sábado, 5 de setembro de 2020

Parar de sentir

 


Não sei como é deixar de amar alguém...

Nunca experimentei parar de sentir o amor que nem escolhi doar, mas nele me dei.

Como pedir de volta um desejo que foi para o outro? 

Não há como pegar de volta... 

Me peguei pensando em quantas vidas já amei e percebi que nem ao menos uma eu deixei de amar.

Ainda sinto a mesma alegria quando lembro dos dias lindos e ainda sinto a mesma tristeza por aqueles em que nos ferimos.

Pensei também se não seria melhor não pensar e então guardá-los em silêncio. Talvez fosse, mas não é...

São lembranças teimosas vem e vão embora quando um cheiro, um lugar, alguém faz lembrar uma cor, um detalhe...

E são esses detalhes que tornam o amor inesquecível. Cada pedacinho consagra o infinito. É que são tão miúdos, que nos dias em que os encontramos,o mais provável, é que nem percebemos que eles atracaram bem lá no fundo, onde é tão escuro que nem parece existir. Mas uma fagulha de luz já torna possível contemplar essa nossa profundeza.

E quando o vento da saudade sopra, eles se espalham pelo dia e cada canto da nossa história reaparece numa música que mexendo em uma playlist antiga, "sem querer", faz um grande amigo reaparecer; ou passando em frente a uma doceria, o cheiro de bolo de milho faz levar pra casa ao menos uma fatia do bolo preferido da avó mais querida... 

E cada recordação parece ao acaso, mas  bem no fundo, não é não... É saudade de nunca ter deixado de amar quem nos amou... 

Não dá para parar de sentir o que seu corpo, sua memória capturou do mundo para fazer parte da sua história.

É num caminho que se pega errado ir parar na parada incerta e fazer todo sentido ter chegado.

H.C. Q. F. 5 De setembro de 2020.

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