terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Be brave!

 "Existe beleza até no lugar mais sombrio. E se não existir, você pode ser aquele lugar infinito com incríveis capacidades".

"Stay awake - Theo.dore F."

A minha capacidade mais incrível é ver e eu tenho muito medo de ficar cega...

Desde pequena eu brincava com os óculos da minha mãe e dizia que um dia eu ia enxergar melhor por meio das lentes dela...

Não aconteceu!

Tudo que eu vejo é demasiado... eu superlativo o amor, a vida e a morte...

Eu sou uma máquina de criar projeções enormes: paixões eternas, monstros legais, histórias sem fim e eu mesma sou uma criação minha...

E é a ilusão a minha maior inimiga, estou sempre entre a razão e a fantasia... quase ninguém percebe, eu me escondo muito bem... 

Mas quando alguém me vê, eu não consigo mentir pra mim... eu fico aberta...

Eu mostro meus defeitos e qualidades, viro encanto e desatino... o amor é a minha loucura... e quase sempre é preciso ser louco pra enxergar amor em mim, ou receber de mim...

"Quem inventou o amor, me explica por favor!"

São 5:10 e eu estou sem dormir e chorando,  porque vi o filme "Por lugares incríveis" e quero sublimar a dor que me fez "stay awake"...

Eu entrei numa desilusão de novo e como sou afeita a ilusões, meu coração se partiu e tinha pouco dele pra degradar... eu amo quebrar...

Talvez esse escrito seja sobre embravecer e me tornar forte. Mas antes de tudo é sobre proteger os pedaços que restarem... não quero mais me perder de amor, quero encontrar um amor de verdade.

Posto que, mesmo diante das minha derrotas, ainda não desisti...

E não gostei de ter escrito esse "ainda", mas preciso lembrar que se é "ainda", é que não aconteceu... então vou lutar bravamente para vencer AINDA que pareça impossível.


Hcqf 29 de dez de 2021



Te sonhei

 Arrisco dizer que te sonhei.

Eu queria te engolir, Saudade.

Colocar na boca sua vida e a minha vontade de sentir teu cheiro e teus gostos.

Queria saber como você beija,  como toca, como saliva, como sussurra, como goza.

Eu quero tudo com você.

Eu sinto sua força de penetração quando olha.

 Sinto como podemos dançar tentando alcançar nossos traços, porque existe uma tensão entre a gente.

Existe química e eu quero pagar pra ver o que fisicamente podemos ter.

Queria sua mão no meu cabelo, eu quero sentir sua nuca...  eu sei eu não sou sua, mas entregaria mais da metade do meu corpo e a minha alma nua, para você tocar, chupar e lamber. 

Eu quero você de presente de natal.

Hcqf 16-28 de dezembri de 2022

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Coincidências cruéis

 As coincidências que eu criei nunca foram coincidências. Uma pessoa é capaz de extender um sentimento que recolhe de alguém para outro, isso é possível. E pode ser sem querer, é deslocamento.

Eu pego daqui e transfiro para lá, e que o "engate" primeiro ache que é sobre ele, isso não faz diferença se não for. Porque quando não é, não acontece.

É não foi, não era, nunca esteve lá.

E existe toda uma derrota incomunicável, pois desejar alguém que não me quer  não implica em ser alguém desprezível. 

Ele também clama por um alguém "que não vem"  porque não é como na idealização. É um amor com sua diferença, é um oposto que se coloca diante de uma coração com sede. E as festas são esse momento  e já tem um ano. Então, vem a hora de acontecer...

Não vou negar: estou arrasada. Um pedaço de mim desmorona aos poucos, ruindo como uma cachoeira de areia. 

E a metáfora era a poeira de estrela, mas eu me senti uma só a areia, mas o que sempre quero ser para alguém é a estrella. E não consegui!

Sofri outras perdas como essa, mas perder a Saudade, nunca pensei que existisse. Não posso sonhar com ele, preciso tirar a sua sombra que projetei dos meus sonhos. Preciso deixá-lo ir  para encontrar de novo o amor.

Hcqf 15 de dezembro de 2022

Eu perdi a saudade

Fantasiei coincidências cruéis, porque quando não é, não acontece. É não foi, não era, nunca esteve lá para mim.

Eu me senti uma estrela cadente, o que sempre quero ser para alguém, mas não em queda-livre.

A derrota no amor é sagrada, exige silêncio. Eu quero silenciar minha vida, por não poder sonhar com esse menino.

Eu desejo o silêncio. 

Eu quero poder sofrer isso que tá apertando meus dias e me fazendo olhar a sua janela entreaberta. 

Ele queria a minha amizade e não entendi. Sou alguma espécie de mascote, ele um torcedor fanático; eu sou um objeto da sorte pro time, mas posso ser símbolo de um azar também. 

Não quis ser nada pra ele, porque queria ser tudo e não pude.

Sofri outras perdas, mas dessa vez perdi a Saudade.

Aprendi com isso, que é possível amar sozinho. Eu já amei assim, mas à distância, foi a primeira vez e o caminho era tão solitário que eu estava só, e não percebi. 

A presença dele me faz falta, parou meus estudos, meu empenho diminuiu. Eu lutei todas as minhas batalhas destruída. Eu venci doenças e desmotivação, mas em nenhum momento ganhei, era tudo sobre perder e estar perdida.

Ainda agora sou perdidamente apaixonada por ele.

E não é que ele não tenha se resolvido comigo, ele está resolvido, ele disse: você chegou tarde demais... e deu a entender... podia ser de brincadeira, eu queria, mas ficou nas entrelinhas: já tenho alguém. 

Sim, ele disse, eu sei, ele sabe, mas ele não sabe que eu sei. E não posso calcular a vergonha que é estar nos sonhos de uma perdedora. Preciso tirá-lo de onde posso imaginar seu olhar.

Preciso ter coragem de fazer isso. Mas não quero isso. Eu quero a última gota desse veneno. Mas não posso mais...

Eu falei de indígena, ele colocou uma peça marajoara. Coincidência cruel! Posso ser alguém que ele admira, mas ele advertiu, se pra você amar é estar junto no mesmo caminho, não é assim para mim, eu gosto de quem se ama, se respeita e se delicia consigo.

Eu não sou assim, e eu sei.

Que eu consiga elaborar esse luto, que guarde suas poesias e tudo com qualquer sentimento e liberte a Saudade para senti-la de verdade. Até mesmo sentir ele.

Hcqf 15-27 dezembro de 2022

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Dois é o infinito

Um dia ele me disse que também escreve, o que chama de "fragmentos de si".

Naquele tempo, eu imaginava motivos para ele estar aos pedaços: saudade de ter um abrigo diante da responsabilidade, um amor terminando, vontade de voltar para casa...

Com alguma convivência, em tempo e espaço, pude saber que fomos duas distâncias que se aproximaram: a dele de casa e de si; a minha dele e da realidade.

Por isso, tinha sempre sentido de saudade... porque fomos pedaços de caminhos, não uma única estrada.

Quando encontro de novo nele esse sentido de fragmentos, não sei mais qual o significado. Depois de saber que a distância nos aproximava, agora entendo que amei uma fuga  da realidade: ele queria voltar para casa e eu queria ir embora. 

Ele chegou para que o sonho se concretizasse. Eu perdi uma morada de 33 anos e vivi muitos pesadelos acordada.

 Reencontramos colo nos mesmos braços da nossa infância - isso tem 10 anos de distância, por isso nunca nos encontramos, nem quando estavamos no mesmo espaço.

Nunca ficamos sozinhos, pois mesmo quando dividimos algum momento juntos (até com menos de três pessoas) sempre tinhamos uma multidão entre nós - dois aqui é um número infinito.

Aprendi que esse encontro foi em outro tempo mesmo... Tanto assim, que a relatividade coloca em xeque, que tenha realmente acontecido.

Tempo, espaço, fragmentos: um toque do universo em duas vidas, com a magnitude da medida de anos luz de distância entre elas.

Hcqf 9 de dez de 2022


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Tempestade de estrela

 Uma tempestade me atingiu...

Chegou a minha vida com seu frio, sua úmidade gélida... seu escuro.

Estou doente...

Minha face agora está no centro.

Não passaria tanto tempo sem sentir o peso das minhas escolhas.

Escolhi buscar minha felicidade, convivo com a maldade do meu passado.

Escolhi minha profissão,  convivo com a inveja do que não consegui, e isso me maltrata... 

Mesmo fora do jogo, eu incomodo.

Escolhi viver e agora a morte me espreita... 

Segundo momento do ano, o sol alcançou 180° em volta da terra, que sozinha rodopiou no universo,  a bailar suas estações de chuva, flores, folhas e muita friagem...

Não imaginei que neste período a batalha que começaria seria por vida.

Hcqf 20 de setembro de 2022


Foz

 A voz... Que voz!

Uma vez eu descobri o amor a 1a escuta, e agora quase escrevo, escrita...

Virei escrava desse jogo.

Essa voz me machuca!

É uma tortura não escutá-la todo dia...

É uma voz que me ofusca, força em mim essa rima, a poesia...

Eu sou poeira enquanto o mundo me sopra...

Ele é o vento.

Por isso aceito meus despedaçados pontos em busca dele.

Já desfiz esses versos enquanto escrevo/espero...

Tudo sem ele esconde e dói.

Toda vez que é sobre mim escorre em cada pedaço de palavra...

Quando é dele, é vazio... e a dor que sinto é silêncio...

Hcqf 08 de nov 2022

Ves-ri de mim


Eu não tô apaixonada.

Acho que estou desenganada.

É de morte a situação.

Como pode um vento desejar uma Rocha?

Querer sentir sua superfície e frieza, sentir a dureza com que o tempo encrostou a sua história.

Como pode o incenso (inceso) querer incendiar ao invés de pefurmar (perfurar)?

É o inverso da sua natureza ritualística, de purificação e sutileza. Isso é da parte do inferno do desejo, querer desnaturar em viva chama.

Como posso olhar sua anatomia de perto? Eu que fico cego diante da sabedoria da natureza. 

Tem um saber estético que te contorna em altura e delicadeza. Privar-se da crueldade de se saber belo, é a própria beleza disfarçar o eterno, já que o tempo perece qualquer traço, do mais sofisticado ao mais singelo.

