uma ameaça que pode roubar seu pequeno mistério, no entanto a concha tem seu en-canto: foi quem o viu primeiro".

Talvez seja indesvendável essa primeira mirada do dia que foi visto por inteiro.

Uma mágica que envolve em um perolado o grão de areia.

Um dos mais lindos presentes escondidos na poeira. 

Secretamente abrigado no mais íntimo br-eu.

Mas se é escuro pode ser confundido com o nada, quando a ambição de enxergar algum lucro naquele pedaço da galáxia, cega para o entorno.

 Tem mais vazio que pérola na concha. Tem também mais perigos em volta, do que lá no fundo onde é acolhida.

É isso que a concha esconde do destino no mundo: a profundeza do primeiro colo e o olhar sob esse abrigo.

É quente e infinito pertencer também ao outro.

PS: porque escuto as pausas no que você diz e escrevo em poemas segredos.

HCQF, 25 d novembro, 2024.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Não faz essa falta não
que a distância de ti
faz um vazio desses de doer quando chove

não faz esse silêncio
que a tua voz fica mais alta
eu escuto gritos dentro do meu peito

não faz assim
o tempo é curto quando você vem
e infinito longe de ti

hcqf 4 de novembro de 2024

Coisas sobre te dizer

 Quando você vem

Começa a arar uma parte do meu território 

Como se fosse plantar algo

Alguns sementes são lançadas 

Ainda que não onde a terra foi arada


As que caem, ao acaso, em espaços adequados

Germinam assuntos que se fortalecem

Porém há aquelas que se depositam como lixo

Ficam amontoadas até dificultar o fluxo vital na região 

Com essas tenho um trabalho dobrado

Seleciono algumas para tentar resgatá-las do destino desnecessário que lhes coube

Outras permitem reciclar alguma moção sádica 

Incinero como dejetos nossos

E a fumaça nubla meus olhos por algum tempo


De suas idas e vindas tenho acumulados esses nossos vazios

E alguns buracos mais profundos tenho guardado para não escolher ceder de sede

Nesses pequenos oasis as vezes me embebedo qual champanhe 


De tantos buracos entre as mensagens e os encontros 

Tenho aprendido a cultivar um recanto

Ainda não passamos nenhuma primavera juntos

Eu, você e meus sonhos

Embora o verão tenha sido muito quente 

No outono quase te esqueci

E o inverno está muito longo

Hcqf 4 de novb 24


sábado, 2 de novembro de 2024

Escrever de novo

Você diz que sou um motivo pra fazer terapia 
Uma luta contra algo que você na verdade não quer
Um sintoma de fraqueza moral, astral, espiritual...
 Uma depressão no seu caráter que te faz querer o que te faz sofrer e também quem você ama...
Me procura junto a várias garrafas de álcool 
Depois da sua melhor companhia desistir 
Cuspindo mentiras românticas indizíveis e constrangedoras...
Eu tava lá 
Você não 
Seus olhos olhando pra mim
E eu vendo o abismo
Entre nós...
Que falta você me faz.
Hcqf 02 de novembro de 2024

domingo, 27 de outubro de 2024

um verde indizível

ser tocado/amado por alguém...
Quando o verde se encontra comigo, há poucos metros de distancia entre nós...
salto para longe
não retorno mais

seu olho insiste na minha escuridão
sua luz ilumina um constrangimento 
não nos encontraríamos, estava escrito
minha teimosia nos apresentou
falando de destino

lá onde ninguém escuta
te conto intimidades
no encontro, você está ficando velho
e eu mais menina
sim, é sobre complexos de família
você, sua doutrina
eu, minha autoestima

ontem falei de você
e libertei mais de um ano de lágrimas sofridas
não era sobre estar acompanhada
mas acompanhei a degradação de alguém

ele não estava lá
você está e eu também
veio depois de uma eterna paixão, de um ex-amor
os desencontros e seus olhos
verdes e azul como o horizonte
e eu vi o que havia além da tempestade no convés do navio

a praia,
um padre,
proteção,
e eu voltei para casa segura.

HCQF, 27 de outubro 2024

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Não sei...

Nunca sou a mais eloquente, nunca a mais ovacionada, não recebi prêmio, tudo que conquistei é jogado na minha cara. Lutei pra ser feliz e me questiono porque não me entrego para essas porradas que levo, problemas de gente pequena: ser humilhada, ser limitada, ter seus sonhos manchados e sofrer com agressões verbais. Por que insisto em mim?

Desde quando escolhi a psicologia, sabia que não ia fazer por fazer, não entraria por cerificado. Mesmo a UEPA que não atuo na pedagogia, eu conheci cada canto da universidade, seus funcionários, seus eventos, nossos professores, suas histórias...

Eu me apaixono pelo que faço, porque tenho gosto pelo que sou. De alguma forma, sinto vontade de mim, quero ser eu, quero ser como sou e ver onde chego. Não me abati pelo tempo ou por não haver honraria. Só caminho e me cuido agora não mais só por mim.

Os amores são um capítulo que tem me abatido fisicamente: um enorme preguiçoso sujo me deixou moribunda de saudade pelo que nunca me prometeu (sou muito pequena pra ele, não sei inglês); o outro teve comigo uma intimidade mas não consegue sustentar o que sente e nesse caso eu também constatei que ele era pouco pra tudo de demanda que existe na minha vida...

Mas o meu maior desatino amoroso é o meu mais íntimo objeto de desejo. Uma ilusão sem perdão, que eu ficciono ter conquistado com a minha "sinceridade". Não pode ser, ele tem sim critérios que os outros já me impuseram, porque na vida dele alguém como eu limpa o banheiro pro filho entrar na faculdade, que é o lugar pra onde as mulheres me jogam, um lugar menor e desvalido onde elas se enxergam.

Eu sei, porque fugi de lá ainda criança, quando decidi sonhar uma vida bonita pra minha boneca. Eu embonecava a nossa vida e me prometia que seria o melhor que pudesse pra mim. Procuro esse melhor nos objetos que escolho, e quando não são, eu imagino, mas quando eles são, os outros não enxergam a beleza que eu lapidei em mim. 

Um sonho vem chegando em meio a uma busca de encerrar um ciclo e eu percebo que meu estilo chega antes do que escrevo, e eu sou muitas vezes antes discriminada antes de ser lida, porque meu trabalho é tomado pelo que eu sou e isso é a minha força.

Meu filho é livre, cheio de vida, dizem que se parece com todos da minha família, mas na verdade é a minha cara e tem meu jeito: inteligente, firme, sério quando precisa ser e muito autêntico. Eu deixo ele ser e ele se vê e se sustenta. 

Isso porque eu não quero ter que permitir, eu apenas levo comigo o que carrego e só o que carrego sem aguentar peso dos outros: mágoas do meu pai, dividas com a minha mãe, alegações da minha irmã. Nada disso é meu, então, fica de fora... Eu devagar, e humildemente, me sinto e me cuido como sou.

Explico, vivo e me cuido. Amo viver como sou e gostaria de encontrar alguém que se ama e respeita quem é assim. Sendo o que eu sou, tenho encontrado a margem das conveniências e a face obscura das pessoas e algumas vezes esse é o lado mais bonito, como a noite permite enxergar o brilho das estrelas.

Eu amo estrelar, mas sou a coadjuvante, que não brilha, mas que vive seu papel com maestria, que é onde quero chegar: desejo ser mestre, surpreendentemente, no que eu lutei para chegar na psicologia. E que outros sonhos me alcancem, porque eu desejo mesmo é continuar sonh-ando e se for possível, no meio do caminho, amar alguém que ame a vida, pra me ajudar a ser mais leve.

Hcqf 25 de agosto lançamento do 1o livro tecituras

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Escuro e íntimo

Você olha e pergunta se alguém quer carona... Eu aceno com a cabeça, mordendo os lábios... Quero dizer que aceito até ir pro inferno do seu lado... Mas recuso, sem acreditar, que aquele verde encostou no castanho do meu olhar.

Um dia desses sem aceitar, digo que vou para longe... Isso pra entender se é um convite ou um desejo, o que ao demorar nos meus, seus olhos escondem.

Imagino que ao sentar atrás, enxergue a bagunça da vida, nos detalhes, enquanto a velocidade aumenta e eu fico sem saber como dizer e mesmo assim digo.

Mas espero que sua gentileza conquiste algumas horas conversando a sós, há poucos centímetros de você.

O que será que eu diria? Se, então, dissesse que precisa pegar algo em casa.antes de me conduzir ao meu destino...

Eu fantasio as suas perguntas ficarem mais íntimas e sua voz mais divertida... também me encontro mais distraída e envolvida a correspondê-lo.

E se você, de fato me chamar para entrar, pegar um livro, ver sua biblioteca, correr algum risco de parecer atraída?

Espero por isso sempre, toda noite...
Espero que sua estante seja longa e esteja repleta para se fazer tocar...

Quero que a luz seja pouca na sua casa e ao entrar, enquanto uma se acende a outra permita a noite nos acompanhar nos outros cômodos.

Que eu possa escolher algum título, mas também arriscar uma taça, de vinho, para oferecer a Dionísio - em sacrifício do meu, sempre, esperado medo de conquistar meu desejo.

Que você venha cada vez mais perto, devagar, olhando comigo os detalhes, em textura, conteúdo e forma dos seus livros.

Que a sua voz fique cada vez mais baixa e ofegante, e se aproxime do meu ouvido, para não escapar o instante-limite entre seu rosto e meu sorriso.

Desejo sentir um frio de desespero, das minhas imperfeições se pronunciarem do toque mais delicado ao mais constante.

Desejo perceber a sua altura ganhar simplicidade ao jogar o terno para o lado e então abrace minha pequenez, já entregue.

Que um laço nos envolva da boca aos pés. E ao curvar seu corpo, seja leve e intenso nosso toque.

E que eu não veja mais nada, nem ao menos o verde em seu rosto. A noite penetre a minha'alma e adormeça o barulho, o relógio e o medo de acordar.

E desça pelo pescoço um frio, úmido e envolvente, e as mãos se entrecruzem a cima e a baixo da gente. 

De perto, bem de perto, sua voz doce e eloquente, sussurre, peça - até que nada mais seja possível dizer sem gemer.

Nem sua alta presença iluminada seja capaz de quebrar o escuro do seu quarto.
Nem a minha alva tez inteira seja capaz de clarear a intimidade nessas horas perdidas em chama vida.

"Hoje sonhando acordada dormi com você".

