terça-feira, 8 de julho de 2025

Achismos

 Eu acho que alguém muito elogiado sente falta de sinceridade...

E, talvez, a pessoa quando muito criticado se sinta hipervigiado, ou até admirado.

Quem é muito generoso precisa conviver com pessoas independentes,

E quem é muito acolhedor, necessite de colo.

Como ser amado supõe sossego, mas exige mais cuidado com o outro, 

Da mesma forma que amar requer autoproteção. 

A paixão esquenta uma vida fria e a amizade os corações partidos.

Tal que amor é coisa de gente sem tempo pra futilidades e que dão muito valor ao repouso, descanso... 

O amir exige certa experiência com inutilidades, brincadeiras, gosto por perdaa de tempo...

Daí uma grande crueldade capitalista: não permitir pausa, sono, descanso, brincadeiras bobas, preguiça e tudo que entrecorta as carícias depois de um dia cheio e os problemas da vida adulta. 

Assim, como o que é aponta para o que não está, e o que falta deixa evidências do que esteve, ainda que em promessa, ou sonho, ou expectativa.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Clarice Lispector conta, entre outras "Descobertas do mundo", que "Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil".
E lança ainda mais perguntas aos amantes das suas reflexões... Posto que desvela o incômodo desencontro de sentido sustentado pelos amantes.
Tal que certos de serem amados, aqueles agraciados com tamanha certeza, tenham uma dimensão restrita do que em verdade é ilimitado. Enquanto a quem é dada a desgraça de conviver com dúvidas também se realiza a graça de sentir, que seja, um traço do infinito disso que amplia fronteiras entre o Eu e o outro.
Inconsolavelmente,  como é próprio da poesia, confudem-se areia e (a)mar nas margens estragadas dos confins entre o oceano e o continente.
E eu, que já amei até enfim me saber amada, de novo perdida de amor, como se fosse a primeira vez, nada sei e navego suas incertezas nas margens da escrita, porque reencontrei quem me provoca as perguntas sem esperança de responde-las.
Hcqf 7 de julho de 2025

quinta-feira, 3 de julho de 2025

(Te)screver

 Hoje cedo comecei um poema, mas não o conclui... como encerrar uma conversa com quem não está mais?

Agora, tão tarde, já quase não lembro o que disse... mas sei que tentei representar a tua ausência em mim... talvez por isso faça sentido não conseguir.

Dizer para quem não pode ouvir... Escrever sem poder remeter... 

Queria... diria... faria... parece que a saudade criou o futuro do pretérito, isto é, isso que confunde a lógica ligando dois tempos inexistentes: o passado e o amanhã...

Nem aqui, nem agora, os advérbios também refere o que não aconteceu já que se vier, ainda virá, mas só depois... 

E só se vier, isto é, talvez... modo e condicionalidade organizam um muro a ser transposto ou não acontecerá...

Diante da perspectiva do improvável... em língua brasileira... correspondo ao dialeto anglofônico que cercava nossos encontros... marcando nossa "broken comunicação".

Enquanto escrevo, fugindo das palavras da manhã, sentindo remorsos no centro do corpo, faço uso de palavras sem sentido, para sentir...

E também não consigo terminar o que tentei (te)screver...

Hcqf 4 de julho de 2025


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ghosting

Tem um silêncio morando em mim... Talvez na minha boca, mas ele é grande, então sinto-o em todo meu corpo e na minha alma...
Vim confrontá-lo, para além das pausas e reticências... Talvez queira até despertá-lo de uma vez... ainda não sei...
Tenho o chamado de silêncio, mas poderia chamá-lo escuro... ou sereno...
Foi serenando as coisas... ficando devagar... espaçado... 
Foi afastando-se de mim sem me tocar, sem me chamar, mesmo em cada convite e reencontro...
Deixei de senti-lo e isso me tomou com muita força de uma intensa violência.
Rasgamo-nos para fugirmos de nós:
eu, o silêncio e a saudade.
Sigo acompanhada dos seus pensamentos musicais, lamentos...
E o nada que agora me atinge na sua forma mais evidente...
Silencia  as mentiras que contei pra mim, para não ver o que me mostrava.
Cala as promessas e planos que nunca escutei de você, mas criei nos meus devaneios.
Serena as lembranças lindas que não temos, especialmente, dos últimos dias...
A própria pessoa nos verbos em conjugação nunca existiu no presente...
Fomos cada um, por si.
E agora é o fim que inaugura o significado de nós com o único sentido avistado: não existir.

OBS: Last goodbye - Jeff Buckley

H.C.Q.F. 25 de junho de 2025

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Pra quando ele se foi...

s.i.l.ê.n.c.i.o

18/06/25

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Advertência pra um coração rejeitado 
Quando alguém diz não para uma entrega sincera
Existe o fracasso de não ter sido acolhido 
E a derrota de não ter segurado 

Quando alguém diz que não consegue sentir na mesma intensidade 
A frequência não é a mesma também das necessidades 
Alguém está farto
E alguém ficou de fora 

Quando de um lado tem afastamento 
Do outro lado a distância apavora
E se a aproximação é adiada 
Qualquer oportunidade é de ir embora 

Sair de um ciclo sem colo
Deixa uma desesperança 
Mas também liberta 
De uma espera desnecessária 

Hcqf 29 de maio de 2025