Sonhar com o sussurro gélido depois de se perder entre lençóis, como posso? Eu que esfrio de te olhar e não posso sequer imaginar as nossas mãos entrelaçadas.

Essa é uma aliança éterea. Se apaga, desenlace...

Mas é capaz de percorrer em segundos, no toque mais inofensivo e abrupto, o corpo todo e descarregar diretamente na sua foz, um mundo de afeto.

Esse encontro entre o sopro e a caverna, não tem registro - como têm as marcas deixadas pela água nas pedras. Mas o que há de indelével naquele laço, deixa em espera..


Hcqf 18-13 de nov 2022

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Renascença de amor *

Diz a poesia: "de tudo ao meu amor serei atento... e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento..." (isso, escrevi de lembrança).

Versos desse seu poeta tão querido e que chegou tão tarde acodindo minha madrugada vazia.

De encanto e pranto faz o sentido desse canto em que te reencontro nos meus sofrimentos.

Estou desamaparada pela dor que a política do nosso país impõe neste momento.

Desaba sobre as nossas vidas cada desesperança e ódio plantado pela ganância dos poderosos.

No entanto, sou só uma pena temerosa pelos amores guardados esperando amanheceres prósperos, podendo estes ficarem longínquos e irrealizáveis diante da falta de horizonte.

E um medo maldito arde no meu peito, pelo rebento que defendo com minha própria vida, em meio a rotina e sacrifícios para que ele não conviva com toda essa atmosfera dolorosa.

E é imensa a dor de imaginar um país sem futuro, ao tom da liberdade, para as crianças e os amores... 

Um aperto que me alcança a pena por dizer "a nossa vida" apenas para ser coerente com a geopolítica que nos cerca... embora eu esteja um sonho solitário doendo sozinha uma dor enorme...

Queria eu dizer da esperança de poder te esperar gozar seus sonhos - talvez um a um - e me ver admirar seus vôos, por menores ou mais tímidos, mesmo de longe.

Nesse instante, insone, sou revolta pelo temor de não poder amar em demasia, como é próprio do amor, e poder te aguardar em meus dias...

Não posso! Agora quero chorar esse momento em que a geografia nos faz conterrâneos e a história contemporâneos de uma mesma derrota humana: o desamor pelo outro e pela vida, como um todo.

Queria poder desaguar as lágrimas que não sessam de não desmoronar...

Contudo, vem da força que comunga a vida, isso que me leva a discorrer sobre nós. Eu sonhei três, embora sejamos nós dois e você... ainda e talvez sempre... apesar do quanto revisitei esse meu desejo de ser uma casa com vocês.

E agora escorre meu sonho, pingo a pingo... e como lastimo que não fui ter contigo a virada do ano...

Agora desejo, no meu mais profundo íntimo, que renasça um futuro. E seja, então, o nosso país, novamente, um horizonte de vida para nos reaproximarmos para nos apaixonarmos de novo.

Hcqf 18 de out de 2022

*título remete ao sentido Shakespeareano de tragédia.

sábado, 15 de outubro de 2022

Dia 16 de outubro

 Hoje é 16 de outubro, dia de São Valentim no meu calendário.

Dia que o amor abriu as portas do meu peito para a dor imensa de amar.

Dia que paro meus planos e sinto a menina, que conheceu a doçura do mundo pela primeira vez ao encostar o saber de si no sabor do outro.

Saudade e espera sempre foram seus atributos, hoje divido esses termos com outro masculino distante, também referido ao oriente. No entanto desta vez mais a leste de mim...

Nunca senti algo a mais que seu perfurme... nunca estivemos sozinhos... somos estranhos no mesmo cotidiano...

Preciso recompor meu destino.

Hcqf 16 de outubro de 2022

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Kindle the king-don

 Por que eu continuo gostando tanto desse menino? Ele é só um menino.

Por que insisto tanto? Preciso deixá-lo ir. Preciso me deixar seguir...

Estou exausta!

Como dói saber da existência dele. Eu já quero ignorá-la. Está me matando essa perseguição.

Sigo seus compassos... como é doloroso. Preciso parar!

É uma música que me aniquila/arrepia.

Estou cercada por dentro. Uma prisão de agonia. Quero chorar não tenho espaço. Quero chegar nele e desfazer logo todo esse desencontro.

Quero abrir as cortinas desse teatro que montei e fechar suas portas.

Está demais!

Quanta angústia cabe num coração apaixonado? Dizem que até dois anos. Não, por favor, não!

Estou há um ano enfadada. 

Olho seu rosto, imagino seu gosto, perturbo meus sentidos... desperdiço saúde e imaginação...

Acaba!

Quero entender sua rejeição: ele não queria... ele não poderia querer, quando me conhecesse...

É pesado, mas é assim... nossos mundos desaparecem quando o vejo, mas eles continuam lá e são ele, nele.

Preciso respeitar sua decisão!

Ano que vem podemos não nos encontrar/ver, isso me dá alívio e tristeza, no mesmo instante.

Se eu pudesse viveria uma rotina com ele. Desejaria suas entradas, suas  saidas, suas pegadas, arrepios e tudo que nunca poderia permitir sair de dentro dele e seu portão de ferro.

Ele é um reino inteiro!

Pros meus anseios infantis é mais do que eu imaginei. Tem uma fortaleza, encontra em sua rainha, força e inteligência. Ela é o que quero ser pro meu filho. Mas o meu não herdará nada. Não tenho nada para ele repassar aos seus... mesmo assim, quero que ele saiba quem eu sou.

E quando a minha paixão toca meu amor maior, sou um pedaço de chama e carne, que quase apaga, inúmeras vezes, mas esquenta meus sentimentos de repente de desejo.

Hcqf 13 de out de 2018-20-22

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Conversa entre parênteses

 Oi? - disse ele quase a sussurar, de um jeito que a voz e a comunicação quase falha.

Ah... oi! - ela levantou a cabeça tão rapidamente, que ao abaixar, foi como se nem tivesse olhado pra ele. Não viu seu olhar,  por estar voltado ao chão. Mesmo assim, abriu a escuta para aquela presença.

(A gente pode conversar? - a primeira pergunta surda naquele encontro).

Você tá bem? - foi o que saltou muro à fora diante de tanto constrangimento.

Aconteceu alguma coisa? - perguntou evitando confrontar o desinteresse escondido nas palavras soltas por trás de alguma intenção acovardada.

Não, nada! 

É, ela sabia que era sobre ausência toda aquela circunstância, assombrada e confusa.

O silêncio veio à tona, era o palco e a cena daquele ato. E mesmo em frente, um do outro, eram a mesma figura a protagonizar um monólogo inaudível.

Contradição,  angústia, anacronismo... inédito não era,  no entanto pela primeira vez estava materializada a saudade, que aquele vínculo gestara em desamparo e esquecimento pelo tempo de um ano naquelas vidas-mornas.

Ao vê-la levantar,  sufocada de constrangimento, mais um gesto desalmado se fez fala:

Onde você vai? (Fica, ainda não dissemos nada - isso que ficou na cuchia não sairia do vale das falas perdidas jamais, porque o coração daquele rapaz era escuro como uma noite sombria).

Tomar café! - Respondeu à gélida constatação a sua frente. O frio lhe assustava, também os filmes de horror e o desamor que está na moda desde que o mundo foi criado pela fantasia humana.

(Posso ir com você? - era o que a vista levantada daquele, agora, pequenino ser, remontava)

Ainda não me disse se está tudo bem? (Foi o que reverberou feito pedra arremeçada num lago, de água parada e turva, em frequência diminuta e quase sem gerar algum som mesmo produzindo uma imagem acústica)

Quem está bem? - provocou ela, em meio ao turbilhão evocado no peito delacerado daquela dor feminina.

Pausa...

Como? - repercutiu a mente sombria após sentir-se atingida por aquele ardil apaixonado.

Com quem você se importa? - revestida de angústia e apelo perguntou, não mais à uma sombra, mas ao rosto incrédulo pela coragem que se mostrara.

Quero saber de você... - desde sempre isso estava limpidamente colocado.

Sim,você quer que eu diga, mas o que? (Ela sabia que existia toda uma outra cena, que ele parecia não querer saber, por isso se mantinha ignorante no trato e na consciência).

Existia, como antes, um limite estabelecido por aquele no lugar de poder e performando a força naquele entrelaço.

Não,  não era um laço, realmente, era antes algo a meio caminho de uma relação, mas que também não criou vínculo.

E os minutos traduzidos em lacunas entre as falas, percorreram o relógio e as sensações naqueles dois universos.

(Não sei o que você pode dizer - demonstrava seu espanto e desconforto)

Tem algo para me dizer? - foi o que saiu, da boca pra fora, mesmo tendo encontrado significância do outro lado.

Tenho muito o que dizer. (Será que eu posso - passando a compartilhar essa outra sala, paralela, ao espaço físico, nesse plano inabitado da situação).

Então me diga (o que fazer - escondeu do lado de dentro essa continuação).

Já não está dito? Blasfemou diante de toda aquela cerimônia sagrada sobre dissimular os sentimentos mais profundos, para proteger-se das paixões da alma. 

O que? (Insistiu o covarde mergulhado de temor e pretensa razão).

O que você quer que eu diga?

(Quero) o que você quer dizer.

Será que você sabe o que quer?

(Os dois planos se confundiram, como quando o diálogo é estabelecido)

Não sei (o que quero de você).

Será que eu teria como saber?

O que?

De você. 

E eu (de ti)?

Eu não quero mais do que você (é).

Silêncio

Os olhos se encontraram, talvez pela primeira vez e eles se re-viraram, entre as distâncias e espaços dentro e fora deles.

O erótico rasgou as cortinas e o tapume, veio a baixo...

Um pouco de cada um coloriu as faces. A boca engoliu a seco, saliva e palavras. Talvez um choro atravessou de uma ponta a outra àquela estrada, que eles percorreram juntos. E um beijo foi dado, entre o vazio e o escuro.

Pouco ou nada, havia antes daquele dia... algo começou a transpassar aqueles corpos, não mais qual lança afiada, mas como um feixe de luz adentrando a fresta que eles escondiam dentro do mais profundo exílio no peito.

Hcqf 30 de setembro de 2022








Uma coversa que nunca aconteceu

Eu ouvi dizer que ele pensa que sobrou ódio em mim, depois de "tudo" que (não) aconteceu.
Eu pensei: é mais fácil se sentir odiado que amado, por mim. O amor colocaria ele de alguma forma na minha vida... o ódio não, o ódio poderia tirá-lo de uma vez...

