sexta-feira, 29 de agosto de 2025
Wildiana
Conversa que nunca existiu
- Oi?
- Oi.
- Vai pra aula?
- Não
- Vou estar lá hoje.
- Legal (Não se preocupe)
- Tenho algumas novidades... rsrs
- Eu não.
- Acho que você já sabe...
Eu fico esperando alguma desculpa.
- Ah, ok.
- Foi do nada, eu precisava me organizar... Você sabe...
- É, eu imagino.
- Não fica triste...
- Tá tudo bem, só não vou pra aula por falta de tempo... mas estou adorando.
- Fica bem, espero não ter te magoado (de novo) não foi minha intenção... Você..
- Eu sabia...
- Oh, então, tchau.
E de novo ele esconde o que veio dizer.
E eu faço o que é preciso.
Vamos embora como se nada tivesse acontecido.
HCQF 29 de agosto de 2025
Meu lado E-rrante
domingo, 17 de agosto de 2025
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Presença que faz falta
sábado, 9 de agosto de 2025
Não aconteceu
- Por que você sai com todo mundo menos comigo?
- porque seria a primeira vez e eu não quero cometer o mesmo erro.
- mas já saímos várias vezes...
- você nunca, realmente, cumpriu um convite.
- você nunca confiou que eu poderia mudar.
- você ainda é o mesmo desde o primeiro dia.
- por isso nunca deu certo entre a gente, nem em um jantar...
- você nunca me levou para jantar...
- ah, mas já jantamos juntos várias vezes.
- eu comi porque tive fome...
- eu lhe disse que a comida era boa.
- você disse que era a última cerveja e não parou de beber e nem queria pagar.
- nossa, é isso então... só lembranças ruins.
- parece que você já esqueceu.
- eu acabei de lembrar de tudo isso.
- tudo que não existiu: encontros, jantares, etc...parece que só você estava lá, ou realmente não houve nada.
Hcqf 9 de agosto de 2025
Histórias de bolso
Realmente nunca fui suficiente...
A primeira vez que me trocou, a moça dividiria com ele um apartamento no centro, sonhos de melhorar de endereço, ficar mais perto de onde tudo acontece...
Aconteceram outras mulheres: uma da capital, outra dona de bar, a amiga separada de uma médica...
Não alguém modesto: filho pequeno, nenhuma herança, aluguel atrasado, um mestrado de lado, sem sobrenome, nenhum padrinho, um espelho exigente, muito trabalho para pagar só algumas contas, amigos só os do coração e uma família bem pequenina que cabe dentro de sonhos de cidades distantes do centro.
Contudo, sempre encontrava meu telefone na solidão da cidade grande... depois do happy hour quando não faz mais sentindo a rotina do horário comercial, a carreira brilhante e a conta corrente.
Mas ele conquistou seu maior sonho de consumo. Ela era um troféu: sem filhos, estabilidade profissional, casa própria, preocupada com o mestrado e a mãe, gostava de camarão e vinho rosa. Essa lembrava os meus traços e juventude, tão pequena quanto eu, mas tinha medo de envelhecer e decepcionar, como eu nunca tive.
Foram quase cinco... semanas sem me procurar... conheci outras companhias noturnas, um pobre amante e cumpri todos os meus prazos... até vivi um sonho inimaginável em um evento acadêmico, que me custou voltar a responder mensagens de madrugada.
Quer dizer, após quase dois meses em lua de mel com sua sereia da água doce, ele passou a enviar as mesmas mensagens de músicas perdidas nos anos 90, esquecidas em sacos de roupas sujas há algumas semanas.
Os convites também voltaram como sempre só muito depois do 5o dia do mês, quando era mais útil alguém sem grande pretensão salarial, que aceitaria a geladeira e a barriga vazia e histórias sobre coleções de pequenas derrotas, cheiro de urina e cerveja no quarto e na boca.
Eu vi começar e acabar o compromisso com a menina dos sonhos e ele passar a viver algumas semanas na companhia de um pesadelo...
Eu... agora frequentei lugares mais escuros e inóspitos do que no subúrbio. Na capital os garçons dos bares também fazem a segurança, não tem caderno e eles expulsam a chutes quem quer beber fiado.
Ele sempre estava sem capa, endividado, bêbado e carregando a perda da esposa troféu do campeonato de melhores partidos. Fui o abacaxi que ele empurrou pelas esquinas até a cama suja e fria no apartamento bem localizado, perto de tudo no centro da cidade.
Foram assim muitos dias, em quase sete meses, de muitas brigas, tapas, prateleiras de CDs quebrados, vergonha de garçons de bares antigos. Lugares que quase ninguém mais frequenta, depois dos tempos áureos dos falsos ricos de Belém e a ambição de nunca mais voltar para os conjuntos habitacionais da COHAB, ou uma cidade dormitório de mulheres trabalhadoras com sonho de deixar ao menos uma casa para os filhos.
