domingo, 5 de outubro de 2025

Gotas de Saturno

Mais uma madrugada sob a luz pra(n)teada

Pela primeira vez uma imagem para ninguém

Com uma das minhas músicas favoritas


De novo na minha janela, ele encontra vazio

Diz que não estava procurando nada

Quando falou comigo sobre "Silver Spring".


Às 3h da manhã a imagem dizia:

"- São amantes?

- Pior"

A resposta fazia sentido

Mas ele nem responderia...


Mais 12h depois

Responde a um coração azul

Outra playlist estranha para o além

"Mas amei você... pode agradecer"

Quem?

"Já tentei esquecer, fingir que vai mudar que com o tempo vai passar, mas é sempre igual..."

Entendo como ele quer que eu entenda: mães.

Pessoa errada. 


Outra música antiga

Muito triste e bonita

Sobre nada e comida

que me lembra um bar 

entre arvores, luzes de natal

e a Genesis...


Perguntei sobre se ver

Ele desconversa

Diz que não haverá perdão 

Acho que entendo o que quis dizer

Me protejo


Quase 1h depois, outro ponto

Não apagou conversas anteriores

Está guardando suas faltas comigo pela saudade de outras mulheres

"Você sentiu minha falta quando estava buscando a si mesma?"

E eu só consigo escutar:

"Você se apaixonou por uma estrela cadente, uma sem cicatriz permanente?"

E corro para não ouvir de novo:

- não procurei, nem encontrei ninguém... quando você estava lá.


De volta à atmosfera com gotas de Júpiter no cabelo.

Não consigo rimar

Quando a música não é sobre mim.

hcqf 05 de outubro de 2025





domingo, 21 de setembro de 2025

Má-dona

Outro homem que imagino diferente, novas lições, que até se cumprem, de alguma forma... Porém, de repente, o mesmo fim: me entrego, ajudo, avalio seus complexos, aponto seus furos, me confundo com suas mães, eles se agarram a mim e fogem.

Dessa vez pensei... Não quero ajudá-lo... Não quero me envolver com os seus... De repente estávamos transando na varanda de uma casa antiga, um mausoléu de família, abandonado na partida.

Deu errado... ele insista em mãe, em morte... e eu escutando a ausência de um pai, o desinteresse por aquela herança materna, pus-me a questionar: “o que estava enterrado ali? ”.

Morreu de sede uma iguana... alguma coisa se encerrava naquele dia com a partida de Diana. Foram quase seis meses de desencontros: comigo, com a terapia, com a família, muito álcool e alguns trechos de poesia em inglês...

Depois veio o frio alemão. Uma nova parceira, à luz do dia, no passeio público, com a família...  Enterrei meu sentimento em algumas camas diferentes. Aprendi mais um pouco sobre desgosto a dois... ouvi histórias tristes, de separações, bares desfeitos... até que reconheci o prazer em braços conhecidos... a mesma luz de outros dias, alguma coisa masculina-doce... Já não fazia sentido rondar aquele desterro de antes – fugi.

Covardemente retornou, buscou minha presença, obteve minha atenção, perdi minha distração, favorita. Voltei para a cova maldita e desta vez tinha outra moça sufocando sem sentido.

Veio a separação, a moça se salvou, ele ressuscitou alguns de seus mortos e apodrecendo reconquistou meu corpo.

Aos pedaços, desfez-se a cada centímetro de aproximação. Tirei ele do escuro sem contato, da rua sem chave, das noitadas e ressacas de segunda.... Até ele começar a conquistar algum recurso material...

No primeiro dia útil, um lençol e um travesseiro novos... Perfume de ambiente, uma liga de cabelo vermelha, uma mulher que bebia mais que ele, outra que deixou um tapa marcado na sua fronte. Da ressaca à queda pela marca no rosto, veio o convite na madrugada para enxugar suas lágrimas por não ter conseguido me deixar.

Dessa vez eu não queria voltar.... No automático o incômodo deu vez aos desabafos e brigas... A minha hora tinha chegado e eu apanhei vários avisos enquanto caminhava do quarto dele até a minha casa.

Ele estava dentro da casa da família... não ouvia o que eu dizia... foi preciso um de seus amigos entregar um dos meus recados para ele buscar outra escuta, que precisava.

