Autografias
em que me conto para elaborar meus desamores e me reencontro, objeto dos meus dias.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Desencontro com o desejo
Desde ontem não durmo...
Meus olhos esperam a visão que aguardo...
Meu corpo abate
Minha boca amargurou
Meus olhos ficaram profundos...
Senti a sede de rever.
As palavras trocadas pairavam como folhas ao vento...
Poeira e ninguém...
Tempestade à vista.
De repente escureceu
Não consegui ver
Houve desencontro de palavras
Escutei meu nervosismo
Pensei que não seria assim...
O halo escurecido em meus olhos
assombrou meu rosto
pesou sobre meu corpo...
Minha alma estava estática
mesmo o corpo caminhando...
Fugimos: você de mim, eu em você...
11 de dezembro 2025
sábado, 22 de novembro de 2025
Faz tempo que penso em escrever sobre ele... mas como ele está longe, sumiu a esperança que conduz minha pena a descrever qualquer cena fantástica entre nós, mesmo assim eu quero.
Quero e preciso dizer sobre nós...
sobre olhos que se encostam sem se tocar...
sobre como dói...
dói não ver e saber que existe.
dói pensar que não está em canto nenhum onde eu possa encontrá-lo.
sinto o seu olhar quando fecho os olhos...
quando vou àqueles lugares...
quando estou naqueles lugares, que só nós sabemos que estivemos...
um mundo inteiro que não existe, porque se completa.
Isso sou eu, tentando voltar...
pra você
pra cá
pra mim.
HCQF 22 de nov 2025
domingo, 5 de outubro de 2025
Gotas de Saturno
Mais uma madrugada sob a luz pra(n)teada
Pela primeira vez uma imagem para ninguém
Com uma das minhas músicas favoritas
De novo na minha janela, ele encontra vazio
Diz que não estava procurando nada
Quando falou comigo sobre "Silver Spring".
Às 3h da manhã a imagem dizia:
"- São amantes?
- Pior"
A resposta fazia sentido
Mas ele nem responderia...
Mais 12h depois
Responde a um coração azul
Outra playlist estranha para o além
"Mas amei você... pode agradecer"
Quem?
"Já tentei esquecer, fingir que vai mudar que com o tempo vai passar, mas é sempre igual..."
Entendo como ele quer que eu entenda: mães.
Pessoa errada.
Outra música antiga
Muito triste e bonita
Sobre nada e comida
que me lembra um bar
entre arvores, luzes de natal
e a Genesis...
Perguntei sobre se ver
Ele desconversa
Diz que não haverá perdão
Acho que entendo o que quis dizer
Me protejo
Quase 1h depois, outro ponto
Não apagou conversas anteriores
Está guardando suas faltas comigo pela saudade de outras mulheres
"Você sentiu minha falta quando estava buscando a si mesma?"
E eu só consigo escutar:
"Você se apaixonou por uma estrela cadente, uma sem cicatriz permanente?"
E corro para não ouvir de novo:
- não procurei, nem encontrei ninguém... quando você estava lá.
De volta à atmosfera com gotas de Júpiter no cabelo.
Não consigo rimar
Quando a música não é sobre mim.
hcqf 05 de outubro de 2025
domingo, 21 de setembro de 2025
Má-dona
Outro homem que imagino diferente, novas lições, que
até se cumprem, de alguma forma... Porém, de repente, o mesmo fim: me entrego,
ajudo, avalio seus complexos, aponto seus furos, me confundo com suas mães,
eles se agarram a mim e fogem.
Dessa vez pensei... Não quero ajudá-lo... Não quero me
envolver com os seus... De repente estávamos transando na varanda de uma casa
antiga, um mausoléu de família, abandonado na partida.
Deu errado... ele insista em mãe, em morte... e eu
escutando a ausência de um pai, o desinteresse por aquela herança materna,
pus-me a questionar: “o que estava enterrado ali? ”.
Morreu de sede uma iguana... alguma coisa se encerrava
naquele dia com a partida de Diana. Foram quase seis meses de desencontros:
comigo, com a terapia, com a família, muito álcool e alguns trechos de poesia
em inglês...
Depois veio o frio alemão. Uma nova parceira, à luz do
dia, no passeio público, com a família... Enterrei meu sentimento em algumas camas
diferentes. Aprendi mais um pouco sobre desgosto a dois... ouvi histórias
tristes, de separações, bares desfeitos... até que reconheci o prazer em braços
conhecidos... a mesma luz de outros dias, alguma coisa masculina-doce... Já não
fazia sentido rondar aquele desterro de antes – fugi.
Covardemente retornou, buscou minha presença, obteve
minha atenção, perdi minha distração, favorita. Voltei para a cova maldita e
desta vez tinha outra moça sufocando sem sentido.
Veio a separação, a moça se salvou, ele ressuscitou alguns
de seus mortos e apodrecendo reconquistou meu corpo.
