A música diz: "A concha vazia parece fácil de quebrar...".
Eu que só vejo a pérola, escura e rara, não entendo o porquê de ter se fixado só no seu brilho escuro.
Não dá para ver o feitiço da primeira visada, a qual nunca abandona o ser olhado, tornando misteriosa qualquer pequena porção de estrela.
Insisto no que enfeitiça na concha, mesmo invadida pelas ondas, e ressalto: "parece que a água é uma ameaça que pode roubar seu pequeno mistério, no entanto a concha tem seu en-canto: foi quem o viu primeiro".
Talvez seja indesvendável essa primeira mirada do dia que foi visto por inteiro.
Uma mágica que envolve em um perolado o grão de areia.
Um dos mais lindos presentes escondidos na poeira.
Secretamente abrigado no mais íntimo br-eu.
Mas se é escuro pode ser confundido com o nada, quando a ambição de enxergar algum lucro naquele pedaço da galáxia, cega para o entorno.
Tem mais vazio que pérola na concha. Tem também mais perigos em volta, do que lá no fundo onde é acolhida.
É isso que a concha esconde do destino no mundo: a profundeza do primeiro colo e o olhar sob esse abrigo.
É quente e infinito pertencer também ao outro.
PS: porque escuto as pausas no que você diz e escrevo em poemas segredos.
HCQF, 25 d novembro, 2024.
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