Ele também perguntou como poderia me abordar para saber algo. A resposta veio ao encontro do que ele queria, porque a constatação do meu afastamento o libera de qualquer aproximação, por mais fajuta que seja... 

Mesmo assim e porque o amor é alguma coisa que dói, por mais sem sentido que seja... deste mesmo modo, ele ter falado sobre mim, carregou meus sentidos da presença dele, desde o mais profundo até em cima... estou boiando com ele nos meus pensamentos e escapando do afogamento e das tempestades que encontro, toda vez que escuto vir lá de dentro  bem do fundo, seu nome, sua voz e sua presença. Por mais sútil e inútil que seja, me condena a sentir meu corpo, meus sentimentos, minha ilusão e tudo que eu quis.

Há algum tempo, eu cai doente, a rotina e as preocupações me atropelaram e eu tive que reconhecer as minhas prioridades. Ele não estava mais disponível dentro de mim. Sua voz secou, minhas fantasias esvoaçaram, seu fantasma voltou ao reino dos mortos. Fazia um tempo que mesmo pensando nele, eu estava desacompanhada, sozinha e triste.

Foram algumas semanas de alguma derrota moral, qualquer forma de saudade, mas meu acordo comigo me protegeu daquele sentimento mórbido. 
Aos poucos não precisava mais ver, ainda agora não há uma circunstância de curiosidade sobre sua rotina... e o nada ocupou seu espaço muito bem, o nada cabia totalmente no espaço que ele tinha.

Encotrei alguma distração, nossos olhares nunca se encontraram, agora seu rosto se apagara de uma vez... Encontrava seu corpo alto e macio tão num repente, que era como se não encontrasse e isso estava de bom tamanho para conter o transbordar de sentimentos que ele provocava em mim.

Ele chegava, eu saia... não frequentamos os mesmos espaços... somos estrangeiros que compartilharam um dialeto portuário, por alguns poucos dias, e para nada mais servia aquela transmissão de signos vazios sem direção , vagos e de propósito, sem sentido...

Se eu disser que queria voltar a considerá-lo com a frequência de antes, é mentira: afastado, ele me protegia de mim e dele; perto, ele é só mágoa e saudade.

De repente a pergunta sobre como me abordar repercutiu no meu universo dissidente... uma surpresa esperada há mais de um ano... agora sem sentido de existir, abalou meu pequeno refúgio construído para me proteger dos monstros que ele me faz acolher, toda vez que algo dele toca minha escrita de mim...

Agora que sei que por alguma motivação qualquer, ele disse que ao menos pensou sobre meus sentimentos em relação a ele, ou mesmo que poderia falar comigo, sem explicar se teria alguma razão para isso... agora esse gesto distante, totalmente abafado, ecoa junto com as batidas do meu coração...

No vácuo, de onde eu o arranquei, o nada fez barulho, como uma moeda num recipiente metálico: não dá pra saber o material  ou mesmo espessura, tamanho, peso, ou massa... mas a imagem da queda desperta. Caiu algo que podia ter sido meu, é assim que eu encontro ele em cada desdobramento do que ele não me fala, das vezes que ele me evita e se constrage com a minha existência...

Nessa hora já recupero alguma moção mais agressiva, e revejo o desagrado inteiro que ele demonstra ao me ver... ele poderia nunca ter me conhecido, e algo estaria intacto, naquele pedaço de caminho deixado escondido pelas nossas diferenças e até por algum receio de ser desmascarado em sua tola falta de gentileza.

Cordialidade, amabilidade e inteligência são também muros de proteção, aos desavisados. Para lá da parede só alguns convidados são aceitos. Eu que não costumo servir à solenidades,  ou que tenho pouco, ou nada de requinte... eu nunca atravessaria os portões pesados de entrada... eu sou de fora-rasteira, uma estrangeira que remete ao perigo das coisas rasas, pequenas, que vagam entre os caminhos aguçando perguntas e deixando as respostas soltas...
Não sou o tipo que barganharia simpatia, também não encontraria motivo suficiente para fazer morada. Sou feita de muitas despedidas, cada uma impunha suas cicatrizes no meu (re)trato. Desde então,  a forma como alcanço o outro também é sobre idas e vindas, e por vezes destratos... em desacordo passo alguns dias em algumas vidas, alguma bagunça, alguma despesa, mas poucas lembranças eu abandono, apesar de guardar muitas histórias e pessoas.

Se alguma coisa fosse possível responder para alguma pergunta dele, eu teria que falar o mais rápido possível... não existem palavras diante do porto solitário em que esperei ao menos sua amizade... o dialeto da ausência é fumaça... inapreensível, não é feito pra explicar, posto que o inexplicável o contorna... bagunça, interroga e desata... só cabe um adeus, de lado e sem esperar nada.

Hcqf 30 de setb de 2022


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Afinei os meus ouvidos

 Um outro vem chegando...

Não está sozinho, coloca sempre alguém pra falar comigo.

Ele tem um ar que me preocupa... demonstra, fala, age, mas se arrepende...

Não fica.

Tem me acompanhado. Passamos por algumas situações inusitadas.

Lembro que puxei assunto primeiro, desajeitada e fazendo algum barulho...

Ele disse que desde o início, demonstrei intimidade, que ele ja viu isso antes com outra pessoa. Essa é a primeira porta fechada, mas só encontrei com ela depois de outra grade trancada.

A segunda que apareceu primeiro, quase nos distanciou. Ele disse que era o ciúme dela, porém ela chegou logo depois que eu rejeitei um traço de carinho que ele me entregou, com uma foto.

Entre brincadeiras, ajudas e até algumas confidências, fomos formando uma parceria...

Notei que ele dirime a minha poesia, sinal que eu conheço: é o presente me chamando pra sentir a realidade dos meus sentimentos e anseios. A razão já me cegou várias vezes  muito mais que o amor.

Quando, em meio a rotina, nossa proximidade começou a ser física, ele foto-grafou meu desespero, enquanto me dava algum colo, depois de cumprida uma tarefa árdua que me envergonhou demais.

Nesse ponto, e outros, ele se parece comigo. Também segurei sua mão (mas não fisicamente, é um passo que nunca dou rápido e nunca faço por fazer), quando ele precisou realizar a mesma atividade. Estive tão perto, que sentada ao seu lado, ele várias vezes disse que continuou porque eu estava ali. Agradeceu, reconheceu e fomos parceiros pela segunda vez, sem eu notar que ja temos um en-lance.

Os tempos se confundem mesmo, somos dois e um, ao mesmo tempo. Tão amigos que ja brigamos sério; tão estranhos que não sabemos como falar da nossa relação; tão íntimos que acho que já estivemos nos braços um do outro em nossos sonhos.

E ele já notou o quanto sou de entregar meus sentimentos. Pareceu uma constatação agradável. Posso estar enganada... é semprr assim que encerro com racionalismo, fugindo de me abrir pra ele.

Afinal, não é a primeira vez que o reencontro. Ele já foi o amarelo do trigo, que me fez ler um livro inteiro chorando e voltar para copiar, em lágrimas, as partes em que nos encontramos. 

Esteve no azul dos olhos esverdeados de um skatista, que cantou no meu ouvido e me fez reconhecer que o amor está no corpo também. 

Guardei quase nada do que vivemos, a não ser o que aconteceu de repente, sem explicação.

Ele me chamou de amor, eu percebi e tentei disfarçar que gostei e me tocou; ele parece que percebeu enquanto falava, seu tom rebaixou em meio a piada (super engraçada) para algum desânimo.

Continuamos o assunto constrangidos, durou quase nada a conversa... eu sempte falo mais; ele sempre encerra as conversas dizendo que vai estudar... eu sempre acho que ele foge... eu vejo ele ir e voltar  e nunca vem sozinho.

Suas companhias são opostas a mim: postura, cor da pele, idade, cabelo... em nada pareço uma escolha possível, posso estar certa e não seja mesmo.

Mas de repente, ele tropeça. Pareço uma grande amiga antiga; ele ri dos meus atos com carinho e demonstra admiração; já pediu para deixar que ele me derrube no chão; também já pediu pra viajarmos juntos sentados sentindo cheiros que ele cultiva...

Poderiam ser convites de amigo, lembranças de proximidade. Mas de novo, alguém queria comemorar o aniversário comigo... estava com a sala cheia, amigos, a namorada, sua mãe... não ficamos sozinhos e nem fui o foco da sua atenção, em momento algum... mesmo assim, senti algo, que me fez arriscar sair de casa, pra uma outra rota, que refaço por predileção, ou penso em refazer... do nada aprendi um novo caminho na vida.

Ele não é doce, não estava solteiro, conversa comigo sobre mulheres, quer uma moça completamente diferente de mim em tudo (sou um menino perto dela)...

Ainda assim, até o silêncio dele, parece que me confidencia afeto.

"Afinei os meus ouvidos

Pra escutar suas chamadas..."

Diz a canção...

Agora, o que diz meu coração quando estamos próximos: cuidado, ele pode te atrair pra perto; você pode entrar no corpo dele; posso ficar maior se crescer ao seu lado.

São sonhos ou fantasias... 

Hcqf 11 agosto de 2022




Há-deus!

 O escuro se distanciou...

De tanto desatento, foi embora constrangendo o momento

Fomos caindo

Em riso e vergonha 

Não tinha mais o que fazer naquele lado da minha história 

Fui

Tarde

Demais

Como prenunciou.

Adeus!

Hcqf agosto de 2022

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A-voz seren(a)

Já comecei tantas vezes esse texto-desabafo-serenata... 
Outro dia, da janela do ônibus avistei o sentido de sereno em plena luz do dia.

Entre debates sobre amor e política, dentro de mim encontrei a palavra morena, que embala o amor pela minha avó materna.

Na minha infância tinha a beleza da pele escura e o cabelo de algodão e a falta  dela/nela do moreno do açúcar artesanal.

De dentro da rotina, agora adulta, meu pensamento trançou moreno com sereno, serenar com amorenar.
E num repente escutei o som do silêncio que a noite inaugura depois de apagar o dia.

