Outro homem que imagino diferente, novas lições, que
até se cumprem, de alguma forma... Porém, de repente, o mesmo fim: me entrego,
ajudo, avalio seus complexos, aponto seus furos, me confundo com suas mães,
eles se agarram a mim e fogem.
Dessa vez pensei... Não quero ajudá-lo... Não quero me
envolver com os seus... De repente estávamos transando na varanda de uma casa
antiga, um mausoléu de família, abandonado na partida.
Deu errado... ele insista em mãe, em morte... e eu
escutando a ausência de um pai, o desinteresse por aquela herança materna,
pus-me a questionar: “o que estava enterrado ali? ”.
Morreu de sede uma iguana... alguma coisa se encerrava
naquele dia com a partida de Diana. Foram quase seis meses de desencontros:
comigo, com a terapia, com a família, muito álcool e alguns trechos de poesia
em inglês...
Depois veio o frio alemão. Uma nova parceira, à luz do
dia, no passeio público, com a família... Enterrei meu sentimento em algumas camas
diferentes. Aprendi mais um pouco sobre desgosto a dois... ouvi histórias
tristes, de separações, bares desfeitos... até que reconheci o prazer em braços
conhecidos... a mesma luz de outros dias, alguma coisa masculina-doce... Já não
fazia sentido rondar aquele desterro de antes – fugi.
Covardemente retornou, buscou minha presença, obteve
minha atenção, perdi minha distração, favorita. Voltei para a cova maldita e
desta vez tinha outra moça sufocando sem sentido.
Veio a separação, a moça se salvou, ele ressuscitou alguns
de seus mortos e apodrecendo reconquistou meu corpo.
Aos pedaços, desfez-se a cada centímetro de
aproximação. Tirei ele do escuro sem contato, da rua sem chave, das noitadas e
ressacas de segunda.... Até ele começar a conquistar algum recurso material...
No primeiro dia útil, um lençol e um travesseiro
novos... Perfume de ambiente, uma liga de cabelo vermelha, uma mulher que bebia
mais que ele, outra que deixou um tapa marcado na sua fronte. Da ressaca à
queda pela marca no rosto, veio o convite na madrugada para enxugar suas
lágrimas por não ter conseguido me deixar.
Dessa vez eu não queria voltar.... No automático o
incômodo deu vez aos desabafos e brigas... A minha hora tinha chegado e eu
apanhei vários avisos enquanto caminhava do quarto dele até a minha casa.
Ele estava dentro da casa da família... não ouvia o
que eu dizia... foi preciso um de seus amigos entregar um dos meus recados para
ele buscar outra escuta, que precisava.
Foram quase três meses para ele aceitar o meu bilhete.
Algumas noites de vícios e uma moça muito bonita e desalentada, antes de dormir
pela última vez comigo e reencontrar um abrigo.
Mais uma mulher juvenil, de cabelos escuros, inglês
fluente e uma voz de veludo. Alguém para recomeçar, outra chance para se
escolher, seu melhor personagem: o galã encantado.
Antes de ir embora, a mesma deixa para usar de álibi:
algumas declarações esfarrapadas, desculpas sem contexto, nenhuma preocupação
com meus horários, mais um pedido de “beijo de adeus” e a velha desculpa de que
me “deseja”.
Esmolas... mais uma covardia com nós duas... coisas
sobre ainda estar começando com a outra e ainda não confiar se desta vez ele
vai conseguir ceder do desejo, ou vislumbrar um caminho resignado, civil,
cidadão brasileiro.
Desses esforços bem obcecados pelo nó que segura a
gravata no pescoço e o pescoço no corpo... E desafoga o nós de tanto gozo das
chamas profundas... Um caminho silencioso para as pulsões.
Adestrado, curte alguns privilégios enraizados na
cultura que aperta, vez ou outra, o nó na garganta. Engole o choro no seio de
alguma prostituta, ou uma amiga secreta do escritório, da firma... Outra mulher
jovem como é todo desejo humano... desde o colo inesquecível do objeto idealizado...
cheirando a leite... às vez em pó...
Chorando no peito de alguma Má-dona que se interessa
por seu dinheiro, ou uma promoção, uma nota para passar...
Insatisfeito por não se sentir amado, reclama da esposa
para a família, das interesseiras para os amigos, de si mesmo na análise. Enquanto
vive aventuras desastrosas, sem orgasmo para ambos.
Não suporta ser comparado ao pai pela mulher que o
reconhece em suas frustrações amorosas - de quem foge depois de buscá-la
inúmeras vezes. O desencontro com um desses no caminho faz questionar a vida e
a morte, visto o tamanho do muro que ele se esconde de si mesmo. Sublima o
desalento em poemas e criações artísticas, tão perto do que mata o desejo,
salta o sonho em busca das chamas profundas que ardem no peito.
Ele não enxerga seus traços desonestos consigo, com as
pessoas da sua casa e da sua vida. Constrói uma morada de segunda à quinta, que
desonra nas madrugadas, ou aos fins de semana, o honrado pai de família.
Transmitindo às futuras gerações o equívoco de que
existe um objeto mágico que vai fabricar um destino seguro das censuras contra
seus impulsos. Uma coisa rígida que conserva há milhões de anos a espécie mais
imatura e dependente do planeta: o homem ressentido e a mulher reprimida.
Idealizações que criam ficções mais artificiais que as
manifestações artísticas - estas sim guardiães do real da alma e da carne.
Conscientes de pouco do seu potencial, vivem em sonhos
realidades incompreensíveis para a razão cotidiana. E encenam uma realidade
estranha aos seus verdadeiros propósitos. Por isso, chamamos de inconsciente o
que faz sentir o sentido que escondemos á luz do dia.
Feche os olhos, de novo.
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