quinta-feira, 3 de julho de 2025

(Te)screver

 Hoje cedo comecei um poema, mas não o conclui... como encerrar uma conversa com quem não está mais?

Agora, tão tarde, já quase não lembro o que disse... mas sei que tentei representar a tua ausência em mim... talvez por isso faça sentido não conseguir.

Dizer para quem não pode ouvir... Escrever sem poder remeter... 

Queria... diria... faria... parece que a saudade criou o futuro do pretérito, isto é, isso que confunde a lógica ligando dois tempos inexistentes: o passado e o amanhã...

Nem aqui, nem agora, os advérbios também refere o que não aconteceu já que se vier, ainda virá, mas só depois... 

E só se vier, isto é, talvez... modo e condicionalidade organizam um muro a ser transposto ou não acontecerá...

Diante da perspectiva do improvável... em língua brasileira... correspondo ao dialeto anglofônico que cercava nossos encontros... marcando nossa "broken comunicação".

Enquanto escrevo, fugindo das palavras da manhã, sentindo remorsos no centro do corpo, faço uso de palavras sem sentido, para sentir...

E também não consigo terminar o que tentei (te)screver...

Hcqf 4 de julho de 2025


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ghosting

Tem um silêncio morando em mim... Talvez na minha boca, mas ele é grande, então sinto-o em todo meu corpo e na minha alma...
Vim confrontá-lo, para além das pausas e reticências... Talvez queira até despertá-lo de uma vez... ainda não sei...
Tenho o chamado de silêncio, mas poderia chamá-lo escuro... ou sereno...
Foi serenando as coisas... ficando devagar... espaçado... 
Foi afastando-se de mim sem me tocar, sem me chamar, mesmo em cada convite e reencontro...
Deixei de senti-lo e isso me tomou com muita força de uma intensa violência.
Rasgamo-nos para fugirmos de nós:
eu, o silêncio e a saudade.
Sigo acompanhada dos seus pensamentos musicais, lamentos...
E o nada que agora me atinge na sua forma mais evidente...
Silencia  as mentiras que contei pra mim, para não ver o que me mostrava.
Cala as promessas e planos que nunca escutei de você, mas criei nos meus devaneios.
Serena as lembranças lindas que não temos, especialmente, dos últimos dias...
A própria pessoa nos verbos em conjugação nunca existiu no presente...
Fomos cada um, por si.
E agora é o fim que inaugura o significado de nós com o único sentido avistado: não existir.

OBS: Last goodbye - Jeff Buckley

H.C.Q.F. 25 de junho de 2025

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Pra quando ele se foi...

s.i.l.ê.n.c.i.o

18/06/25

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Advertência pra um coração rejeitado 
Quando alguém diz não para uma entrega sincera
Existe o fracasso de não ter sido acolhido 
E a derrota de não ter segurado 

Quando alguém diz que não consegue sentir na mesma intensidade 
A frequência não é a mesma também das necessidades 
Alguém está farto
E alguém ficou de fora 

Quando de um lado tem afastamento 
Do outro lado a distância apavora
E se a aproximação é adiada 
Qualquer oportunidade é de ir embora 

Sair de um ciclo sem colo
Deixa uma desesperança 
Mas também liberta 
De uma espera desnecessária 

Hcqf 29 de maio de 2025

terça-feira, 27 de maio de 2025

Dois jovens distraindo a chuva

 Um casal de homens se beijando em uma estação de ônibus, trouxe a lembrança do que não tenho.

Eles se tocavam com suave intimidade até que uma cortina de chuva, bem forte, trouxe o vento frio e a água gelada, empurrando os dois amantes  para longe dos olhos preconceituosos e/ou saudosos da gente que se escondia da chuva e, de alguma forma, da solidão de não ser aquelas duas almas.

Eram jovens e despretensiosos como suas caricias... não se sabe, quanto puderam ser mais íntimos ou tolos não estando mais vigiados pelos olhos famintos.

Um enlace pela nuca e um beijinho bem rápido abriu um espaço entre aquele pequeno mundo de dois e todos que os invejávamos. Fomos devargazinho levados à nudez daquele momento. Cada um, sozinho mesmo, estava com calor por estar vestidos. Queimamos no inferno dos segundos de solidão, enquanto dois anjos desnudos sentiam o doce vento do paraíso. Lembrei de Amy winehouse, em "Tears dry onde way" que canta que "o céu é uma chama que só os amantes podem ver".

Estive a admirá-los, ainda que não pudesse defender a dignidade do seu encontro. Não queria que nada atrapalhace, mesmo sabendo que talvez Barulho, Vento, Chuva fossem seus coadjuvantes naquela noite.

E eu uma simples escritora, tímida, diante de uma cena amorosa cotidiana, como há muito não experimento... eu procurei na memória alguma última lembrança de um toque assim tão fundo... por não encontrar gastei a pena solitária e distraída a contar o que em fantasia foi sentido.

Hcqf 27 de maio de 2025 - dia de Roberto


sábado, 24 de maio de 2025

O amor exige amar
Não existe sem continuidade
Fica vazio sem histórias criadas na ausência do amado

Recobre a saudade
Sentida desde cedo ao acordar
Até bem tarde
Bem depois de dormir
Durante os sonhos 
E depois

Depois de tudo
O amar é o que acontece pela ação 
São as falas para completar o sentido
As atitudes de amantes
Os olhares no encontro silencioso
Adivinhando 
a hora, a partilha, a partida

Amor existe
Se resistir um afeto na boca 
Quando o beijo acaba
E o cheiro continua 
Algumas horas ainda

Não é apenas sobre sempre
Mas não aconteceu
Se o que persiste é a pausa 
Na tolice de se imaginar acompanhados
Ainda que ausentes

Hcqf 24 de maio de 2025