Hcqf 15 de agosto de 2024

terça-feira, 30 de julho de 2024

Conversa intinerante

Eu espero tão pouco de você...
E não queria isso. 
A simplicidade na nossa entrega quase me desacostumou dos sofisticados jogos nos romances fúlgazes.
Queria não estar tão alerta como estou, depois de aproximadamente um ano no breu. Porém desacostumei a luz, em vigília constante, desaprendo paulatinamente a pegar caminhos mais bonitos para estar com alguém.
Achei que tinha encontrado um lugar desses em você, só que não... Desde o pronome de tratamento escolhido até seu súbito afastamento, nada novo, nada que eu não tivesse visto antes e então tudo novamente...
Tenho compartilhado a intimidade de meus vilões, passeei em suas angústias, faço companhia em seus constrangimentos... Tudo tão assombrosamente pessoal, mesmo tendo outras pessoas sempre, que estou a ponto de acreditar que os relacionamentos são ficções recontadas mil vezes para virarem verdade.
Não gosto de pensar assim...
A verdade e o amor sempre pareceram luz e sombra para mim... Distintos, mas relacionados. Nada de um sem o outro.
Contudo, tenho esperado amor em figuras míticas, que não compartilham da mesma realidade que eu. Na mesma hora, dividindo o mesmo teto, somos parte de um cenário sempre muito constrangedor, ainda que eu não faça dele qualquer ideia antes de chegar e partilhar a mesa, o pão e a cama.
Sempre uma refeição com alguém que se satisfaz e me deixa na miséria, não pelo que acontece mas pelo que não cumpre, mesmo em cena.
Ainda tem isso, sou a figurante de atores mal pagos e que se empenham muito pouco no papel, isto é, ou dão pouco de si para o enlace físico, ou não se preocupam em como me satisfazer.
São tão pouco e me dão menos ainda...
"E o amor é tão longe..." canta Bethânia na canção de Pedro Abrunhosa.

Hcqf 30 de julho 2024

domingo, 28 de julho de 2024

Do saber-sentir ao sentir-saber

 Aaah, como eu adoraria te encontrar... Receber um convite, por certo, mas até mesmo convidar...

Queria muito dizer "sim" para qualquer hora e lugar, queria demais suspirar cada mínimo detalhe ao me arrumar para ti.
Mas não devo!
Vivemos um reencontro avassalador como foi nosso primeiro beijo. Tudo some quando meu corpo responde ao abraço-laço-chamado da tua pele. 
Eu me viro e meu corpo gruda no seu tronco, eu me re-viro e mergulho mais fundo no seu cheiro, no seu ombro, no seu rosto e ao des-virar dentro do sonho nas profundezas da gente, acordo/encontro sua boca e o meu corpo entra na mais frenética dança até que o mundo desliga e eu descanso.
Como é difícil não lembrar... enquanto escolho uma palavra, chegam inúmeras lembranças e eu recolho gotas de saliva, suor, lubrificação e desejo a lágrima mais sincera a escorrer pela saudade que estou agora...
Mas não posso!
Não dá pra viver tudo isso a sós...
Você está lá, mas tá com medo. Entrega sorrisos, desejos, músicas e doces elogios... Embora não tenha intenção de permanecer, mesmo querendo que eu fique.
Ficar, esse é o termo tão popular, quanto a trivialidade animal da cópula.
 É só sobre me ter?
Não sei, não consigo racionalizar a sua presença. O que sinto-sei é que me envolve como areia presa ao corpo molhado depois de alguns mergulhos nas águas doces ou salgadas da vida.
Como vou dizer que sim, ou chamá-lo, como eu quero? Me diz, como? 
Quando o que eu sei-sinto-sabe que você recusa permanência.
Não tenho tempo para mensagens simultâneas e frequentes... Ainda que desejasse os elogios que você devota quando envia uma mensagem, ou quando encontra minha orelha na cama.
Vamos sim, eu espero ter maturidade, para lhe encontrar noutra oportunidade, que eu não possa correr o risco enorme de te fazer fecundo.
Precisamos de encontros furtivos, testar se o nosso encanto, quando estamos juntos, não é uma vaidade sua de sempre ganhar um jogo.
Talvez nos rever na brincadeira em grupo... Onde eu possa te enxergar de longe, flertando e tocando outros corpos. E essa dor, que sinto de longe, agora, possa anunciar a necessidade que sei-sinto de que não é para ser.
Ah, não se engane, desde a primeira vez foi muito difícil largar sua boca, te pedir pra beijar minhas amigas, te pedir pra sentar e vomitar sentada no seu colo...
Foi difícil e ainda é lembrar que sentei do lado do seu amigo e você ficou em pé no ônibus segurando minha cabeça tonta, e depois me deixou no outro ônibus morrendo de medo das satisfações que tinha que dar em casa.
Escondi seu nome do meu melhor amigo, não compartilhei as doçuras que senti e sinto do seu toque desde a minha boca até a força da sua mão na minha cintura... Segredei a te alguns olhares quando conversamos sentados no meu lugar favorito de frente pro futuro e pro vento no rio Guamá.
É difícil agora também. 
Contudo, você teve/tem alguém que atende aos seus critérios de relacionamento... Alguém que não sobressalta seus batimentos (não sei como mas eu sei que é assim, eu sei quando causo isso em alguém, porque acontece dentro de mim também). Porém, ela não corre o risco de te trazer a responsabilidade de proteger pra sempre alguém tão frágil... e que mesmo aos seus cuidados vai sofrer com a dureza do mundo e a crueldade das pessoas.
Eu sempre soube do amor seus limites, no entanto conhecer sua infinidade foi num beijo doce e azul, que ainda bate na aorta de saudade; e também quando vivi a experiência de deixar ir, sempre que necessário, um pedaço meu que dói... Alguém que não posso curar e mesmo assim tento.
Escolho dividir o seu amor, para não retê-lo em meus defeitos e dilemas, ou fazê-lo sofrer a solidão que eu sinto criando ele sozinho. 
Neste instante sinto-sei disso e outras verdades profundas do mundo, como que o amor quando escolhe duas vidas no mesmo instante, engendra o futuro a despeito da morte.
Você não quer sentir-saber. Eu cansada do que sei-sinto, respeito e desejo te reencontrar mais vezes e sentar pra conversar e talvez ouvir outra música linda... E então, possa partir do saber e sentir, para o sentir e saber com alguém.
 Ou ser surpreendida por você, como sempre!
Hcqf 28 de julho de 2024