Foram quase três meses para ele aceitar o meu bilhete. Algumas noites de vícios e uma moça muito bonita e desalentada, antes de dormir pela última vez comigo e reencontrar um abrigo.

Mais uma mulher juvenil, de cabelos escuros, inglês fluente e uma voz de veludo. Alguém para recomeçar, outra chance para se escolher, seu melhor personagem: o galã encantado.

Antes de ir embora, a mesma deixa para usar de álibi: algumas declarações esfarrapadas, desculpas sem contexto, nenhuma preocupação com meus horários, mais um pedido de “beijo de adeus” e a velha desculpa de que me “deseja”.

Esmolas... mais uma covardia com nós duas... coisas sobre ainda estar começando com a outra e ainda não confiar se desta vez ele vai conseguir ceder do desejo, ou vislumbrar um caminho resignado, civil, cidadão brasileiro.

Desses esforços bem obcecados pelo nó que segura a gravata no pescoço e o pescoço no corpo... E desafoga o nós de tanto gozo das chamas profundas... Um caminho silencioso para as pulsões.

Adestrado, curte alguns privilégios enraizados na cultura que aperta, vez ou outra, o nó na garganta. Engole o choro no seio de alguma prostituta, ou uma amiga secreta do escritório, da firma... Outra mulher jovem como é todo desejo humano... desde o colo inesquecível do objeto idealizado... cheirando a leite... às vez em pó...

Chorando no peito de alguma Má-dona que se interessa por seu dinheiro, ou uma promoção, uma nota para passar...

Insatisfeito por não se sentir amado, reclama da esposa para a família, das interesseiras para os amigos, de si mesmo na análise. Enquanto vive aventuras desastrosas, sem orgasmo para ambos.

Não suporta ser comparado ao pai pela mulher que o reconhece em suas frustrações amorosas - de quem foge depois de buscá-la inúmeras vezes. O desencontro com um desses no caminho faz questionar a vida e a morte, visto o tamanho do muro que ele se esconde de si mesmo. Sublima o desalento em poemas e criações artísticas, tão perto do que mata o desejo, salta o sonho em busca das chamas profundas que ardem no peito.

Ele não enxerga seus traços desonestos consigo, com as pessoas da sua casa e da sua vida. Constrói uma morada de segunda à quinta, que desonra nas madrugadas, ou aos fins de semana, o honrado pai de família.

Transmitindo às futuras gerações o equívoco de que existe um objeto mágico que vai fabricar um destino seguro das censuras contra seus impulsos. Uma coisa rígida que conserva há milhões de anos a espécie mais imatura e dependente do planeta: o homem ressentido e a mulher reprimida.

Idealizações que criam ficções mais artificiais que as manifestações artísticas - estas sim guardiães do real da alma e da carne.

Conscientes de pouco do seu potencial, vivem em sonhos realidades incompreensíveis para a razão cotidiana. E encenam uma realidade estranha aos seus verdadeiros propósitos. Por isso, chamamos de inconsciente o que faz sentir o sentido que escondemos á luz do dia.

Feche os olhos, de novo. 

sábado, 13 de setembro de 2025

 Hoje minha vida tá doendo

Minhas cicatrizes devastadas

E eu nunca poderia sentir seu colo nessa hora...

Não agora que você silenciou as madrugadas

Sempre.


O que me dói vem de onde eu vim

E você enxerga isso em mim

E não me vê nos lugares que frequenta


Escutei sobre tentar se encaixar 

caber na ambição do outro

Perder alguém por não se revelar


Com certeza tentei

Mas o jeito como corto a carne para me alimentar

Como o garfo está sempre na mão esquerda no jantar

Não pode ser do seu lado


Quero aceitar

Achar intolerável não ser querida

Mas porque dói tudo de mim

Dói alguma coisa que esqueceu de levar

embora.


hcqf 13 de setembro 


Não sei como registrar isso... mas está doendo tanto que preciso trazer para fora...
Mais uma vez... outra pessoa.
Nem a moça da banda da camisa vermelha...
Mãos dadas, braços enlaçados...
Talvez mais uma noite sem fim... dormir bem...

Uma ingenuidade,  alguma coisa de diferente...
Preciso me afastar, quero correr desse constrangimento das pessoas saberem... das mentiras...