Escutei é poesia, pois neste instante o vazio tomou conta.
Si.len.ci.an.do de-va-gar desde dentro. 
Encontrei a melodia que me encanta - há 200 anos, eu repito - desde o último agosto. Foi amor a primeira escuta.

Agora também achei, sem procurar, o tom moreno, que historicizou em oito anos a eternidade na minha história. Entre o breu-da-ciência e a lâmpada-da-ideia-romântica, nasceu a luz-menino.
Esse corte... também está em presença, enquanto escrevo... Pausa,  reticências, estribilho...

A voz que asserenou minha escrita, de tão tranquila, me embala acordada... "adoro vê-la, adoro tê-la"
Versos soltos, músicais, que soaram aos meus ouvidos. Sinto nisso proteção, para que eu mergulhe com cuidado.

Amo o quanto essa fala-música em mim canta... Quando na minha frente, sou reverência e oração, meus olhos, de joelhos, vão ao chão.
Amanso o entorno, o silêncio quebra a barreira do som, a frequência abaixa tanto, que bem no fundo, a iris escura brilha feito estrella (de Benedito).
 
E independente do espaço me distancio, viro encanto, me reviro toda, para nosso constrangimento tornar abra-laço.

Ele acorda pedacinhos escondidos.
Ainda agora o alvoroço no meu peito, no meio do meu tórax: também é orgânico, toca meu corpo.
Sinto minhas vísceras em segundos que em minutos viram miúdos.

Escuto pequeno e comprimida pertenço a essa fumaça de morango.
Viro átomo, escuro e sonho puro.
Hcqf 4 de agosto de 2022


domingo, 31 de julho de 2022

De pouquinho

 Quero um pedaço 

Da tua atenção 

Um tantinho do teu carinho

Que preencho meu coração 


200 é muito tempo 

A distância que nos cerca

É de longe maior 

Que a possibilidade de carinho


Mas me dá um pouquinho 

E desse pouquinho 

De ti

Faço chover

Em terra seca


Por mais pequenino

Que seja 

O tempo do olhar

Que sobre mim

Esteja 

Componho um canto

De sereia

Adorno um altar

Destraio o destino

Me perco no teu abraço 


Faço um laço e desencanto 

Hcqf 31 de agosto de 2022




segunda-feira, 25 de julho de 2022

Sonh-ar

 Queria contar

Ensaiei 

Apaguei 

O sono me salvou

Hcqf 22(28) jul 2022

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Escuro sem fim

 Já comecei tantas vezes essa vontade de contar...

Quanto mais chega perto o dia de voltar a ver dentro da minha rotina, mais eu fico vazio, e me esfria...

Não pode acontecer. Só isso... Não dá.

Tem algumas portas que só abrem pelo lado de dentro, o amor é sempre assim: duas almas entreabertas que se escancaram de sorrisos, ações, ciúmes e muita saudade...

De novo caí na minha própria armadilha: me fechei e consegui o abr(aço) mais forte que já senti, presa em mim, não pude fazer laço.

Talvez eu tivesse alguma chance... era o que eu gostava de pensar... agora renúncio a próprio façanha cognitiva de lembrar... 

Preciso esquecer! 

Deixar que seu rosto se apagar nos meus sonhos. Permitir que meus olhos ceguem ao encontrá-lo. Sentir o frio desesperador do adeus silencioso, da presença remota, ainda que frequente, ainda que...

Preciso aceitar essa partida, pois não há o que eu faça para mudar esse destino.

Tenho 200 anos de choro apertando minha garganta e ardendo nos meus olhos.

Preciso desabar e não posso.

Preciso esquecer e aceitar encontrá-lo nos meus assuntos favoritos.

Que eu saiba calar, andar devagar, ficar sozinha e aproveitar o horizonte na beira do Guamá.

Como a estrela em queda deseja o beijo azul do mar, porém encontra uma nuvem de poeira cósmica e se mistura ao infinito.

Uni-versos de galáxias se expandindo entre o nascimento e a morte, brilhando no escuro sem fim.


Hcqf julho de 2022

terça-feira, 19 de julho de 2022

Janvier

Depois de tanto tempo encontro novamente o sentido de partir...

Uma partida está acontecendo e partindo meu coração...

Não há o que ele leve, 
não temos lembranças de nós, 
não chegamos a ser um laço... 
Mas estou aos pedaços e começo esse obituário sentindo toda uma falta...

E é de morte a ferida que encontro no peito...

Tenho alguns dias de folga, e devo começar uma retirada 
com toda a racionalidade que o luto me permitir construir 
enquanto destruo uma parte toda em mim...

Arrancar ele do lugar de amor vai mexer em tudo... preciso o quanto antes começar, 
mas até agora nenhuma palavra saiu de mim...

Por dentro abriu um tempo de silêncio: não quero mais amar assim de forma gigantesca e espraiada
 por tudo onde ando, em que toco e vejo....
Preciso começar uma carta pra ele...
Boa sorte últimos dias do ano!
27 de dez de 2021

Infinitam(a)nte

 O amor nos faz tocar o infinito

Isso pode ser ao tocar uma flor 

Num instante de dor

Pode ser ao sentir um sabor

Num arrepio sem fim

No corpo, na alma ou numa história 

Como um sopro de vida, ou vento da morte

Se for pra sempre, é sorte

Quando inesperadamente, é sempre

Pode estar em sonho

Pode ser estranho

Nunca no raso

Pode ser que aconteça 

Profundamente 

Pode não ser verdade.


Hcqf, julho de 2022.



Tornar-se horizonte

Antes, advérbio de tempo, também pode indicar um lugar, onde mesmo sem estar, havia existência.

Parece óbvio uma pré-existência, embora a rotina encubra que tudo teve infância, inclusive o nome das coisas.


Estorninhos, por exemplo, são uma espécie de aves invasoras que chegam em bando. Assustam no campo, pois se alimentam da plantação e adiantam, atrasam ou interrompem o resultado do cultivo. 

Uma revoada que justifica a presença assombrada do espantalho, isto é, uma personagem criada com o intento de assustar grupos de pássaros que se alimentariam do que custou alguns meses de suor e trabalho para só depois virar colheita.


No entanto, quem estava no pedaço de terra que virou fazenda? O que havia quando o chão foi descampado e a casa, só então construída, passou a abrigar uma família e suas necessidades?

Natureza, outra palavra criada para designar o que existiu no passado. Um tempo inabitado de uma história, antes de ser ocupada por pessoas, seus costumes e as determinações criadas para chamar de vida, um trecho da existência.


Manoel* diz que para saber o tamanho das coisas é preciso ter intimidade com elas. E que só se cria essa tamanha proximidade - com sentimentos, pessoas e coisas - depois de achar o antes que elas foram. 

Um tornar-se achadouros de infâncias, cuja direção parece estar sempre para trás, embora na práxis revele um algo a mais que o sentido. Ao invés do aquém, um além de tudo, onde as próprias palavras precisaram invadir, para existirem os habitantes do mundo.


Esse ex-sistir inútil muito interessa aos poetas e aos psicanalistas. Estes últimos, aqueles sujeitos diante dos quais falar em vão é desvelamento. E paradoxalmente é o sopro de vento que pulsiona os navegantes no (a)mar.

Conta a psicanalista Colette Soler** que existe um cemitério de palavras mortas, com personagens fantasmas na Gênesis de cada sujeito: capítulo em que cada um fantasia uma união, para deixar de ser uno.

Na real-idade, antes de tudo inventamos a busca e só depois a fulga. Isto é, mais do que um voltar, um re-voltar-se para as repetições que nos cativaram. Tempœspaço de retorno, para vasculhando-se internamente alcançar, talvez, seu desej(a)r.

E quem assim caminha não deseja encontrar apenas o passado. Perante o desejo é pra diante que se ad-mira. Um destino de tornar-se horizonte e a-mante.

Hellen C. Q. De Freitas, 19 de julho de 2022.


Livros:

*BARROS, Manoel de. Concerto a céu aberto para solos de ave. In: Antologia. Rio de Janeiro: Objetiva. 2015.


**SOLER, C. Alíngua traumática. IN: Ics reinventado. Cia de Freud, 2012.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Mãe das musas*

  Meu limite é um coração fechado...

 Não para mim, apenas, mas para qualquer coisa,  exceto, o intento último de ver seu amor ideal e imortal se realizar...

Não tenho armas suficientes para ajudar quem se perdeu no amor profundo das próprias convicções...

 Sou feita da sede de que são feitas as transformações que as ondas provocam ao bater com força as rochas, por anos a fio...

Tenho em mim... as ondulações de hormônios e humor influenciadas pela lua... 

Tal que carrego mudanças de hábitos, ideais e vicissitudes.

Mesmo as que já estiveram tatuadas em carne e osso no corpo que me perfigura pequena e sensata.

Sou também firme e reta na ética que me alenta nas dores mais atrozes que os amores já me obrigaram a sentir... 

Visitei o Fracasso algumas vezes pelo gosto de brindar às derrotas como vitórias ao destino que não me define...

Sou ilimitada... Não posso me entregar a um corpo domado pelo vício em outro sexo... 

Preciso que se recrie comigo uma dança obscena e lasciva a cada encontro, no qual me desmoralizo de meus pecados e me vejo livre das minhas raízes, para amá-las em secreto.

Porém sem detê-las em plenitude...

Sou afecto... Sou infectante... Tal qual a ternura sombria de uma mãe imponente... 

Sou severa, protusa e espirituosa... A Luz que rege meu dia com seus afazeres e cuidado, conhece meu recinto materno: sou presença e ausência, na mesma espécie de ente mitológico.

*obs: memória é mãe das musas, em grego antigo.

Hcqf 18 de novembro de 2021



Renúncia-anúncio

 Pra ti assumir 

Eu teria que me denununciar

Hcqf,10 de dezembro 2021.

domingo, 17 de julho de 2022

Olhando pela fresta

 Parece que eu estou em todas as tuas estórias

Mas eu mesma não tenho uma história minha contigo

Não passeio nos ambientes centrais 

Não espero recados e nem nada é sobre mim ou para mim

Uma hora essa porta que eu abri, por ver entreaberta vai se fechar pra mim

Só querer-ia habitá-la em mim e tornar-me convívio

Vai ver ja estive e nem percebi

Também é sobre o que não aceitei destruir e como me repeti em atravessá-la inconscientemente.

