Outro dia, da janela do ônibus avistei o sentido de sereno em plena luz do dia.
Entre debates sobre amor e política, dentro de mim encontrei a palavra morena, que embala o amor pela minha avó materna.
Na minha infância tinha a beleza da pele escura e o cabelo de algodão e a falta dela/nela do moreno do açúcar artesanal.
De dentro da rotina, agora adulta, meu pensamento trançou moreno com sereno, serenar com amorenar.
E num repente escutei o som do silêncio que a noite inaugura depois de apagar o dia.
Escutei é poesia, pois neste instante o vazio tomou conta.
Si.len.ci.an.do de-va-gar desde dentro.
Encontrei a melodia que me encanta - há 200 anos, eu repito - desde o último agosto. Foi amor a primeira escuta.
Agora também achei, sem procurar, o tom moreno, que historicizou em oito anos a eternidade na minha história. Entre o breu-da-ciência e a lâmpada-da-ideia-romântica, nasceu a luz-menino.
Esse corte... também está em presença, enquanto escrevo... Pausa, reticências, estribilho...
A voz que asserenou minha escrita, de tão tranquila, me embala acordada... "adoro vê-la, adoro tê-la"
Versos soltos, músicais, que soaram aos meus ouvidos. Sinto nisso proteção, para que eu mergulhe com cuidado.
Amo o quanto essa fala-música em mim canta... Quando na minha frente, sou reverência e oração, meus olhos, de joelhos, vão ao chão.
Amanso o entorno, o silêncio quebra a barreira do som, a frequência abaixa tanto, que bem no fundo, a iris escura brilha feito estrella (de Benedito).
E independente do espaço me distancio, viro encanto, me reviro toda, para nosso constrangimento tornar abra-laço.
Ele acorda pedacinhos escondidos.
Ainda agora o alvoroço no meu peito, no meio do meu tórax: também é orgânico, toca meu corpo.
Sinto minhas vísceras em segundos que em minutos viram miúdos.
Escuto pequeno e comprimida pertenço a essa fumaça de morango.
Viro átomo, escuro e sonho puro.
Hcqf 4 de agosto de 2022
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