Tivemos uma noite estranha no Breu onde você diz que se mostra...
Foi como você disse que seria: só vamos escutar música...
E eu agora tenho a impressão que levo a situação para a cama... Isso porque descobri que seu coração já escolheu...
Não foi essa noite que vi em seus olhos a dor do ciúme... E também vi que uma parte de você deseja possuir alguém.
E não sou eu, que isso fique bem claro pra mim...
A nossa diferença é que não preciso do escuro para me entregar. E isso descrevo como qualidade, porque sentiria falta de ter te encontrado e não ser quem foi beijada.
Todo novo encontro um novo fim... Mas eu sei que estou deslocando para não dizer exatamente o que senti.
Estou triste, você não me corresponde, você está comigo por causa de mim e não por causa de si mesmo.
E só me encontras nas lacunas entre vocês. Eu vou ao encontro, mas no escuro... não sei com quem.
Li no seu rosto: dor. Encontrei no seu desejo outro corpo. Você me escreveu em uma madrugada: "retorno do recalcado"... Isso não é amor.
Amor é algo novo, é diferente de psicanálise, é Herman Hess. Esse livro/autor mudou sua vida.
Eu até refiro algo de inferno, enquanto encontro em ti o inverno do sentimento, em alemão. Sua alma queima, não como "demon", mas como "Demian", antes do prisioneiro da Estepe. E você fica sem chão, porque ela exigiu mais do que você tem.
Eu até encontrei com um "Daimon" dos deuses gregos na sua cama, quando você nos cobriu, eroticamente. Porém, quando revelou que não se importa em jogar o carteiro na "la-va/ta", quem sou eu para discutir com você o lugar que você prevê pro amor?
De alguma forma, você disse que irá devolver Eros pro submundo dos amantes e seus crimes. E pegar fogo é mesmo o que mais quero... com você.
No entanto, seu "anjo decaído" fala alemão, uma língua fria, que não goza com qualquer uma "bonequinha sexual". Bem que você ME disse.
Um dia irei ao seu sótão encontrar o "Demônio do 1/2 dia" que te recortou ao meio. Não agora, eu não posso tentar arrumar o porão, na mesma vida em que arrumei sua casa e quase peguei tétano.
Aliás, organizei os cômodos mais sujos, como a infância de todo mundo. Encontrei bagunça e muitas coisas de uma mulher que em nada remete a seu amor mais pro-fundo.
A militante que você vem encontrando onde há-breu na sua alma e se esconde nas páginas e curvas do livro que te descreve, em nada remete ao salão de beleza desmontado na sua sala, cheio de produtos fora da validade e equipamentos caros, cuja finalidade é esconder o máximo possível a si mesmo.
Outro dia entendi que você sempre encontra com a morena de Hess, porque as mulheres já não estão mais brigando para estar na Polis. Estamos por todo canto.
Embora no seu abrigo ainda esteja por todo lado o outro objeto, parda como sua mãe, escura como seu avô, que é sua tia. Tão presente como a poeira nos in-cômodos debaixo. Imagino como foi pra ela formar o sobrinho, fazê-lo chegar tão longe e só depois experimentar a maternidade, no intervalo entre seu filho biológico e se permitir se separar de ti. É isso que sei sobre ser mãe, e talvez sobre (a)mar: deixar ir.
Talvez, quando o encontro entre amantes não dá certo e a arte, em poema e em filme reporta como desencontro, seja sobre duas pessoas que encontraram a liberdade sublime de Eros, um no outro.
Eu, muito mais platônica que socrática, não te apeteço nem a carne, quanto mais a alma. Até porque a mitologia que te sustenta na metáfora de razão é a nórdica, o que na outra margem (de mim) se encontra em Hilda, enquanto eu remonto o helenismo e seus limites, ocidentais.
Divago sobre mim navegando meu rio (água salobra e turva) para não atravessar e cair no oceano (vasto e blue, do inglês), mas chegou a hora.
As suas não respostas são espaços preenchidos com pessoas que você gosta. Descobri isso da melhor forma, quando fiz parte da sua rotina, depois que quase me joguei da sacada, no instante em que te servia.
Naquelas duas semanas em que consegui me defender do sentimento inventado por uma fantasia: você foi a um casamento e deparou-se com o colo perdido de um antigo amor; terminou seu relacionamento com sua primeira filha; aprendeu que o motivo de uma traição nunca é um amor verdadeiro; e então nesse lugar me enxergou de quatro por você e sentiu o punhal que sua amada guarda no bolso.
Foram muitos cortes de análise para pouco tempo de colo na sua história. Agora eu vejo nitidamente que seu amor tem algo como uma espada, nada mais freudiano, como você sempre SE diz.
É mesmo a mãe quem se afasta para descansar e poder ajudar a subjetivar seu filhinho amado e permitir que ele possa arrebentar os limites do seu desejo e das ordens severas da civilização.
A cultura que você tanto estuda e hoje conhece, foi obra desse punhal que você encontrou nessa estrada significante depois de sentir o desejo de seu primeiro amor.
Não, a mãe não quer que o filho seja feliz, ela quer ele ame. Quando na França a psicanálise revela que o desejo inscrito na alma humana é o desejo do Outro, isso aponta muitas camadas da cultura mais antiga: primeiro que é o outro quem ascende a sua chama da vida e não por menos quem sopra suas velas no (a)mar e apaga o fogo das suas conquistas baratas; depois implica dizer que o seu objeto mais caro está perdido/escondido em todos os seus amores, em pedaços pontiagudos que são capazes de ferir e apontar, rasgar e costurar; mas também remetem ao que te fez rebento pela primeira separação enfrentada sem jamais deixar de demandar amor.
Desejo, é essa a tradução em alemão de demônio, por isso grito, sussurro, imploro no seu ouvido seu nome. Nos encontramos juntos, mas você deseja a mulher com o poder de te ferir, porque esse é o poder des/construtivo do amor; eu desejo o escudo que impede que a ferida mate.
O dom de ser mãe que me foi transferido, confere o poder de soprar aos meus amados o horizonte mais calmo, onde podem encontrar abrigo, comida e laço.
Eu já disse para investir naquela que ao se distanciar te fere; a quem a traição revela não ser um objeto, já que é humana e sedenta de amor como você diante dela.
Fracassei em mais uma batalha perdida de amor. Estou arrumando minha alma para um horizonte longínquo. Dessa vez eu já sei que não quero ver, já vivi muitos desenlaces com o mensageiro dos deuses antigos...
Confesso que estou cansada de ser como esfinge a ajudar os homens a decifrarem seus enigmas. Esse agora me machuca as partes com o aço mais duro e frio que forjou sua alma.
Aguento grandes desafios ao lado de Ulysses, mas não estou escrita na epopéia. Eu sou a própria Tragédia, encenando atos humanos e cantarolando dilemas universais, para ao final da temporada passar longos dias solitária, fazendo poesia em prosa e verso.
Tomara que dessa vez eu encontre a minha cura.
Obs: escrevo isso no dia do aniversário da sua helena e me sinto a musa que lhe banhou de beleza, sob a luz de Selena.
Hcqf. 17-21 de jul jul de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário