segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O misterioso interior de uma concha

A música diz: "A concha vazia parece fácil de quebrar...".

 Eu que só vejo a pérola, escura e rara, não entendo o porquê de ter se fixado só no seu brilho escuro. 

Não dá para ver o feitiço da primeira visada, a qual nunca abandona o ser olhado, tornando misteriosa qualquer pequena porção de estrela.

Insisto no que enfeitiça na concha, mesmo invadida pelas ondas, e ressalto: "parece que a água é uma ameaça que pode roubar seu pequeno mistério, no entanto a concha tem seu en-canto: foi quem o viu primeiro".

Talvez seja indesvendável essa primeira mirada do dia que foi visto por inteiro.

Uma mágica que envolve em um perolado o grão de areia.

Um dos mais lindos presentes escondidos na poeira. 

Secretamente abrigado no mais íntimo br-eu.

Mas se é escuro pode ser confundido com o nada, quando a ambição de enxergar algum lucro naquele pedaço da galáxia, cega para o entorno.

 Tem mais vazio que pérola na concha. Tem também mais perigos em volta, do que lá no fundo onde é acolhida.

É isso que a concha esconde do destino no mundo: a profundeza do primeiro colo e o olhar sob esse abrigo.

É quente e infinito pertencer também ao outro.

PS: porque escuto as pausas no que você diz e escrevo em poemas segredos.

HCQF, 25 d novembro, 2024.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Não faz essa falta não
que a distância de ti
faz um vazio desses de doer quando chove

não faz esse silêncio
que a tua voz fica mais alta
eu escuto gritos dentro do meu peito

não faz assim
o tempo é curto quando você vem
e infinito longe de ti

hcqf 4 de novembro de 2024

Coisas sobre te dizer

 Quando você vem

Começa a arar uma parte do meu território 

Como se fosse plantar algo

Alguns sementes são lançadas 

Ainda que não onde a terra foi arada


As que caem, ao acaso, em espaços adequados

Germinam assuntos que se fortalecem

Porém há aquelas que se depositam como lixo

Ficam amontoadas até dificultar o fluxo vital na região 

Com essas tenho um trabalho dobrado

Seleciono algumas para tentar resgatá-las do destino desnecessário que lhes coube

Outras permitem reciclar alguma moção sádica 

Incinero como dejetos nossos

E a fumaça nubla meus olhos por algum tempo


De suas idas e vindas tenho acumulados esses nossos vazios

E alguns buracos mais profundos tenho guardado para não escolher ceder de sede

Nesses pequenos oasis as vezes me embebedo qual champanhe 


De tantos buracos entre as mensagens e os encontros 

Tenho aprendido a cultivar um recanto

Ainda não passamos nenhuma primavera juntos

Eu, você e meus sonhos

Embora o verão tenha sido muito quente 

No outono quase te esqueci

E o inverno está muito longo

Hcqf 4 de novb 24


sábado, 2 de novembro de 2024

Escrever de novo

Você diz que sou um motivo pra fazer terapia 
Uma luta contra algo que você na verdade não quer
Um sintoma de fraqueza moral, astral, espiritual...
 Uma depressão no seu caráter que te faz querer o que te faz sofrer e também quem você ama...
Me procura junto a várias garrafas de álcool 
Depois da sua melhor companhia desistir 
Cuspindo mentiras românticas indizíveis e constrangedoras...
Eu tava lá 
Você não 
Seus olhos olhando pra mim
E eu vendo o abismo
Entre nós...
Que falta você me faz.
Hcqf 02 de novembro de 2024