Hcqf 19 de dezembro de 2021

Desnarcisamento

Queria dizer que é uma impressão...
Não é. 
Acabou!
Preciso seguir...

Ainda não sinto a dor,
Porque perdi meu corpo.
Perdi!

Mas vai doer
Quando eu precisar vê-lo.
Queria poder evitar.
Não vou.

Então, 
acabado está!
Que o feitiço 
Volte ao mundo dos encantos.

E o amor 
trate de desnascer.


 Hcqf, 17 de julho de 2022

Poeira no espaço

 Disseram que somos 

poeira estelar...


Margem 

para os artistas sentirem 

o toque 

da imensidão, 

tal areia a contornar 

oceanos.


Sentença

que condena 

quem sofre 

por se sentir 

apenas 

pó 

a acumular 

em um canto cinza.


Aluvião, 

derramado 

depois da tempestade 

a modificar 

paisagens antigas, 

renovando lugares.


Perdidos*, 

disse o poeta 

a constatar a natureza 

que nos fez


           pedaços 

desencontrados 

de vida 

e morte, 

que no infinito

 para além do tempo 

explodem 

de energia.

(Hcqf, 17 de julho de 2022)


Inspiração:

**Citação do poema "Aos Perdidos" de @zackmagiezi

Imagens telescópio James Webb jul. 2022

Música: Spell Songs


- MÚSICA CITADA -

Entre na selva com cuidado, meu amor

E fale as coisas que você vê

Deixe novos nomes criarem raízes prosperarem e crescerem


E mesmo quando você viaja longe de urze, rochedo e rio

Que você goste do pequeno pescador, incendeie o riacho com purpurina

Que você entre agora como lontra na água sem vacilar


Olhe para o céu com cuidado, meu amor

E fale as coisas que você vê

Deixe novos nomes criarem raízes prosperarem e crescerem


E mesmo enquanto numa viagem no passado, estrelas morrendo, explodindo

Como rastro dourado, deixe seus pequenos presentes de luz

E na calada da noite, minha querida, encontre o olho brilhante do estorninho

Como o pequeno aviador, cante seu coração para toda a matéria escura


Caminhe pelo mundo com cuidado, meu amor

E cante as coisas que você vê

Deixe novos nomes criarem raízes e prosperarem e crescerem

mesmo enquanto você tropeça nas areias do machair erodindo


Deixe a samambaia desenrolar seu luto, deixe a garça acalmar sua respiração

Deixe a selkie nadar mais fundo, oh meu pequeno caçador de prata

Mesmo que a hora fique mais sombria, seja o cantor e o orador


E na cidade e na floresta, deixe as cotovias se tornarem seu coro

E quando toda esperança se for, deixe o corvo te chamar para casa.


(Fonte: Musixmatch)

Compositores: Seckou Keita / Jim Molyneux / Karine Polwart / Julie Mairi Fowlis / Kerry Jennifer Andrew /

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Falsa presença

 Não entendo o que acontece... Nos vemos e não nos olhamos...

No mesmo lugar, dois estranhos... separados, alguma conversa...

Mas não dá pra entender como uma amizade...

Trocamos sinais... conectados, pela virtualidade...

Mas ele foi direto: "TU chegou tarde DEMAIS".

Eu acordei...depois de sonhar mais de um mês com um encontro...

Seria um local onde não houvesse uma tela entre nós.

Arrisquei ser invasiva, não ser bem aceita, sofrer alguma represália... e tudo isso aconteceu...

No entanto, no mesmo lugar, sem a obrigação de deixar a razão sobressair... poderíamos bebericar, sorrir, sentar perto... e finalmente olhar na mesma direção...

Nada disso foi possível...

Ao invés disso: constrangimento, algo como ciúme, muita represália, nem um espaço pra um encontro de olhares...

Uma janela real abriu-se, com um pedido para sentar ao lado: ele foi engraçado, mas também indiscreto, contou de um plano secreto para quem estava me constrangendo o tempo todo...

Ele me entregou... 

E se defendeu... 

Protegeu seu orgulho de homem... virou o rosto, a cadeira - várias vezes -, ficando distante, apesar de não demonstrar indiferença, mas com desatenção e frieza.

Ao final, certa inclinação de cuidado, bem raso, bem discreto, quase imperceptível.

Até agora, ainda vejo que notei um grão de mostarda em meio a gerginlim preto... parecem a mesma coisa, porém uma das sementes origina uma substância amarela muito conhecida, enquanto na outra o escuro se preserva e isso identifica sua natureza.

Foi quando encontrei um risquinho de preocupação, cuja causa ainda desconheço. Talvez, ciúme  porque encontrei um amigo carinhoso. Ou alguma insegurança pelo fato de ter ficado próxima do anfitrião. Ainda poderia ser uma tentativa, sorrateira, de conquistar uma noite comigo. 

E em nada disso, realmente, sequer pressinto algo que resvaleça algum cuidado, mesmo que perdido, ou esquecido dentro de uma postura covarde por esconder que fosse uma atração carnal, vil ou imunda.

E aqui começa o nojo... sentimento familiar, com o qual abandono objetos que conquistam meu desprezo.

Um contato que poderia ser um abraço, entornou-se uma lembrança remota. Dos segundos que estivemos mais perto, a sensação de virtualidade, vazio, alguma coisa que esfumaça até suas vestes... parece que abracei o vento.

Lembro que provoquei a proximidade: toquei seu cabelo, sensação de nada... Pedi um abraço e apenas um tronco, sem cabeça, dobrou-se na minha direção... e agora parece que nem mesmo tinha braço... enlacei a mim mesma, frágil e envergonhada... a cabeça baixa, os olhos cerrados... e mergulhada em tamanho silêncio, pude ouvir um estampido ruidoso, algo entre: tomem cuidado, cuidem-se, tenham cuidado.

Mas as palavras me faltaram... acho que sorri num desatino, dei de ombros... aquela cena era tão pueril, quanto tudo naquela falsa-presença.  

Agora mesmo, ainda necessito de grande esforço para pescar elementos nesse desencontro.

Continuei no mesmo local  mas já em outro ambiente. Fiz inúmeras confissões... Ganhei colo e um conselho encoraja(dor): faça por você; talvez uma página precise ser arrancada  para que as marcas não maculem o restante do que vier a ser traçado.

Sai de lá. vim embora. cheguei em casa. Tomei banho. Deitei. Não consegui dormir. Pensei em mandar uma mensagem. Sonhei acordada. Queria que fosse um apelo de um coração inseguro, em busca de coragem: talvez fosse. Cochilei. Abri os olhos. Liguei o celular...

Surgiu uma mensagem de esperança no meu peito: obrigada pelo cuidado; queria que o abraço tivesse durado um pouco mais.

E a resposta foi precisa como um tiro: tarde demais!

Antes escreveu: obrigada pelas palavras.

Imediamente depois...

TU, particula de tratamento que pode indicar intimidade, mas regionalmente, aqui, refere trivialidade, desleixo, descuido na interlocução.


(Aqui, um trecho inteiro não foi salvo do apagamento)


Chegou, verbo que remete a um deslocamento, porém não houve qualquer preocupação da parte do emissor com o trabalho pra estar alí.

Tarde, poderia fazer referência ao meu atraso para o encontro, contudo, nesse contexto nublado e frio, diz respeito a todos os envolvimentos e pessoas que ele tem beijado e usado.

DEMAIS, um excesso próprio do que descaracteriza, envolve com penumbra qualquer compreensão, ou comunicação, como aquela falsa presença do final.

Vem à tona uma narrativa que aparece quando ele fala de si, ou de algo caro. Um garoto mimado e intempestivo, que uma maldição aprisionou em grandes poderes. Esse mago vive uma servidão de defender as pessoas dos males da guerra, o que o tornou frio e insensível ao amor. 

O desfecho desse história encantada, ele também aproxima de um objeto desejado muito peculiar: uma obra de arte. Um beijo que enlaça dois amantes, no toque dos lábios no rosto da amada. Um gesto que perfaz a divindade do encontro dos dedos de Zeus com os homens - no encontro de corpo, razão e a alma, de Michelangelo.

Talvez eu já soubesse de algo, pela ciência do fato dele se comparar ao escuro do bruxo amaldiçoado.

 Todavia, nada nesse cenário é sobre saber... ele é opaco como a ignorância encarnada.

Diante de mim, ele transvê o entorno, diante dele sou transparente como água cristalina que permite ver o fundo do rio. E ele é um lago, pequeno e raso, de água parada e sem vida.

Nenhuma cor a ser distinguida, nem um odor capaz de capturar a percepção, forma alguma mais definida ou própria. Escuro, cinza, chuvoso, um breu sem sentido.

Eu que amo a escuridão que permite contemplar as estrelas... fico tácita e imóvel... nem sono, nem vigília... ignorância. 

Um além pra ver o aquém de um sentimento, que me enredou enquanto velejava meus sonhos no (a)mar.

Hcqf, 5 de julho de 2022.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Vento dos infernos

 Diz o filósofo que uma estrangeira descreve o amor como um deus decaído, ao aproximar o sentido de Eros com o de Demônio para os gregos antigos, isto é, um mensageiro capaz de transmitir mensagens dos homens para os Deuses.


Assim, apresenta o amar qual correspondência, entre a morte e a imortalidade. Uma espécie de correio, onde uma mensagem/metáfora é levada de um lugar a outro.

A um amante da poesia, pode chegar aos ouvidos, Neruda, em o carteiro e o poeta. Isto é, será que é de poesia a natureza do que o amor movimenta, na transferência de consteúdos oníricos?


No sonho, porque é o Olimpo dos amantes, dividos entre o céu, o chão e o inferno.

É comum associar o amor à união,  reunião, ligação,  conexão, laço... Mas o que no contexto amoroso se movimenta? Como os primeiros cuidados ou negligencias são en-carnados, ou in-corporados, ao ponto de constituir uma existência em dimensões físicas, orgânicas e anímicas?


Essa questão tão óbvia e até muito simples, parece o fio que costura, amarra, ou desata ponto-a-ponto cada análise... até que o fio acaba e de alguma forma, parece que só a agulha, entra e sai, a angustiar tecendo o nada. E assim, uma força eólica é convocada e o que poderia trazer à tona, sopra a chama e vira fumaça. Não é mais sobre enxergar um fato. O silêncio na penumbra assusta, continuar torna-se infernal, como é, do dia mais comum, as decisões mais ou menos sensatas. 


