Parece que pela primeira vez aconteceu o que eu queria...
Na minha mente desfilam as experiências nas quais eu estive sem transbordar o sentido que me fez chegar em mais um Sarau: contar minhas autografias.
Sim, porque a minha história não caberia em uma bibliografia, ou mesmo estaria bem representada em uma enciclopédia com todos os títulos que ao ler encontrei recortes de mim.
Onde me reencontro é no que se desfaz em escrita, quando a pena me atravessa e eu sangrando renovo os horizontes da minha vida.
Nunca é simples... Não tem horário...
Já escrevi a lápis para apagar e depois redescobrir nas cores escolhidas uma materialidade pros sentimentos e sensações...
Mas a percepção sempre falha na releitura... Já não é mais pelo mesmo motivo que meu peito chora, e esses retalhos que em vão tento costurar de volta na alma remendam não pedaços antigos, mas novas histórias...
Planejei com antecedência como eu faria para a covardia me sabotar, mas dessa vez não conseguir pensar em não ir...
Cheguei primeiro... O local onde o sarau se realizaria vazio... Dirigi meu corpo e enorme expectativa para o bar, mais um vício humano me fazendo companhia.
Mexi no velho baú dos meus gostos, convidei sabores de vinho, alguns títulos de whisky baratos (lembranças do meu pai), aromas de frutas e especiarias... Estava tentando convocar novos personagens para ver se a narrativa tomava outro rumo...
As vidas que escolhi pra me segurarem a covardia, estavam lá desde antes da presença física...
Senti tudo: as palavras que me fizeram rir da minha completa falta de jeito pra tudo; olhos que me abraçaram em corpo físico e corpo celestial (eu tenho uma versão estrela que eu escondo com falsa modéstia, ela é a menina que brinca quando a adulta cansada desmaia e me permite viver); a mão que apontou o palco...
Dalí (o surrealista mesmo) em diante, pisei devagar em cada sentimento que escreveu o poema recolhido... E pegada a pegada coletei as palavras que sem escutar contei... Ainda de cabeça baixa, meio surda e a voz tão retraída quanto a espera que se fez chegada...
E como eu já disse , sonhar é um trabalho que no fim tem seu começo: é preciso acordar para realizar o desejo. De sede morre o sonhador que se recusa abrir os olhos...
Tal que a esta hora, me acorda a aurora dos versos de Thiago:
"E aí eu penso
Como são infelizes os espíritos puros
Porque eles não amam o corpo
Como eu amo o teu corpo
As as 6 da manhã
Em meio aos desfiles de sonhos
Nesse país lotado de zumbis
E de outros mortos-vivos
Mas eu não habito esse país
Eu habito o teu sorriso
E o teu peito
E toda vez que eu não couber dentro de mim
Eu te entorno poesia"
(Thiago Júlio Martins - poeta paraense)
H c q f 12 de novembro de 2021
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