sábado, 28 de março de 2015

Olhar convite




*_*(0)*_*(0)*_*(0)*_*(0)*_*(0)*_*
Sabe quando um olhar convida?
Como que esperando uma resposta pára alguns segundos no seu e um encontro acontece às escuras, em silêncio... Mas não é sem linguagem. Deixa livres alguns significados arrebentando a parede do peito...
O convite chegou, sem que eu soubesse que era pra responder, apesar de ter sentido vontade... E sem saber como compreender aquela honra, recusei como se fosse um simples recado...
Talvez algo em mim soubesse que era irrecusável, ou talvez inconciliável, ou mesmo considerável-mente obra da minha imaginação...
Não é fácil deixar alguns presentes de lado, nem revê-los sendo compartilhados sem que precise da sua permissão. Faz parecer estranho um sentimento antigo, faz parecer amigo um sentimento alheio, faz querer algo que não pode ser correspondido.
Outro convite surdo foi lançado... Desta vez o silêncio seria quebrado, mas de novo seu sentido mais caro – a liberdade- foi quem respondeu...
Não é livre o sentimento desencontrado, não é livre o sonhador desamparado... Embora não esteja preso em algo mais que seu desejo, embora não seja mais que cárcere do porto que decidiu abandonar. É escravo da ancora invisível que aportou em alto-mar, deixando as turbulências coordenarem as frases que pairam em cada encontro-olhar...
Em Machado encontro uma metáfora possível, que diz sobre olhos oblíquos e vê no mar um sentido, chamando-os, Olhos de ressaca. Onda que impõe seu domínio. Um olhar que origina toda a história sem revelar suas palavras e a enclausurar estes destinos, nas linhas encantadas das lamurias de Bentinho.
Embora o que esteja solto faça Casmurro uma prisão, seja feita a vontade do Dom, que se liberte alguns sentidos, mas o sentimento não.
Talvez a liberdade num encontro seja seu caminho mais difícil, embora em Machado se descubra, que é ainda mais bonito. Tal qual a beleza imaginada - e por vezes retratada por seus leitores, de Capitu. Não há quem tenha vislumbrado a vilã descrita, mas muitos viram a beleza que arrastou e revelou Bento, carrancudo e ciumento.
Perdida nas letras machadianas, encontro algo daquele convite e da consequente recusa. Parece que algumas vezes o que não é dito consente o silêncio existir e por vezes nada mais que isso, ou ainda abraçar o infinito.
(HCQF/ març-2015)