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Fingimento a dois

 1o momento

Ele percebe uma brecha na agenda para realizar uma fantasia qualquer e procura uma forma de entrar em contato com alguém do seu passado, quando mais jovem e menos calejado de amores vis.

Ao receber a primeira mensagem, lembranças recortaram a surpresa pela chegada inesperada daquele visitante. Ela foi solícita, mas recuou sempre que pode em meio a alguma sutil investida. Fumaça e silêncio, de novo em cena.

2o momento 

Outro recado descompromissado, respostas prontas... Nada ia além da natureza daquela janela e sua virtualidade.

Embora uma primeira investida tenha surgido, tímida como a intenção de ser fulgaz, tudo era impermanência naquele dia, como naquele rapaz.

Alguma pergunta, às vezes sem resposta, sempre uma esquisita não-presença.

3o Ato

Ele reaparece com um pequeno gesto confuso... Talvez não fosse para se comunicar, mas já comunicava algo.

Ela despreza a insensatez da abordagem e ele reage expressando em palavras um convite sem jeito, sem destino, um lance despretensioso que encontrou uma mulher cansada e saudosa no calor de um quarto.

Mesmo assim, foram estabelecidos parâmetros não-protocolares para testar a intenção de que aquilo se efetivasse. Ela cedeu, ele aproveitou.

4o Ato

Um desencontro de entrada e uma falsa intimidade que contagiou a situação toda. Conversas, assuntos diversos. Ele queria comprar algo, ela não estava à venda, mas logo ganhou um preço.

Iniciou o passeio pelo passado dele.

5o Ato

Andaram por lugares, falaram de histórias antigas, parece que havia um tipo de conexão... 

Mas ele não estava inteiro em nada, nenhum gesto, nenhuma palavra... Tudo parecia mel, ainda que na verdade, a doçura fosse sintética, plástica como petróleo manufaturado... transformado em coisa, objeto descartável.

6o Ato

Ela tomou a iniciativa de parar aquele sem fim de lugares e mais lugares sem destino. Ele teve a covardia de tomar uma atitude, e tomou outras e outras para poder conseguir proximidade.

Ela entende metade do que ele dizia e fazia, era a primeira vez que se deitava com um amante profissional.

7o Ato

Na horizontal, pedidos e mais solicitações, para aquele corpo pequeno devotado à carne. Poucos exageros, carinho abundante, juras e esquisitices românticas.

Nada parecia fazer sentido, mas fez sentir. O corpo responde ao ininteligível, ela sabia, mas foi colocada à prova pela experiência.

Deitaram, sentaram, abraçaram-se e no chuveiro o clímax da intimidade. Um banho quente que fez a carne mentirosa sentir frio na espinha. Foi, inesperadamente, doce.

8o Ato

Súplicas para estender aquele episódio em fase de encerramento, como se anunciasse que daquele dia não passaria.

"Eu faço tudo, como fiz..." 

Mas ela pressentia que deveria continuar sua vida, depois de ter exercido a biologia dos hormônios, dos impulsos, do corpo, era a hora da pulsão de vida.

9o momento 

Em casa, nenhuma conversa ou palavra... Mais nada. Ainda que alguma resposta, sem pretensão alguma de explicar.

O gosto fulgaz das nuvens de algodão doce, nublaram as lembranças desse desencontro de ficção.

Andaram, uma alma e uma mentira, pelas ruas de uma cidade pequena como as intenções fingidas pelo rapaz.

10o momento 

A alma dormiu com dores, a mentira sofreu alguns arranhões que permitiram avistar, ainda que de longe, uma verdade escondida: afeto também se finge.

Hcqf 16 de julho de 2024


Um engano compartilhado

 De novo caí em uma cama vazia... Mais um homem sem intuito de vínculo comigo, mais uma alma penada pro meu sótão mal assombrado.

Sei lá... Eu sei dos dispositivos sociais de subjetivação, eu sei das tantas e tantas dificuldades em se construir uma relação... Mas me deixei levar.

Ele tava lá, sem opção, precisando renovar os parâmetros para se desligar de outra pessoa... E eu quietinha, de alguma forma satisfeita com minha solidão... Ovulando, é verdade... Mas antes de tudo, humana, sem esperar um alguém.

Veio ele, suas derrotas pessoais, suas canções vazias e suas palavras pontiagudas mirando os meus sentimentos.

Eu sei, tem uma vulnerabilidade que enlaça o feminino como caça no social, mas a escolha parece ter um critério: uma mulher se erguendo, com suas experiências ruins, seus traumas... Tem um alvo no meio do meu corpo, invisível para mim, mas que reluz para os mal intencionados...

