quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Desencontro com o desejo

Fico sentada no lugar certo, sem saber...
Espero há horas por rever... Mas desisto e me entrego ao entorno: paredes, cadeiras, jovens e suas expectativas, nenhuma fome...
Uma amiga que esperava conversava comigo, sentada ao meu lado, eu de frente pro perigo.
De repente, curvado aparece... 
Desvio o olhar, mas assisto ele desviar de mim.
Constrangida, asseno com a vista, ele retorna sem saída e convenientemente estende o braço, com o corpo virado, indo embora...
Sentindo o abalo do contato forçado, peso a mão em um toque desajeitado, aperto e jogo aquele toque ao chão.
A amiga que espera agora puxa conversa com ele.
Falam de histórias que eu gostaria de ouvir, mas não sou mais daquela linha...
Fico quieta, escondo a sombra no olhar insone.
Ainda agora sinto que também pensa sobre e por alguns minutos escondo de mim o grande esforço demonstrado para ser educado comigo.
A face escura debaixo do cabelo curto e colorido, ao lado do escuro que me assombra desde a madrugada.
Havia desistido de esperar fazia alguns minutos, descansei o amargor da boca, do estômago e do peito sem dormir... Ensaiei a frustração de estar ali, só por mim... Vejam "só por mim"... E tudo se quebrou quando senti que ele iria fingir que não me viu.
Ele partiu e eu estava perdida, uma parte minha tinha sentido o peso da sua presença e queria ainda... A outra pressentia mais frieza e desejava não vê-lo mais...
Dei-me por vencida, mas estava derrotada.
Andei a procura do compromisso que me levou até ali sem dormir direito. Encontrei tantas portas fechadas e em um corredor discreto e solitário, como eu, me encontrei. 
Entrei na sala, falei com as cadeiras e o quadro, as pessoas me saudaram e eu busquei um canto para me esconder e ver se passava aquele peso amargo que tomou conta.
Inesperadamente ele voltou com um trunfo final, mais uma apunhalada: um cartão de falso amigo. Contou uma história sem sentido sobre uma foto desfocada, tirada sem jeito, sem propósito, mas que tinha uma intenção: falar para mim sobre alguém que me fez mal, trazer à tona uma história triste...
Na hora quase entendo a afronta, respondo no mesmo tom seco, mas ele inventa outro motivo para aquela abordagem... Finge que seria um defensor da minha desonra (só pode), mas a frieza nos gestos, na face entrega outras das suas artimanhas...
Aposta em outra direção mais fútil: me afastar do seu condado, me indicando para seu antigo refúgio financeiro, diante dos perigos da cidade grande.
Diz que restará uma vaga, que agora percebo que ele não me diria, se eu não tivesse aceitado aquele convite noturno improvisado.
Quando eu revelo que gostaria de ir pelas minhas amigas, ele não esboça qualquer expressão e ainda diz que talvez, sem querer, poderia voltar no final...
Fico me perguntando que final?
Ele corta a conversa quando enjoa da minha companhia. Sugere que estão me esperando ali a diante, eu ingenuamente não entendo que está enfadado. Checo a questão, retorno sem relevar seu desinteresse, então mais evidente, ele desconversa como sempre e é salvo.
Levantamos e ele abre os braços de lado: ele olhando pra frente, eu com o rosto pra baixo e os olhos fechados, mas vejo tudo que não existe ali naquele abraço. 
Enxergo, de fora de mim, como quem observa atônito aquela falta de jeito, falta de consideração... Acontece um beijo no meu cabelo, eu levito até a sala a minha espera e fico em sua presença mesmo saindo do seu lado, mesmo não vendo ele ir embora, mesmo a porta fechada.
Entro, escolhi uma cadeira, acomodo meus pertences mas minha alma incomodada não registra nada... Vela alguma coisa morta naquela sala, depois de tanto desmazelo, ou até mesmo desprezo.
Lembro que numa das tardes de longas mentiras, contou que precisou ir embora depois de me encontrar na padaria, porque queria contato físico. Pensei nisso, assim que fiquei sozinha, após sair da reunião. Lembrei que em outro momento, um encontro de trabalho nos levou a algumas horas de satisfação carnal, como poucas vezes consegimos juntos.
Mas logo veio a constatação: por que ele me questiona sobre um cara tão desprezível? Por que arriscar me fazer lembrar de algo ruim? Por que não tocar no nome do outro amigo, o que gostei de estar?
Nada disso é importante... Nem mesmo escrever sobre o ocorrido...
Mas é uma busca de sentido para o que ele me faz sentir, depois de encontrar restos dele nas minhas coisas e entrar em um dilema sobre ceder ou não do meu desejo.
11 de dezembro de 2025

 Desde ontem não durmo...

