"Te esperei..."
Veio se aproximando devagar, como espreita a raposa de dia...
Você me disse o que comprou na livraria e me contou que viu "O teatro completo da Hilda Hilst".
Eu disse que agora queria conhecer a poesia de Dickinson.
Mais tarde, mais livros... Cinco exemplares com dois nomes conhecidos: Herman e Emily.
Um tom desconhecido me fez achar que era brincadeira, mas você realmente desconsiderou o que eu havia dito sobre aquela nova poética, pra mim, até em um email, muitos dias antes.
Demorei a entender sua deslealdade... Caiu a ficha e eu decantei algumas lágrimas.
Um dia de silêncio... Eu já tinha um compromisso marcado... Diz você, que eu lhe disse tudo sobre o rapaz que encontraria, ainda naquele dia que perdi o controle e fui parar no hospital.
No encontro com a outra pessoa, tirei uma dúvida de amigo músico com você... Voltou o vazio na janela e eu toquei outra pessoa, mas não senti nada.
No outro dia, era um domingo, você acordou cedo como nunca, atravessou a rua da sua casa e comprou um livro. Acho que vinha para Ananindeua... Lembrou do meu novo cativeiro (Emily) e disse: "é seu, comprei pra você". E já tem três semanas que você nem dedicatória escreveu. Nem o livro, nem a poesia... Era só o tédio de um domingo de manhã sem ninguém que você queria e uma janela que você aluga de vez em quando.
Eu agradeci, como quem tivesse ganhado o presente de um inimigo. Era cedo, mas eu acordei tarde da festa anterior...fiz um texto/poema sobre o desencontro do outro dia, e pensei no que me daria como um regalo estranho, tanto que não se materializou na minha estante nem na minha vida.
Estava certa!
Depois disso, nada... E em outra manhã, Bocage. Agradeci em gracejo... Você me interpelou com suas mentiras ou verdades sobre outra pessoa. Você disse ciúme, eu ouvi inverdades outra vez. Agradeci como sempre e nada mais me disse.
Mais dias de silêncio... Agora veio a espera, talvez um cartão de visita existiria pela primeira vez... Você disse algo, depois de uns três dias, porque eu comecei alguma conversa de trabalho, ou da minha saúde...
Deu a entender, porque você não faz promessas de amor (você tem fantasias na cama com várias pessoas ao mesmo tempo), disse que entregaria o livro em mãos pela coincidência da minha rotina de trabalho e da sua nova casa... Juro que brotou uma espera-criança, mesmo que eu já soubesse, por tanto, que nada existia de surpresa.
Respondi para você sobre quem me feriu recentemente, enquanto escrevo: "sai das redes dele". E pensei: "quero sair das suas mãos também".
A semana correu, meu coração acelerou algumas vezes esperando o encontro com Dickinson... Desta vez você não iria falhar comigo, podia me encontrar até na rua e me entregar o livro... Não dava, tinha que me rasgar outros pedaços...
Chegou ao fim a rotina da semana, embalei temperos para servir de comida a você. Era tarde, nada mudou em como me vê.
Quase marca mais um desencontro entre a minha falsa esperança e seu autoengano. Mas o time que você nem torce fez um gol, e eu te vi vibrar... Acho que era o Fluminense, só agora eu percebi, que tem tudo a ver com a nossa amiga virtual. E no tempo depois em que escrevo, soube que acha que nosso encontro foi uma perda de tempo, e me viu perdida, enquanto me entregava a contra gosto algumas horas da sua noite, sem um convite para encontrar "a" Alvarenga. Acho que você pensa que meu raciocínio falha quando estou com você... Ele guarda pedaços que me entrega digeridos.
Mais uma chance de dar tudo errado que você fez dar certo, sem motivo nenhum, como agora enquanto escrevo e você manda mensagem porque não conhece outra mulher daqui da nova antiga casa, e eu tenho vontade de te pedir pra dar em cima de qualquer pessoa e me deixar dormir e tentar levantar outra pessoa (com você): "meu coração às vezes é brutal".
Bem na porta notei mudanças físicas em você, mas você disse de mim: "você continua a mesma coisa". E ainda reforçou: "eu prestei bem atenção ao seu corpo (pequeno)".
Entrei em outra casa escura, senti seu desleixo impregnado nos objetos e por mim. Foi como sempre era, estranho...
Você pediu desculpa pela bagunça, na casa e não na vida. Eu senti um certo medo de entrar de novo. Você deitou na cama sedento por outras mulheres... Eu deitei esperando um abraço desde a entrada. Eu pensei agora: "eu mereço mais".
Vi seu corpo grande (maior ainda) talvez pela experiência ruim que passei, titubiei por minutos (assim como foi com o guri de blusa verde também travei). Você, já sabendo o que passei, mas com muita pressa, quase me dispensa da porta mesmo. Eu senti vergonha, mas não desisti, eu sou uma tola.
Seus olhos lancinantes para algum lugar distante... Eles não me viram, nem na entrada, nem agora na sua cama.
Você pediu pressa, e eu presa na minha ilusão, agora ainda convivo com uma notificação: "essas mensagens serão apagadas daqui a 7 dias, automaticamente".
Nem o trabalho de apagar você quer ter... Eu conheci alguns moleques, alguns meninos e poucos homens: ainda bem.
A cena começou no quarto com o barulho do ventilador. Você suava como eu nunca vi, mas do jeito que eu gosto. Lembro que uma gota salgada caiu no meu lábio e eu engoli feito "lágrima [na] chuva".
Você não precisa dizer nada, cada silêncio seu me salva um pouco das minhas ruínas. Seus gestos gritam: "se afasta, não tem nada!" Mas eu fico perto.
Ainda tenho ciúme, que em mim é um tipo de amor, mas aprendi a ver passar feito navio na estação das docas, eu sozinha rodeada de casais apaixonados.
Mais uma vez me entreguei ao seu corpo sem alma... Nada contra, você não me ama. Ardemos uma febre engraçada. Desculpa, acho que nunca mais vai acontecer (nada disso).
E você confessou, não tinha feito a dedicatória, está na sua cabeça, mas nem podia me dizer ao pé do ouvido. Não há o que dedicar para uma mulher que você não ama.
Hcqf 23-30 de Nov de 2023
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