segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Afinei os meus ouvidos

 Um outro vem chegando...

Não está sozinho, coloca sempre alguém pra falar comigo.

Ele tem um ar que me preocupa... demonstra, fala, age, mas se arrepende...

Não fica.

Tem me acompanhado. Passamos por algumas situações inusitadas.

Lembro que puxei assunto primeiro, desajeitada e fazendo algum barulho...

Ele disse que desde o início, demonstrei intimidade, que ele ja viu isso antes com outra pessoa. Essa é a primeira porta fechada, mas só encontrei com ela depois de outra grade trancada.

A segunda que apareceu primeiro, quase nos distanciou. Ele disse que era o ciúme dela, porém ela chegou logo depois que eu rejeitei um traço de carinho que ele me entregou, com uma foto.

Entre brincadeiras, ajudas e até algumas confidências, fomos formando uma parceria...

Notei que ele dirime a minha poesia, sinal que eu conheço: é o presente me chamando pra sentir a realidade dos meus sentimentos e anseios. A razão já me cegou várias vezes  muito mais que o amor.

Quando, em meio a rotina, nossa proximidade começou a ser física, ele foto-grafou meu desespero, enquanto me dava algum colo, depois de cumprida uma tarefa árdua que me envergonhou demais.

Nesse ponto, e outros, ele se parece comigo. Também segurei sua mão (mas não fisicamente, é um passo que nunca dou rápido e nunca faço por fazer), quando ele precisou realizar a mesma atividade. Estive tão perto, que sentada ao seu lado, ele várias vezes disse que continuou porque eu estava ali. Agradeceu, reconheceu e fomos parceiros pela segunda vez, sem eu notar que ja temos um en-lance.

Os tempos se confundem mesmo, somos dois e um, ao mesmo tempo. Tão amigos que ja brigamos sério; tão estranhos que não sabemos como falar da nossa relação; tão íntimos que acho que já estivemos nos braços um do outro em nossos sonhos.

E ele já notou o quanto sou de entregar meus sentimentos. Pareceu uma constatação agradável. Posso estar enganada... é semprr assim que encerro com racionalismo, fugindo de me abrir pra ele.

Afinal, não é a primeira vez que o reencontro. Ele já foi o amarelo do trigo, que me fez ler um livro inteiro chorando e voltar para copiar, em lágrimas, as partes em que nos encontramos. 

Esteve no azul dos olhos esverdeados de um skatista, que cantou no meu ouvido e me fez reconhecer que o amor está no corpo também. 

Guardei quase nada do que vivemos, a não ser o que aconteceu de repente, sem explicação.

Ele me chamou de amor, eu percebi e tentei disfarçar que gostei e me tocou; ele parece que percebeu enquanto falava, seu tom rebaixou em meio a piada (super engraçada) para algum desânimo.

Continuamos o assunto constrangidos, durou quase nada a conversa... eu sempte falo mais; ele sempre encerra as conversas dizendo que vai estudar... eu sempre acho que ele foge... eu vejo ele ir e voltar  e nunca vem sozinho.

Suas companhias são opostas a mim: postura, cor da pele, idade, cabelo... em nada pareço uma escolha possível, posso estar certa e não seja mesmo.

Mas de repente, ele tropeça. Pareço uma grande amiga antiga; ele ri dos meus atos com carinho e demonstra admiração; já pediu para deixar que ele me derrube no chão; também já pediu pra viajarmos juntos sentados sentindo cheiros que ele cultiva...

Poderiam ser convites de amigo, lembranças de proximidade. Mas de novo, alguém queria comemorar o aniversário comigo... estava com a sala cheia, amigos, a namorada, sua mãe... não ficamos sozinhos e nem fui o foco da sua atenção, em momento algum... mesmo assim, senti algo, que me fez arriscar sair de casa, pra uma outra rota, que refaço por predileção, ou penso em refazer... do nada aprendi um novo caminho na vida.

Ele não é doce, não estava solteiro, conversa comigo sobre mulheres, quer uma moça completamente diferente de mim em tudo (sou um menino perto dela)...

Ainda assim, até o silêncio dele, parece que me confidencia afeto.

"Afinei os meus ouvidos

Pra escutar suas chamadas..."

Diz a canção...

Agora, o que diz meu coração quando estamos próximos: cuidado, ele pode te atrair pra perto; você pode entrar no corpo dele; posso ficar maior se crescer ao seu lado.

São sonhos ou fantasias... 

Hcqf 11 agosto de 2022




Há-deus!

 O escuro se distanciou...

De tanto desatento, foi embora constrangendo o momento

Fomos caindo

Em riso e vergonha 

Não tinha mais o que fazer naquele lado da minha história 

Fui

Tarde

Demais

Como prenunciou.

Adeus!

Hcqf agosto de 2022

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A-voz seren(a)

Já comecei tantas vezes esse texto-desabafo-serenata... 
Outro dia, da janela do ônibus avistei o sentido de sereno em plena luz do dia.

Entre debates sobre amor e política, dentro de mim encontrei a palavra morena, que embala o amor pela minha avó materna.

Na minha infância tinha a beleza da pele escura e o cabelo de algodão e a falta  dela/nela do moreno do açúcar artesanal.

De dentro da rotina, agora adulta, meu pensamento trançou moreno com sereno, serenar com amorenar.
E num repente escutei o som do silêncio que a noite inaugura depois de apagar o dia.

Escutei é poesia, pois neste instante o vazio tomou conta.
Si.len.ci.an.do de-va-gar desde dentro. 
Encontrei a melodia que me encanta - há 200 anos, eu repito - desde o último agosto. Foi amor a primeira escuta.

Agora também achei, sem procurar, o tom moreno, que historicizou em oito anos a eternidade na minha história. Entre o breu-da-ciência e a lâmpada-da-ideia-romântica, nasceu a luz-menino.
Esse corte... também está em presença, enquanto escrevo... Pausa,  reticências, estribilho...

A voz que asserenou minha escrita, de tão tranquila, me embala acordada... "adoro vê-la, adoro tê-la"
Versos soltos, músicais, que soaram aos meus ouvidos. Sinto nisso proteção, para que eu mergulhe com cuidado.

Amo o quanto essa fala-música em mim canta... Quando na minha frente, sou reverência e oração, meus olhos, de joelhos, vão ao chão.
Amanso o entorno, o silêncio quebra a barreira do som, a frequência abaixa tanto, que bem no fundo, a iris escura brilha feito estrella (de Benedito).
 
E independente do espaço me distancio, viro encanto, me reviro toda, para nosso constrangimento tornar abra-laço.

Ele acorda pedacinhos escondidos.
Ainda agora o alvoroço no meu peito, no meio do meu tórax: também é orgânico, toca meu corpo.
Sinto minhas vísceras em segundos que em minutos viram miúdos.

Escuto pequeno e comprimida pertenço a essa fumaça de morango.
Viro átomo, escuro e sonho puro.
Hcqf 4 de agosto de 2022