Meus olhos esperam a visão que aguardo...

Meu corpo abate

Minha boca amargurou

Meus olhos ficaram profundos...

Senti a sede de rever.


As palavras trocadas pairavam como folhas ao vento...

Poeira e ninguém...

Tempestade à vista.


De repente escureceu

Não consegui ver

Houve desencontro de palavras 

Escutei meu nervosismo 

Pensei que não seria assim...


O halo escurecido em meus olhos

 assombrou meu rosto

 pesou sobre meu corpo...

Minha alma estava estática

mesmo o corpo caminhando...

Fugimos: você de mim, eu em você...


11 de dezembro 2025

sábado, 22 de novembro de 2025

 Faz tempo que penso em escrever sobre ele... mas como ele está longe, sumiu a esperança que conduz minha pena a descrever qualquer cena fantástica entre nós, mesmo assim eu quero.

Quero e preciso dizer sobre nós...

sobre olhos que se encostam sem se tocar...

sobre como dói...

dói não ver e saber que existe.

dói pensar que não está em canto nenhum onde eu possa encontrá-lo.

sinto o seu olhar quando fecho os olhos...

quando vou àqueles lugares...

quando estou naqueles lugares, que só nós sabemos que estivemos...

um mundo inteiro que não existe, porque se completa.

Isso sou eu, tentando voltar...

pra você

pra cá

pra mim.

HCQF 22 de nov 2025

domingo, 5 de outubro de 2025

Gotas de Saturno

Mais uma madrugada sob a luz pra(n)teada

Pela primeira vez uma imagem para ninguém

Com uma das minhas músicas favoritas


De novo na minha janela, ele encontra vazio

Diz que não estava procurando nada

Quando falou comigo sobre "Silver Spring".


Às 3h da manhã a imagem dizia:

"- São amantes?

- Pior"

A resposta fazia sentido

Mas ele nem responderia...


Mais 12h depois

Responde a um coração azul

Outra playlist estranha para o além

"Mas amei você... pode agradecer"

Quem?

"Já tentei esquecer, fingir que vai mudar que com o tempo vai passar, mas é sempre igual..."

Entendo como ele quer que eu entenda: mães.

Pessoa errada. 


Outra música antiga

Muito triste e bonita

Sobre nada e comida

que me lembra um bar 

entre arvores, luzes de natal

e a Genesis...


Perguntei sobre se ver

Ele desconversa

Diz que não haverá perdão 

Acho que entendo o que quis dizer

Me protejo


Quase 1h depois, outro ponto

Não apagou conversas anteriores

Está guardando suas faltas comigo pela saudade de outras mulheres

"Você sentiu minha falta quando estava buscando a si mesma?"

E eu só consigo escutar:

"Você se apaixonou por uma estrela cadente, uma sem cicatriz permanente?"

E corro para não ouvir de novo:

- não procurei, nem encontrei ninguém... quando você estava lá.


De volta à atmosfera com gotas de Júpiter no cabelo.

Não consigo rimar

Quando a música não é sobre mim.

hcqf 05 de outubro de 2025





domingo, 21 de setembro de 2025

Má-dona

Outro homem que imagino diferente, novas lições, que até se cumprem, de alguma forma... Porém, de repente, o mesmo fim: me entrego, ajudo, avalio seus complexos, aponto seus furos, me confundo com suas mães, eles se agarram a mim e fogem.

Dessa vez pensei... Não quero ajudá-lo... Não quero me envolver com os seus... De repente estávamos transando na varanda de uma casa antiga, um mausoléu de família, abandonado na partida.

Deu errado... ele insista em mãe, em morte... e eu escutando a ausência de um pai, o desinteresse por aquela herança materna, pus-me a questionar: “o que estava enterrado ali? ”.

Morreu de sede uma iguana... alguma coisa se encerrava naquele dia com a partida de Diana. Foram quase seis meses de desencontros: comigo, com a terapia, com a família, muito álcool e alguns trechos de poesia em inglês...

Depois veio o frio alemão. Uma nova parceira, à luz do dia, no passeio público, com a família...  Enterrei meu sentimento em algumas camas diferentes. Aprendi mais um pouco sobre desgosto a dois... ouvi histórias tristes, de separações, bares desfeitos... até que reconheci o prazer em braços conhecidos... a mesma luz de outros dias, alguma coisa masculina-doce... Já não fazia sentido rondar aquele desterro de antes – fugi.

Covardemente retornou, buscou minha presença, obteve minha atenção, perdi minha distração, favorita. Voltei para a cova maldita e desta vez tinha outra moça sufocando sem sentido.

Veio a separação, a moça se salvou, ele ressuscitou alguns de seus mortos e apodrecendo reconquistou meu corpo.