Hcqf, 4 de julho de 2022

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Medic(ação)

 Quando eu soube do filme "5 feet apart", eu pensei: mas um romance bobo, pra ver na fossa da solidão.

E o algoritmo sempre me envia trechos e eu sempre leio e reflito, rapidamente... mas agora, um pouco mais rápido, pra não dar tempo de voltar a doer.

Nossa, doeu bem pouquinho mas experimentei a ponta dessa dor: deixar ir.

"Let it go!" É tão inglês,  tão americano e anglo-saxônico... mas tem em mim uma raiz profunda e sedenta.

Fui assistir o tal filme, pois seus elementos me capturaram dentro do que consigo trazer pra luz: estarem de máscara - e o mundo na pandemia; uma personagem se chama Stella - e eu gostar bastante desse significante ingrato na minha história; agora acho que ele chamar Will, também soa familiar - meu romântico favorito é William Shakespeare; hospital também é um contexto caro pra minha vida - medicina é destino e remédio do ponto que parti com meu coração.

Depois desse contexto, não dá pra evitar contar (em números também): ainda estou calculando o diâmetro do poço em que me escondi de amar. Não sei ainda se vai fechar a ferida/escolha que sempre avistei como opção sobre quem fez parte da minha história. Está nos meus filmes favoritos: decidir deixar, que é uma forma injusta/covarde de amar, mas que está lá para evitar a morte do ideal; para não ter que sustentar as consequências mais severas dos seus defeitos, magoar alguém com quem você se importa; para não viver o suficiente para ver que o monstro debaixo da cama estava dentro de você.

Puxei o fio que escondi antes de ver "5 feet apart" e aquele doce me doer a garganta, como um choro contido e doloroso represando muita dor.

Um Alguém conheceu meu pior ângulo, isso desde o físico... viu meus vilões, reconheceu as raízes dos meus dejetos e a lama que escondo debaixo da cama...

E eu não suportei! Era embaraço e tão comum, que desmontou os artifícios que criei para escondê-los...

Se é possível alguma "medic(ação)"... uma pausa na minha elaboração, se re-fez...

Agora, eu já não sei...

Tá próximo do aniversário do meu filho, e é sobre isso também esse texto, só não sei em que...

Hcqf, 26 de maio de 2022


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Em cruz ilhada

 Com um mundo inteiro pra desagradar, eu desagrado quem eu preciso ficar mais perto.

Aquele perto diferente, que não é uma decisão, mas uma constatação: de repente existe um cisco no olho, que coça, que arde e parece que vai comprometer a visão...

São formas difíceis de metaforizar sem correr o risco(cisco) de se abrir pro temor...

É aterrorizante estar diante de alguém, onde quer que você esteja, quando a voz, o olhar, a imagem da pessoa invade seu pensamento... 

Tem alguma lógica,  mas é tão difícil de entender, as conversas se passam dentro de desentendimentos. 

É claro, que você deseja ser entendido e deseja entender, alguma parte daquele envolvimento precisa parar, para que....

Paro aqui!

Estou sentindo a cabeça rodar, dei voltas e voltas, agorinha....

Eu já sou ignorada, faz algum tempo... Não tem olhares, não tem cumprimentos...

Alguma coincidência me deixa embaraçada, desses embaraços que ferem, atingem em cheio a auto-imagem: nessa hora sou infeliz por uma eternidade,  independente das batidas do relógio(coração)...

Estamos em meio aos meus amigos, eu na verdade estou num buraco escuro, sorrindo a angústia do solitário, esperando a morte ou a dor, preferindo a luz do dia, que esqueceu pelo medo e o frio(freio)...

Uma troca rápida de palavras, e um pequeno mal-entendido, é tudo que conseguimos trocar: farpas.

E a dialética do desperdício continua...

O que poderia ser o último dia, poderia ser... e não seria de fato, porque eu jamais saberia... 

Esse desencontro ganha o contorno do que significa: nada. Estou do lado de fora e isso é o ponto de basta, aquele ponto em que o outro foi embora e não sabe como explicar as poucas coisas que esqueceu e que não lhe fazem falta.

Alguma coisa ficou pra trás? Se ficou o outro não sabe.

Mas era até interessante, parecia fazer sentido... mas ficou?

Ah, então,  não tinha.

Uma mala que a companhia aérea desembarcou no destino errado: a mala, objeto inanimado, é incapaz de reconhecer que a vida lhe "pregou uma peça", e que talvez até poderia refazer seu destino, como em um "golpe de sorte" poder tes'atar um nó e seguir um novo caminho...

Mas é um mero objeto, o viajante mesmo, seguiu e tentará, por um tempo, reaver a coisa perdida... de nada vai adiantar... Cumprira sua missão: acompanhar um sonhador e não seu sonho.

Quem segura a mão para levantar alguém depois de uma queda, não está ali por acaso e nem fica pra trás por coincidência. São trechos distantes da mesma estrada: paradas obrigatórias para quem encontra e para quem vai embora.

- Diga adeus! Exclama o vento a açoitar a alma solitária.

O que anima a outra vida, por dentro, não consigo escutar. Senão...Se sim, na verdade, eu seria a próxima em queda à espera desalentada de um colo.

Que na próxima em-cruz-ilhada, eu aprenda a apreciar as belezas de uma ilha deserta.

Hcqf, 12 de maio de 2022.

terça-feira, 10 de maio de 2022

Sede do dragão

No mesmo mundo

Separados

Um retorna à casa

Outro muda de cidade 

Objetivos os aproximam

E os desejos afastam até os seus olhares 

É forte para além do que a física presumiria

São estados de espírito lutando pela materialidade no vislumbre de vencer a morte

Na-ser, ser-ia...

Ainda não...

Ainda é, colado, amalgamado...

Carece de laço, para a nós chegar.

Cada uno, em si mesmo, ainda não viu o outro.

Carece e perece na flâmula

Despejam seus líquidos nas taças acolhidas

Guardando seus dragões com sede 

Hcqf maio, 2022


domingo, 3 de abril de 2022

Cinzas de estrelas

 A pouca justiça que vejo nos olhos de quem me condena

A vejo, em quantidade pequena, desde dentro de mim...

Por vezes o juízo mais frequente que faço das minhas escolhas de caminhos e pessoas, vem de um juiz que me condena a um poço...

Mas dentro, em mim, essas águas venho cuidando... 

 Tem um tempo, que reconheci da sua profundeza, não a mim, mas outros...

Entendi no que há de escuro, espaço para as estrelas, que guardo...

Água ainda é um tema delicado, reconheço. Sua limpidez, sua profundidade, maleabilidade e densidade, características orgânicas que lapido em análise...

Encontrei minha fonte e descobri também riachos... des'águar prene de vida e responsabilidade, fez um braço de oceano encontrar minhas águas barrentas de Rio Guamá(Guajará de mágoa).

É meu ponto de ambivalência: 

escura - preta e marronzada;

dividida: densa e fria - leve e quente; 

profunda - translúcida e opaca; 

apaixonada pela vida - amante e traída.

Tem tempo que mergulho só quando estou distraída... prefiro minhas margens e os limites da escrita a despeito da ortografia, mas diante da oficialidade...

Escolhi a escrita, a pesquisa e a poesia, aonde a escuta me guia devagar....

E esse tempo que corre rápido mas a passos de formiga, pequenina é a pegada...

Meus passos são  reticências e estou sempre ás voltas com a ciência  e suas linhas, regras, réguas e medidas.

Como me fascina, algo tão estranho, para uma mulher, como a dureza em que fui forjada?

Dúctil, são as pontes, estradas e muros, que contornam... 

Me apaixono por meu lado mais duro, toda vez que brilha em outra alma.

Vislumbro lapidar a minha onix até queimar a minha fênix e enxergar nas cinzas a poeira de estrelas escondida.

Hcqf 2 de abril de 2022 (10/05/2022)


domingo, 27 de março de 2022

Vazio habitado

 Nossa...

Como as diferenças alargam quando o sentimento passa!?

Cada passo a diante é um abismo...

Cada assunto desencontrado, uma ferida a abrir e ficar mais funda... 

No horizonte, a expectativa de precipício, esteve desde o contato mais primário...

Era de longe qualquer vislumbre..  eu queria ainda enxergar algo, como antes...

De perto é frio, está sempre nublado.

O cinza tomou o cume das árvores e montes, por todo lado só vejo fumaça. 

As palavras não fazem sentido, o desentendimento enloquece a compreensão e os sentidos...

Minha emoção ensolarada não co-move... Parados, em silêncio, olhos para baixo... Isso estava decretado, desde sempre: saudade é um vazio habitado.

Estamos em lugares diferentes ainda que no mesmo espaço - sideral (de distância)

Não estamos ocupados pelo mesmos planos... Lutamos a mesma batalha, por bandeiras diferentes. 

E o idioma que isola qualquer estrangeiro, abriu um buraco entre duas dimensões... a falha na comunicação foi o que nos guiou até agora...

E o cotidiano das necessidades e paixões, demonstrou seu destino: o fim.

Hcqf 25 de abril de 2022


quarta-feira, 16 de março de 2022

Para não trocar o nome

 Como eu queria ser teu bebê...

Mas é só mais um obstáculo que colocas a minha frente...

Se trocares o nome

Se trocares a pessoa

Se eu te tocar 

Sou eu a pessoa errada.

Nossa como é triste ser a fantasia sexual de alguém 

Falta o encontro de olhar

Falta o toque dos lábios

Falta a mão vibrar e conduzir os impulsos ao coração 

Só a falta me acompanha ao teu lado

Hcqf 1 de dez de 2022


Erros de amor

 Desde o último texto, a distância se alargou... meu coração atracou no porto mais próximo, do momento... e é o fato de ter um sentido de efemeridade, que me machuca a pena...

Nova(desmente), estou aqui para declarar meus erros de amor...


H.c q.f 9 de fev de 2022

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Encanto de saudade

Que eu não seja o amor da tua vida,

Isso tá muito claro pra ti

Que eu não seja um amor qualquer ,

Isso é o que eu sei de mim.

Não estou nas saudades diárias inscritas na distância emocional e geográfica desses dias.

Tampouco faço parte dos dias planejados para depois do tédio que confessas. 