Tantas ressalvas para falar de uma noite de passeio, de conversas e intimidade em abundância. Como pode? E muito questionamentos: foi algo que eu fiz? É o meu corpo? Foi por eu ter aceitado não pagar nenhuma conta? Não sei, parecia que ele queria proporcionar, mas eu deixar foi errado? Não sei... Eu fiquei muito à vontade? Me dei demais? Ele não queria? Ele enjoou? Aconteceu tudo que podia acontecer? Nada era verdade?

Não tem aquela inocência de antes, em que um abraço era sobre abrigo, o beijo era uma entrega viva, o sexo era o último recurso possível para aquecer as lembranças quando a distância era irremediável.

Não. Música, letra, canção, violão... Nada estava lá de verdade, era tudo cenário: o arrepio, cada gesto, cada toque, cada palavra... Tudo pensado para conquistar por algumas horas... Mas podia ser minutos, podia ser o dia todo (ele perjurou)... Mas não existia depois.

Pode haver chamada, por mensagem, por figurinha, talvez chegue a covardia de uma letra aleatória... E o nada vai tomando forma, tudo que nunca esteve esmaece e a fumaça abandona o ambiente deixando frio cada canto e destaca a vergonha no centro.

Meu corpo tomado de engano... Não era sobre a beleza no chuveiro... No final era sobre as sobras de um jantar sem pompa e circunstância, para ninguém importante. Menos que alimentar, era sobre oferecer restos apodrecendo por dentro.

Homens famintos de estômago cheio e peito seco. Mulheres entregues à miséria dos seres: desamor, mentira, ilusão, abusos...

Meu corpo tem pequenas lacerações: dói a minha intimidade, minha boca sofreu algum machucado, a parte mais interna da minha língua, incrivelmente, inchou, está dolorida com uma espécie de elevação incômoda... Embora, mais internamente, bem no fundo, uma frieza ecoa feito aviso de temporal. O tempo parado, nem um vento a soprar, nada se movimenta e o espaço parece testemunhar o vazio mais cruel experimentado: a rejeição.

Está sim, está doendo, mas ainda não sei. Tem um silêncio ecoando longe... Por que? Por que tanta mentira para experimentar um corpo? Para que amordaçar a alma vassala? Não era para encantar, então por que a música? Não era para marcar, então por que o carinho? Por que chegar tão perto? 

Ele contou, sem querer: não faria um convite sórdido para alguém especial, então, independente do que fizesse, nada daquilo era sobre consideração. Não havia intenção de desrespeitar, mas de encenar, mentir... E estava tudo em ato, desde o começo.

Dado o contexto, o que será contado sobre uma noite agradável com um homem, não é nada mais do que uma ficção resgatada em palavras para depurar um engano compartilhado.

Hcqf 14 de julho de 2024


sexta-feira, 12 de julho de 2024

Estranhez

Como entender o desejo por outra pessoa?
Como explicar que a sensação de ser tocado e se sentir à vontade impulsiona?
A sensação de ter o corpo desenhado pelo tato do outro, sem contrato prévio, sem lei que determine algo e mesmo assim achar os próprios limites...
Não há como ser indiferente a esse misto de intimidade e sensibilidade... Fica tudo no ar e faz sentido não entender e é o que preenche de lacunas as lembranças e a saudade dos momentos juntos.
Dói querer essa experiência humana e não se permitir...
Dói não sentir que o outro quer...
Tem dor e tem prazer e disso não há como esquecer, fica gravado na pele e na memória...
É sobre isso também, sobre acordar recordações sem palavras e os indiziveis formarem um dicionário com pequenos detalhes do que foi a sua aventura diante da estranheza que é o outro.
H CQF 12 de julho de 2024

terça-feira, 11 de junho de 2024

Terra escondida

Não é como se fossemos diferentes,
Somos opostos.
Estando vivos na mesma Era,
Entre dimensões paralelas.

Não como Vênus e Marte,
Muito mais como as distâncias entre os pólos terrestres
E a gélida solidão encrostada há milênios
Em cada ponta da Terra.

O degelo que agita os mares,
Aprofunda as águas oceânicas,
Firma ainda mais nossa hiância.

Enquanto ele caminha entre letras e sonhos,
Eu navego a espera de um futuro melhor.
Eu cuidando de uma casa 
Ele morando em uma biblioteca.
E, para mim, não há praia à vista.

Hcqf 12 de junho de 2024

sexta-feira, 31 de maio de 2024

Angelic hell

 Ele volta e encosta em algo...

Eu me (re)viro e sinto...

Ele me diz e eu me (en)torno nele.


Quero vê-lo 

De novo senti-lo

Estou com frio, sem ele.


Eu esquento de sonha-lo

 em mim...

Ele não se estende

Eu não desisto


Animada por esse desencontro 

Sonho em encostar nele

Eu, um anjo

Ele, um capricho

Meu.


Hcqf  01 de junho 2024






domingo, 19 de maio de 2024

 No dia certo, a hora errada...

Eu sei quem quer ser "The baby daddy" , mas ele não sabe que eu sei...

Nem sabe o que eu sei...

Pensei em enviar o sentido, construir uma significação possível. Como se construir uma fantasia fosse possível só de se querer.

Não, não é sobre querer algo, é sobre desejar alguém, ou alguma coisa se alguém...

Tem um objeto e dois sujeitos... E um hiato. Isso que falta derruba o cenário. Não, não é de verdade.

Desejo e ação.

Hcqf 20 de maio de 2024

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Subjeto meu

 Qual o gosto da sua boca se encontrar meu gosto?

Como sua pele sentirá ao tocar a minha superfície?

Somos dois, ou um corpo?

Somos só corpo ou sentimos?