O escudo estava lá.
E a cena inteira era para chegar ao destino.
Uma alegria enorme
Sorrisos em volta da mesa...

Cerveja, amigos...
Bem ao centro um casal celebra o inesperado...
Outro acontecimento
Nunca ao meu lado.

hcqf 07 de setembro de 2025

 Nunca foi meu

Não seria 

Não o tive

Nem teria 

HCQF 3 de setembro 2025


sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Wildiana

Nos conhecemos, 
ambos estávamos amando...
Eu encontrava sua namorada no ônibus e falávamos do livro que você tinha me emprestado

Você segurava a bolsa dela e vestia roupa clara
Ela fez outra faculdade, passou no mestrado... tudo com você.
Depois... ela conseguiu tudo que vocês queriam sozinha: concurso, uma família, uma casa.

Eu engravidei, morei no centro da cidade...
Fiquei dois anos sem ir à faculdade, que amo.
Descasei, comecei a criar meu filho com a minha família.
Meu "ex- amor" (da playlist do meu pai) casou, enricou e foi morar longe do nosso filho.

Passei no mestrado e te reencontrei.

Na sala de aula, você estava em busca do doutorado, cheio de incertezas e outra namorada...
Nos re-vimos pela primeira vez, não éramos mais os mesmos 
você cometeu um "ato-falho" quando me abraçou e disse, "Oi, amor".
Entendi "ele lembrou da minha amiga de infância".
Eu estranhei, mas vi com bons olhos, no mesmo lugar estava minha paixão mais menino: 
a saudade de casa.

Mudei pra sua cidade natal.

Saímos pela primeira vez, sem convite algum.
Na mesma noite deitamos juntos e eu fui casual pela primeira vez.
Você me ensinou a não buscar prazer e mesmo assim se satisfazer, por outra via. 
Você sempre ébrio e de roupa preta ou suja
Ligava sempre de madruga para escutar bandas desconhecidas 

Foram algumas noites em sua cama fria: 
aprendi posições diferentes; 
que homem também finge orgasmo; 
a beijar a boca de outras mulheres através da sua saliva 
e que cansaço significa arrependimento.

Então, aconteceu o amor na sua vida, enquanto me deixava no vácuo.
Buscava meu corpo na lembrança que meu rosto trazia da sua futura namorada.

Adoeci, precisei de colo... e você sumiu no natal.

Voltou a me procurar para deixar um recado: era carnaval, 
mês da fantasia, mês em que fui gerada.
Você disse de maneira cínica: "Vamos fazer amor"
Eu ri, espontaneamente, dizendo 
"para isso é preciso que antes exista"
Você riu e virou pro lado.

Você assumiu a garota certa pra sua família.
Eu foquei em um compromisso, que estava quase adiado.
Cumpri meus prazos, fiz novos amigos...
Você retornou nos dias em que ela não estava.

Você a chamou de sol e me colocou no escuro...

Parei de responder suas mensagens...
Encontrei um amante que me fez sentir de novo meu corpo...
Voltei a curtir meus amigos e algumas noites.

Você me indicou para um trabalho em outra cidade.

Voltamos a nos falar, mas não deitei mais com você... 
Molhava a cama, no chão da casa do seu amigo.
Embrulhada e abraçada consegui te encontrar e ir embora para casa, 
dormir segura...

Quanto mais sua amada, perfeita, se distanciava
Por vingança, você me afastava do seu amigo
Nos deixamos, antes dela ir embora...

Ela te pediu um tempo, ele nunca mais vai voltar.

O prazo dela está acabando
Todo dia um pouco...
Em contagem regressiva, você espera por ela, usando meu corpo.

Eu, que não tinha esquecido nem você, nem a dor de ser trocada,
Vivo momentos de liberdade, em que consigo ficar protegida
Embrulhada no meu edredom florido.

Em outros momentos de violenta entrega atendo suas súplicas por outra pessoa.

Nem tenho certeza que suplica por ela, ou pela primeira amiga, ou pela segunda namorada - a mais nova, que você disse que deixou quando estava comigo.
Apenas sei que mesmo diante de você não sou eu quem enxerga

Você é uma dúvida que me cativa
Presa ao meu "Fantasma de Canterville", sem a bondade do gigante de Wilde,
Mas você parece outros de seus personagens.

HCQF 29 de agosto 2025