Aos pedaços, desfez-se a cada centímetro de aproximação. Tirei ele do escuro sem contato, da rua sem chave, das noitadas e ressacas de segunda.... Até ele começar a conquistar algum recurso material...

No primeiro dia útil, um lençol e um travesseiro novos... Perfume de ambiente, uma liga de cabelo vermelha, uma mulher que bebia mais que ele, outra que deixou um tapa marcado na sua fronte. Da ressaca à queda pela marca no rosto, veio o convite na madrugada para enxugar suas lágrimas por não ter conseguido me deixar.

Dessa vez eu não queria voltar.... No automático o incômodo deu vez aos desabafos e brigas... A minha hora tinha chegado e eu apanhei vários avisos enquanto caminhava do quarto dele até a minha casa.

Ele estava dentro da casa da família... não ouvia o que eu dizia... foi preciso um de seus amigos entregar um dos meus recados para ele buscar outra escuta, que precisava.

Foram quase três meses para ele aceitar o meu bilhete. Algumas noites de vícios e uma moça muito bonita e desalentada, antes de dormir pela última vez comigo e reencontrar um abrigo.

Mais uma mulher juvenil, de cabelos escuros, inglês fluente e uma voz de veludo. Alguém para recomeçar, outra chance para se escolher, seu melhor personagem: o galã encantado.

Antes de ir embora, a mesma deixa para usar de álibi: algumas declarações esfarrapadas, desculpas sem contexto, nenhuma preocupação com meus horários, mais um pedido de “beijo de adeus” e a velha desculpa de que me “deseja”.

Esmolas... mais uma covardia com nós duas... coisas sobre ainda estar começando com a outra e ainda não confiar se desta vez ele vai conseguir ceder do desejo, ou vislumbrar um caminho resignado, civil, cidadão brasileiro.

Desses esforços bem obcecados pelo nó que segura a gravata no pescoço e o pescoço no corpo... E desafoga o nós de tanto gozo das chamas profundas... Um caminho silencioso para as pulsões.

Adestrado, curte alguns privilégios enraizados na cultura que aperta, vez ou outra, o nó na garganta. Engole o choro no seio de alguma prostituta, ou uma amiga secreta do escritório, da firma... Outra mulher jovem como é todo desejo humano... desde o colo inesquecível do objeto idealizado... cheirando a leite... às vez em pó...

Chorando no peito de alguma Má-dona que se interessa por seu dinheiro, ou uma promoção, uma nota para passar...

Insatisfeito por não se sentir amado, reclama da esposa para a família, das interesseiras para os amigos, de si mesmo na análise. Enquanto vive aventuras desastrosas, sem orgasmo para ambos.

Não suporta ser comparado ao pai pela mulher que o reconhece em suas frustrações amorosas - de quem foge depois de buscá-la inúmeras vezes. O desencontro com um desses no caminho faz questionar a vida e a morte, visto o tamanho do muro que ele se esconde de si mesmo. Sublima o desalento em poemas e criações artísticas, tão perto do que mata o desejo, salta o sonho em busca das chamas profundas que ardem no peito.

Ele não enxerga seus traços desonestos consigo, com as pessoas da sua casa e da sua vida. Constrói uma morada de segunda à quinta, que desonra nas madrugadas, ou aos fins de semana, o honrado pai de família.

Transmitindo às futuras gerações o equívoco de que existe um objeto mágico que vai fabricar um destino seguro das censuras contra seus impulsos. Uma coisa rígida que conserva há milhões de anos a espécie mais imatura e dependente do planeta: o homem ressentido e a mulher reprimida.

Idealizações que criam ficções mais artificiais que as manifestações artísticas - estas sim guardiães do real da alma e da carne.

Conscientes de pouco do seu potencial, vivem em sonhos realidades incompreensíveis para a razão cotidiana. E encenam uma realidade estranha aos seus verdadeiros propósitos. Por isso, chamamos de inconsciente o que faz sentir o sentido que escondemos á luz do dia.

Feche os olhos, de novo. 

sábado, 13 de setembro de 2025

 Hoje minha vida tá doendo

Minhas cicatrizes devastadas

E eu nunca poderia sentir seu colo nessa hora...

Não agora que você silenciou as madrugadas

Sempre.


O que me dói vem de onde eu vim

E você enxerga isso em mim

E não me vê nos lugares que frequenta


Escutei sobre tentar se encaixar 

caber na ambição do outro

Perder alguém por não se revelar


Com certeza tentei

Mas o jeito como corto a carne para me alimentar

Como o garfo está sempre na mão esquerda no jantar

Não pode ser do seu lado


Quero aceitar

Achar intolerável não ser querida

Mas porque dói tudo de mim

Dói alguma coisa que esqueceu de levar

embora.


hcqf 13 de setembro