segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Presença que faz falta

Seus problemas não são financeiros... Você herdou uma casa imensa e ainda foge de uma herança do nome do seu pai...
Não, sua questão não é com as coisas que existem em suas formas materiais. O que te incomoda não é palpável... 
É justamente o que não consegue ver, tocar, alcançar... que se amontoa em uma névoa impalpável...
Outro dia disse que sua forma de amar é proporcionando coisas, algo assim... 
Nem lembro direito, pois no mesmo dia tentou seduzir outra mulher (da minha vida) em uma conversa sobre restaurantes, ervas finas, culinária artesanal e outros dotes de um bom anfitrião... A todo momento você queria proporcionar com seus gostos e experiências uma ambiente requintado... Eu não participei da conversa, meus gostos não são caros e até o carro era da minha amiga... 
Você conseguiu frustrar as expectativas dela tanto financeiras, quanto sexuais: não quis pagar a conta inteira e ainda sinalizou que "estava comigo" ao dizer que pagaria a minha parte... Um episódio sem qualquer sentido a não ser o pretexto que você encontra incrivelmente pra decepcionar. 
Mas no fundo existe toda uma explicação possível para isso de querer proporcionar... não realmente pra mim... mas para quem você ama, pelo tempo que for...
Você disse: "a noite estava surpresa desagradável... eu vi passar um camarão empanado e disse para ela pedir, porque sei que ela adora... para harmonizar o garçom indicou um vinho rosé... e ela se embebedou muito rápido... Fomos pra casa e transamos como nunca... ela se permitiu a coisas que acho que pesaram para ela... foi o nosso último encontro. Ela não sustentou ter passado do ponto em várias coisas naquele dia".
E percebo que guardou a preferência e se preocupou em reverter a frustração que envolvia a situação... quer dizer quis proporcionar o que fosse necessário para deixá-la melhor e bem com você. 
Que tenha dado errado, pode até ser porque já estava planejado para não dar certo... para ser sobre acabar e você tentou adiar, ou mesmo mudar o final sinalizado por ela...
Mas esse fim traz algo do seu início: sua mãe te deu uma casa... deixou para você uma herança que a substituta dela em toda a vida que tem não conseguiu ela ter e deixar para seu primo/irmão. 
Quer dizer as coisas que tem não substituem o que você perdeu. Mãe-avó, mãe-tia, mãe-irmã, mãe-madrinha... nenhuma igual seu ideal-de-mãe, que existiu e fez o inacreditável possível: construiu uma casa para vocês. Têm as casas: casa-da-cidade-nova, casa-herança-de-mãe, casa-herança-de-pai, casa-da-cidade-grande... nenhuma é um lar com sua família completa.
Mas ninguém tem esse lar completo... é por isso que se procura um amor... para então encontrar, construir a sua própria casa.
Nenhuma família deixa de fazer falta... é por isso que a saudade alimenta as datas comemorativas... Ninguém celebrar os pais que teve, a gente sente falta do que tem, como é e teme perder, o que sobrou depois do ideal e ainda faz sentido.
E você não questiona as suas lembranças/estátuas... deixa elas intocadas, sem reclamações, sem críticas,  blindadas para as suas dores de ausência...
Você não conversa com quem tem saudade... fala com quem tá cansado de te ouvir sobre o que você tá esgotado de entender...
Não adianta dar alguma coisa e não ficar para criar lembranças e sentido. É preciso dizer algo sobre o sentimento que te fez dar aquele algo, para que vire verdadeiramente presente.
Ao final, coisa alguma substitui a presença de quem faz falta... e é preciso encontrar um sentido na saudade para poder existir com essa falta.

Hcqf 10 de agosto de 2025



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