Aos pedaços, desfez-se a cada centímetro de
aproximação. Tirei ele do escuro sem contato, da rua sem chave, das noitadas e
ressacas de segunda.... Até ele começar a conquistar algum recurso material...
No primeiro dia útil, um lençol e um travesseiro
novos... Perfume de ambiente, uma liga de cabelo vermelha, uma mulher que bebia
mais que ele, outra que deixou um tapa marcado na sua fronte. Da ressaca à
queda pela marca no rosto, veio o convite na madrugada para enxugar suas
lágrimas por não ter conseguido me deixar.
Dessa vez eu não queria voltar.... No automático o
incômodo deu vez aos desabafos e brigas... A minha hora tinha chegado e eu
apanhei vários avisos enquanto caminhava do quarto dele até a minha casa.
Ele estava dentro da casa da família... não ouvia o
que eu dizia... foi preciso um de seus amigos entregar um dos meus recados para
ele buscar outra escuta, que precisava.
Foram quase três meses para ele aceitar o meu bilhete.
Algumas noites de vícios e uma moça muito bonita e desalentada, antes de dormir
pela última vez comigo e reencontrar um abrigo.
Mais uma mulher juvenil, de cabelos escuros, inglês
fluente e uma voz de veludo. Alguém para recomeçar, outra chance para se
escolher, seu melhor personagem: o galã encantado.
Antes de ir embora, a mesma deixa para usar de álibi:
algumas declarações esfarrapadas, desculpas sem contexto, nenhuma preocupação
com meus horários, mais um pedido de “beijo de adeus” e a velha desculpa de que
me “deseja”.
Esmolas... mais uma covardia com nós duas... coisas
sobre ainda estar começando com a outra e ainda não confiar se desta vez ele
vai conseguir ceder do desejo, ou vislumbrar um caminho resignado, civil,
cidadão brasileiro.
Desses esforços bem obcecados pelo nó que segura a
gravata no pescoço e o pescoço no corpo... E desafoga o nós de tanto gozo das
chamas profundas... Um caminho silencioso para as pulsões.
Adestrado, curte alguns privilégios enraizados na
cultura que aperta, vez ou outra, o nó na garganta. Engole o choro no seio de
alguma prostituta, ou uma amiga secreta do escritório, da firma... Outra mulher
jovem como é todo desejo humano... desde o colo inesquecível do objeto idealizado...
cheirando a leite... às vez em pó...
Chorando no peito de alguma Má-dona que se interessa
por seu dinheiro, ou uma promoção, uma nota para passar...
Insatisfeito por não se sentir amado, reclama da esposa
para a família, das interesseiras para os amigos, de si mesmo na análise. Enquanto
vive aventuras desastrosas, sem orgasmo para ambos.
Não suporta ser comparado ao pai pela mulher que o
reconhece em suas frustrações amorosas - de quem foge depois de buscá-la
inúmeras vezes. O desencontro com um desses no caminho faz questionar a vida e
a morte, visto o tamanho do muro que ele se esconde de si mesmo. Sublima o
desalento em poemas e criações artísticas, tão perto do que mata o desejo,
salta o sonho em busca das chamas profundas que ardem no peito.
Ele não enxerga seus traços desonestos consigo, com as
pessoas da sua casa e da sua vida. Constrói uma morada de segunda à quinta, que
desonra nas madrugadas, ou aos fins de semana, o honrado pai de família.
Transmitindo às futuras gerações o equívoco de que
existe um objeto mágico que vai fabricar um destino seguro das censuras contra
seus impulsos. Uma coisa rígida que conserva há milhões de anos a espécie mais
imatura e dependente do planeta: o homem ressentido e a mulher reprimida.
Idealizações que criam ficções mais artificiais que as
manifestações artísticas - estas sim guardiães do real da alma e da carne.
Conscientes de pouco do seu potencial, vivem em sonhos
realidades incompreensíveis para a razão cotidiana. E encenam uma realidade
estranha aos seus verdadeiros propósitos. Por isso, chamamos de inconsciente o
que faz sentir o sentido que escondemos á luz do dia.
Feche os olhos, de novo.
sábado, 13 de setembro de 2025
Hoje minha vida tá doendo
Minhas cicatrizes devastadas
E eu nunca poderia sentir seu colo nessa hora...
Não agora que você silenciou as madrugadas
Sempre.
O que me dói vem de onde eu vim
E você enxerga isso em mim
E não me vê nos lugares que frequenta
Escutei sobre tentar se encaixar
caber na ambição do outro
Perder alguém por não se revelar
Com certeza tentei
Mas o jeito como corto a carne para me alimentar
Como o garfo está sempre na mão esquerda no jantar
Não pode ser do seu lado
Quero aceitar
Achar intolerável não ser querida
Mas porque dói tudo de mim
Dói alguma coisa que esqueceu de levar
embora.
hcqf 13 de setembro