Quero sentir o sabor do seu cheiro embaixo do pescoço...

Quero enroscar meu cabelo no seu rosto

Ah, eu quero você e como eu quero...


Deitada em você feito cobertor 

entregue ao sabor do frio 

de um leito em busca de calor


Quero desenhar seus contornos

 com a ponta dos dedos e o nariz gelado

 como o prazer que reveste minha boca com sede...


Clichê e igual pode ser...

Vestir seu terno

abraçar inteiro seu tronco 

Metade tecido e a outra pele


Não quero dormir

Quero sonhar

Isso é diferente...

Hcqf 10-11 de abril 2024

domingo, 24 de março de 2024

Tons de marrom, cinza e preto...

Esqueceram a janela aberta e eu caí...
Não era bem o que eu queria. Mas a visão na queda me surpreendeu.
Eu vi uma felicidade antiga em tons mais quentes que o preto de sempre.
Tinha dois sorrisos e um olhar de família. Todos já sabiam, quiseram me avisar e eu não dei espaço.
Senti vergonha por todo tempo que não arremessei meu corpo daquela varanda nos primeiros dias, ou do último quarto bagunçado.
A realidade me abateu o ânimo, estou tentando me erguer, mas é tudo escorregadio ainda perto da gaiola.
Parece que um pesadelo me acordou, mas a verdade era pior que o sonho ruim.
Alguns lampejos me ocorrem, como o de que não haverá uma explicação para o que eu sofri e nem resposta para o que me fez viver isso tudo.
Aos poucos sede e fome me alcançam, mas perdi uma perna imaginária, como G.H de Lispector. Só que a minha era uma moleta que eu carregava comigo para me proteger dos obstáculos que tenho enfrentado, para adiar o cuidado com o meu corpo e suas fragilidades, um suporte para toda desculpa para não investir em nos meus sonhos pro futuro, uma moleta de irresponsabilidade, literalmente.
Agora, ainda acostumada a sua serventia, manco diante das obrigações e de algum trabalho de luto.
Ao menos não estou mais presa, na gaiola ou a muleta, embora algumas lembranças eu tenha guardado em cofre, contra a indicação do poeta. 
Assim, distante do sublime da poesia e perto da justeza da realidade, caminho cada vez com menos dificuldade.

Hcqf 25 Março 24 

sábado, 23 de março de 2024

Autoenganos

Ele disse incrédulo:

 - achou que podia dar certo? Achou mesmo?

Eu respondi (sem querer):

- achei... Eu sempre acho... que encontrei o amor (e segurei o restante das palavras dentro da boca) ...

- não tinha paz. Lembra, excesso? (Em tom irritado).

- sim... Agora eu lembro de tudo. Espero que isso passe.

- esquece! Por favor!

- vai acontecer... Sempre acontece (rebaixando o tom da voz ainda mais).

- então? Por que tá se fazendo de vítima?

- porque não é o que eu queria.

- o que?

- esquecer... Ser esquecida...

- nem você, nem eu... Entenda! Só aconteceu.

- eu fico me perguntando: quando?

- quando, o que? 

- em qual momento tinha acabado e eu tava lá sozinha.

- todo tempo. Lembra?

- sim, você nunca tava lá.

- não, e eu não menti sobre isso.

- mas fingiu... Muito mal... Mas eu acreditei, porque não queria acreditar em mim, só em você.

- acreditar em mim? Quando? Eu disse várias vezes "eu te amo" e você nunca me ouviu.

- você disse: eu te amo, sua doida; eu te amo, porra; eu te amo, só que rindo (pensei, lembrando da cena, tudo estava diferente, foi um adeus e eu nem percebi).

- tá, já entendi que não foi do jeito que você queria, mas foi...

- esse último, inclusive, foi outro dia...

- outro dia não... Isso já tem bem uns três meses ( e riu).

- tem, exatamente, três semanas. E você disse que eu não te ouvi (percebi que ele nunca me viu, devia ter sido cada noite uma fantasia diferente, porque é isso que eu sinto agora).

- tá bom, então, você quer me culpar pelo que aconteceu, é isso? Pode me culpar, fique à vontade, mas saiba que acabou. Encontrei a luz que ilumina a minha escuridão e me deixa bem.

- não duvido que te deixe bem, mesmo. E que eu não fui capaz de te iluminar... Eu não queria isso. Eu sempre achei que amor fosse sobre ver a nudez da alma do outro. Mas não dá pra ver no escuro né?

- não faz assim... Não faz isso comigo. Eu preciso de paz, você sabe disso. Os últimos acontecimentos foram...

- por que né? Maldita saudade que me fez te mandar email de parabéns na madrugada. São coisas minhas sobre ser presente... Eu tava errada.

- não, ninguém tá errado. Só não era pra ser.

- sim, não era pra ser eu. Dizem que uma lenda japonesa sobre o amor de verdade conta que quando a gente ama alguém...

- para com isso... Você não precisa fazer isso.

- preciso sim. A humilhação é o limite da dignidade do perdedor. Aprendi com Heitor de Tróia, o pai dele correu o maior perigo para colocar duas moedas nos olhos do filho para ele entrar no rio do esquecimento e ser lembrado como príncipe que foi. Eu hoje sou a moeda que o pai deitou sobre os olhos do guerreiro que sozinho enfrentou o homem mais temido da Grécia, pela honra da sua família.

- ah, por favor... O filme não é o mito...