Faz um tempo que eu não atendo os chamados noturnos, que coloco limites na minha carência... Tomo banho, passo hidratante e durmo cheirosa do lado de quem me aceita sem imaginar minhas dívidas e quanto eu tenho no banco. Acordo com meus sonhos salvos e olho nos olhos de quem vê o meu valor para além dos meus diplomas e mesmo assim acredita que ainda vou conseguir aquele desejo pequenino que escorre quando não posso realizar um pedido do meu filho.
Ele continua mandando mensagem de madrugada, "apenas como amigo", mas é sempre ele que precisa ser resgatado bêbado de madrugada, ou quer compartilhar uma música muito triste e sem sentido...
Sou eu que sou a amiga... eu que posso ajudar, salvar, mesmo sem ter garantia alguma... Alguém que não pede nada em troca como é difícil de encontrar nas grandes cidades e nas mentes afogadas no mundo capitalista.
Isso que reflete quando alguém olha para mim, não veio de agora, não. Foi plantado no quintal de uma casa caindo aos pedaços num bairro perigoso do estado mais pobre e abandonado da minha nação. Onde ninguém tinha muito, aprendi a viver todo dia esperando o tempo do jambo, da castanheira e das flores que coloriram as ruas... elas pintaram paisagens lindas nos meus sonhos e ainda agora deixo um bocado colorido os lugares por onde passo.
E de novo fui trocada, não como a amiga que sou, mas como preza desses olhos de águia... Outra mulher com estabilidade financeira, que ganha bem e tem um apartamento no centro. Mas agora como eu (e outras de suas caças) é uma mãe, o que ele justificou sobre ela na minha janela, como uma característica que nunca impediu um compromisso comigo.
Faltaram em mim outras coisas, acredito que materiais mesmo... de apalpar, de enfeitar, de mostrar nas fotos e nas reuniões de família e amigos. Diferente de alguém pequenino, espontâneo e que não faz mais sala, a outra mãe é um excelente partido com uma conta bancária, cartão de crédito, nome limpo e um filho adulto... Uma vida organizada, esperando uma ambição de mostrar para os outros viagens, shows e ganhar relógios e blusas de manga longa e um bordado no bolso.
No final, essa história é sobre esse pedaço de tecido que antes era costurado a roupa, mas hoje costurado ao corpo parece ter perdido o fundo. Nesses tempos o que importa é quanto cabe... não alguém como eu, que me preocupo com o que trago no peito e estou sempre esvaziando: a bolsa, as correntes na conta e o coração carente.
Não tenho o suficiente no bolso para ser escolhida. Não sou o suficiente para mostrar que tenho, porque escolho viver apenas com o que sou.
Hcqf 9 de agosto de 2025
Pensei (7 de agosto de 2021 - depois vejo o que é isso).
domingo, 3 de agosto de 2025
Pequenos
Tenho rebobinado um pensamento injusto contra o meu corpo: seios muito pequenos.
Tenho sofrido com esse apontamento que não me incomoda desde os meus 12 anos.
Todas as meninas comprando sutiãs lindos e eu sofrendo com as sobras de tecido com rendas.
Meus amores lapidaram, devagar, um deleite pessoal por eles... fui aprendendo a tocá-los, acariciá-los, elogiá-los, com amantes muito carinhosos.
Sabia da minha sorte, mas realmente não admitia menos do que encontrei nos cavalheiros que me tornaram mais caprichosa.
Sofri o teste da maternidade... em mim pedaços se fortaleceram, uma força me encontrou... porém um corte se refez: meu corpo é mais apontado, como quando eu era uma menina. Duas pontas que se encontraram numa vulnerabilidade por estar sem aquele aval masculino.
De repente encontro reinvenção e cores, e a menina floresce na mulher mais fortalecida pelas responsabilidades da maternidade.
Ainda não deixei para trás as marcas dessas falas e apontamentos sobre meu corpo, voltando ao bojo, que não tinha protagonismo antes.
Vejo a necessidade de constituir a proteção que aceitei vindo de fora, mas precisava vir de mim. E agora faz falta, como não me importar com a forma delicada dos seios que sustentaram meu menino nos primeiros meses de nutrição, nas noites de sonho no colo amoroso da mãe e contornam meu centro proporcionalmente ao meu corpo, ambos pequenos e doces (como sempre).
E assim, da sutileza nas cores, a voz suave, fui me constituindo de maneira discreta e simples, apenas para alguns olhares, de olhos bem carinhosos.
E que minhas companhias voltem a ser tão assim, mansas como minhas formas e proporções.
Hcqf 2 de agosto 2025