Ainda que eu seja a escuta encarnada no que esbravejas, envia em meio às risadas, 

ou cantorolas sem pretensão e sem que me desejes.

Não são pra mim as súplicas das canções, 

Nem os lamentos escondidos nos textos elaborados dos poetas escolhidos ,

Embora, por vezes, estejam a mim referenciados.

Encostaste-me qual livro empoeriado em um canto qualquer da estante da sala, onde não habitas e pouco visitas.

Lugar cuja presteza não é a feitura amorosa lasciva ou carinhosa.

Na realidade, a saudade bateu na aorta.

Há dias convivo com seus caprichos...

Acordo, levanto, escrevo, canto, trabalho, brinco, adormeço e sonho contigo...

Tem algumas luas que não há como avistar selena alguma e nem posso ver tua figura.

Também já não está a brincadeira fora de hora, marcada no relógio como copanhia a serenar o fim do meu dia.

Serenissíma a noite sem te escutar, uma tranquilidade  esquálida, pois falta a tua malícia e ingenuidade.

Alguns dos habitantes do absurdo que te caracteriza, e estão comigo escorados no móvel antigo, parados a empoeirar.

Não sei qual o motivo do espinho a perfurar mais fundo meu peito de rosa.

Não sou pra ti como um refúgio, nada abrigo dos teus anseios.

Nada, eu receio, realmente saber de ti e mais ainda da ternura,

Essa que resguardas para a tua derradeira morada.

Casa, coração que procuras.

Hcqf 13 de jan de 2022


"Minha laranjeira verde

Por que estas tao prateada? 

Foi da lua dessa noite

Do sereno da madrugada"

(Serenissima - legião urbana)




sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Triste de amor

Vamos ter uma conversa civilizada...

Se eu pudesse começar a te contar a minha vida, porque eu queria isso... eu teria muito medo de dizer que eu não tive a proteção de um pai...

E quando isso aconteceu, foi de um jeito tão incompreensível pra ti, que outro dia você falou do meu pai, como se estivesse ao meu alcance (nenhum dos dois).

No dia que me contou um pesadelo, não sei se eu entendi o que narraste, nem sei se ele aconteceu de fato, ou foi uma intimidação covarde... Quase deu certo: eu fiquei muito preocupada... 

Se eu realmente pudesse atravessar as dimensões que envolvem o real, eu estaria do teu lado, abraçada e querendo te proteger desse medo de desapontar teu pai...

Acho que era sobre isso o delírio... Eu desviei o assunto pra te proteger... porque se eu pudesse entrar na tua intimidade e te perguntar todas as vezes que tu me deste alguma abertura... Eu teria feito. Mas ainda não dou conta nem de imaginar sentir que a gente se entende... 

Te colocar pra dentro do meu mundo tá acontecendo sem que eu controle de fato... de repente meu filho pergunta se estou falando com você, chora de ciúme e pega o telefone com força e sempre a explicação é um único nome...

Porém a minha história de verdade é sobre uma menina pobre que estudou a vida inteira para ter uma carreira que ajudasse a família a limpar a sujeira que meu pai fez: ele abandonou as duas primeiras filhas e isso nos constrange profundamente.

Eu careço de proteção, isso é real, e não gosto de admitir... 

A sua história que revela desalento nos traços tristes que discorre, não me assusta, pois o medo me faz companhia desde sempre...

O desalinhado que sobressai pra ti, eu gosto que as pessoas reconheçam nas frestas que eu deixo, abre caminho para os meus defeitos menos evidentes e mais marcantes... 

Ser amada apesar dos meus erros e não pelas minhas "qualidades", é o coração da menina que deseja ser aceita pelo pai independente da idade e do tempo...

Não é o guerreiro que sustenta e provê a família que me excita... o que desejo está no cara que se deita ao meu lado despido de vaidade e me torna cúmplice de seus segredos... São os ouvidos da criança que deseja as histórias de infância do homem que ela mais ama e pra quem ela sorri sem parar, no intuito de ganhar colo, proteção, amor (em sonho)...

Eu conheço homens bons, são tios, amigos, ex-amores, mas não sei nada sobre o jeito de quem mais desejo saber...

Eu desejo proteção, o que não permito se realizar, porque evito demonstrar fraqueza... Falo como uma raposa, uivo como uma loba, para esconder a gatinha preta que me habita.

Já ensaiei te dizer isso algumas vezes, a metáfora é sobre trazer uma sorte inesperada... Não posso prometer... Mas sempre apontei direções corretas a quem amo e amei, mas nunca as encontrei na bússola que me orienta...

Desta vez, astronauta, escolhi atirar e ventilo nomes femininos sem parar... (the ship wrek - Florence)... Quero que eu saiba o que fazer quando o navio naufragar.. Já estou sentindo a turbulência das águas.... Eu confio muito no meu potencial de afogar meu desejo... 

Primeiro a amiga que não é presente mas que me atravessa a vida... Depois o amor da tua vida, no meu natalício... Apareceu o teu amor mais amigo e eu comecei a desaparecer de vez...

Mas dessa vez eu  não quero conquistar meu intento, quero conquistar o gosto que eu almejo.... Quero sentir o amor que silencias... Já estou errada desde o começo... 

Desculpa, eu não olho a tua boca, eu não miro nos teus olhos... É profunda a tua influência sobre o meu corpo... Eu desfoco, procuro outros pontos que eu também desejo tocar com os lábios... Eu miro os teus braços, miro tuas mãos no teu cabelo, só pode ser de propósito... Eu fico desalinhada, em puro desespero... Porque eu sei, não consigo fazer nada...

A mulher brava e forte que me veste, fica nua e inofensiva.... É dela as palavras que sempre mudam o cenário dos sentidos... Não é uma atriz, é uma menina... Nada sabemos sobre impurezas buscamos abrigo, queremos amor...

A moça que se aproxima, já ganhou a batalha... Nunca venci a guerra contra as mulheres que eu tornei minhas adversárias... o intuito é fazê-las me paralisar, posicioná-las feito porta bem trancada: dali em diante perdi o direito de seguir, devo partir.

Você me disse que parecia que eu estava apaixonada por ela... Queria eu nem estar apaixonada... Mas não foi ela quem me fez atentar pro teu forte traço, foi um amigo de infância, meu primeiro beijo, minha primeira decepção... Aquele que eu consegui entornar amigo, mas que ainda hoje existe um inconveniente ruído na nossa comunicação...

Foi também ele quem participou da minha história de amor primevo: eles eram amigos de sala... Assim meu pretendente podia me ver... E até hoje o cabelo claro que eu represento com Marilyn, é ele... O doce outubro que quero fazer virar novembro....

Nossa, tô com muito medo do que eu escrevi... As referências na frase são fúnebres: doce novembro é uma história de amor linda que uma doença terminal pôs fim... Eu não te falei mas eu tô doente, meu corpo tá cansado de desejar sem ter fim essa história triste de amor pelo meu pai que não aparece.

Outra referência ruim: lembrei que meu filho tem me falado sobre o meu pai... Ele afirma: não fica triste mamãe, seu pai vai trazer bombom pra ti... Ou então: fica calma, mamãe, seu pai vai te levar pra passear... Ele não sabe que eu sei que a dor que ele sente de saudade do pai dele, eu sinto... Ou talvez na sabedoria da infância, tudo isso que ele me diz, tantas vezes no dia, demonstre que ele sabe muito bem da dor que transparece em mim...

Hoje ele reconheceu meu desespero, em não largar o celular esperando a tua resposta vazia... Ele disse: não chora, mamãe, você tá triste de amor? Não tive como mentir, ele poderia jamais me acreditar os sentimentos... Olhei no mais profundo dos olhos dele e disse: sim, estou triste de amor...

Ele tinha acabado de pedir colo, por dizer que estava triste de amor, e que o coração dele doía... Ele tava pedindo atenção e carinho... Ganhou a minha verdade, meu coração, meu colo, meu respeito, minha admiração e muitos beijinhos...

Eu sou triste de amor... Hoje meu filho me reconheceu... Não tinha como ser de outra forma: minha mãe fria e meu pai ausente, permitiram muita negligência e abandono... Fui especialmente marcada de desalento e desatino nas palavras minhas dores e amores...

Quando eu te chamo de bebê, e vc não aceita, achando que é parte do carinho vil que insitei com as palavras torpes de sempre... Percebo que a gente ainda não se reconhece... Vc não sabe quando uma palavra diferente é uma ponte pro meu coração... Eu desejo tanto escrever que seja ainda...

Por favor, me dá um espaço no seu peito! Vou chegar de mansinho... Vou falar bem baixo... Vou te esperar... pra almoçar, pra tudo...

Quando eu digo que vou esperar, eu estou dizendo que você tem comigo todo o tempo que quiser... Toda hora vai ser sempre... Desculpa, sou muito apaixonada..  só sei ser assim...

Porque eu não te escolhi numa prateleira... Não te formatei num aplicativo... E quando a sua mão calou meu medo de revelar a minha poesia... Meu ímpeto queria segurar ela bem forte... Queria segurar ela lá no palco enquanto falava...

Porque depois que eu vi a tua mão estendida... Eu não vi mais nada... Não lembro se a segurei, não lembro como cheguei ao palco... Tenho lapsos de alguns momentos, tipo os seus olhos tímidos me olhando procurar coragem na imagem projetada no espelho...

Se falei e como falei não escutei, nem senti... Foi rápido como um gozo curto... Eu mesmo em pé, mesmo de microfone na mão, ainda estava sentada à mesa olhando seus dedos sobre sua perna numa obra de arte enquadrada pelos tons vermelhos e o tom da tua pele...

A gente não combina em nada... Hoje escrevo tudo isso porque não haverá outra conversa... Apaguei teu contato... que já teve inúmeros pseudônimos...E vou começar a te tirar da minha vida... Iniciei uma linda história de amor consagrada, entre você e a escolhida pra me sabator...

Já tenho até a desculpa ensaiada: ela tinha um relacionamento abusivo, precisava que o amor lhe salvasse, teve também uma infância difícil, que ela não vai ter medo de te contar... Ela é a personagem que conversa contigo de madrugada: sincera, autêntica, independente, amorosa e um xodó da vida...

Dessa vez quero tentar te deixar perto e poder escutar o violão que te acompanha revelar doçura nesse escuro estrelado.