- eu não sou um personagem da mitologia... Eu sou o pedaço de metal forjado e frio: eu virei lembrança para alguém e daqui a pouco talvez nem isso.

- para com isso... A gente ainda pode se ver... Ela não é ciumenta. Mas com ela quero ser diferente.

- ... (Enterrei boa parte do rosto e dá tristeza dentro do peito).

- o que foi?

- foi assim como um resto de sol no mar...

- adeus, fica bem, vou te guardar...

- em cofre não se guarda coisa alguma, em cofre...

- ah, por favor... Essa poesia decadente pra cima de mim agora? Isso já passou.

- eu sou ninguém e você quem é? A palavra começa a viver naquele instante em que é dita.

- não é assim a tradução direta.

- as melhores traduções do alemão e do inglês, não foram capazes de me explicar o mistério mais angustiante que existe.

- o amor? (Torcendo a boca)

- não ser correspondido mesmo se entregando, perdidamente...

- nisso a gente concorda, lembra? Você estava perdida, confusa... E eu tentei te trazer pra perto, para um lado mais tranquilo, o sol da manhã, lembra?

- lembro: a tranquilidade do amanhecer, que embalam o mar e a lua em plena harmonia. E se sabe que é a pessoa certa...

- nossa, para com isso. Deixa passar! Você sabe muito bem que precisa elaborar isso... Acabou, aceita!

- ... (Empurrei ainda mais pro fundo o que senti e apertei os olhos, como se sem ver, não tivesse acontecido, como foi sempre).

- tchau, agora eu tenho que ir. Espero que você fique bem e que se cuide (apressado em se afastar). Cuidado...

- com o sorriso meigo da bonequinha de lixo.

- tá bom, já não aguento mais essa conversa. Não vai dar em nada (e virou as costas).

E desapareceu a fumaça que embriagou meus sentidos. E eu vi a cena de Audrey Hepburn chorando na chuva abraçada a seu gato. Ela acabara de escutar que precisava ser menos ela e mais alguém que ela deixou para trás.

O amor é um Deus que tem seus preferidos, eu perdi sua confiança, mas não deixei de acreditar nele.

Hcqf 25 de março de 2024

Poema eterno

Ele tira o terno e me carrega

Me coloca em seu colo e segura minha cintura

Encosta os olhos verdes entre meus seios

Sobe e cheira meu pescoço


Sinto a mão apressar o zíper da calça de alfaiataria 

Enquanto seguro seu rosto e umideço seu queixo

Escuto que não há tempo 

E desejo que ele entre 


Ele quer sentir meu calor

Digo que me despi para almas penadas

Ele revela ter perdido a sua de amor


Estamos uma parte vestidos

E a outra metade nus

Ele me cobre com suas vestes

Eu abraço seu corpo

É quente e doce


Hcqf 23 março 2024


Höhle: poema macabro

 Escrevo para me entregar e poder ser livre, de novo...

Estou presa em uma gaiola, suja e escura...

Daqui enxergo turvo, o escuro levou parte da minha acuidade visual em sua capa de intelectual.

Toda janela que se abre arde nos meus olhos... Mesmo se um flash de luz atravessa a umidade ainda enxergo treva e nada, como o buraco na alma de quem me tortura.

Essa escuridão fria constrói fantasias de calor pela fuga da realidade que suscita...

O cheiro ruim de morto-vivo deixado nas madrugadas no meu corpo, quase leva toda a minha fome de (i)mundo...

A sede que me restou veio com as tardes na companhia da vergonha impregnada em tudo dentro dessa caverna.

Essa claridade no meio do dia tem revelado a insanidade que toma o morcego que se alimenta da minha energia...

Tenho gritado palavras desconexas e a minha voz cada vez mais me ressuscita...

Mesmo meu ouvido atormentado por ruídos musicais e gritos em um inglês sem sentido.

De tanto alucinar um colo, estou quase aprendendo a bater minhas asas pequeninas...

Consigo imaginar a vida fora desse amontoado de pedra, lágrima, cerveja e cocaína...

*Höhle é caverna em alemão.

Hcqf 23 de março de 2024

sábado, 16 de março de 2024

 Eu aceito ele como ele é...

Ele me quer só quando me aceita...

Diz "sdd" e eu entendo "saudade"

É minha senha pra ilusão

Entro, bato os pés, e a poeira embaça minha visão.


Hcqf  21 de FEV de 2024

terça-feira, 5 de março de 2024

 Como uma conversa que não vai acontecer, escrevo para assumir a realidade...

Tirei você de onde não estava, uma contradição tola, como a ilusão da espera por um contato, que eu queria físico, embora não exista sequer de forma remota.

Abrigo alguns boots no enquadre virtual, como abutres esperando a queda de qualquer pedaço apodrecido das minhas experiências com o sofrimento. No entanto, são uma espécie inanimada de população que paira sem destino, espionam informações, embora desobrigados de qualquer interação conectam trechos de pesquisas, erros e clicks desatentos ao lixo eletrônico que habita o submundo desde o advento da internet.

Divago para suportar as linhas tristes que se sucedem, são dores remotas que acesso por dolorosa consciência de mim.

HCQF 10 de dez de 2023,

domingo, 3 de março de 2024

Conversa entre parênteses, sozinha.

 - oi? (O que vc quer agora?)

- feliz ano novo. Como vc tá? (Me falaram que vc não tá bem. Eu tenho algo a ver com isso?)

- tô bem. (Não tô legal e falar com você pode piorar tudo).

- disseram que vc está doente? (Eu sei que aconteceram muitas coisas pode ter acontecido algo...)