Já tenho a distração escolhida, um rapaz que está morando fora... Ele vem em dezembro... Tenho tesão nele, mas é só (e depois? Continuo a conversa com as mensagens que trocamos)... Com ele não será nada... Vou cultuar a tua voz e teus versos imensos e frios por um tempo... E esse vai ser o enredo desse trecho da minha estrada.  

Talvez minha saúde careça de atenção... Então vou jogar meus olhos para essa situação e tentar desejar vencer a batalha contra o que quer que me espere na curva... 

Pena que não espero, ou vejo possibilidade de ser você tocando e cantando pra mim: 

Fale mais de vc

Dos seus discos

Do tempo de criança

Do elo perdido

E do primeiro amor

Que te deixou assim 

Com tanto medo

Do mais novo amor....

Senta aqui...

(Do meu lado)

Prometo não avançar 

O sinal

Vermelho

Dos teus olhos

E quando vc pedir pra parar

Eu paro...

É uma história de amor (2x)

(o que  proponho a você, minha menina,

 é um final feliz)...

E já que eu não vou poder mais fantasiar um encontro carnal das nossas almas... Deixo aqui uma saudade de te dizer que a gente podia se fazer bem que só... 

Desculpa te deixar retraído e receoso, faz parte da cena que sempre me leva o amor embora...

H.c.q f 15 de nov 2021/ trechos modificados 06 de janeiro de 2022.


Vídeo

https://youtu.be/kBOJsYynIx8


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Lagoa insone

 Cansada de ser tratada como uma coisa esquisita, que chama atenção por destoar do entorno. 

Ao me avistarem, por vezes, sou tratada como quem aprecia uma obra surrealista. Há vislumbre de beleza, mas também estranheza e o que se conclui é um vazio de sentido.

A minha peculiaridade, que por vezes se avista como absurda, é de carne e osso. Sangro e desmorono como qualquer humano, choro, peço colo, careço de carinho... 

Quase nada em mim é firme... pouco ofereço que seja contuso... minha dureza e seriedade vocabular aparece em momentos (até inadequados), mas mergulha e some na profundeza confusa, infantil, desmedida, impulsiva e romântica cuja maior parte do meu oceano configura.

Poderia dizer que nada em mim ressoa autossuficiência, mas se alguém percebeu algum foco de autoestima não foi por meus encantos. Tenho poucos aliás, meu fascínio por min tem origem no meu pouco critério lógico quanto à beleza, moral e virtudes. Minha identificação está mais do lado da ética, da distopia e da tragédia.

E o caos que me reveste em nada prenuncia meus aspectos sugenéres. Sou comum, tal qual lago de água parada, como descreve Benedetti, esperando chuva que possa movimentar os musgos das minhas paredes e permitir que o oxigênio volte a trazer vida que faça morada. 



O poema:

"Unas veces me sientocomo pobre colina
y otras como montaña
de cumbres repetidas.

Unas veces me siento
como un acantilado
y en otras como un cielo
azul pero lejano.

A veces uno es
manantial entre rocas
y otras veces un árbol
con las últimas hojas.
Pero hoy me siento apenas
como laguna insomne
con un embarcadero
ya sin embarcaciones
una laguna verde
inmóvil y paciente
conforme con sus algas
sus musgos y sus peces,
sereno en mi confianza
confiando en que una tarde
te acerques y te mires,
te mires al mirarme." Estados de Ánimo - Mario Benedetti)
*********************

Mais sobre Mario Benedetti:

https://www.revistaprosaversoearte.com/?s=mario+benedetti

Música: The Archer (Taylor Swift)

Combate, estou pronta para o combate
Eu digo que não quero isso, mas e se eu quiser?
Porque a crueldade vence nos filmes 
Eu tenho uma centena de discursos rejeitados
Eu quase disse a você Fácil eles vêm, fácil eles vão
Eu pulo do trem, eu vou sozinha 
Eu nunca cresci, está ficando tão velha 
Me ajude a segurar em você Eu fui a arqueira 
Eu fui a presa 
Quem poderia me deixar, querido? 
Mas quem poderia ficar?
Lado negro, eu procuro seu lado negro
 Mas e se eu estiver bem, certo, certo, bem aqui?
E eu cortei meu nariz apenas para irritar meu rosto 
Então eu odiei meu reflexo por anos e anos
Eu acordo no meio da noite, ando como um fantasma 
A sala está pegando fogo, fumaça invisível
E todos os meus heróis morrem sozinhos
Me ajude a segurar em você 
Eu fui a arqueira, Eu fui a presa 
Gritando, quem poderia me deixar, querido? 
Mas quem poderia ficar?
(Eu vejo através de mim...) Porque eles veem através de mim 
Eles veem através de mim 
Eles veem através Você pode ver através de mim? Eles veem através 
Eles veem através de mim Eu vejo através de mim...
Todos os cavalos do rei, todos os homens do rei 
Não conseguiriam me juntar de novo 
Porque todos os meus inimigos começaram como amigos
Me ajude a segurar em você Eu fui a arqueira Eu fui a presa 
Quem poderia me deixar, querida? Mas quem poderia ficar?
(Eu vejo através de mim...) Quem poderia ficar? 
Você poderia ficar Você! Combate, estou pronta para o combate.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Do sabor-saber ao saber-sabor

 Do saber-sabor ao sabor-saber:

Um amor carnal, tem uma ética carnívora por saborear o gosto do corpo do outrem em uma refeição sem etiqueta.


Tal como a ética do desejo, envolta no ritual de alimentação mais primevo, pelo qual o bebê apreende o gosto/gozo da vida ao esperar o que vem do outro e libertar a fera: desejar.


É primordial que o desejo de se relacionar se cumpra, para que a ceia antropofágica aconteça. 


E a transferência de sentidos, significados, sentimentos e sensações nas múltiplas linguagens é o que proporciona tamanho saber-sabor.


E as perdas cabais contidas em cada pedaço a alimentar o anseio bestial, são deglutidas com sofisticada elaboração, quando o sentimento se desfaz na boca deixando como lembrança o sabor-saber.


Uma experiência paradisíaca em meio ao deserto da vontade de voltar a se satisfazer. Inferno a premeditar o céu, que a boca procura no corpo que contorna diante da fome de amar.


É solene a metáfora, mestre e discípulo a qual se refere Rubem Alves* sobre cozinheiro e aprendiz no lindo texto "Variações do prazer": a única hierarquia que vigora não coroa nenhum dos envolvidos.


É preciso humildade e pouca pompa e circunstância para se entregar numa relação de amor.


Contudo, ceder é o mais alto prazer conquistado por quem não se importa de entregar pedaços caros ao bel prazer.


Fica num nível menor da existência quem come com vigor, pois o lugar privilegiado está em sentir os cheiros a aguçar os sentidos; ao colocar a mesa para que o outro entregue-se sem pudor e receber um significado estrangeiro ao ouvir que está delicioso. 


Nutrir de afeto é uma poesia emprestada aos cozinheiros pelos deuses e que desde a mais tenra idade deixa faminta a alma.

Hcqf 4 de jan de 2022

Nossos espaços secretos: pessoas que amamos

 Eu não quero te entender

Eu quero te advinhar

Saber antes mesmo de você 

O que faria teu olho brilhar

Pra te trazer um pedaço do paraíso 

E ganhar o céu em um sorriso

Parece errado antecipar alguém e suas vontades

É perigoso

É arriscar perder o que não tem igual

Mas não é da ordem da razão 

Pré-anúncia não quem é recompensado

Mas quem foi capturado pelo outro 

E por alguns instantes

Sai do conforto da sua própria alma

E caminha o escuro inabitável em outra vida

É mergulhar em um mar gelado

Que relaxa, ensina, desterritorializa impressões 

Traz aprendizados estrangeiros 

E por menor que seja o mergulho 

Sempre é profundo

E desvela um receio que estava muito bem abrigado

No fundo

Escondido

Encoberto 

Do que há de secreto no desejo 

Perdido nessa busca

O abandono das certezas revela o inesperado 

Somos mais alma que água

Mais deserto que floresta a guardar seres vivos

Embora na areia que somos 

Cada oasis que escondemos de nós e dos outros

São o motivo de vivermos

E quem vê nossos pequenos habitats espalhados 

Tal como as estrelas a formar constelações no espaço 

São amores que nos mostram 

O motivo da vida todo dia vencer a morte

E cada espaço secreto que nos encontra

São pessoas que amamos

Antes, agora e imensamente 

hcqf 3 de jan de 2022


sábado, 1 de janeiro de 2022

Universal-mente

 Quero começar esse retorno simbólico expressando meu uni-verso...

Tal unicidade que me constitui e atinge, de tão pequena.

Para não descuidar desse amor que me alimenta,

Para cultivar a leitura, a escrita, a poesia, a literatura, a escuta, a psicanálise e a vida/morte que me habita.

Um portal simbólico, que marca a finalização de uma volta entorno do astro-mor. Embora, também seja o início de uma nova trajetória circunscrita a exaltar a majestade encandescente do sol.

No entanto, é por meio da pequenez da Terra que acontece essa travessia cósmica. É ela que rés-guarda complexidade, diversidade e incontáveis formas de vida, sem parar de girar por si sob suas leis e dinâmicas.

Nesse rito no qual protagonizamos fim e reinício, também experimentamos (si.len.ci.o.sa.men.te) oposições que nos constituem: sermos parte da universal infinitude; estarmos presente em uma finalização e a ausência da certeza do que realmente se inicia; celebrarmos grandeza e pequenez na existência.

Nossos símbolos, signos, letras, linguagem, comunicação, história, crenças e psiquismo tentam nos defender do não-saber que nos cerca de todo lado, contudo nossos rituais e lembranças nos condenam a sentir liberdade e vazio; saudade e espera; eternidade e finitude no mesmo instante diante da grandeza do cosmos.

Criamos o mundo pelos símbolos que trocamos, mas territorialistas, alcançamos o sentido cosmopolita, sem jamais alçarmos à universalidade, por mais que empreitemos ficcionalizá-la com a nossa vaidade.

Aqui, agora - no que está entre o passado que já não temos, o futuro que não podemos alcançar e o presente em que vivemos - somos físicos como o ar a evaporar pelos dias deixando massa, calor, perfume, palavras, pensamentos, sofrimentos, falta, desejo, amor e poesia.

Até, então...

Hcqf 1 de jan de 2022