- tô melhor. (Não adianta nada falar algo pra você, é o mesmo que pedir para continuar sofrendo, e eu não quero mais esse delírio de adoecimento, quero viver bem).

- eu sei que não foi do jeito que vc imaginou, mas eu gosto muito de ti. (Não dava pra gente ficar junto, não foi dessa vez, não aconteceu, não era mesmo pra ser algo maior do que foi e foi bom enquanto durou, não foi?)

- ah, obrigada. Tô bem, pode ficar despreocupado. (Só toma cuidado quando pensar em falar comigo, de alguma forma a porta vai estar sempre meio aberta pra ti, mas isso não quer dizer que você poderá entrar, até porque vc até agora ainda nem saiu, então considere sair uma possibilidade).

- não quer conversar né? Eu entendo. Mas se um dia quiser conversar algo, tô aqui. (Não vou tentar mais, eu sei o que vivemos, não menti, não te iludi, tudo o que vc fez, vc fez porque quis, eu tenho minha parcela, mas vc tem a sua, não vou tentar mais).

- ah, tudo bem. (Se vc fosse tentar algo séria a primeira vez, porque tudo o que vc fez foi antes de tudo aceitar o que recebia quando convinha... Então, está onde sempre esteve, do lado de fora, eu que te fantasiei dentro).

HCQF 1 de jan de 2024

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Fome e sede

De madrugada, como sempre, um símbolo vazio.
Algum tempo depois, comida a isca, quase nada em mãos.
Fome e sede no mesmo espaço virtual, tecendo migalhas em frases descontínuas...
Falar com um equipamento eletrônico é possível nessa Era Digital: alguém, algo e a conexão via satélite... 
O universo é testemunha do desperdício de tempo e afeto a que milhares de adultos traumatizados são vítimas.
Impossível recordar o que foi despejado, em meio a risos, constrangimento e uma esperança tola. 
Estava lá a fome robusta e a sede desidratada, duas almas apenadas a um encontro tosco.
O mesmo local, que ela preferiu esconder a meia-luz, para não rever suas memórias.
Nenhum promessa, ou prazer... alguns puxões, outros tapas, nenhum tipo de sentimento... 
Os afetos também partiram naquela tarde vazia.
Falamos de excesso...
Excesso de que?
Excesso de excesso...
Diz a matemática: + e += -
Não tem nada depois do desperdício consumado.
Hcqf 28 de FEV de 2024

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

É difícil para alguém que diz amar a poesia, admitir que não sabe amar. 

Hellen

HCQF 22 de fev de 2024

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O interlocutor oculto

 O mais duro do desamor são as constatações de que estava tudo ali, bem diante de você, não escondido, não disfarçado: você desprezado por alguém que engaveta seus sentimentos na mesma medida que os recebe.

Existe até uma troca, porque existe algo que lhe é emprestado pelo tempo que você desperdiça. Então o que falta? 

15 dez 23

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

 Como eu vou deixar ir, o que não precisou de permissão pra entrar?

Como eu vou tirar de dentro, se não sei onde está?

Não sei se está dentro, ou se já foi embora mesmo...

É feito de dúvida e fez uma dívida na minha rotina.

Mexeu demais comigo e me fez sentir morte em vida, uma sensação inexplicável.

Sinto, sinto e de repente está no meu corpo... Contorna, entra, sai, desaparece nos exames e deixa um rastro de medo...

Essa partida me partiu, estou com medo dela acabar comigo.

Vivo pequenos amanheceres... Alguns picos de esperança... Mas o dia inteiro não...

Que trajeto esse investimento rasgou em mim? Não sei se consigo remendar, costurar ou mesmo juntar meus cacos.

Sinto saudade de quem me desprezou...

Faço questão de quem parece que me esqueceu enquanto caminhavamos, ainda juntos em duas vias.

Eu perdida, ele me disse

Ele vazio, eu temia

Depois veio o nunca mais, estrada de quem caminha acompanhado a desilusão amorosa.

Me enganei. Não era amor! Se for, perdi o que não há como conseguir.

Mas preciso encontrar os meus recursos..

hcqf 29 de dez 2023

HCQF 29 de dez de 2023



Não há como existir essa conversa

 Vontade de poder

- o que vc tem?

- vontade de morrer e desejo de viver.

- como assim? O que tá acontecendo?

- perdi uma parte do meu tempo e me afastei de mim, agora estou tentando me reencontrar.

- eu disse que vc parecia perdida.

- eu achei que era um encontro, eu não sabia como era um autoengano.

- foi um encontro.

- vc tava lá, eu não estava. Eu me perdi quando sai do trabalho e dobrei a esquina.

- do que vc tá falando?

- vc estava na sua zona de conforto, eu estava tentando te encontrar num tempo que nunca aconteceu.

- sobre o que vc tá falando?

- sobre duas pessoas que nunca se conheceram apesar de dividirem algumas horas de um dia. Sobre nunca estar diante de alguém enquanto achava que estava acomodada e não estava. Estive sozinha todas as vezes que fui te ver, e só vi fantasias.

- nunca menti.

- nem eu.

- mas vc sabia que era o que eu podia dar.

- e vc também sabia o que eu estava entregando. Talvez teve pena, mas faltou piedade, principalmente, nas mentiras entre ciúme e poesias, o final foi dramático. Agora preciso me segurar para ter força e ser forte.

- e eu preciso ir. Melhoras.

- blz

HCQF 1 de janeiro de 2024